A PRESENÇA DE JESUS NO CRISTÃO SEGUNDO O NOVO TESTAMENTO
Chiara Lubich
Fonte: www.centrochiaralubich.org
A PRESENÇA DE JESUS NO CRISTÃO SEGUNDO O NOVO
TESTAMENTO
Rocca di Papa, 9 de outubro de 1978
O amor ao irmão tem as suas raízes em Deus, e
Deus se revela na sua Palavra:
Chiara nos propõe uma leitura precisa do Novo
Testamento em relação à presença de Jesus, leitura que deixa transparecer toda
a riqueza da sua experiência.
Se consultarmos o Novo Testamento e,
precisamente, os quatro Evangelhos, a primeira carta de São João e as cartas de
São Paulo, encontraremos afirmações evidentes e, muitas vezes, estupendas sobre
a presença de Jesus no irmão. Comecemos pelos Evangelhos.
Em alguns
trechos, Jesus se identifica com os Apóstolos ou com os seus enviados; em
outros se identifica com os seus discípulos; e em outros ainda, com cada homem.
Pode-se compreender o sentido pelo contexto no qual suas palavras são
pronunciadas.
Jesus presente nos Apóstolos
A presença de Jesus nos seus Apóstolos é afirmada
nos quatro Evangelhos com expressões que vão desde a acolhida, que não é
simples hospitalidade, até o prestar ouvidos aos seus enviados. Eis alguns
exemplos em Mateus: «Quem vos recebe, a mim recebe; e quem me recebe, recebe
aquele que me enviou» .."
Em Lucas: «Quem vos ouve a mim ouve, quem vos
despreza a mim despreza, e quem me despreza, despreza aquele que me enviou»
.."
Em João: «Em verdade, em verdade, vos digo: quem
recebe aquele que eu enviar, a mim recebe, e quem me recebe, recebe aquele que
me enviou» .
Neste mesmo contexto de missão Jesus se
identifica também com a "criança" ou com o “pequenino", mas é
possível que ele tenha usado estas palavras para indicar, também aqui, os seus
enviados. De fato, havia pessoas enviadas por Jesus que não tinham grande
prestígio entre o povo, que talvez pudessem mesmo vir a ser desprezadas. Jesus
as apoia, quer suscitar nas comunidades cristãs amor para com elas e deseja que
assim façam os seus seguidores, porque, por mais fracas e medíocres elas sejam,
levam a Sua palavra.
O princípio judaico do Shaliah já dizia: «O homem
enviado (Shaliah) por um outro é como se fosse quem o envia».
No Antigo Testamento, o enviado era considerado
como «a boca» de quem o tinha mandado .
Portanto, é provável que Jesus tenha dado o
significado de enviado também ao termo “criança” em Marcos: «Aquele que receber
uma destas crianças por causa do meu nome, a mim recebe; e aquele que me
recebe, não é a mim que recebe, mas sim àquele que me enviou» . E pode-se
pensar que o mesmo sentido Jesus tenha dado aos "pequeninos" em
Mateus: «E quem der, nem que seja um copo d'água fria, a um destes pequeninos,
por ser meu discípulo, em verdade vos digo que não perderá a sua recompensa» .
Esta presença de Jesus nos seus apóstolos, nos
seus enviados, adquire um novo valor depois da morte e ressurreição de Jesus.
De fato, depois da ressurreição, os apóstolos são
incorporados a Cristo, e Cristo está presente neles realmente, misticamente.
Então a palavra deles é eficaz por si mesma, porque é Jesus quem fala, e não
somente porque eles são encarregados de transmiti-la. É Jesus quem age neles. Portanto,
quem acolhe um dos apóstolos, depois da ressurreição de Jesus, faz a
experiência do encontro com o ressuscitado que está presente nosapóstolos.
São Paulo evidencia isto, escrevendo: «[...] me
recebestes como um anjo de Deus, como Cristo Jesus».
E ainda: «[...] tendo vós recebido a palavra de
Deus, que ouvistes de nós, vós a abraçastes, não como palavra humana, mas como
na verdade é, qual palavra de Deus que opera em vós, os fiéis».
E na segunda carta aos Coríntios: « [...] é Deus
que vos exorta, por nosso intermédio ; e mais adiante: «[...] pois procurais
uma prova de que é Cristo que fala em mim...».
Além da presença de Jesus nos apóstolos, os
Evangelhos nos atestam a presença de Jesus no cristão, no próprio contexto da
vida de comunidade, formada pelos discípulos de Jesus. As palavras sobre a
acolhida, que na origem diziam respeito somente aos enviados, foram depois
generalizadas e aplicadas ao relacionamento entre os membros da comunidade
cristã e, em particular, às relações com todos aqueles que se encontravam em
necessidade: o amor pelos irmãos menores e necessitados deve ser considerado
como dirigido a Jesus pessoalmente.
Lucas narra: «Houve entre eles uma discussão:
qual deles seria o maior? Jesus, porém, conhecendo o pensamento de seus
corações, tomou uma criança, colocou-a a seu lado e disse-lhes: 'Aquele que
receber uma criança como esta por causa do meu nome, recebe a mim, e aquele que
me receber recebe aquele que me enviou; com efeito, aquele que no vosso meio
for o menor, este será grande» .
Como em outros aspectos, também aqui Jesus
estabelece uma transformação radical de valores: aquilo que os homens
desprezam, ele coloca em relevo.
Para os cristãos, consequentemente, o mais pobre,
o menor é, na realidade, o maior, o mais importante, porque Jesus colocou-se
totalmente do lado dele, a ponto de proclamar que quem recebe um deles recebe a
Ele mesmo.
Trata-se aqui do relacionamento entre cristãos e
a intenção que conduz ao amor é conscientemente "sobrenatural": de
fato, a acolhida deve ser feita - como diz Jesus - "em meu nome", com
conhecimento de causa e para seguir o ensinamento do Mestre. Toda a vida de
Jesus é um ensinamento extraordinário desta atitude para com os necessitados.
Que Jesus se faz solidário com seus discípulos, sem distinção, mas de modo
particular com os irmãos sofredores, dizem-no também as palavras que Paulo
ouviu, a caminho de Damasco, para onde se tinha dirigido a fim de prender os
cristãos: «Saulo, Saulo, por que me persegues?' . 'Quem és tu, Senhor?'
perguntou ele. E este: 'Eu sou Jesus, a quem persegues'!».
O Evangelho afirma também a presença de Cristo em
cada homem. Pensemos na visão cósmica do juízo final que se conclui com a
afirmação: «[...] cada vez que fizestes isso a um desses meus irmãos mais
pequeninos foi a mim que o fizestes» .
Mas sobre isto trataremos numa outra exposição.
Reproduzido pelo Blog do Ademir Rocha
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