domingo, 1 de maio de 2016

Palavra de Vida de Maio 2016

Palavra de Vida de Maio 2016
Palavra de Vida – Maio de 2016
Fonte: www.focolares.org
28 Abril 2016
“Ele vai morar junto deles. Eles serão o seu povo, e o próprio Deus-com-eles será seu Deus.” (Ap 21,3)

Sempre foi este o desejo de Deus: morar conosco, o seu povo. Desde as primeiras páginas da Bíblia nós o vemos na atitude de descer do Céu, passear pelo jardim e entreter-se com Adão e Eva. Não foi para isso que nos criou? O que deseja aquele que ama, senão estar com a pessoa amada? O livro do Apocalipse, que sonda o projeto de Deus na história, nos dá a certeza de que esse desejo de Deus será realizado em sua plenitude.
Deus já começou a morar em nosso meio desde a chegada de Jesus, o Emanuel, o “Deus conosco”. E agora que Jesus ressuscitou, a sua presença não está mais limitada a um lugar ou a um tempo, mas se dilatou sobre o mundo inteiro. Com Jesus iniciou a construção de uma nova comunidade humana muito original: um povo composto por muitos povos. Deus quer morar não somente na minha alma, na minha família, no meu povo, mas entre todos os povos chamados a formarem um só povo. Além do mais, a atual mobilidade humana está mudando o próprio conceito de povo. Em muitos países o povo já é composto por muitos povos.
Somos bem diferentes pela cor da pele, pela cultura, pela religião. Olhamo-nos muitas vezes com desconfiança, suspeita, medo. Ficamos fazendo guerra uns contra os outros. E no entanto, Deus é Pai de todos, ama-nos a todos e a cada um. Não quer morar com um povo – “o nosso, naturalmente”, é o que se pensa logo – e abandonar os outros povos. Para Ele somos todos filhos e filhas Dele, somos uma única família.
Vamos então exercitar-nos, orientados pela Palavra de Vida deste mês, em valorizar a diversidade, em respeitar o outro, em olhá-lo como uma pessoa que me pertence: eu  me identifico com o outro, o outro se identifica comigo; o outro vive em mim, eu vivo no outro. Começando pelas pessoas com as quais vivo todo dia. Desse modo podemos abrir espaço para a presença de Deus entre nós. Será Ele que irá compor a unidade, que vai salvaguardar a identidade de cada povo, criar uma nova socialidade.
Chiara já tinha intuído isso em 1959, numa página de extrema atualidade e de incrível profecia: “Se um dia os homens, não como indivíduos, mas como povos […] souberem pospor-se a si mesmos, a ideia que têm de suas pátrias, […] se fizerem isto pelo amor recíproco entre os Estados, que Deus exige, como exige o amor mútuo entre irmãos, aquele dia será o início de um tempo novo, porque naquele dia […] Jesus estará vivo e presente entre os povos […].
Estes são os tempos em que cada povo deve ultrapassar os próprios confins e olhar além. Chegou o momento em que a pátria do outro deve ser amada como a própria, em que o nosso olhar deve adquirir uma nova pureza. Não basta o desapego de nós mesmos para sermos cristãos. Hoje os tempos exigem algo mais do seguidor de Cristo, uma consciência social do cristianismo […].

[…] Nós esperamos que o Senhor tenha piedade deste mundo dividido e disperso, destes povos trancados na própria casca a contemplar a própria beleza – para eles sem igual – limitada e insatisfatória, a defender com dentes cerrados os próprios tesouros – a resguardar até aqueles bens que poderiam servir a outros povos nos quais se morre de fome – e faça cair as barreiras e jorrar em fluxo ininterrupto a caridade entre terra e terra, torrente de bens espirituais e materiais.
Esperamos que o Senhor componha uma ordem nova no mundo, Ele, o único capaz de fazer da humanidade uma família e de preservar as distinções entre os povos para que, no esplendor de cada um, posto a serviço do outro, reluza a única luz de vida que, embelezando a pátria terrena, faz dela a antessala da Pátria eterna.”1
Fabio Ciardi
1Maria, vínculo de unidade entre os povos, in Ideal e Luz, São Paulo : Cidade Nova, 2003, pp. 288-289.


