Palavra de Vida de Maio 2016
Palavra de Vida – Maio de 2016
Fonte:
www.focolares.org
28 Abril 2016
“Ele vai morar junto deles. Eles
serão o seu povo, e o próprio Deus-com-eles será seu Deus.” (Ap 21,3)
Sempre foi este o desejo de Deus:
morar conosco, o seu povo. Desde as primeiras páginas da Bíblia nós o vemos na
atitude de descer do Céu, passear pelo jardim e entreter-se com Adão e Eva. Não
foi para isso que nos criou? O que deseja aquele que ama, senão estar com a
pessoa amada? O livro do Apocalipse, que sonda o projeto de Deus na história,
nos dá a certeza de que esse desejo de Deus será realizado em sua plenitude.
Deus já começou a morar em nosso meio
desde a chegada de Jesus, o Emanuel, o “Deus conosco”. E agora que Jesus
ressuscitou, a sua presença não está mais limitada a um lugar ou a um tempo,
mas se dilatou sobre o mundo inteiro. Com Jesus iniciou a construção de uma
nova comunidade humana muito original: um povo composto por muitos povos. Deus
quer morar não somente na minha alma, na minha família, no meu povo, mas entre
todos os povos chamados a formarem um só povo. Além do mais, a atual mobilidade
humana está mudando o próprio conceito de povo. Em muitos países o povo já é
composto por muitos povos.
Somos bem diferentes pela cor da
pele, pela cultura, pela religião. Olhamo-nos muitas vezes com desconfiança,
suspeita, medo. Ficamos fazendo guerra uns contra os outros. E no entanto, Deus
é Pai de todos, ama-nos a todos e a cada um. Não quer morar com um povo – “o
nosso, naturalmente”, é o que se pensa logo – e abandonar os outros povos. Para
Ele somos todos filhos e filhas Dele, somos uma única família.
Vamos então exercitar-nos, orientados
pela Palavra de Vida deste mês, em valorizar a diversidade, em respeitar o
outro, em olhá-lo como uma pessoa que me pertence: eu me identifico com o
outro, o outro se identifica comigo; o outro vive em mim, eu vivo no outro. Começando
pelas pessoas com as quais vivo todo dia. Desse modo podemos abrir espaço para
a presença de Deus entre nós. Será Ele que irá compor a unidade, que vai
salvaguardar a identidade de cada povo, criar uma nova socialidade.
Chiara já tinha intuído isso em 1959,
numa página de extrema atualidade e de incrível profecia: “Se um dia os homens,
não como indivíduos, mas como povos […] souberem pospor-se a si mesmos, a ideia
que têm de suas pátrias, […] se fizerem isto pelo amor recíproco entre os
Estados, que Deus exige, como exige o amor mútuo entre irmãos, aquele dia será
o início de um tempo novo, porque naquele dia […] Jesus estará vivo e presente
entre os povos […].
Estes são os tempos em que cada povo
deve ultrapassar os próprios confins e olhar além. Chegou o momento em que a
pátria do outro deve ser amada como a própria, em que o nosso olhar deve
adquirir uma nova pureza. Não basta o desapego de nós mesmos para sermos
cristãos. Hoje os tempos exigem algo mais do seguidor de Cristo, uma
consciência social do cristianismo […].
[…] Nós esperamos que o Senhor tenha
piedade deste mundo dividido e disperso, destes povos trancados na própria
casca a contemplar a própria beleza – para eles sem igual – limitada e
insatisfatória, a defender com dentes cerrados os próprios tesouros – a
resguardar até aqueles bens que poderiam servir a outros povos nos quais se
morre de fome – e faça cair as barreiras e jorrar em fluxo ininterrupto a
caridade entre terra e terra, torrente de bens espirituais e materiais.
