Igarapé-Miri 1/ Rios, Engenhos e Outros Aspectos
Igarapé-Miri: A Capital Mundial do Açaí
Bandeiras e Brasões dos municípios do
Baixo Tocantins
Igarapé-Miri: A Capital Mundial do Açaí
Bandeiras e Brasões dos municípios do
Baixo Tocantins
A antiga igreja de Santa Ana de Igarapé-Miri/Pa
As Famílias de Igarapé-Miri:
A colonização do Pará se iniciou
através das sesmarias concedidas aos colonizadores portugueses e estes, ao se
fixarem às margens dos rios do Grão-Pará, iam determinando o surgimento das
povoações, que posteriormente dariam origem às freguesias e estas às vilas e
cidades.
As regiões do Baixo Tocantins,
Marajó (estas situadas em pleno Delta do Amazonas) e as terras do atual
Nordeste Paraense, não fugiram a essa regra, onde os colonizadores iam
instalando os povoamentos às margens dos
rios do Baixo Tocantins, do Marajó e nos rios Guamá, Acará, Moju, Capim,
Igarapé-Miri e tantos outros que serão citados nestas postagens. Esses
colonizadores, após as instalações desses povoados e de suas atividades
econômicas, não se fixavam apenas em uma localidade, devido seus interesses
econômicos que se espalhavam pelas margens dessas vias aquáticas acima citadas
e que também constituíam o modo de comunicação e de comercialização dos
produtos de suas atividades econômicas, vias que se tornaram importantes no
escoamento e comercialização do açúcar, do período colonial e da cachaça dos
períodos provincial e republicano do Pará.
As atuais cidades do Baixo
Tocantins, devido a presença do Delta Tocantino (região em que a aguá doce se
mistura com a água salgada do Oceano Atlântico), sofreram e sofrem as
influências dos corpos d’água desse estuário e em vários aspectos de sua vida,
especialmente no tocante as atividades econômicas e formação das populações.
Abaetetuba, Igarapé-Miri, Cametá e as atuais cidades do Baixo Tocantins estão
cercadas de água por todos os lados e os limites são feitos a partir de muitos
rios dessa região. No tocante ás populações das cidades, especialmente de
Abaetetuba e Igarapé-Miri, foram praticamente às mesmas famílias dos antigos
colonizadores portugueses que iniciaram a formaçãos dessas povoações, levados
por interesses econômicos, militares, políticos ou religiosos. Se analisarmos
bem a origem das famílias de Abaetetuba e Igarapé-miri, iremos encontrar uma
ancestralidade comum na formação de suas populações, devido interesses citados.
É claro que o colonizador português miscigenou com as populações nativas locais
e com a grande população escrava que existia na região, devido às exigências da
forma de atividade econômica com que iniciaram a colonização, que foi a
agricultura e, em especial, a cultura da cana doce e da indústria canavieira
que exigiam muitos braços para esses pesados serviços.
Barcos motorizados incremetaram o
comércio de regatão do Baixo Tocantins
As Vias Fluviais na Formação das
Populações Ribeirinhas e nas Atividades Econômicas do Baixo Tocantins:
Rio por onde escoava a produção
de cachaça do Baixo Tocantins
RIO TOCANTINS
O rio Tocantins é o mais
importante rio da região. È formado pela reunião do Alto-Tocantins com o Rio
Araguaia e ambos nascem no Estado de Goiás, o primeiro na Serra dos Pirineus e
o segundo no Morro Vermelho da Serra pelada. A extensão do Rio Tocantins é de
2.640km. É na confluência com o Rio Araguaia, 474 km acima da sua barra no Rio
Pará, que o Tocantins penetra no território paraense. O chamado Baixo Tocantins
é francamente navegável, até a cidade de Tucuruí, que fica na sua margem
esquerda. Depois de passar a cidade de Baião, que fica na sua margem direita, o
rio divide-se em diversos braços, correndo entre numerosas ilhas.
