A 5ª Semana Social está sendo construída em sintonia 
com o Grito dos/as Excluídos/as que esse ano celebrará 
sua 19ª edição. Com o tema ‘Juventude que ousa lutar 
constrói o projeto popular’ o grito terá a cara das 
juventudes do Brasil que se expressaram de forma tão
 brilhante nas manifestações e no encontro com o Papa 
Francisco na Jornada Mundial da Juventude (JMJ).
Nesses 19 anos de caminhada e manifestações históricas, 
o povo ecoou seu grito pela democracia e defesa das
 causas de quem está à margem da história e da vida, 
com metodologia e linguagens próprias.
Para enriquecer ainda mais o texto, trazemos a entrevista 
com Padre Nelito Dornelas, assessor da Comissão 
Episcopal Pastoral para o Serviço da Caridade, da Justiça
 e da Paz da Conferência Nacional dos Bispos do
 Brasil (CNBB) e coordenador da 5ª Semana Social
 Brasileira, que gentilmente conversou conosco sobre 
os preparativos que impulsionaram a Semana Social 2013.
Como foi o processo de preparação nos Estados?
Pe. Nelito Dornelas: A quinta Semana Social brasileira
 conseguiu atingir todos os Estados da Federação com
 uma enorme criatividade, envolvendo as escolas, 
as universidades, as câmaras municipais, as assembléias 
 legislativas, as pastorais sociais, os movimentos 
populares e, sobretudo, os vitimados pelas políticas
 desenvolvimentistas do Estado. Cabe um destaque 
especial à participação dos indígenas, das 
comunidades tradicionais, dos quilombolas, pescadores 
artesanais, vazanteiros, fundo e feixe de pasto, das 
quebradeiras de coco, das vitimas das atividades 
 mineradoras e das obras da copa, das juventudes 
e das pastorais sociais. Como produto final, teremos
 um bom diagnóstico da realidade brasileira com a 
tomada de consciência do despertar de novos sujeitos sociais.
Em que esta Semana Social diferencia das outras?
Pe. Nelito Dornelas: Nas cinco edições das Semanas 
Sociais houve um crescente aprofundamento nos 
debates, culminando na compreensão das raízes da 
problemática social brasileira. A primeira Semana 
Social debateu sobre o mundo do trabalho, a 
segunda sobre a exclusão social e os novos sujeitos
 e protagonistas, a terceira sobre as dívidas, a quarta
 sobre a sociedade brasileira e a quinta sobre o Estado.
Ao debater sobre o Estado, todas as questões sociais 
apontadas se encontram e se reconhecem em um único 
e maior elemento originante de todas elas: a estrutura 
excludente do Estado brasileiro.
Descobre-se que o Estado cumpre funções decisivas
 no plano interno e externo à nação, a partir das 
decisões políticas tomadas pelos governos de plantão, 
desde os municípios até os altos escalões, que não passam
 de executores dos projetos ditados pelo poder econômico.
Mesmo considerando os significativos avanços visíveis nas 
políticas sociais, sobretudo, na última década, o Estado 
brasileiro ainda permanece omisso na resolução dos 
problemas estruturais da sociedade, particularmente 
 aqueles referentes às áreas de saúde, educação, acesso
 à terra urbana e rural e à distribuição de renda e
 à segurança dos cidadãos. Ainda é um Estado 
conservador na sua forma de fazer política, reproduzindo 
os vícios do autoritarismo, do patrimonialismo e do
 clientelismo, dando sinais evidentes de esgotamento 
da democracia representativa.
Nota-se que há no Brasil um grande descompasso
 entre intenções democráticas e as estruturas 
antidemocráticas. Isso tem deixado profundas 
marcas nos indivíduos, na sociedade e nas instituições,
 afetando o conjunto da sociedade brasileira. 
Vivemos também a contradição entre o crescimento
 econômico e o declínio social, evidenciando-se, 
de um lado, a concentração da renda, e, do outro, 
a exclusão social.
Que contribuições significativas a 5ª SSB trará 
para a democratização do Estado brasileiro?
Pe. Nelito Dornelas: O Estado é um importante 
instrumento de fortalecimento da sociedade, ao 
mesmo tempo em que esta contribui enormemente
 com a democratização do Estado. Para isso, ele 
deve constituir-se como um poder que negue a si 
mesmo, estimulando a crescente socialização da 
 política e o desenvolvimento de uma esfera pública 
não estatal, tão poderosa quanto possível.