Esperamos que o Senhor componha uma
ordem nova no mundo, Ele, o único capaz de fazer da humanidade uma família e de
preservar as distinções entre os povos para que, no esplendor de cada um, posto
a serviço do outro, reluza a única luz de vida que, embelezando a pátria
terrena, faz dela a antessala da Pátria eterna.”1
Fabio Ciardi
1Maria, vínculo de unidade entre
os povos, in Ideal e Luz, São Paulo : Cidade Nova, 2003, pp.
288-289.
Homenagem ao Dia do Trabalho
Giordani: a dignidade do trabalho
1 Maio 2016
Um trecho extraído do livro “La società cristiana” (A sociedade cristã),
editado pela primeira vez em 1942: uma obra que representa fielmente um clima
histórico e ao mesmo tempo o transcende, no ensinamento perene de que o
Evangelho leva à construção da civilização do amor cristão.
«O trabalho foi imposto ao homem como castigo; mas
também como meio de redenção. Enquanto tem como finalidade imediata a aquisição
do pão quotidiano contribui também ao fim último da aquisição do Reino eterno.
Por isso, refere-se tanto à economia, quanto à teologia; porque o homem é filho
de Deus, destina-se a Deus, também quando trabalha.
Se o problema se reduzisse apenas à economia, o trabalhador tornar-se-ia apenas uma máquina: a sua dignidade como homem seria limitada àquela de um utensílio.
Se o problema se reduzisse apenas à economia, o trabalhador tornar-se-ia apenas uma máquina: a sua dignidade como homem seria limitada àquela de um utensílio.
Hoje, fala-se tanto da dignidade do trabalho que o tema tornou-se comum. Mas
isso não quer dizer que a mentalidade servil tenha desaparecido, nem que faltem
empresários, até batizados, aos quais, porque pagam um salário, não pareça ter
o direito de humilhar de quem vive do salário, tratando-o com desprezo e com
desconfiança, seja ele um trabalhador intelectual ou uma empregada doméstica
semianalfabeta.
Mas o trabalho não serve apenas para amadurecer um
salário de dinheiro. O
trabalho realizado com um desejo de redenção moral, de participação ao
sofrimento de Cristo, torna-se produção de santidade: entra na economia da
verdade eterna, da qual deriva uma dignidade que faz dos construtores de
máquinas, dos agricultores, dos estudantes, dos profissionais liberais, dos
empregados, das donas de casa, outros construtores do Cristo integral.
«Cada bom operário – escreveu santo Ambrósio – é
uma mão de Cristo». Isto é, Cristo trabalha na sociedade com as mãos dos seus operários. Em
outras palavras, quem trabalha bem edifica na terra uma construção celeste: é o
autor humano de uma arquitetura divina. E isso eleva a uma dignidade ilimitada
quem o faz e aquilo que faz, se o faz segundo o espírito e conforme a lei de
Cristo.
Assim vê-se que o divino opera na sociedade por
meio do homem,
associado a participar do prodígio vivo da Incarnação, a qual, se foi o milagre
da humanização do filho de Deus, traz consigo também o milagre de cada dia de
uma divinização de todos os filhos do homem e por isso filhos de Deus; um
movimento que, partindo da terra, vai ao encontro de Cristo que vem do céu.
Deste modo, a vida nas estradas atormentadas do
planeta é, sim, totalmente humana, mas também, se vivida no espírito da Redenção,
totalmente inserida no divino, toda divina.
Esta dignidade não é limitada apenas às obras do espírito, mas investe toda a pessoa humana, corpo e espírito, em tudo aquilo que faz.
Esta dignidade não é limitada apenas às obras do espírito, mas investe toda a pessoa humana, corpo e espírito, em tudo aquilo que faz.
O encargo, a profissão, o escritório…: estas coisas melancólicas, às
vezes trágicas e muitas vezes cansativas transformam-se, de repente, em valores
insuspeitados, em elementos do nosso destino, tornam-se os meios da nossa
redenção. O trabalho era o nosso castigo; e, pela humanidade de Cristo, faz-se
o nosso resgate. É a nossa contribuição para a Redenção.
