Palavra de Vida de Dezembro 2016
Fonte: www.focolare.org
28 Novembro 2016
“Ele vem para vos salvar!” (Is 35,4)
O verbo está no presente: Ele vem. É uma certeza de agora. Não precisamos esperar o amanhã, ou o final dos tempos, ou a outra vida. Deus age de imediato: o amor não consente adiamentos ou atrasos. O profeta Isaías dirigia-se a um povo que esperava ansiosamente o término do exílio e a volta à pátria. Nesses dias em que esperamos o Natal não podemos deixar de lembrar que também Maria ouviu uma promessa de salvação, parecida com essa: “O Senhor está contigo” (Lc 1,28). O anjo lhe anunciava o nascimento do Salvador.
Ele não vem para uma visita qualquer. A sua intervenção é decisiva, da máxima importância: Ele vem para nos salvar! Salvar do quê? Será que estamos em grave perigo? Estamos, sim. Às vezes somos conscientes disso, às vezes não nos damos conta. Ele intervém porque vê os egoísmos, a indiferença para com quem sofre e está em necessidade, vê os ódios, as divisões. O coração da humanidade está doente. Ele vem, movido pela piedade para com a sua criatura. Não quer que ela se perca.
É como se Ele estendesse sua mão a um náufrago que está se afogando. Infelizmente hoje em dia essa imagem está sempre diante dos nossos olhos, voltando à cena dia após dia nos noticiários sobre os refugiados que tentam atravessar os nossos mares. Vemos como eles agarram desesperadamente aquela mão estendida, ou aquele colete salva-vidas. Também nós podemos agarrar a todo momento a mão estendida de Deus e segui-lo confiantes. Ele não só cura o nosso coração daquele fechamento em nós mesmos que nos isola dos outros, mas, da nossa parte, nos torna capazes de ajudar aos que se encontram em necessidade, na tristeza, na provação.
“Não é, decerto, o Jesus histórico, ou Ele enquanto Cabeça do Corpo místico quem resolve os problemas” – escrevia Chiara Lubich –. “Quem faz isso é Jesus-nós, Jesus-eu, Jesus- você… É Jesus no homem, naquele determinado homem – quando a sua graça se encontra nele –, quem constrói uma ponte, faz uma estrada. […] É sendo um outro Cristo, como membro do seu Corpo místico, que cada homem traz uma contribuição típica sua em todos os campos: na ciência, na arte, na política, na comunicação e assim por diante”. Dessa forma o homem é cocriador, corredentor com Cristo. “É a encarnação que continua, encarnação completa que diz respeito a todos os Jesus do Corpo místico de Cristo”1.
Foi exatamente o que aconteceu com Roberto, um ex-detento ao encontrar alguém que o “salvou” e que, por sua vez, se transformou em alguém que “salva”. Ele contou a sua experiência ao Papa que, no dia 24 de abril, compareceu na Mariápolis de Villa Borghese em Roma: “Tendo terminado um longo período de detenção, eu pensava em recomeçar a vida. Mas, como se sabe, mesmo quando você cumpriu sua pena, para as pessoas você fica sempre sendo um caso suspeito. Procurando trabalho, encontrei todas as portas fechadas. Tive de andar por aí pedindo esmolas, durante sete meses fui morador de rua. Até o dia em que encontrei o Alfonso que, por meio da associação que ele criou, ajuda as famílias dos detentos. ‘Se quiser recomeçar’, disse ele, ‘venha comigo’. Agora já faz um ano que eu o ajudo a preparar as cestas básicas para distribuir às famílias dos detentos que nós vamos visitar. Para mim é uma graça imensa, porque nessas famílias eu revejo a mim mesmo. Vejo a dignidade dessas mulheres, cuidando sozinhas das crianças pequenas, que vivem em situações desesperadoras, aguardando alguém que lhes leve um pouco de conforto, um pouco de amor. Doando-me, reencontrei a minha dignidade de ser humano, a minha vida tem um sentido. Possuo uma força a mais porque tenho Deus no coração, me sinto amado…”.
Fabio Ciardi
1Chiara Lubich, Jesus Abandonado e a noite coletiva e cultural, no congresso das gen 2. Castel Gandolfo,7/1/2007 (lido por Silvana Veronesi).
Evangelho vivido: trabalhar em dois
A Palavra de Vida deste mês nos convida a não desanimar diante das adversidades, mas sim a confiar em Deus. Ele chega também onde nós não conseguimos.