A quinta Semana Social tem como tema a participação
 da sociedade no processo de democratização do Estado:
 Estado para que e para quem? Constata-se que 
 ao longo das últimas décadas, o movimento social 
empreendeu várias iniciativas pela democratização do
 Estado brasileiro. Lutou contra o Estado autoritário,
 empenhou-se por um Estado que incorporasse as 
 demandas populares no processo Constituinte, pela 
garantia dos direitos sociais e civis na Constituição
 Federal e participou do processo eleitoral pela 
construção de um governo popular, em que o Estado
 fosse subordinado à sociedade e, sobretudo, a serviço
 dos mais pobres. Em nosso entender, esse processo 
está incompleto, inacabado, deficiente e interrompido 
em determinados setores.
A quinta Semana Social quer criar canais de diálogo
 e de participação efetiva, para que a sociedade civil 
encontre mecanismos jurídicos que coloquem o Estado
 em movimento na direção da massa dos excluídos, 
 ouvindo os seus clamores. Dessa forma, questionamos
 a atual forma de democracia com seus ritos e com 
seu arcabouço jurídico. Tal modelo de democracia 
não mais responde aos anseios e necessidades dos
 cidadãos como sujeitos políticos. Queremos, 
para além da democracia representativa, uma efetiva
 democracia participativa e direta.
Quais suas percepções sobre a importância da Semana 
Social e a participação da sociedade nesses tempos de 
manifestações em todo país?
Pe. Nelito Dornela: A Igreja tem procurado ser,
 através das Semanas Sociais, uma presença 
viva na sociedade que pode ser classificada como:
 companheira, memória e profecia. Como companheira,
 faz-se cada vez mais peregrina na história, contemporânea
 da humanidade, sobretudo dos mais esquecidos e 
abandonados, os pobres, excluídos e descartados pelo
 sistema econômico, compartilhando com estes seu destino
 e seus sonhos. Como memória, coloca-se atenta aos 
acontecimentos do presente e do passado, apoiando 
a Comissão da Verdade, solidarizando-se com as vítimas
 do Estado no período ditatorial, vigilante e atenta na
 defesa das liberdades e da democracia. Como profecia,
 faz-se porta voz dos movimentos da sociedade, suas criticas
 e suas denúncias.
Diante dessa avalanche de manifestações que explodiram
 em todo território nacional, a sociedade brasileira 
despertou para perceber com maior clareza a existência
 de uma violência velada e aberta, impregnada nas estruturas
 da sociedade, alimentada pela constituição do Estado em 
seus poderes legislativos, judiciários e executivos, solidificado
 pela mídia e a educação formal.
Emerge a consciência de que os ideólogos de 
plantão vêm orquestrando, há tempos, um pensamento
 hegemônico de que a violência vem das ruas, 
dos movimentos sociais, quando estes reivindicam 
mais democracia, mais participação nas decisões de
 governo, mais garantia dos direitos civis e sociais, 
o cumprimento da Constituição Federal. Essa 
possível máscara caiu! As ruas se encheram das
 massas humanas carregadas de uma consciência 
crítica a todo o arcabouço que sustenta o Estado.
 Elas trazem uma dura crítica aos grandes projetos que 
sempre vêm acompanhados de seus desastres para a 
 vida humana, para o meio ambiente, para as gerações
 presentes e futuras, para os povos originários e 
comunidades tradicionais e para a vida cidadã. 
É um movimento político, social e cultural que deixará
 marcas profundas e poderá significar a refundação
 do Estado brasileiro, podendo constituir-se no surgimento
 de uma verdadeira nação.
Após 19 anos de marcha no dia 7 de setembro com 
o Grito dos Excluídos/as que elemento novo ele trará 
esse ano?
Pe. Nelito Dornelas: O debate sobre o Estado, lançado
 nas ruas, seja pela 5ª SSB, seja pelas manifestações
 das massas, seja pelo Grito dos excluídos, quer 
contribuir na superação da contradição fundamental 
 existente na sociedade brasileira, que é obrigada a 
conviver com a aberrante contradição de ser a sexta
 potência econômica mundial e a 184ª em desigualdade
 social. Com o lema: juventude que ousa lutar constrói 
 um projeto popular, queremos resgatar e ampliar os 
mais variados gestos de construção de um novo Estado, 
vividos pelas juventudes nos porões da sociedade e 
que apontaram seus raios de luz que, se alimentados,
 jamais serão apagados. Queremos que o Estado 
brasileiro se coloque a serviço da sociedade, 
para que esta seja fortalecida e promova o bem comum. 
Como novos sujeitos sociais, as juventudes exigem
 novas estruturas de participação democrática, sustentado
 a democracia direta como forma legitima de governo 
da sociedade brasileira. A convergência de todas estas 
manifestações poderá significar um basta à existência de 
um Estado mantenedor das políticas gerenciadas de costas
 viradas aos legítimos anseios de uma nação.
Por Jeane Freitas, Jornalista na Cáritas Regional Ceará