O Rio Tocantins entra no Rio
Pará, a 137 km de Belém. Pela sua margem direita, uns 30 km de Cametá, entra no
Furo de Miritipucu, que vai sair no Rio de Igarapé-Miri, onde fica a cidade do
mesmo nome. Do Rio de Igarapé-Miri, o canal ou Furo de Igarapé-Miri permite
passar para o Rio Moju. Também do Furo
Miritipucu, passa-se para o Ri Abaeté, em cuja margem direita, a 40km de
Belém, está a cidade de Abaetetuba, rio muito bom para a navegação, com uma
profundidade superior a 12 metros.
O Rio Tocantins faz limite com o
Oeste de Abaetetuba, através de sua foz, junto com Limoeiro do Ajuru, Cametá e
a Baia de Marapatá, com a cidade de Abaetetuba: começa da foz do Rio Maúba,
segue pela costa da margem deste rio e pela Baía de Marapatá, até a foz do
Tocantins, no Rio Pará.
RIO PARÁ
Abaetetuba limita-se ao Norte com
a Baía do Marajó, Barcarena e Rio Pará. O Rio Pará nasce na região das Ilhas do
Pará e deságua entre o Cabo Maguari e a ponta Curuçá, no Oceano Atlâtico, é um
dos principais formadores da Baía do Marajó. Através do estreito de Breves, e
une-se ao Rio Amazonas separando a Ilha do Marajó do continente e divide
Abaetetuba dos municípios de Muaná e Ponta de Pedras.
BAIA DE MARAPATÁ
Faz limite com o Oeste de
Abaetetuba, junto com Limoeiro do Ajuru, Cametá e a Foz do Rio Amazonas, com a
cidade de Abaetetuba.
BAIA DO MARAJÓ
Abaetetuba limita-se ao Norte com
a Baía do Marajó, Barcarena e Rio Pará
RIO MOJU
Faz limite, juntamente com a
cidade de Moju, à Leste, com o município de Abaetetuba.
FURO DO INFERNO
O furo do Inferno é importante
como limite de Abaeté. Esse furo fica nos limites com o município de
Igarapé-Miri.
FURO TUCUMANDUBA
O Furo Tucumanduba é Importante como limite para Abaeté: Limita com
o município de Igarapé-Miri: começa nas cabeceiras do Rio Mocajatuba, destas,
alcança, por uma reta, as cabeceiras do
Rio Itanimbuca; desce por este até o furo do Inferno, pelo qual segue até sair
no rio Meruú, o qual atravessa para a boca do furo Camarãoquara, pelo qual
também segue até a sua foz, no furo Tucumanduba e segue por esse furo até
encontrar o furo do Pinheiro e por este até a sua boca, no furo Itaboca, pelo
qual continua até sair no furo Panacuéra e por este último até sair no rio
Mahuba, pelo qual desce até a sua foz no rio Tocantins.
RIO ITANIMBUCA
O rio Itanimbuca fica nos limites
com o município de Igarapé-Miri. É importante por que serve de limite natural
de Abaeté, à Sudoeste, com o município de Igarapé-Miri e limita, a nordeste,
com Abaetetuba.
Limites de Abaetetuba Com os
Municípios do Baixo Tocantins e Marajó
Com a Baía de Marapatá, os
limites se fazem através da foz, pela sua margem direita, chegando até a foz do
Furo Mahúba, na mesma margem direita até o Rio Pará.
Com o Rio Pará e a Baía do
Marajó, os limites começam na foz do Rio, seguindo pela margem direita desse
rio até a Costa do rio Uiarenga.
Com o município de Belém, os
limites se fazem pela foz do Rio Uiarenga, na baía do Marajó, seguindo por esse
rio até as nascentes do Rio Uiarenga, nas margens nascentes do igarapé
Cabresto, afluente esquerdo do Rio Moju.
