Palavra de Vida de Outubro 2015
Palavra de Vida – Outubro de 2015
Fonte: www.focolares.org
26 Setembro 2015
“Nisto
conhecerão todos que sois os meus discípulos: se vos amardes uns aos outros.”
(Jo 13,35)
É esse o distintivo, o sinal de reconhecimento, a
característica típica dos cristãos. Ou pelo menos deveria ser esse, porque foi
assim que Jesus imaginou que seria a sua comunidade.
Um fascinante escrito dos primeiros séculos do
cristianismo, a Carta a Diogneto, dá conta de que “os cristãos não se
distinguem dos outros homens nem pelo território, nem pelo modo de falar, nem
pelo modo de vestir. Com efeito, não moram em cidades diferentes, não usam
alguma língua estranha, nem adotam um modo de vida especial”. São pessoas
normais, como todas as outras. No entanto, possuem um segredo que as faz
influir profundamente na sociedade, fazendo-as ser como que a sua alma (cf.
cap. 5-6).
É um segredo que Jesus confiou aos seus
discípulos pouco antes de morrer. Tal como os antigos sábios de Israel, ou como
um pai diante de seu filho, também Ele, Mestre de sabedoria, deixou como
herança a arte do saber viver, do viver bem. Ele a tinha colhido diretamente do
Pai: “Porque vos dei a conhecer tudo o que ouvi de meu Pai” (Jo
15,15), e era esse o fruto da sua experiência na relação com Ele. Essa arte
consiste na reciprocidade do amor. É essa a última vontade de Jesus, o seu
testamento, a vida do Céu que Ele trouxe à terra, partilhando-a conosco a fim
de que nós tenhamos a mesma vida.
Ele quer que seja esta a identidade dos seus
discípulos, que eles sejam reconhecidos como discípulos pelo amor mútuo:
“Nisto
conhecerão todos que sois os meus discípulos: se vos amardes uns aos outros.”
Será que os discípulos de Jesus são reconhecidos
pelo amor recíproco? “A história da Igreja é uma história de santidade”,
escreveu João Paulo II. “No entanto, ela registra também numerosos episódios
que constituem um contratestemunho para o cristianismo” (Incarnationis
Mysterium, 11). Durante séculos os cristãos se combateram em nome de Jesus
com guerras intermináveis, e persistem na divisão entre si. Ainda hoje há
pessoas que identificam os cristãos com as Cruzadas, com os tribunais da
Inquisição, ou os veem como defensores ferrenhos de uma moral antiquada, que se
opõem ao progresso da ciência.
Não era isso que acontecia com os primeiros
cristãos da comunidade nascente de Jerusalém. As pessoas ficavam admiradas pela
comunhão dos bens que eles viviam, pela unidade que reinava, pela “alegria e
simplicidade de coração” que os caracterizava (cf. At 2,46). “O povo
estimava-os muito”, lemos ainda nos Atos dos Apóstolos, com a consequência de
que a cada dia “crescia sempre mais o número dos que pela fé aderiam ao Senhor”
(At 5,13-14). O testemunho de vida da comunidade tinha uma forte
capacidade de atração. Por que também hoje não somos conhecidos como aqueles
que se distinguem pelo amor? O que fizemos do mandamento de Jesus?
“Nisto
conhecerão todos que sois os meus discípulos: se vos amardes uns aos outros.”
Tradicionalmente, em âmbito católico, o mês de
outubro é dedicado à “missão”, à reflexão sobre a ordem dada por Jesus, de ir a
todo o mundo anunciar o Evangelho, à oração e ao apoio àqueles que se encontram
na linha de frente. Esta Palavra de Vida pode ajudar-nos todos a focalizar
novamente a dimensão fundamental de todo anúncio cristão. Não se trata da
imposição de uma fé, não é proselitismo, não é uma ajuda interesseira aos
pobres para que se convertam. Não se trata sequer primeiramente de uma defesa
exigente dos valores morais ou do posicionamento firme diante das injustiças e
das guerras, embora essas atitudes sejam obrigatórias, das quais o cristão não
pode se esquivar.
O anúncio cristão é acima de tudo um testemunho
de vida que cada discípulo de Jesus deve oferecer pessoalmente: “O homem
contemporâneo escuta com melhor boa vontade as testemunhas do que os mestres” (Evangelii
nuntiandi, 41). Até mesmo quem é hostil à Igreja muitas vezes fica tocado
pelo exemplo daqueles que dedicam suas vidas aos doentes e aos pobres, e estão
dispostos a deixar a pátria para ir às frentes de emergência e oferecer ajuda e
amizade aos últimos.
Mas Jesus pede sobretudo o testemunho de toda uma
comunidade que mostre a veracidade do Evangelho. Ela deve evidenciar que a vida
trazida por Ele pode realmente gerar uma sociedade nova, na qual se vivem
relacionamentos de autêntica fraternidade, de ajuda e serviço mútuo, de uma
atenção coletiva às pessoas mais frágeis e necessitadas.
A vida da Igreja conheceu esse tipo de
testemunhos, como por exemplo as aldeias construídas pelos franciscanos e pelos
jesuítas para os nativos na América do Sul (cf. as Reduções), ou os
mosteiros com os povoados que surgiam ao seu redor. Também hoje, comunidades e
movimentos eclesiais fazem surgir pequenas cidades de testemunho (cf. as
Mariápolis permanentes) onde se podem ver os sinais de uma sociedade nova,
fruto da vida evangélica, do amor mútuo.
“Nisto
conhecerão todos que sois os meus discípulos: se vos amardes uns aos outros.”
Sem ter de abandonar os lugares em que moramos e
as pessoas que frequentamos, se vivermos entre nós aquela unidade pela qual
Jesus deu a vida, poderemos criar um modo de viver alternativo e semear ao
nosso redor germes de esperança e de vida nova. Uma família que renova a cada
dia o desejo de viver concretamente no amor mútuo pode se tornar um raio de luz
na indiferença recíproca do condomínio ou da vizinhança. Uma “célula de
ambiente”, ou seja, duas ou mais pessoas que se colocam de acordo para atuar
com radicalismo as exigências do Evangelho no próprio campo de trabalho, na
escola, na sede do sindicato, nos gabinetes administrativos, numa prisão,
poderá romper a lógica da luta pelo poder, criar um clima de colaboração e
favorecer o surgimento de uma fraternidade inesperada.
Não era isso que faziam os primeiros cristãos no
tempo do império romano? Não foi desse modo que eles difundiram a novidade
transformadora do cristianismo? Sejamos hoje nós “os primeiros cristãos”,
chamados, como eles, a non perdoarmos, a nos vermos sempre novos, a nos
ajudarmos; numa palavra, a nos amarmos intensamente como Jesus amou, na certeza
de que a sua presença em nosso meio tem a força de envolver também os outros na
lógica divina do amor.
Fabio Ciardi
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