domingo, 16 de setembro de 2012

CÍRIO E FESTA DE NAZARÉ: TURISMO, ECONOMIA E CULTURA NO PARÁ

domingo, 16 de setembro de 2012


CÍRIO E FESTA DE NAZARÉ: TURISMO, ECONOMIA E CULTURA

CÍRIO E FESTA DE NAZARÉ COM INFLUÊNCIA NO TURISMO, ECONOMIA E CULTURA DO PARÁ
Parte I

CÍRIO DE NOSSA SENHORA DE NAZARÉ: INFORMAÇÕES
Esta postagem inicia, a partir do texto abaixo, uma série de informações sobre o Círio e Festa de Nossa Senhora de Nazaré, de acordo com o os vários acontecimentos que vão se desenvolvendo, até o final dos inúmeros eventos da Quadra Nazarena e até o dia final dessa quadra.

CÍRIO E FESTA DE NAZARÉ COMO TURISMO, ECONOMIA E CULTURA DO ESTADO DO PARÁ
 Virgem de Nazaré, Rogai por nós

Igreja de Nossa Senhora de Nazaré de
Abaetetuba

O Círio e Festa de Nossa Senhora de Nazaré, que acontece no 2º domingo de outubro em Belém do Pará, está ganhando cada vez mais visibilidade e atraindo cada vez mais fiéis e turistas de todos os recantos do País.

No aspecto turístico da festa, espera-se a presença de mais de 75 mil turistas e que deverão movimentar mais de 28 milhões de dólares no Pará.

Um dos fatores que está determinando o aumento expressivo de romeiros e turistas no Círio e Festa de Nossa Senhora de Nazaré foi o aumento das romarias, é isso está mexendo com tudo em Belém, seus bairros e cidades da sua Região Metropolitana. Com esse aumento considerável de romeiros e turistas a economia ganha como que uma nova dinâmica, principalmente nos setores de serviço, comércio, indústria e até a agropecuária, pois todas essas pessoas, além da participação no Círio e Festa de Nossa Senhora de Nazaré, precisam ser bem acomodadas, daí a necessidade de mais, melhores e diversificados hotéis e restaurantes, e o comércio e indústria precisam oferecer cada vez mais opções aos turistas que sempre encontram novos produtos para comprar e que também querem levar consigo uma boa lembrança do Pará.

O setor do emprego em Belém aumenta consideravelmente sua oferta e o trabalho informal da Festa e Círio é uma boa oportunidade para as pessoas e famílias ganharem mais algum dinheiro.

Muitas casas dos bairros de Belém também estão se preparando para receber os parentes e amigos das famílias que residem nas cidades do interior do Estado e também os residentes em outras regiões do País, preparando acomodações e as compras dos materiais necessários para o tradicional Almoço do Círio feito com os parentes e amigos que vieram participar do Círio e Festa de Nossa Senhora de Nazaré, a Padroeira dos Paraenses.

Sendo assim, o Círio e Festa de Nossa Senhora de Nazaré demonstra a sua importância para toda a sociedade paraense, pois essa festa já é um dos maiores patrimônios culturais do Estado do Pará, que precisa ser cada vez melhor cuidado e preservado, pois é algo muito bonito e emocionante que o Estado tem a oferecer aos que vêm de fora.

 Tacacá, cultura do Pará

Blog do Ademir Rocha, de Abaetetuba/Pa

Parte II

CÍRIO E FESTA DE NAZARE : CONSIDERAÇÕES, CARACTERÍSTICAS E ASPECTOS A CONSIDERAR: 
 O Círio Como Patrimônio da Cultura Popular:

Quais as motivações que levam 2,5 milhões de pessoas a se prepararem durante meses e seguirem espontaneamente em procissão, durantes horas, em calor sufocante do sol à pino, uma pequena imagem de Nossa Senhora de Nazaré?

Era uma simples procissão católica que ao longo dos anos foi sempre crescendo, e saindo da órbita da própria Igreja Católica e se transformando numa manifestação popular que já extrapolou a dimensão local e se transformou em evento de dimensão nacional. Onde no Brasil e no mundo existe outra manifestação popular de tal porte todos os anos?

