Palavra de Vida – Setembro de 2017
Fonte abaixo: www.focolare.org
28 Agosto 2017
“Se alguém quer vir após mim, renuncie a si mesmo, tome sua cruz e siga-me.” (Mt 16,24)
Jesus está em plena vida pública, anunciando abertamente que o Reino de Deus está próximo, e se prepara para ir a Jerusalém. Seus discípulos, que intuíram a grandeza da sua missão e reconheceram nele o Enviado de Deus esperado por todo o povo de Israel, não veem a hora de se libertar da dominação romana, e sonham com a aurora de um mundo melhor, de paz e de prosperidade.
Mas Jesus não quer alimentar essas ilusões: diz claramente que a sua ida a Jerusalém não o levará ao triunfo, mas, pelo contrário, à rejeição, ao sofrimento e à morte. Revela também que ao terceiro dia ressuscitará. São palavras difíceis de compreender e de aceitar. Tanto que Pedro reage e se opõe abertamente a um projeto tão absurdo; pelo contrário, procura convencer Jesus a mudar de ideia.
Depois de repreender Pedro severamente, Jesus se dirige a todos os discípulos com um convite assombroso:
“Se alguém quer vir após mim, renuncie a si mesmo, tome sua cruz e siga-me.”
Mas o que é que Jesus pede aos seus discípulos de ontem e de hoje, com essas palavras? Será que Ele quer que desprezemos a nós mesmos? Que nos dediquemos inteiramente a uma vida ascética? Que procuremos o sofrimento para agradar mais a Deus?
Mais que isso: esta Palavra de Vida nos exorta a caminharmos nos passos de Jesus, acolhendo os valores e as exigências do Evangelho para ficarmos cada vez mais semelhantes a Ele. E isso significa viver a vida com plenitude, integralmente, como Ele fez, mesmo quando no caminho aparece a sombra da cruz.
“Se alguém quer vir após mim, renuncie a si mesmo, tome sua cruz e siga-me.”
Não podemos negar o fato de que cada um tem a sua cruz: a dor, nas suas múltiplas formas, faz parte da vida humana, mas para nós se mostra incompreensível, contrária ao nosso desejo de felicidade. No entanto, é exatamente ali que Jesus nos ensina a descobrir uma luz inesperada. Como acontece às vezes quando, entrando em certas igrejas, descobrimos como são maravilhosos e luminosos os seus vitrais que, vistos de fora, parecem escuros e sem beleza.
Se quisermos seguir Jesus, Ele pede que façamos uma completa reviravolta nos nossos valores, deixando de nos colocar no centro do mundo e rejeitando a lógica da busca do interesse pessoal. Ele propõe que prestemos mais atenção às exigências dos outros do que às nossas; que saibamos empenhar as nossas energias para que os outros sejam felizes, fazendo como Ele, que não perdeu ocasião para confortar e dar esperança àqueles com quem se encontrou. Desse modo, libertando-nos do egoísmo, pode começar para nós um crescimento em humanidade, a conquista de uma liberdade que realiza plenamente a nossa personalidade.
“Se alguém quer vir após mim, renuncie a si mesmo, tome sua cruz e siga-me.”
Jesus nos convida a sermos testemunhas do Evangelho, mesmo quando essa fidelidade é colocada à prova pelas pequenas ou grandes incompreensões do ambiente social em que vivemos. Jesus está conosco e quer que estejamos com Ele nessa aventura de arriscar a vida pelo ideal mais audacioso: a fraternidade universal, a civilização do amor.
Esse radicalismo no amor é uma exigência profunda do coração humano, como testemunham também personalidades de tradições religiosas não cristãs que seguiram a voz da consciência até as últimas consequências. Gandhi, por exemplo, escreve: “Se alguém me matar e eu morrer com uma oração pelo meu assassino nos lábios, e com a lembrança de Deus e a consciência da sua presença viva no santuário do meu coração, só então se poderá dizer que tenho a não-violência dos fortes”.
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Chiara Lubich encontrou no mistério de Jesus crucificado e abandonado o remédio para sanar toda ferida pessoal e toda falta de unidade entre pessoas, grupos e povos, e compartilhou essa descoberta com muitos. Em 2007, por ocasião de uma manifestação de Movimentos e Comunidades de diversas Igrejas em Stuttgart, na Alemanha, escreveu:
“Também cada um de nós, na vida, sofre dores ao menos parecidas com as suas. (…) Quando sentirmos (…) essas dores, lembremo-nos Dele que as assumiu como próprias: são como que uma sua presença, uma participação na sua dor. Façamos como Jesus, que não ficou estarrecido, mas, acrescentando àquele grito as palavras: ‘Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito’ (Lc 23,46), abandonou-se novamente ao Pai. Como Ele, também nós podemos ir para além da dor e superar a provação dizendo-lhe: ‘Nela, eu te amo, Jesus Abandonado; amo a ti, ela me faz recordar-te, é uma expressão tua, um semblante teu’. E se, no momento seguinte, nos lançarmos a amar o irmão e a irmã e a atuar aquilo que Deus quer, experimentaremos, na maioria das vezes, que a dor se transforma em alegria (…). Os pequenos grupos em que vivemos (…) podem conhecer pequenas ou grandes divisões. Também nessa dor podemos ver o Seu semblante, superar aquela dor em nós e fazer de tudo para recompor a fraternidade com os outros. (…) A cultura da comunhão tem como caminho e modelo Jesus crucificado e abandonado.”