Homenagem ao Dia do Trabalho

Giordani: a dignidade do trabalho
1 Maio 2016
Um trecho extraído do livro “La società cristiana” (A sociedade cristã), editado pela primeira vez em 1942: uma obra que representa fielmente um clima histórico e ao mesmo tempo o transcende, no ensinamento perene de que o Evangelho leva à construção da civilização do amor cristão.
«O trabalho foi imposto ao homem como castigo; mas também como meio de redenção. Enquanto tem como finalidade imediata a aquisição do pão quotidiano contribui também ao fim último da aquisição do Reino eterno. Por isso, refere-se tanto à economia, quanto à teologia; porque o homem é filho de Deus, destina-se a Deus, também quando trabalha.
Se o problema se reduzisse apenas à economia, o trabalhador tornar-se-ia apenas uma máquina: a sua dignidade como homem seria limitada àquela de um utensílio.
Hoje, fala-se tanto da dignidade do trabalho que o tema tornou-se comum. Mas isso não quer dizer que a mentalidade servil tenha desaparecido, nem que faltem empresários, até batizados, aos quais, porque pagam um salário, não pareça ter o direito de humilhar de quem vive do salário, tratando-o com desprezo e com desconfiança, seja ele um trabalhador intelectual ou uma empregada doméstica semianalfabeta.
Mas o trabalho não serve apenas para amadurecer um salário de dinheiro. O trabalho realizado com um desejo de redenção moral, de participação ao sofrimento de Cristo, torna-se produção de santidade: entra na economia da verdade eterna, da qual deriva uma dignidade que faz dos construtores de máquinas, dos agricultores, dos estudantes, dos profissionais liberais, dos empregados, das donas de casa, outros construtores do Cristo integral.
«Cada bom operário – escreveu santo Ambrósio – é uma mão de Cristo». Isto é, Cristo trabalha na sociedade com as mãos dos seus operários. Em outras palavras, quem trabalha bem edifica na terra uma construção celeste: é o autor humano de uma arquitetura divina. E isso eleva a uma dignidade ilimitada quem o faz e aquilo que faz, se o faz segundo o espírito e conforme a lei de Cristo.
Assim vê-se que o divino opera na sociedade por meio do homem, associado a participar do prodígio vivo da Incarnação, a qual, se foi o milagre da humanização do filho de Deus, traz consigo também o milagre de cada dia de uma divinização de todos os filhos do homem e por isso filhos de Deus; um movimento que, partindo da terra, vai ao encontro de Cristo que vem do céu.
Deste modo, a vida nas estradas atormentadas do planeta é, sim, totalmente humana, mas também, se vivida no espírito da Redenção, totalmente inserida no divino, toda divina.
Esta dignidade não é limitada apenas às obras do espírito, mas investe toda a pessoa humana, corpo e espírito, em tudo aquilo que faz.
O encargo, a profissão, o escritório…: estas coisas melancólicas, às vezes trágicas e muitas vezes cansativas transformam-se, de repente, em valores insuspeitados, em elementos do nosso destino, tornam-se os meios da nossa redenção. O trabalho era o nosso castigo; e, pela humanidade de Cristo, faz-se o nosso resgate. É a nossa contribuição para a Redenção.
Chega-se ao céu com os materiais da terra. Nada se perde: nem um dia mal pagado, nem uma palavra dita, nem um copo-d’água dado por Cristo. Sobretudo com estas coisas simples edifica-se o Reino de Deus. Porque a maioria das pessoas não vai em missão, nem se fecha nos eremitérios, nem escreve tratados de teologia, mas todos trabalham, todos estão ao serviço. Ora, estando ao serviço dos homens, se agimos no espírito de Cristo, serve-se a Deus, que ainda não se apresenta a nós com a sua luz, que ofuscaria a nossa vista, mas naquela sua efígie, que são os homens, sua representação e projeto».
Igino Giordani, “La società cristiana” (A sociedade cristã), Città Nuova, Roma (1942) 2010, pp. 72-82



As palavras do papa Francisco na “Aldeia pela Terra”


27 Abril 2016
Publicamos integralmente o discurso do papa Francisco, feito de improviso, durante a manifestação em Villa Borghese promovida pelo Movimento dos Focolares para a Mariápolis de Roma e por Earth Day Itália.

«Ouvindo vocês falarem, me vieram à mente duas imagens: o deserto e a floresta. Eu pensei: estas pessoas, todos vocês, pegam o deserto para transformá-lo em floresta. Vão aonde tem o deserto, aonde não existe esperança, e fazem coisas que fazem com que este deserto se torne floresta. A floresta é cheia de árvores, é cheia de verde, mas desordenada demais… mas assim é a vida! E passar do deserto à floresta é um bonito trabalho que vocês fazem. Vocês transformam desertos em florestas! E depois se verá como podem ser organizadas certas coisas da floresta… Mas lá existe vida, aqui não: no deserto existe morte.
Muitos desertos nas cidades, muitos desertos na vida das pessoas que não têm futuro, porque sempre existe – e evidencio uma palavra dita aqui – sempre existem os preconceitos, os medos. E estas pessoas devem viver e morrer no deserto, na cidade. Vocês fazem o milagre com o trabalho de vocês de transformar o deserto em florestas: vão em frente assim. Mas como é o plano de trabalho de vocês? Não sei… Nós nos aproximamos e vemos o que podemos fazer. E esta é a vida! Porque se deve pegar a vida como ela vem. É como o goleiro no futebol: pega a bola de onde a chutam… vem para cá, para lá… Mas não é preciso ter medo da vida, não ter medo dos conflitos. Uma vez alguém me disse – não sei se é verdade, se alguém quiser pode verificar, eu não verifiquei – que a palavra conflito na língua chinesa é feita por dois sinais: um sinal que significa “risco”, e outro sinal que significa “oportunidade”. O conflito, é verdade, é um risco, mas também é uma oportunidade.
O conflito, podemos pegá-lo como uma coisa de que devemos nos afastar: “Não, lá existe um conflito, eu fico longe”. Nós cristãos sabemos bem o que fez o levita, o que fez o sacerdote, com o pobre homem caído na estrada. Foram por outra estrada para não ver, para não se aproximar (cfr. Lc 10,30-37). Quem não arrisca, nunca consegue se aproximar da realidade: para conhecer a realidade, mas também para conhecê-la com o coração, é necessário se aproximar. E se aproximar é um risco, mas também uma oportunidade: para mim e para a pessoa da qual me aproximo. Para mim e para a comunidade da qual me aproximo. Penso nos testemunhos que vocês deram, por exemplo, na prisão, com todo o trabalho de vocês. O conflito: jamais, jamais, jamais voltar as costas para não ver o conflito. Os conflitos devem ser assumidos, os males devem ser assumidos para serem resolvidos.