Sabia tudo
“Como sacerdote, eu acreditava que poderia julgar todas as coisas. Um dia fui convidado a celebrar a missa em um retiro com alguns jovens, durante a celebração eles explicitamente fizeram um pacto de estarem prontos a dar a vida uns pelos outros. Fiquei chocado: eu teria coragem de fazer uma coisa dessas? Tudo aquilo que parecia que eu sabia, não digo que fosse inútil, mas não o suficiente para ser um verdadeiro cristão. Quantas coisas negligenciadas em nome do estudo, quantas omissões justificadas com algumas tarefas as quais eu julgava serem importantes…! Aqueles jovens mudaram a minha vida”. (R. P. – França)
Antes da oferta
“Depois de se mudar para uma nova cidade, nasceu uma amizade com uma família de vizinhos que nos ajudou muito, como a inserir-nos no novo ambiente, a colocar as crianças nas escolas… A estima era mútua, os filhos dessa família nos chamavam de tios e os nossos faziam o mesmo. Infelizmente com o passar do tempo houve uma ruptura e os filhos dos vizinhos começaram a nos saudar com um “bom dia, senhores”. As coisas não podiam continuar desta forma, porque afinal fazíamos parte da mesma paróquia. Um domingo na missa a mensagem do Evangelho nos recordava que antes de fazer a nossa oferta no altar é bom reconciliar-se com seu irmão… Minha esposa e eu nos olhamos e decidimos agir em conformidade. Na saída da missa, fomos em direção aos nossos vizinhos e pedimos perdão se caso tivéssemos ofendido a eles de alguma forma. Depois de um momento após uma surpresa embaraçosa, nos abraçamos” .(A.T. – Hungria)
Era uma outra pessoa
“No hospital onde eu trabalho como ginecologista uma mulher conhecida como uma prostituta havia feito uma cirurgia. Os pacientes e até mesmo algumas enfermeiras tentavam evitá-la. Percebendo o seu isolamento, eu lhe dei uma atenção especial, e isso serviu de incentivo a outros para conversar e lhe prestar ajuda. A história triste da sua vida atraiu atenção e benevolência. Em poucos dias já parecia outra pessoa. Quando ela recebeu alta, agradecendo-me, disse: “A verdadeira cura não é a física…. A vida recomeça de outra maneira.” (M. S. – Polônia)
A “boutique rosa” atrás das grades
16 Setembro 2016
Na superlotada prisão feminina de Pozzuoli (Itália), uma loja de sabonetes e perfumes, como sinal da inclusão e do diálogo ecumênico. Uma ação de apoio para reencontrar a própria dignidade.
Em 2011, Maria Clara, recém-aposentada, transfere-se para as proximidades da penitenciária feminina de Pozzuoli (Nápoles), uma grande estrutura de detenção entre as mais superlotadas da Itália. Impressionada com os gritos de sofrimento que chega das janelas gradeadas, fala com os amigos da comunidade local dos Focolares e 25 deles (jovens, adolescentes, famílias…) decidem responder ao apelo. De acordo com a Caritas diocesana e com outros Movimentos, o grupo emerge-se naquela humanidade sofredora que está atrás das grades.
Esta experiência não é fácil, mas leva a afinar, como sinal da misericórdia, cada gesto e palavra, para ser a presença amorosa que aquele mundo espera. Cada um torna-se cada vez mais consciente de que não vai ali para “absolver”, julgar, ou simplesmente para fazer assistencialismo, mas apenas para amar, mirando à reconstrução da pessoa. Talvez tenha sido por este comportamento que rapidamente veem emergir em cada uma das detentas o lado positivo.
“Quando sair daqui quero ser uma pessoa nova”, confessa uma delas. Uma outra: “Agora que sei o que quer dizer ser cristã, quero viver segundo o Evangelho respeitando as minhas colegas de cela, mesmo aquelas que tornam a minha vida impossível”. Uma outra ainda: “Entendi que a verdadeira ajuda vem de Jesus Eucaristia e não dos ‘potentes’ da terra”.
Este afluir de luz e de graça não se conquista com uma baqueta mágica. É o fruto de uma contínua atenção às necessidades das detentas, ajudando-as a reencontrarem a própria dignidade numa discreta e perseverante formação à vida do Evangelho. Ir com elas à missa dominical, animando-a com cantos, e pôr-se à disposição para reconstruir a capela. Pedir e obter permissão da direção do cárcere de organizar, na Casa família “Mulher Nova” que hospeda mulheres em regime alternativo de detenção, uma série de laboratórios de educação sanitária, cursos de cozinha, yoga, costura, etc.
Uma das necessidades das presas – não dita, mas logo revelada – é o cuidado com a imagem pessoal. Foi assim que nasceu a ideia da “Boutique rosa”, um lugar gratuito dentro do cárcere, com as paredes pintadas de cor-de-rosa, com cortinas e prateleiras coloridas em contraste com o cinza das celas. É um ponto onde as presas, muitas vezes abandonadas ou distantes das próprias famílias, semanalmente podem receber produtos para a higiene e o cuidado pessoal, vestiário, roupas íntimas, etc, enfim, tudo o que serve para melhorar o “look” e aumentar a própria autoestima. Ao mesmo tempo, é um ambiente para partilharem as próprias dificuldades com as outras detentas ou com os agentes penitenciários. Sentem-se confortadas no sofrimento por não poderem se ocupar dos filhos em casa, constroem relacionamentos cada vez mais estreitos. Também é uma ocasião para partilharem pequenas e grandes alegrias, como por exemplo a diminuição de uma pena, uma visita inesperada ou as decisões tomadas para recomeçar a vida.
Muitas delas são de etnias e culturas diferentes e pertencem a várias igrejas cristãs ou religiões díspares. “Lembro-me de uma senhora ortodoxa – conta Maria Clara – que na semana de oração pela unidade dos cristãos quis participar com um canto-oração. Chorando, disse-me que oferecia o seu imenso sofrimento por causa da detenção pela unidade das igrejas. Depois fomos a Nápoles para conhecer o seu marido e os seus cinco filhos e para levar ajuda a eles.
Partilhamos esta experiência com algumas pessoas de outras igrejas cristãs de várias denominações com as quais a diocese abriu um diálogo ecumênico, propondo-lhes para virem ao cárcere para ajudar na “Boutique rosa”. Não esperavam outra coisa! Agora também colaboram conosco quatro irmãs evangélicas. Graças a elas, o relacionamento com as presas de várias igrejas tornou-se mais profundo e, muitas vezes, continua também quando elas saem da prisão”.
Reproduzido pelo Blog do Ademir Rocha
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