quarta-feira, 28 de agosto de 2013

ECONOMIA DE COMUNHÃO

ECONOMIA DE COMUNHÃO
21/08/2013
Empresas só visam lucro? Existe uma 3ª via de um mundo econômico menos injusto?

Chiara Lubich e a Economia de Comunhão

Marcus Eduardo de Oliveira

Ao contrário da economia consumista, baseada na cultura do “ter”, a economia de comunhão é a economia do “dar”. Isto pode parecer difícil, árduo, heróico. Mas não é assim, porque o homem, feito à imagem de Deus, que é Amor, encontra a própria realização justamente no amor, na doação. Esta exigência está no mais profundo do seu ser, tenha ele fé em Deus ou não. É justamente nesta constatação, comprovada pela nossa experiência, que está a esperança de uma difusão universal da economia de comunhão.

(Chiara Lubich)
O distanciamento cada vez mais frequente entre as pessoas, a agressão sistemática ao meio ambiente em prol de um crescimento econômico sem limites, a consolidação de um modelo econômico que enaltece substancialmente o consumo conspícuo, a busca desenfreada pelo dinheiro como sinônimo de felicidade, o crescimento das injustiças econômicas e sociais e o desmantelamento dos princípios básicos que modelam a teia da vida. A somatória disso provoca profundo descontentamento e tem levado cada vez mais pessoas à reflexão em torno de se resgatar os laços de sociabilidade e de se afirmar um compromisso em prol de um mundo melhor; de um mundo mais justo e social e ambientalmente mais equilibrado.
É no sentido de se resgatar a possibilidade da construção de um mundo econômico e social menos injusto, que crescem ações buscando reverter essa tendência de distanciamento entre as pessoas, tentando aproximá-las pela prática da partilha, da comunhão (da comum união).
 Tentativas de novos agrupamentos em favor de ações coletivas, cercadas de cooperação (partilha) e união entre os membros tem se destacado com mais freqüência numa época em que os valores monetários tem se soerguido, sobremaneira, em relação aos valores éticos, morais e sociais.
Uma tentativa nessa linha de atuação cooperativa que merece destaque é a chamada Economia de Comunhão (EdC). A comunhão (comum união entre os membros) tem sido, historicamente, uma porta de entrada para a solidificação de um novo modo de fazer economia, no qual esteja presente a prática da comunhão-cooperação-fraternidade. Em poucas palavras, a Economia de Comunhão pode ser resumida como sendo a combinação de eficiência econômica com solidariedade, tendo como arrimo o princípio da cooperação/partilha.
A verdade é que a busca pela justiça social e um lugar para se viver em que “entre eles não haja necessitados” (lema da EdC) tem sido discutido amplamente entre aqueles que se põem a construir uma nova maneira de pensar a própria vida a partir das relações econômicas, tendo como elemento integrador desse sistema a participação das empresas. Esse é basicamente o modelo de atuação da Economia de Comunhão que procura, por meio de redes (conjunto de pessoas ou organizações interligadas direta ou indiretamente) pôr a economia à serviço do atendimento aos mais pobres, pois percebe claramente que os sistemas econômicos tradicionais são (e tem sido), por exemplo, incapazes de tirar a fome da boca de uma criança.
O ponto fundamental desse novo jeito de “pensar a economia” é a cooperação e a ajuda mútua (na prática: é a cultura do “dar” e do “doar-se”) entre os agentes e o amplo e irrestrito apoio aos projetos de cunho social que procuram enaltecer o papel das pessoas integrando-as no sistema produtivo.
 O propósito é um só: levar a dimensão da fraternidade à macroeconomia que dita, na essência, as políticas econômicas públicas. O objetivo? Fazer com que a teoria econômica tradicional seja sensível à economia social e, como consequência, faça valer o princípio maior dessa ciência social, qual seja, proporcionar melhoria (bem-estar) de vida para todos.
Nas palavras de Chiara Lubich (1920-2008), ativista social italiana, criadora desse movimento a partir de uma visita feita às comunidades carentes em São Paulo, em 1991: “a Economia de Comunhão deve canalizar capacidades e recursos para produzir riqueza em prol dos que se encontram em dificuldades. Os lucros devem ser livremente colocados em comum, divididos em três partes, no seguinte sentido: 1) Ajudar os pobres e dar-lhes sustento, enquanto não conseguirem um posto de trabalho; 2) Desenvolver estruturas de formação de ‘homens-novos’, ou seja, pessoas formadas e animadas pelo amor, capazes de viver a ‘ cultura da partilha’, e; 3) Incrementar e fortalecer a própria empresa. (CHIARA, L. em “O Movimento dos Focolares e a Economia de Comunhão”, Vargem Grande Paulista, Ed. Cidade Nova, 1.999).
Nota-se com isso que algumas ações em prol da construção de um mundo melhor estão em plena atividade; resta, de nossa parte, maior participação, afinal, em se tratando de resgatar os mais nobres valores em torno da vida, isso não pode esperar por muito tempo.
*Marcus Eduardo de Oliveira é economista com especialização em Política Internacional e mestrado em Estudos da América Latina pela Universidade de São Paulo (USP). É professor de economia do UNIFIEO e da FAC-FITO, em Osasco/SP. Autor dos livros 'Conversando sobre Economia' (Editora Alínea), 'Pensando como um economista' (Editora EbookBrasil) e 'Humanizando a Economia' (Editora EbookBrasil – livro eletrônico). Contato: prof.marcuseduardo@bol.com.br

Reproduzido pelo Blog do ADEMIR ROCHA

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