O deserto é feio, seja aquele que está no coração de todos nós, seja aquele que está na cidade, nas periferias, é uma coisa feia. Inclusive o deserto que existe nos condomínios protegidos… É feio, lá também existe o deserto. Mas não devemos ter medo de ir até o deserto para transformá-lo em floresta; existe vida exuberante, e se pode ir enxugar muitas lágrimas para que todos possam sorrir.
Isto me faz pensar muito naquele salmo do povo de Israel, quando era prisioneiro na Babilônia, e diziam: “Não podemos cantar os nossos cânticos, porque estamos em terra estrangeira”. Tinham os instrumentos, lá com eles, mas não tinham alegria porque eram reféns em terra estrangeira. Mas quando foram libertados, diz o Salmo, “não podíamos acreditar, a nossa boca se encheu de sorriso” (cfr. Sal 137). E assim nesta passagem do deserto para a floresta, para a vida, existe o sorriso.
Eu lhes dou uma tarefa para fazer “em casa”: olhem um dia o rosto das pessoas quando forem pela rua: estão preocupados, cada um está fechado em si mesmo, falta o sorriso, falta a ternura, em outras palavras a amizade social, nos falta esta amizade social. Onde não existe a amizade social sempre existe o ódio, a guerra. Nós estamos vivendo uma “terceira guerra mundial em pedaços”, por toda a parte. Observem a carta geográfica do mundo e verão isto. Ao invés, a amizade social, muitas vezes deve ser feita com o perdão – a primeira palavra – com o perdão. Muitas vezes se faz com a aproximação: eu me aproximo daquele problema, daquele conflito, daquela dificuldade, como ouvimos que fazem estes e estas jovens corajosos nos locais de jogos de azar  onde muita gente perde tudo, tudo, tudo. Em Buenos Aires vi mulheres idosas que iam ao banco para retirar a pensão e logo depois ao cassino, logo depois! Aproximar-se do local do conflito. E estes [jovens] vão, se aproximam. Aproximar-se…
E há também outra coisa que tem a ver com o jogo, com o esporte e também com a arte: é a gratuidade. A amizade social é feita na gratuidade, e esta sabedoria da gratuidade se aprende, se aprende: com o jogo, com o esporte, com a arte, com a alegria de estar juntos, com o aproximar-se… É uma palavra, gratuidade, para não ser esquecida neste mundo, onde parece que se você não paga não pode viver, onde a pessoa, o homem e a mulher, que Deus criou bem no centro do mundo, para estar também no centro da economia, foram expulsos e no centro temos um belo deus, o deus dinheiro. Hoje, no centro do mundo, está o deus dinheiro e aqueles que podem se aproximar adorando este deus se aproximam, e aqueles que não podem acabam na fome, nas doenças, na exploração… Pensem na exploração das crianças, dos jovens.
Gratuidade: é a palavra-chave. Gratuidade que faz de tal modo que eu dê a minha vida assim como é, para ir com os outros e fazer com que este deserto se torne floresta. Gratuidade, esta é uma coisa boa!
E perdão, também, perdoar. Porque, com o perdão, o rancor, o ressentimento se afasta. E depois, construir sempre, não destruir, construir.
Isso, estas são as coisas que me vêm em mente. E como se faz isto? Simplesmente conscientes de que todos temos algo em comum, todos somos humanos. E nesta humanidade nos aproximamos para trabalhar juntos. “Mas eu sou desta religião, daquela…” Não importa! Avante todos para trabalharmos juntos. Respeitar-se, respeitar-se! E assim veremos este milagre: o milagre de um deserto que se torna floresta.
Muito obrigado por tudo aquilo que vocês fazem! Obrigado».
Dia mundial pela Terra 2016
PALAVRAS DO SANTO PADRE FRANCISCO
DURANTE A VISITA À MANIFESTAÇÃO “ALDEIA PELA TERRA”
Roma, Villa Borghese
Domingo, 24 de abril de 2016
Fonte: vatican.va (em italiano)
Reproduzido pelo Blog do Ademir Rocha

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