Abaeté limita com o município de
Igarapé-Miri, começando o limite nas cabeceiras do Rio Mocajatuba, destas,
alcança, por uma reta, as cabeceiras do rio Itanimbuca; desce por este até o
furo do Inferno, pelo qual segue até sair no rio Meruú, o qual atravessa para a
boca do furo Camarãoquara, pelo qual também segue até a sua foz, no furo
Tucumanduba e segue por esse furo até encontrar o Furo do Pinheiro e por este
até a sua boca, no Furo Itaboca, pelo qual continua até sair no Furo Panacuéra
e por este último até sair no Rio Mahuba, pelo qual desce até a sua foz no rio
Tocantins.
O Rio Maúba, afluente do Rio
Tocantins, também é importante pelo limite que estabelece com os município
vizinhos de Igarapé-Miri e Cametá/Pa.
Essas vias navegáveis e outras
tantas, como os rios Amazonas (incluindo os afluentes do Delta Amazônico e os
do Alto e Baixo Amazonas), Capim, Guamá, Acará, Moju, Igarapé-Miri, serão
mencionados intensamente nestas postagens devido os limites estabelecidos entre
os municípios mencionados, a cultura da cana doce espalhada pelas margens
desses rios, a indústria canavieira também nas terras das margens dos rios e o
comércio de regatão que existe desde os primórdios da colonização do Grão-Pará
e que atravessou esse período, alcançando os períodos provincial, republicano e
até nossos dias.
Obs: As vias fluviais de Abaetetuba já foram mencionadas em
postagens anteriores e nos ateremos na menção das vias fluviais do município de
Igarapé-Miri e alguns das cidades vizinhas à Abaetetuba e Igarapé-Miri.
O ciclo da cana-de-açúcar no Pará (séculos 16 a 17) se mostrou bastante
forte em algumas localidades, especialmente nas terras banhadas pelos rios
Guamá, Acará, Moju, Capim, Igarapé-Miri e outras localidades do período
colonial e provincial. Nesse ciclo da cana doce a produção de açúcar foi como
que a 1ª Fase da Indústria Canavieira no Baixo Tocantins e, Igarapé-Miri,
já aparece no rol das localidades que possuíam grandes engenhos para a produção
de açúcar nas décadas finais do século 18 e décadas iniciais do século 19,
quando termina o período colonial do Pará (que vai de 1615 a 1820).
Nos anos
finais do século 18 e anos iniciais do século 19, os membros da Família Correa
de Miranda e outras famílias de Abaetetuba e Igarapé-Miri já são citados como
donos de engenhos na produção de açúcar para abastecer a Capital (Santa
Maria de Belém do Pará) e, principalmente, na exportação para Portugal, nação
do qual o Brasil fazia parte como colônia da Coroa Portuguesa. Membros da
família Correa de Miranda e de outras antigas famílias de Igarapé-Miri possuíam
engenhos de cana-de-açúcar na então Freguesia de Nossa Senhora da Conceição de
Abaeté, devido a proximidade desses dois municípios e dos interesses econômicos,
que praticamente eram os mesmos e vindos desde as décadas finais do século 18.
Nos anos finais do século 19 e início do século 20 a indústria canavieira
e os produtos do extrativismo animal e vegetal ainda apareciam na produção econômica
de Igarapé-Miri e Abaetetuba, mesmo que o ciclo açucareiro no
Grão-Pará já estivesse em pleno declínio, conforme atesta a história dos
grandes engenhos de açúcar citados às margens dos rios Acará, Guamá, Capim,
Moju, Igarapé-Miri e outros rios, deles hoje só restando a história e algumas
ruínas.
