ECONOMIA DE COMUNHÃO
Empresas só visam lucro? Existe uma 3ª via de um mundo econômico menos injusto?
Chiara Lubich e a Economia de Comunhão
Marcus
Eduardo de Oliveira
Ao contrário da economia consumista, baseada na
cultura do “ter”, a economia de comunhão é a economia do “dar”. Isto pode
parecer difícil, árduo, heróico. Mas não é assim, porque o homem, feito à
imagem de Deus, que é Amor, encontra a própria realização justamente no amor,
na doação. Esta exigência está no mais profundo do seu ser, tenha ele fé em
Deus ou não. É justamente nesta constatação, comprovada pela nossa experiência,
que está a esperança de uma difusão universal da economia de comunhão.
(Chiara
Lubich)
O distanciamento cada vez mais frequente entre as
pessoas, a agressão sistemática ao meio ambiente em prol de um crescimento
econômico sem limites, a consolidação de um modelo econômico que enaltece
substancialmente o consumo conspícuo, a busca desenfreada pelo dinheiro como
sinônimo de felicidade, o crescimento das injustiças econômicas e sociais e o
desmantelamento dos princípios básicos que modelam a teia da vida. A somatória
disso provoca profundo descontentamento e tem levado cada vez mais pessoas à
reflexão em torno de se resgatar os laços de sociabilidade e de se afirmar um
compromisso em prol de um mundo melhor; de um mundo mais justo e social e
ambientalmente mais equilibrado.
É no sentido de se resgatar a possibilidade da
construção de um mundo econômico e social menos injusto, que crescem ações
buscando reverter essa tendência de distanciamento entre as pessoas, tentando
aproximá-las pela prática da partilha, da comunhão (da comum união).
Tentativas
de novos agrupamentos em favor de ações coletivas, cercadas de cooperação
(partilha) e união entre os membros tem se destacado com mais freqüência numa
época em que os valores monetários tem se soerguido, sobremaneira, em relação
aos valores éticos, morais e sociais.
Uma tentativa nessa linha de atuação cooperativa
que merece destaque é a chamada Economia de Comunhão (EdC). A comunhão (comum
união entre os membros) tem sido, historicamente, uma porta de entrada para a
solidificação de um novo modo de fazer economia, no qual esteja presente a
prática da comunhão-cooperação-fraternidade. Em poucas palavras, a Economia de
Comunhão pode ser resumida como sendo a combinação de eficiência econômica com
solidariedade, tendo como arrimo o princípio da cooperação/partilha.
A verdade é que a busca pela justiça social e um
lugar para se viver em que “entre eles não haja necessitados” (lema da EdC) tem
sido discutido amplamente entre aqueles que se põem a construir uma nova
maneira de pensar a própria vida a partir das relações econômicas, tendo como
elemento integrador desse sistema a participação das empresas. Esse é
basicamente o modelo de atuação da Economia de Comunhão que procura, por meio
de redes (conjunto de pessoas ou organizações interligadas direta ou
indiretamente) pôr a economia à serviço do atendimento aos mais pobres, pois
percebe claramente que os sistemas econômicos tradicionais são (e tem sido),
por exemplo, incapazes de tirar a fome da boca de uma criança.
O ponto fundamental desse novo jeito de “pensar a
economia” é a cooperação e a ajuda mútua (na prática: é a cultura do “dar” e do
“doar-se”) entre os agentes e o amplo e irrestrito apoio aos projetos de cunho
social que procuram enaltecer o papel das pessoas integrando-as no sistema
produtivo.
O propósito
é um só: levar a dimensão da fraternidade à macroeconomia que dita, na
essência, as políticas econômicas públicas. O objetivo? Fazer com que a teoria
econômica tradicional seja sensível à economia social e, como consequência,
faça valer o princípio maior dessa ciência social, qual seja, proporcionar
melhoria (bem-estar) de vida para todos.
Nas palavras de Chiara Lubich (1920-2008), ativista
social italiana, criadora desse movimento a partir de uma visita feita às
comunidades carentes em São Paulo, em 1991: “a Economia de Comunhão deve
canalizar capacidades e recursos para produzir riqueza em prol dos que se
encontram em dificuldades. Os lucros devem ser livremente colocados em comum,
divididos em três partes, no seguinte sentido: 1) Ajudar os pobres e dar-lhes
sustento, enquanto não conseguirem um posto de trabalho; 2) Desenvolver
estruturas de formação de ‘homens-novos’, ou seja, pessoas formadas e animadas
pelo amor, capazes de viver a ‘ cultura da partilha’, e; 3) Incrementar e
fortalecer a própria empresa. (CHIARA, L. em “O Movimento dos Focolares e a
Economia de Comunhão”, Vargem Grande Paulista, Ed. Cidade Nova, 1.999).
Nota-se com isso que algumas ações em prol da
construção de um mundo melhor estão em plena atividade; resta, de nossa parte,
maior participação, afinal, em se tratando de resgatar os mais nobres valores
em torno da vida, isso não pode esperar por muito tempo.
*Marcus Eduardo de Oliveira é economista com
especialização em Política Internacional e mestrado em Estudos da América
Latina pela Universidade de São Paulo (USP). É professor de economia do UNIFIEO
e da FAC-FITO, em Osasco/SP. Autor dos livros 'Conversando sobre Economia'
(Editora Alínea), 'Pensando como um economista' (Editora EbookBrasil) e
'Humanizando a Economia' (Editora EbookBrasil – livro eletrônico). Contato: prof.marcuseduardo@bol.com.br
Reproduzido pelo Blog do ADEMIR ROCHA
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