Mas foi só a religiosidade popular que levou o Círio de Nazaré, que acontece a cada 2º domingo do mês de outubro, a alcançar dimensões tão grandes? 

Ninguém pode negar que a religiosidade popular do povo paraense muito contribuiu para o crescimento e afirmação do Círio de Nazaré como uma das maiores manifestações católicas do mundo. Porque a procissão surgiu mesmo da fé popular aos santos em Belém e, em especial, no caso do Círio de Nazaré que surgiu cercado de lendas. Por certo que nos primeiros círios já existiam as motivações das promessas, as graças alcançadas, a proteção, as expiações de culpas, os ritos sagrados, o amor à Virgem Maria. Tudo isso é verdade e fazem parte das práticas católicas tradicionais. Mas atualmente não é toda a verdade, porque o Círio de Nazaré, ao longo dos anos, foi se transformando cada vez mais em uma manifestação popular que vai além de seu aspecto religioso, se transformando em uma festa dos católicos, não católicos e até é trans-religioso, isto é,  conseguiu abarcar pessoas de outras religiões.

Além do aspecto religioso a considerar no Círio e Festa de Nossa Senhora de Nazaré, existem outras características e aspectos que hoje são levados em conta, pois também são questões que envolvem uma gama enorme de interesses, como por exemplo:

O Aspecto Econômico do Círio e Festa de Nazaré:

O Círio e Festa de Nossa Senhora de Nazaré se transformou num importante fator econômico de Belém, sua área metropolitana e outros municípios do Pará. É um momento do turismo, dos serviços, das comunicações, do comércio formal, do comércio popular, da produção artesanal e do entretenimento, dos transportes e navegação, que são fatores que ocasionam uma forte expansão da economia de Belém e do Pará. Existem fontes confiáveis que dizem que quase a metade da população de Belém e romeiros de outros lugares, economizam o ano inteiro para gastarem na época do Círio e Festa de Nazaré e gastos em diferentes aspectos como alimentação, bebidas, vestuário e nas diversões dessa época.

Círio e Festa de Nazaré Como Celebração Comunitária:

Esse aspecto é interessante, porque alguns paradigmas de comportamentos são mudados. É a época em que o estranho se torna conhecido, o concorrente se transforma em parceiro, pois, nessa época, romeiros de todo o Pará e de outras regiões do Brasil e até do mundo, afluem à Belém e, muitos deles, se hospedam em casas de parentes e amigos. O Círio e após, o almoço do Círio, congrega as famílias.

A Corda do Círio Que Iguala a Todos: 
                               
A Corda que fica presa à Berlinda que leva a imagem da Santa, parece um momento de desespero. Porém se bem observada, veremos que todos os que procuram segurar a corda, veremos que aqueles milhares de promesseiros que se ajuntam nesse espaço,  se apertam, se protegem, se amparam, e caminham todos juntos e na mesma direção e sem preconceito de cor, idade ou classe social, todos igualados em um mesmo pensamento, no vestir anônimo e numa participação sem hierarquia de classes. Quem consegue segurar a Corda do Círio participa ao máximo da fé e cultura do Círio e na corda que une, o esforço individual se traduz em uma construção cultural. Enfim, na Corda do Círio, todos se fazem iguais nesse aspecto religioso e cultural do Círio. 

Depois, a Corda do Círio não é invenção recente. Vem desde a Era Provincial do Pará, quando os devotos procuravam agarrar a corda que ficava atada à Berlinda de Nossa Senhora de Nazaré, que já vinha sendo realizado anualmente na Província do Pará.

No início do Século XX essa tradição já estava enraizada à tradição do Círio de Nazaré. Em 1926 o Arcebispo Dom Irineu Joffily resolveu quebrar a tradição da Corda do Círio, tendo proibido essa prática, porém enfrentou a indignação geral do povo católico do Pará. Em 1931 essa prática foi restaurada pela intermediação do Interventor Federal, Magalhães Barata, diante da reclamação geral do povo, pela volta desse símbolo do Círio. Os arcebispos posteriores a Dom Irineu entenderam que segurar a corda, significava se agarrar, pela fé, à Nossa Senhora de Nazaré. 