O comércio de regatão já existia no Baixo Tocantins, Marajó e demais
regiões banhadas pelos numerososos rios das bacias amazônicas, e feito por
pequenas embarcações tipo botes, batelões e canoas à vela. Mas foi nas décadas
iniciais do século 20 que esse tipo de comércio incrementou a venda da cachaça
e dos produtos das olarias, que eram trocadas por pirarucu, peixes secos,
farinha, couros de animais silvestres e outros produtos que se tornaram tradicionais
no comércio de regatão do Baixo Tocantins e que vieram contribuir no
desenvolvimento e crescimento das economias de Abaetetuba e Igarapé-Miri, agora
também com o uso de embarcações maiores e muitas já motorizadas, que muito
contribuíram no desenvolvimento econômico de muitas famílias desses dois
municípios.
Uma citação de
1867:
A cultura da cana vai se tornando importante pela considerável produção
e extração da aguardente, que vem despertando o interesse dos produtores e
quanto ao açúcar, ainda existe uma pequena produção que não atende ao mercado
consumidor local, obrigando a Provínica a fazer uma grande importação desse
produto de outras regiões do Brasil.
O Fim do Ciclo Açucareiro no Pará, o Advento do Ciclo da Cachaça no
Baixo Tocantins e o Declínio dos Engenhos
Após o declínio do ciclo açucareiro no Pará, os engenhos de
cana-de-açúcar de Igarapé-Miri e Abaetetuba continuaram suas atividades na
produção de açúcar e cachaça (o açúcar já proibido pelo governo central do
Brasil na 1ª metade do século 20 e aqui se inicia a 2ª
Fase da Indústria Canavieira no Baixo Tocantins, fato que impediu um maior
desenvolvimento econômico do Baixo Tocantins, pois os engenhos só podiam
produzir uma ridícula cota mínima de açúcar).
Porém, antes mesmo dessa
proibição, a indústria canavieira tinha se diversificado, produzindo, além da
cota mínima de açúcar, uma maior quantidade de aguardente de cana (cachaça), o
mel de cana (melaço), a rapadura e outros produtos advindos da cana verde.
Ressalte-se o fato de que os engenhos do Baixo Tocantins começaram a sentir que
a cachaça já vinha tendo grande aceitação em todas as camadas da sociedade,
especialmente entre os seringueiros, os negros escravos, os indígenas e seus
descendentes miscigenados, das populações ribeirinhas do Pará, Amazonas, Macapá
e Acre e até da elite dos grandes centros, que também consumiam largamente a
cachaça produzida principalmente em Igarapé-Miri e Abaetetuba, fazendo com que
o seu consumo aumentasse consideravelmente nas primeiras décadas do século 20 e
até sua 1ª metade e, em consequência aconteceu o aumento dos canaviais e da
quantidade dos engenhos. E foi nesse contexto que a produção da cachaça do
Baixo Tocantins começou a alcançar as outras regiões do Pará, como as
populações ribeirinhas do Rio Amazonas e seus afluentes, através das embarcações do
comércio de regatão.
A Cachaça e os Outros Produtos da Indústria Cerâmica e do Extrativismo e
o Comércio de Regatão
A cachaça, junto com os produtos advindos da indústria cerâmica, da
atividade pesqueira, do extrativismo animal e vegetal, foram os principais
produtos que impulsionaram o Comércio de Regatão do Baixo Tocantins, sendo esta
a maneira que os donos de engenhos encontraram para desenvolver seus negócios.
Geralmente os donos de engenhos de cana-de-açúcar do Baixo Tocantins,
especialmente de Igarapé-Miri e Abaetetuba, atrelavam os negócios da indústria
canavieira às atividades de comércio e navegação, criando a tríade de negócios
da indústria-comércio-navegação, que se juntava, em alguns casos, aos negócios
da indústria de cerâmica, das serrarias, das fábricas de refrigerantes, das
usinas de beneficiamento de sementes oleaginosas, da indústria do sabão, dos
empórios comerciais, etc, em fórmula seguida pelos donos de engenhos mais abastados,
tendo alguns destes se destacado economicamente e, antes da grande crise da
cachaça (anos finais de 1975) se estabeleceram nas cidades do Baixo Tocantins
e, especialmente, na Capital do Estado, Belém/Pa, hoje desfrutando de sólidos
negócios no Estado do Pará.
