Palavra de Vida de Fevereiro de 2015
Fonte: focolares.org.pt
Fevereiro
2015
SÁBADO, 31 JANEIRO 2015 22:19
“Acolhei-vos uns aos outros, na medida em que também Cristo vos acolheu, para glória de Deus” (Rm 15, 7).
“Acolhei-vos uns aos outros, na medida em que também Cristo vos acolheu, para glória de Deus” (Rm 15, 7).
Desejando
dirigir-se a Roma, para depois prosseguir para Espanha, o apóstolo Paulo envia
primeiro uma carta às comunidades cristãs daquela cidade. No seio destas
comunidades - onde bem depressa um elevado número de
mártires testemunharia uma sincera e profunda adesão ao Evangelho - não faltam, como noutros lugares,
tensões, incompreensões, e até rivalidades.
Os cristãos de Roma representam vários
estratos sociais, culturais e religiosos. Há pessoas que provêm do judaísmo, do
mundo helénico, da antiga religião romana e até do estoicismo e de outras
orientações filosóficas. E trazem consigo as suas tradições culturais e
convicções éticas. Alguns deles são apelidados “fracos”, por causa dos seus
hábitos alimentares especiais (por exemplo, o vegetarianismo), ou ligados a
calendários para jejuns em certos dias especiais. Outros são chamados “fortes”,
por não se submeterem a todos estes condicionalismos, sejam eles tabus
alimentares, ou outros rituais especiais. A todos Paulo dirige este veemente
convite:
“Acolhei-vos
uns aos outros, na medida em que também Cristo vos acolheu,
para glória de Deus”.
Este assunto começa a ser abordado por Paulo
já no princípio da carta. Ele dirige-se primeiramente aos “fortes”,
convidando-os a “acolher” os “fracos”, “sem discutir as suas opções”. Depois,
dirigindo-se aos “fracos”, pede-lhes para aceitarem os “fortes”, sem os julgar,
uma vez que todos são “acolhidos” por Deus.
Paulo está realmente convencido de que todos,
apesar da diversidade de opiniões e costumes, agem por amor ao Senhor.
Portanto, não há qualquer motivo para julgarmos aqueles que têm opiniões
diferentes de nós, e muito menos temos o direito de os escandalizar com a nossa
atitude arrogante, de superioridade. O que importa mesmo é trabalharmos para o
bem de todos, para a “edificação mútua”, isto é, a construção da comunidade e a
sua unidade (cf. 14, 1-23).
Trata-se, também neste caso, de aplicar a
grande norma do viver cristão que Paulo recordara pouco antes, nesta mesma
carta: «É no amor que está o pleno cumprimento da Lei» (13, 10). Por não se
comportarem «de acordo com o amor» (14, 15) é que entre os cristãos de Roma
tinha diminuído o espírito de fraternidade, que deve animar os membros de todas
as comunidades.
O apóstolo propõe, como modelo do
acolhimento recíproco, a atitude de Jesus que, na sua morte, em vez de se
preocupar consigo próprio, tomou sobre si as nossas fraquezas (cf. 15, 1-3). Do
alto da cruz atraiu todos a si, acolhendo simultaneamente o hebreu João e o
centurião romano, Maria Madalena e o malfeitor crucificado ao seu lado.
“Acolhei-vos
uns aos outros, na medida em que também Cristo vos acolheu,
para glória de Deus”.
Também nas nossas comunidades cristãs, mesmo
que todos sejamos «amados por Deus e chamados a ser santos» (1, 7), não faltam,
como na comunidade romana, discordâncias entre maneiras de ver diferentes e
contrastes culturais que parecem inconciliáveis. Muitas vezes, há oposição
entre os tradicionalistas e os inovadores – para usar uma linguagem um pouco
simplista talvez, mas mais compreensível –, entre pessoas mais abertas e outras
mais fechadas, pessoas interessadas num cristianismo mais social ou mais
espiritual. Tais diferenças são depois reforçadas pelas convicções políticas e
proveniências sociais muito variadas. O atual fenómeno imigratório acrescenta,
às nossas assembleias litúrgicas e aos diversos grupos eclesiais, outros
componentes de diferenciação cultural e geográfica.
Estas mesmas dinâmicas podem surgir nas
relações entre os cristãos das diferentes Igrejas, mas também nas famílias, nos
ambientes de trabalho ou nos meios políticos. Insinua-se a tentação de
julgarmos aqueles que pensam diferentemente de nós e de nos considerarmos
superiores, numa estéril contraposição e exclusão recíprocas.
O modelo proposto por Paulo não é o uniformismo
que tudo nivela, mas sim a comunhão enriquecedora entre pessoas diferentes. Não
é por acaso que nos dois capítulos precedentes, na mesma carta, o apóstolo fala
da unidade do corpo e da diversidade dos membros, assim como da variedade dos
carismas que enriquecem e animam a comunidade (cf. 12, 3-13).
Usando uma imagem do Papa Francisco, o
modelo não é a esfera, na qual cada ponto é equidistante do centro, sem
quaisquer diferenças entre os vários pontos. O modelo é o poliedro, cujas
superfícies são diferentes umas das outras, numa composição assimétrica, onde
cada componente mantém a sua originalidade. «Até mesmo as pessoas que possam
ser criticadas pelos seus erros têm algo a oferecer, que não se deve perder. É
a união dos povos que, na ordem universal, conservam a sua própria
peculiaridade; é a totalidade das pessoas numa sociedade que procura um bem
comum que verdadeiramente incorpore a todos» (1).
“Acolhei-vos
uns aos outros, na medida em que também Cristo vos acolheu,
para glória de Deus”.
Esta Palavra de Vida é um premente convite a
reconhecer o positivo que existe no outro, quanto mais não seja pelo facto de
Cristo ter dado a vida por essa pessoa que eu sou tentado a julgar. É um
convite à escuta (sem mecanismos defensivos), a permanecer abertos à mudança, a
aceitar as diferenças com respeito e amor, para conseguir formar uma comunidade
plural, mas unida.
Esta Palavra foi escolhida pela Igreja
evangélica na Alemanha, para que os seus membros a vivam e sejam por ela
iluminados, durante todo o ano de 2015. O facto de a vivermos conjuntamente com
membros de outras Igrejas, ao menos durante este mês, deve ser um sinal de
aceitação recíproca.
Poderemos assim dar glória a Deus com uma só
alma e uma só voz (15, 6), porque, como Chiara disse na catedral reformada de
Saint Pierre, em Genebra: «O tempo presente [...] exige de cada um de nós amor,
exige unidade, comunhão, solidariedade. E interpela também as Igrejas a
recomporem a unidade quebrada há séculos. É esta a reforma das reformas que o
Céu nos pede. É o primeiro e necessário passo em direção à fraternidade
universal, com todos os homens e mulheres do mundo. De facto, o mundo
acreditará, se nós formos unidos» (2).
Fabio Ciardi
Evangelii Gaudium, 236; 2) Chiara
Lubich, Il dialogo è vita, Roma 2007, pp. 43-44.
Para quem não leu, meditou e aplicou em sua vida, leia a Palavra de Vida do mês de Janeiro de 2015
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Reproduzido pelo Blog do Ademir Rocha