Chega-se ao céu com os materiais da terra. Nada se perde: nem um dia mal
pagado, nem uma palavra dita, nem um copo-d’água dado por Cristo. Sobretudo com
estas coisas simples edifica-se o Reino de Deus. Porque a maioria das pessoas
não vai em missão, nem se fecha nos eremitérios, nem escreve tratados de
teologia, mas todos trabalham, todos estão ao serviço. Ora, estando ao serviço
dos homens, se agimos no espírito de Cristo, serve-se a Deus, que ainda não se
apresenta a nós com a sua luz, que ofuscaria a nossa vista, mas naquela sua
efígie, que são os homens, sua representação e projeto».
Igino Giordani, “La società cristiana” (A sociedade cristã),
Città Nuova, Roma (1942) 2010, pp. 72-82
As palavras do papa Francisco na
“Aldeia pela Terra”
27 Abril 2016
Publicamos integralmente o discurso do papa Francisco, feito de
improviso, durante a manifestação em Villa Borghese promovida pelo Movimento
dos Focolares para a Mariápolis de Roma e por Earth Day Itália.
«Ouvindo vocês falarem, me vieram à mente duas
imagens: o deserto e a floresta. Eu pensei: estas pessoas, todos vocês,
pegam o deserto para transformá-lo em floresta. Vão aonde tem o deserto, aonde
não existe esperança, e fazem coisas que fazem com que este deserto se torne
floresta. A floresta é cheia de árvores, é cheia de verde, mas desordenada
demais… mas assim é a vida! E passar do deserto à floresta é um bonito trabalho
que vocês fazem. Vocês transformam desertos em florestas! E depois se verá como
podem ser organizadas certas coisas da floresta… Mas lá existe vida, aqui não:
no deserto existe morte.
Muitos desertos nas cidades, muitos desertos na vida das
pessoas que não têm futuro, porque sempre existe – e evidencio uma palavra dita
aqui – sempre existem os preconceitos, os medos. E estas pessoas devem viver e
morrer no deserto, na cidade. Vocês fazem o milagre com o trabalho de vocês de
transformar o deserto em florestas: vão em frente assim. Mas como é o plano de
trabalho de vocês? Não sei… Nós nos aproximamos e vemos o que podemos fazer. E
esta é a vida! Porque se deve pegar a vida como ela vem. É como o goleiro no
futebol: pega a bola de onde a chutam… vem para cá, para lá… Mas não é preciso
ter medo da vida, não ter medo dos conflitos. Uma vez alguém me disse – não sei
se é verdade, se alguém quiser pode verificar, eu não verifiquei – que a
palavra conflito na língua chinesa é feita por dois sinais: um sinal que significa
“risco”, e outro sinal que significa “oportunidade”. O conflito, é verdade, é
um risco, mas também é uma oportunidade.
O conflito, podemos pegá-lo como uma coisa de que
devemos nos afastar: “Não,
lá existe um conflito, eu fico longe”. Nós cristãos sabemos bem o que fez o
levita, o que fez o sacerdote, com o pobre homem caído na estrada. Foram por
outra estrada para não ver, para não se aproximar (cfr. Lc 10,30-37).
Quem não arrisca, nunca consegue se aproximar da realidade: para conhecer a
realidade, mas também para conhecê-la com o coração, é necessário se aproximar.
E se aproximar é um risco, mas também uma oportunidade: para mim e para a
pessoa da qual me aproximo. Para mim e para a comunidade da qual me aproximo.
Penso nos testemunhos que vocês deram, por exemplo, na prisão, com todo o
trabalho de vocês. O conflito: jamais, jamais, jamais voltar as costas para não
ver o conflito. Os conflitos devem ser assumidos, os males devem ser assumidos
para serem resolvidos.
O deserto é feio, seja aquele que está no coração de todos nós, seja
aquele que está na cidade, nas periferias, é uma coisa feia. Inclusive o
deserto que existe nos condomínios protegidos… É feio, lá também existe o
deserto. Mas não devemos ter medo de ir até o deserto para transformá-lo em
floresta; existe vida exuberante, e se pode ir enxugar muitas lágrimas para que
todos possam sorrir.