O açaí veio substituir a cana-de-açúcar
na economia de Igarapé-Miri
fazendo desse município a
Capital Mundial do Açaí
Antes
do declínio da indústria canavieira e, consequentemente, do
comércio de regatão, reinava a prosperidade e riquezas nos municípios de
igarapé-Miri e Abaetetuba. E como a indústria canavieira exigia muitos
braços
para os seus variados serviços, recorreu-se ao trabalho escravo,
inicialmente
através dos indígenas da região e, posteriormente, dos braços dos
escravos
negros vindos da Africa e nogociados às centenas de indivíduos para
trabalhar nos pesados serviços da indústria canavieira (no ciclo
açucareiro do Pará).
O Regime Paternalista dos Donos de Engenhos e a Derrocada da Indústria
Canavieira do Baixo Tocantins:
Com o fim da escravidão negra no Brasil em 1888, os donos de engenhos do
Baixo Tocantins tiveram que recorrer aos braços dos lavradores ribeirinhos
(canavieiros) para dar continuidade aos serviços nos engenhos e canaviais. Foi
com os braços desses lavradores (canavieiros) que a produção de cachaça se desenvolveu no
Baixo Tocantins a partir das décadas finais do século 19, tendo avançado para o
século 20 com o mesmo sistema de tutela dos donos de engenhos com os
lavradores, empregados e ainda envolvendo as famílias desses trabalhadores em
atividades variadas de seus negócios.
Foi através do sistema paternalista, onde
os donos de engenhos mantinham economicamente seus empregados e lavradores a si
atrelados, quando muitos enriqueceram na produção e comercialização da cachaça no Baixo Tocantins.
Nesse sistema de tutela dos empregados e suas famílias pelos patrões, onde não
existia a regularização empregatícia dos lavradores e nem a circulação de dinheiro e
sim o sistema de aviamentos na cultura da cana e nos trabalhos dos engenhos (os
trabalhadores recebiam apenas os materiais de trabalho e gêneros alimentícios e
outros, anotados em cadernos, em troca dos trabalhos desenvolvidos), sistema
que foi um dos fatores para a derrocada da indústria canavieira do Baixo
Tocantins. Como não existia o vínculo empregatício entre patrões e empregados, em
1973, com a chegada da Justiça do Trabalho, uma grande parte dos donos de
engenhos teve que se desfazer de seus bens para o pagamento das indenizações de
empregados, que argumentavam possuir 10, 20 até 30 anos de serviços nos engenhos
(claro, agindo de má fé e induzidos por espertos advogados que muito lucraram
com a derrocada da indústria canavieira de Abaetetuba e igarapé-Miri).
O Ciclo da Borracha e os Engenhos do Baixo Tocantins
Com o desenvolvimento da extração do látex das seringueiras nativas da Amazônia
a partir dos anos de 1840, incluindo os seringais do Baixo Tocantins e Marajó e
com as riquezas que essa atividade proporcionava aos comerciantes, os
ribeirinhos, iludidos pela possibilidade de riquezas fácil e rápida, migravam
em massa rumo aos seringais localizados no meio das florestas na época da
colheita do látex, deixando muitas localidades desprovidas de braços para
desenvolver as demais atividades das lavouras com os produtos que abasteciam a
Capital da Província e os demais mercados da Amazônia, fato que gerava o
desabastecimento de gêneros e que obrigava os governantes do Ciclo da Borracha
a importar de outros estados os produtos que as lavouras do Pará já não mais
produziam. Porém, mesmo no Ciclo da Borracha no Pará (auge entre 1879 a 1912) a
produção canavieira do Baixo Tocantins, não sofreu os abalos que outras
localidades sentiram, com a falta de braços para tocar as atividades da
agricultura na Província do Pará, (Província do Pará: 1821 a 1889, quando da
independência do Brasil da Coroa Portuguesa) e mesmo nas primeiras décadas do
Período Republicano.