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Letizia Magri
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- K. Gandhi, Antiche come le montagne, Ed. di Comunità, Milão 1965, pp. 95-96.
- Lubich, Por uma cultura de comunhão – Encontro Internacional “Juntos pela Europa” – Stuttgart (Alemanha), 12 de maio de 2007 – http://www.together4europe.org/ .
Reproduzido pelo Blog do Ademir Rocha
Terra Santa: uma amiga judia do outro lado do muro
7 Junho 2016
Vera Baboun, prefeita cristã de Belém, fala do seu compromisso em política, motivado por uma forte carga espiritual pelo bem do seu povo.
«Conheci Bella, uma mulher judia, num centro dos Focolares em Jerusalém. Contei-lhe a história do meu marido torturado numa prisão israelense. Ela me escutou, embora eu tenha notado um certo conflito interior. Estava diante de uma encruzilhada. Ser israelense e por isso rejeitar tudo o que eu lhe contava, ou sentir compaixão dos fatos que me aconteceram. Num primeiro momento ela não conseguiu me aceitar e saiu da sala onde estávamos nos encontrando. Eu a segui e lhe disse que sentia muito tê-la ofendido. Bella me explicou que não era minha culpa, mas do sistema. Então lhe pedi que voltasse atrás (se emociona, ndr). Assim nasceu a nossa amizade. Um muro separa a minha cidade, Belém, da sua, Jerusalém. Mas, entre nós duas, muros não existem mais. Rezo a fim de que muitos judeus de Israel possam olhar para a nossa amizade. Bella vive o espírito dos Focolares, no sentido de que somos todos filhos de Deus e é só o amor e a compaixão que nos leva a viver juntos. Nós, homens, construímos o muro ao redor de Belém, não se pode construir sozinho. Deus nos deu a liberdade de construí-lo ou de abatê-lo. Inclusive dentro de nós».
Assim responde Vera Baboun, primeira mulher e primeira cristã católica a se tornar prefeita de Belém, à pergunta se seria possível instaurar uma verdadeira amizade entre palestinos e israelenses. A ocasião para encontrá-la é dada pela outorga do 7º “Prêmio
Chiara Lubich, Manfredônia, cidade pela fraternidade universal”, em março de 2016.
Belém é uma Cidade da Cisjordânia, do Governatorato de Belém da Autoridade Nacional Palestina. Quarenta habitantes, dos quais 28% cristãos, 72% muçulmanos. É a cidade onde nasceu Jesus, a cerca de 10 km ao sul de Jerusalém. A igreja da Natividade, em Belém, é uma das mais antigas do mundo. Todavia «o muro condiciona inclusive a nossa fé, porque desde crianças estávamos habituados a visitar os lugares originários de Jesus. Existe toda uma geração de jovens palestinos cristãos que nunca rezou no Santo sepulcro de Jerusalém», declara ainda Vera Baboun. «Somos a capital da natividade, celebramos e enviamos ao mundo uma mensagem de paz, enquanto em Belém falta justamente a paz. Após 40% de cancelamentos deste ano, decidimos com o conselho municipal, diminuir as taxas em 80%, sobre as licenças e sobre as propriedades para quem vive e trabalha na área turística. Fizemos isto para sustentá-los, mesmo se isto significa um empobrecimento de recursos para o município. Mas a nós, quem nos sustenta? Quem sustenta a nossa dupla identidade? Aquela cristã universal e a palestina».
Mas quem a permite agir assim? «Só o amor de Deus. Percebo isto de modo muito forte. Não me importa nada o poder, a fama; para mim, exercer o trabalho de prefeita é um peso que me custa não pouco. Após a morte do meu marido e depois de ter trabalhado toda a vida na educação, decidi tomar o lugar do meu marido porque ele se comprometera politicamente pela libertação da Palestina».
Frequentemente a senhora declarou: «Será que o mundo poderá viver em paz enquanto a cidade da paz estiver murada?»… «Enquanto a cidade de Belém estiver murada, haverá um muro ao redor da paz. Estamos sob assédio. E para o mundo é melhor trabalhar para libertar a paz, não só para Belém, mas para nos libertar do sentido do mal, do uso da religião como máscara para cobrir perversidades e guerra».
Reproduzido pelo Blog do Ademir Rocha