segunda-feira, 17 de junho de 2013

EQUILÍBRIO DIVINO

Fonte: centrochiaralubich.org



Equilíbrio Divino

Roma, 1950          
«In patientia vestra possidebitis animas vestras» (Lc 21, 19)1

Com esta palavra, Jesus nos ensina a viver bem o momento presente de nossa vida, a vivê-lo em profundidade, com perfeição, até o cumprimento. E isso conta no cristianismo: cumprir bem as coisas.
De fato, “tarefa bem começada já está meio acabada”, é um provérbio da sabedoria humana, bom, portanto, mas não feito para todos. Entretanto, “Aquele que perseverar até o fim, esse será salvo” (Mateus 10,22), é da Sabedoria divina.
O Senhor sabe que o início de todos os homens, exceto Maria, é um início ruim, por causa do pecado original. Não foi à toa que Ele se fez homem para nos salvar. Logo, o que importa é acabar bem: treinar para aquele instante do qual depende a eternidade.
Ele nos ensina a gerir bem as nossas coisas, a nos aplicar em tudo o que devemos fazer na vida, com o amor paciente que sabe sofrer bem, que mantém vivo em nós o controle da nossa alma, a ponto de possuí-la. Em nossa alma está Deus, e nós, possuindo a nossa alma, sendo donos dela sempre na nossa vida presente, guardamos em nós — feitos tabernáculos — Deus que nela está presente.
Esta Palavra de Vida nos ajuda a recordar e viver a presença de Deus em nós. Isso diretamente, quando rezamos, meditamos, estamos sós. Indiretamente, quando vivemos uma vontade de Deus que nos faz prestar todas as nossas atenções fora de nós, como quando há um irmão que deve ser amado ou um trabalho a ser feito.
Muitas vezes, estar em meio aos homens e mergulhar nossas faculdades em trabalhos, como o estudo, o emprego etc, perturba a nossa intimidade com Deus e não sentimos a sua paz e a doçura que sua presença traz.
Mesmo quando começamos um trabalho para Ele ou estamos em contato com pessoas religiosas, passado algum tempo ficamos distraídos, e o eu tomou o lugar de Jesus em nós de tal modo que uma mudança qualquer da vontade de Deus sobre nós custa, e o próprio trabalho em que mergulhamos nos causa tédio.
Tudo isso depende do fato de termos perdido o controle da nossa alma, a posse. E isso porque não soubemos ter a paciência com a qual possuímos a alma. Vivendo essa Palavra, a nossa vida muda: caem palavras inúteis, tudo se ordena em nós e ao redor de nós, o resultado do trabalho se multiplica, adquirimos a paz estável, deixamos de ser omisso, ouvimos a voz de Deus, evitamos contínuos atos humanos em vez de sobrenaturais, que esvaziam a alma e apagam a luz, e a alma vive constantemente iluminada por Deus.
Dado que essa Palavra fala principalmente de recolhimento, e nos concentra no pensamento de possuir a nossa alma, ela pode ser mal interpretada — não tomada no sentido de Jesus — por quem, recolhendo-se em sua alma com um amor excessivo em relação à alma do outro, mantém-se fechado, apagado e mudo ao contato com o próximo. Quer dizer que existe algum apego a si mesmo e pouco amor pelo Amor que em nós nos estimula sempre a amar.
Nessas almas vislumbramos um quê de artificioso e de morto. Essa Palavra, como todas as de Jesus, quer o equilíbrio em nós: que não excedamos nem num sentido, nem no outro.
Todo excesso impede que Jesus se manifeste em nós.
A alma que ama bem — e que, por isso, põe as suas palavras em prática — é aquela que sabe onde Deus está: se está numa vontade de Deus exterior como, por exemplo, num trabalho, lança-se inteiramente nesse trabalho para ser a sua vontade viva. Mas não esquece que o tem na alma e que Ele está em cada irmão. Além disso, sabe que Deus está presente em todo lugar e que sempre olha por ela. E, embora estando projetada naquela divina vontade em que Deus a quer principalmente, ama-o em todo lugar e sabe deixá-lo à parte, se a Vontade de Deus muda, para encontrá-lo em outra parte.
E podemos amar ao mesmo tempo Deus em nós e Deus fora de nós. Basta pensar no amor materno, tão bonito, mas também limitado. Contudo, esse amor é tanto que permite que a mãe ame todos os seus filhos mesmo quando está cuidando de só um.
O amor sobrenatural em nós deve ter a altura, a largura, a profundidade, a universalidade, a particularidade do amor de Deus. “Amai-vos uns aos outros como Eu vos amei.”
O nosso equilíbrio não é apenas quietude, nem apenas movimento, nem uma mistura dos dois. Ele deve ser comparado a uma corda esticada e puxada de ambos os lados por forças iguais. Se alguém, por impaciência, negligencia a presença de Deus dentro de sua alma, a sua vida — mesmo parecendo caridade fraterna — é uma caridade frívola, leviana, superficial e perigosa, porque não está apoiada na Rocha e, portanto, não é caridade. Essa alma parece mais um pião. Se, ao contrário, uma pessoa está paralisada em si mesma, sem o amor, está morta.
A alma que tem o verdadeiro amor é como Maria, a Mãe celeste, toda cativada pelo seu Deus, unicamente por Deus, que encontrou em si no recolhimento de sua vida antes da Anunciação, na vontade de Deus manifestada pelo anjo, no Menino Jesus, na Cruz, em são João, no chamado do alto na Assunção. Deus, tudo para ela, porque ela sempre possuiu a sua alma com a paciência.
Chiara Lubich
1(Chiara Lubich - Ideal e Luz - Cidade Nova e Editora Brasiliense - São Paulo, 2003 - Pág. 168-170). Para este seu comentário de Lc 21, 19, dos anos 1950, Chiara Lubich retomou o texto da Vulgata que, traduzido literalmente, significa: «Com a vossa paciência possuireis vossas almas». A tradução atual da CEI é: «Com a vossa perseverança salvareis as vossas almas» [N.d.C.].

Reproduzido pelo Blog do ADEMIR ROCHA

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