sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

A PRESENÇA DE JESUS NO CRISTÃO

A PRESENÇA DE JESUS NO CRISTÃO SEGUNDO O NOVO TESTAMENTO



Chiara Lubich
Fonte: www.centrochiaralubich.org


A PRESENÇA DE JESUS NO CRISTÃO SEGUNDO O NOVO TESTAMENTO

Rocca di Papa, 9 de outubro de 1978

O amor ao irmão tem as suas raízes em Deus, e Deus se revela na sua Palavra:

Chiara nos propõe uma leitura precisa do Novo Testamento em relação à presença de Jesus, leitura que deixa transparecer toda a riqueza da sua experiência.

Se consultarmos o Novo Testamento e, precisamente, os quatro Evangelhos, a primeira carta de São João e as cartas de São Paulo, encontraremos afirmações evidentes e, muitas vezes, estupendas sobre a presença de Jesus no irmão. Comecemos pelos Evangelhos.

Em alguns trechos, Jesus se identifica com os Apóstolos ou com os seus enviados; em outros se identifica com os seus discípulos; e em outros ainda, com cada homem. Pode-se compreender o sentido pelo contexto no qual suas palavras são pronunciadas.

Jesus presente nos Apóstolos 
 
A presença de Jesus nos seus Apóstolos é afirmada nos quatro Evangelhos com expressões que vão desde a acolhida, que não é simples hospitalidade, até o prestar ouvidos aos seus enviados. Eis alguns exemplos em Mateus: «Quem vos recebe, a mim recebe; e quem me recebe, recebe aquele que me enviou» .."

Em Lucas: «Quem vos ouve a mim ouve, quem vos despreza a mim despreza, e quem me despreza, despreza aquele que me enviou» .." 

Em João: «Em verdade, em verdade, vos digo: quem recebe aquele que eu enviar, a mim recebe, e quem me recebe, recebe aquele que me enviou» .

Neste mesmo contexto de missão Jesus se identifica também com a "criança" ou com o “pequenino", mas é possível que ele tenha usado estas palavras para indicar, também aqui, os seus enviados. De fato, havia pessoas enviadas por Jesus que não tinham grande prestígio entre o povo, que talvez pudessem mesmo vir a ser desprezadas. Jesus as apoia, quer suscitar nas comunidades cristãs amor para com elas e deseja que assim façam os seus seguidores, porque, por mais fracas e medíocres elas sejam, levam a Sua palavra.

O princípio judaico do Shaliah já dizia: «O homem enviado (Shaliah) por um outro é como se fosse quem o envia».

No Antigo Testamento, o enviado era considerado como «a boca» de quem o tinha mandado .

Portanto, é provável que Jesus tenha dado o significado de enviado também ao termo “criança” em Marcos: «Aquele que receber uma destas crianças por causa do meu nome, a mim recebe; e aquele que me recebe, não é a mim que recebe, mas sim àquele que me enviou» . E pode-se pensar que o mesmo sentido Jesus tenha dado aos "pequeninos" em Mateus: «E quem der, nem que seja um copo d'água fria, a um destes pequeninos, por ser meu discípulo, em verdade vos digo que não perderá a sua recompensa» .

Esta presença de Jesus nos seus apóstolos, nos seus enviados, adquire um novo valor depois da morte e ressurreição de Jesus. 

De fato, depois da ressurreição, os apóstolos são incorporados a Cristo, e Cristo está presente neles realmente, misticamente. Então a palavra deles é eficaz por si mesma, porque é Jesus quem fala, e não somente porque eles são encarregados de transmiti-la. É Jesus quem age neles. Portanto, quem acolhe um dos apóstolos, depois da ressurreição de Jesus, faz a experiência do encontro com o ressuscitado que está presente nosapóstolos.

São Paulo evidencia isto, escrevendo: «[...] me recebestes como um anjo de Deus, como Cristo Jesus».

E ainda: «[...] tendo vós recebido a palavra de Deus, que ouvistes de nós, vós a abraçastes, não como palavra humana, mas como na verdade é, qual palavra de Deus que opera em vós, os fiéis».

E na segunda carta aos Coríntios: « [...] é Deus que vos exorta, por nosso intermédio ; e mais adiante: «[...] pois procurais uma prova de que é Cristo que fala em mim...».

Jesus presente nos discípulos

Além da presença de Jesus nos apóstolos, os Evangelhos nos atestam a presença de Jesus no cristão, no próprio contexto da vida de comunidade, formada pelos discípulos de Jesus. As palavras sobre a acolhida, que na origem diziam respeito somente aos enviados, foram depois generalizadas e aplicadas ao relacionamento entre os membros da comunidade cristã e, em particular, às relações com todos aqueles que se encontravam em necessidade: o amor pelos irmãos menores e necessitados deve ser considerado como dirigido a Jesus pessoalmente. 

Lucas narra: «Houve entre eles uma discussão: qual deles seria o maior? Jesus, porém, conhecendo o pensamento de seus corações, tomou uma criança, colocou-a a seu lado e disse-lhes: 'Aquele que receber uma criança como esta por causa do meu nome, recebe a mim, e aquele que me receber recebe aquele que me enviou; com efeito, aquele que no vosso meio for o menor, este será grande» .
Como em outros aspectos, também aqui Jesus estabelece uma transformação radical de valores: aquilo que os homens desprezam, ele coloca em relevo.

Para os cristãos, consequentemente, o mais pobre, o menor é, na realidade, o maior, o mais importante, porque Jesus colocou-se totalmente do lado dele, a ponto de proclamar que quem recebe um deles recebe a Ele mesmo.

Trata-se aqui do relacionamento entre cristãos e a intenção que conduz ao amor é conscientemente "sobrenatural": de fato, a acolhida deve ser feita - como diz Jesus - "em meu nome", com conhecimento de causa e para seguir o ensinamento do Mestre. Toda a vida de Jesus é um ensinamento extraordinário desta atitude para com os necessitados. Que Jesus se faz solidário com seus discípulos, sem distinção, mas de modo particular com os irmãos sofredores, dizem-no também as palavras que Paulo ouviu, a caminho de Damasco, para onde se tinha dirigido a fim de prender os cristãos: «Saulo, Saulo, por que me persegues?' . 'Quem és tu, Senhor?' perguntou ele. E este: 'Eu sou Jesus, a quem persegues'!».

Jesus presente em cada homem

O Evangelho afirma também a presença de Cristo em cada homem. Pensemos na visão cósmica do juízo final que se conclui com a afirmação: «[...] cada vez que fizestes isso a um desses meus irmãos mais pequeninos foi a mim que o fizestes» .
Mas sobre isto trataremos numa outra exposição.

Chiara Lubich

Reproduzido pelo Blog do Ademir Rocha

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