Isto me faz pensar muito naquele salmo do povo de
Israel, quando era prisioneiro na Babilônia, e diziam: “Não podemos cantar os
nossos cânticos, porque estamos em terra estrangeira”. Tinham os instrumentos,
lá com eles, mas não tinham alegria porque eram reféns em terra estrangeira.
Mas quando foram libertados, diz o Salmo, “não podíamos acreditar, a nossa boca
se encheu de sorriso” (cfr. Sal 137). E assim nesta passagem do deserto
para a floresta, para a vida, existe o sorriso.
Eu lhes dou uma tarefa para fazer “em casa”: olhem um dia o rosto das pessoas
quando forem pela rua: estão preocupados, cada um está fechado em si mesmo,
falta o sorriso, falta a ternura, em outras palavras a amizade social, nos
falta esta amizade social. Onde não existe a amizade social sempre existe o
ódio, a guerra. Nós estamos vivendo uma “terceira guerra mundial em pedaços”,
por toda a parte. Observem a carta geográfica do mundo e verão isto. Ao invés,
a amizade social, muitas vezes deve ser feita com o perdão – a primeira palavra
– com o perdão. Muitas vezes se faz com a aproximação: eu me aproximo daquele
problema, daquele conflito, daquela dificuldade, como ouvimos que fazem estes e
estas jovens corajosos nos locais de jogos de azar onde muita gente perde
tudo, tudo, tudo. Em Buenos Aires vi mulheres idosas que iam ao banco para
retirar a pensão e logo depois ao cassino, logo depois! Aproximar-se do local do
conflito. E estes [jovens] vão, se aproximam. Aproximar-se…
E há também outra coisa que tem a ver com o jogo,
com o esporte e também com a arte: é a gratuidade. A amizade social é feita na
gratuidade, e esta sabedoria da gratuidade se aprende, se aprende: com o jogo,
com o esporte, com a arte, com a alegria de estar juntos, com o aproximar-se… É
uma palavra, gratuidade, para não ser esquecida neste mundo, onde parece que se
você não paga não pode viver, onde a pessoa, o homem e a mulher, que Deus criou
bem no centro do mundo, para estar também no centro da economia, foram expulsos
e no centro temos um belo deus, o deus dinheiro. Hoje, no centro do mundo, está
o deus dinheiro e aqueles que podem se aproximar adorando este deus se
aproximam, e aqueles que não podem acabam na fome, nas doenças, na exploração…
Pensem na exploração das crianças, dos jovens.
Gratuidade: é a palavra-chave. Gratuidade que faz de tal modo
que eu dê a minha vida assim como é, para ir com os outros e fazer com que este
deserto se torne floresta. Gratuidade, esta é uma coisa boa!
E perdão, também, perdoar. Porque, com o perdão, o
rancor, o ressentimento se afasta. E depois, construir sempre, não destruir,
construir.
Isso, estas são as coisas que me vêm em mente. E
como se faz isto? Simplesmente conscientes de que todos temos algo em comum,
todos somos humanos. E nesta humanidade nos aproximamos para trabalhar juntos.
“Mas eu sou desta religião, daquela…” Não importa! Avante todos para
trabalharmos juntos. Respeitar-se, respeitar-se! E assim veremos este milagre:
o milagre de um deserto que se torna floresta.
Muito obrigado por tudo aquilo que vocês fazem!
Obrigado».
Dia mundial pela Terra 2016
PALAVRAS DO SANTO PADRE FRANCISCO
DURANTE A VISITA À MANIFESTAÇÃO “ALDEIA PELA TERRA”
DURANTE A VISITA À MANIFESTAÇÃO “ALDEIA PELA TERRA”
Roma, Villa Borghese
Domingo, 24 de abril de 2016
Domingo, 24 de abril de 2016
Reproduzido pelo Blog do Ademir Rocha
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