Cachaça, o
Principal Produto do Comércio de Regatão do Baixo Tocantins
Pela imensidão do território da Província do Pará e pela presença de
centenas de vias navegáveis, o comércio de regatão começou a ser praticado no
período colonial do Pará e se estendeu para o período provincial, em
comércio praticado através de botes, batelões e, posteriormente, de canoas à
vela. Esse comércio consistia em se levar produtos manufaturados e trocá-los pelos produtos do
extrativismo animal e vegetal praticado pelos indígenas, sendo estes, por sua
ingenuidade e falta de práticas comerciais, largamente logrados pelos primeiros
comerciantes de regatão da Província do Pará.
Existem citações em documentos
provinciais que descrevem o contexto desse comércio e a iniciativa
governamental em tentar proibir o comércio feito pelos rios da Província:
Ano de 1852, quando era presidente da Província do Pará, o Dr. José
Joaquim da Cunha, que escreveu: “Foi decretada uma lei que proibe o Comércio de
Regatão, porém privou indivíduos que habitando grandes distâncias das povoações
e que as obrigam a ir a estas para vender e comprar, fazendo com que isso
gerasse mais despesas, incômodos, riscos de vida, abandono de suas famílias que
também ficavam sujeitas aos riscos e os coletores e extratores das florestas
perdiam grande tempo nessas viagens. Este comércio não deve ser proibido e sim
regularizado”.
Motivos pelo qual foi decretada referida lei: “O abuso dos comerciantes
de regatão com os índios, que eram lesados nas trocas, maltrados pelos
comerciantes e sempre enganados nas negociações”.
E o comércio de regatão seguiu seu curso e no Baixo Tocantins, Ilha do
Marajó, região do Salgado, terras banhadas pelos rios Acará, Capim, Moju,
Guamá, Igarapé-Miri, Baixo Amazonas e Capital da Província, onde era praticado
em larga escala em embarcações à vapor e, posteriormente, embarcações movidas à motor de óleo díesel.
Foi o comércio de regatão que alavancou a Indústria Canavieira do Baixo
Tocantins, especialmente nos municípios de Abaetetuba e Igarapé-Miri.
A Cachaça no Comércio de Regatão:
A família Correa de Miranda
se destacou nas atividades
da antiga indústria canavieira
de Igarapé-Miri, Abaetetuba e
Moju no Pará
E foi realmente a cachaça o carro-chefe do comércio
de regatão que esses dois municípios intensificaram já a partir das últimas
décadas do século 19 e no século 20 até os anos finais da década de 1970,
quando esse comércio começou também a ser atingido pela crise da cachaça dessa
fatídica década. Os comerciantes de regatão do Baixo Tocantins seguiam com seus
barcos comercializando seus produtos pelas localidades situadas nas margens dos
rios do Baixo Tocantins, Marajó, localidades do Baixo Amazonas, pela região do Salgado
e pelas margens dos rios Capim, Guamá, Acará, Moju, Igarapé Miri, nas capitais
dos estados do Pará, Amazonas, Amapá, pelo rio Oiapoque, chegando até o estado
do Acre. Foi a indústria canavieira (especialmente a cachaça) e o comércio de
regatão que impulsionaram a prosperidade de muitas famílias de Igarapé-Miri e
Abaetetuba, famílias essas que também deram origem aos tradicionais clãs
famíliares desses dois municípios, algumas das quais aqui enumeramos.
Pelas mesmas características de produção econômica
da indústria canavieira e do comércio de regatão, as famílias que exploravam
esses negócios mantinham seus interesses comerciais tanto em um, quanto em
outro desses dois municípios, fato que também leva ao fenômeno das antigas
famílias de Abaetetuba e Igarapé-Miri possuírem a ancestralidade comum das
famílias que constituíram as populações atuais desses dois municípios.
Blog do Prof. Ademir Rocha, de Abaetetuba/Pa
AO AMEIIII O CONTEÚDO
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