Como é demonstrada a fé dos promesseiros que se agarram à Corda?

É um impressionante espetáculo ver aquela multidão de devotos se agarrar à Corda do Círio. Eles, compactados, lutam para conseguir seu espaço para empunhar a corda e seguir segurando a mesma durante a longa e demorada caminhada da grande procissão, não se importando pelo esforço físico, vestes encharcadas pelo suor, extenuados pelo esforço físico, sob a canícula inclemente, com os pés descalços, sendo pisoteados e maltratados. E tudo isso valendo a pena porque isso faz parte de sua fé em Nossa Senhora de Nazaré. E não se sabe de alguém que tenha sofrido pelo menos uma lesão grave ocorrida nessa penitência da corda. Segurar a Corda do Círio para esses devotos é expressar o seu agradecimento e significa o mesmo que segurar nas mãos da Virgem de Nazaré.
Portanto, impedir os devotos de assim exprimirem à sua gratidão à Santíssima Virgem ,significa romper uma tradição que já vem de seus pais, avós e bisavós, em tradição que já está arraigada como tradição do Círio e na cultura do paraense.

Se o Círio se torna mais demorado por causa da Corda do Círio, que se encontre um modo de se organizar a caminhada da corda mais rápida, como já vem acontecendo nos últimos anos e abolir essa tradição significa  desafiar a indignação que o fato causará. E também não permitir que os promesseiros e fiéis levem um pedacinho da Corda do Círio, é outro desafio para os organizadores da grande procissão. Todos querem ter um pedacinho da Corda para guardar como um objeto da devoção à Virgem de Nazaré e que foi conquistado com muito esforço e amor à Virgem santíssima.

CÍRIO E FESTA DE NAZARÉ COMO CULTURA DO PARÁ:

O Círio e Festa de Nazaré Como Aspecto Cultural do Pará e Brasil:

O Círio com a dimensão e grandiosidade que hoje tem, e que vem crescendo sempre mais a cada ano, se tornou culturalmente tão importante, que não se pode pensar o Pará sem o Círio e Festa de Nazaré. É o mesmo que se pensar no Rio de janeiro sem o seu Carnaval e o Brasil sem o Futebol. O Círio que veio de uma dimensão religiosa, foi agregando outras motivações da Cultura Paraense, como:
O Barco, o Rio e a Romaria Fluvial:

Belém, como grande parte das cidades paraenses, está cercada de rios, por onde navegam milhares de embarcações, que hoje fazem parte do cenário da cultura paraense e, levado por essa motivação é que temos, entre tantas outras romarias, a Romaria Fluvial, que hoje é parte integrante do Círio e Festa de Nazaré, onde centenas de embarcações vão prestar o seu tributo à Virgem de Nazaré.

Os Brinquedos de Miriti:

Os Brinquedos de Miriti de Abaetetuba fazem parte há longos anos do Círio e Festa de Nazaré. Ninguém sabe precisar ao certo o íniício dessa tradição que já tem mais de 200 anos, mas a idéia nasceu mesmo no primeiro Círio, por inspiração do Governador, que mandou organizar uma feira de produtos regionais para a ocasião. 
Ora, um dos maiores riscos de quem vive e trabalha nas águas é justamente o naufrágio e todos se agarram à Virgem de Nazaré na hora do perigo e depois de salvos, e mesmo sem os sobressaltos dos perigos do mar, que agradecem levando réplicas das canoas e barcos que escaparam de afundar, feitos em miriti, palmeira para qual a população ribeirinha encontrou diversas utilidades. Com uma polpa maleável, permite a confecção de um sem-número de objetos. Dos barcos a outros elementos da vida amazônica foi um passo e agora existe uma gama de brinquedos que enchem os olhos não só das crianças. A cobra que se contorce, os bonecos batendo no pilão, os pássaros que bicam a comida, o tatu que mexe a cabeça e o rabo, gaiolas com pássaros, coretos de praça, tudo o que se vê em volta da gente. Então, os Brinquedos de Miriti de Abaetetuba constitui uma cultura que já se incorporou também à cultura do Círio e Festa de Nossa Senhora de Nazaré.

A Culinária Paraense no Círio e Festa de Nazaré:

O Almoço do Círio é o almoço feito após a procissão do Círio de Nossa Senhora de Nazaré em família e com os amigos e como um ato de comunhão. O Almoço do Círio tradicionalmente é composto de farta mesa de comidas típicas, especialmente a maniçoba e o pato-no-tucupi, e que reúne toda a família e amigos e parentes chegados de outras partes do Pará e de outros estados, em verdadeiras festas de confraternização familiar. O tradicional Almoço do Círio é o dia em que a culinária paraense ganha ainda mais destaque. O Almoço do Círio tem a sua tradição, desde quando os promesseiros do Círio de Nazaré paravam na Casa de Plácido, quando eram agraciados com típicas comidas indígenas feitas com ervas e raízes. Hoje a culinária paraense chama a atenção para as iguarias cujo preparo peculiar, como a maniçoba e o pato no tucupi, já é objeto dos grandes restaurantes especializados de Belém. O Pato-no-tucupi, tradicional prato da culinária paraense e a Maniçoba também tradicional item da culinária da região, junto com outras iguarias paraenses, já fazem parte da Cultura do Círio e Festa de Nossa Senhora de Nazaré.
A Imagem dos Santos, a Imagem da Virgem de Nazaré:
E quanto a imagem de Nossa Senhora, já falamos que a imagem em si não tem o Divino para ser adorado, mas é uma imagem que representa materialmente o Divino. É como uma igreja, monumentos e objetos sacros dos diversos cultos, que não são objetos de adoração, mas que representam o Divino. Ninguém em sã consciência vai dizer que precisa destruir ou derrubar uma igreja por que adoramos a igreja, mas amamos o Templo de Deus, porque ele representa o local onde se presta o Culto Divino. Maria não é divina e sua imagem também não é divina e todos temos consciência disso. Porém Maria é a Mãe de Deus e Jesus a nos entregou como nossa Mãe e, tanto de Cristo, feito Verdadeiro Homem, como de sua Mãe Santíssima, temos que ter suas imagens, porque as imagens simbolizam aquilo que está por trás, representam o Divino, a parte espiritual de nossa crença em Jesus, tão bem vivida por sua Mãe, a Virgem Santíssima, a Imaculada, a Bendita entre as mulheres, a Bem-Aventurada, aquela que deu o Seu Sim à Deus. E o próprio Deus, conforme nos falam as Sagradas Escrituras, mandou que se construísse a Arca da Aliança, que também era feita de matéria inanimada, porém para abrigar suas Leis, estas também esculpidas em pedra, e que se tornaram objetos sacros por aquilo que simbolizavam, isto é, conter e guardar Os Mandamentos de Deus, para os homens. E Deus ainda mandou que se fizessem imagens os querubins (anjos), Ex 25, 1022; Irs 6,23-28; 7, 23-26 e as imagens das serpentes abrasadoras, que significaram a força da Salvação que vem apenas de Deus e não das imagens dos deuses estrangeiros Nm 21, 4-9; Sab 16, 5-14.

As imagens e pinturas na Igreja, a partir dos primeiros séculos do Cristianismo, serviram como o Catecismo da Igreja Católica e tinham caráter pedagógico, pois a maioria dos primeiros crentes não sabiam ler e escrever e só podiam aprender os Mandamentos de Cristo através das pinturas e imagens.

A honra que nós católicos prestamos à Imagem de Nossa Senhora de Nazaré é apenas uma veneração respeitosa e não adoração. 

Então, o Círio e Festa de Nazaré congrega e identifica o Paraense, não apenas como membro ativo da cultura local, mas da cultura brasileira, amazônica, na pluralidade e diversidade que nos caracteriza e pela fé que os paraenses devotam à Virgem de Nazaré, conforme nos falam as Sagradas Escrituras.

Portanto, além do forte aspecto religioso do Círio e Festa de Nazaré, estamos diante de um patrimônio da cultura popular do Pará e Brasil, um patrimônio que ajuda a moldar a identidade do Pará e, por esse motivo, o Círio de Nazaré já foi tombado como Patrimônio Imaterial do Pará e do Brasil.

Blog do Ademir Rocha, de Abaetetuba/Pa, em 18/9/2012

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