TEXTOS DE ESPIRITUALIDADE
O MISTÉRIO DA DOR: JESUS ABANDONADO E O ESPÍRITO SANTO
Diante da dor, diante do mistério da dor um jovem me confessa que tem medo, outro diz que fica bloqueado e outro ainda que repensa a sua escolha, porque apesar de ter prometido de seguir Jesus até o seu abandono na cruz, toma um caminho mais fácil... É o que experimentamos na nossa vida.
Como resolver estas situações para permanecer fiéis à nossa escolha?A resposta é: treinando! Vocês são jovens, podem tornar-se atletas ! Em geral tens diante uma vida toda, também é possível morrer logo, porque não sabemos quando será nossa hora. Porém, lembrem-se que a coisa mais bela que pode existir no mundo é tornar-se atletas de Deus. Então precisa treinar. Pratiquem futebol para manter-se em forma, também este é um aspecto que é bom cuidar; mas o primeiro treinamento é aquele do espírito.
Devemos tornar-nos atletas para arrastar o mundo atrás de Jesus. Vocês podem fazer isso abraçando Jesus abandonado.
Como fazer, então se a um certo momento vem o medo? Aproveitar do mesmo medo para abraçar Jesus abandonado. Ele, de fato, aparece como “o medroso” . Antes de subir na cruz pediu ao Pai de afastar dele aquela provação e quando foi crucificado gritou: “Meu Deus, porque...?”. Parece estar cheio de medo ao máximo: o seu medo supera e resume todos os nossos medos. Mas logo depois acreditando no amor do Pai diz: “Nas tuas mãos, Senhor, entrego o meu Espírito”.
Devemos fazer assim também nós: abraçar o medo e aproveitar da mesma coisa que obstácula a estrada para ir em frente, para crescer no amor.
Isto vale também para aquele que se sente bloqueado. Também Jesus na cruz, abandonado, parece mesmo bloqueado. Ele que tinha continuado a declarar: “O Pai está comigo...”, na cruz diz: “Meu Deus, porque me abandonaste?”.
Foi, por assim dizer um bloqueio divino, porque Ele carregou sobre si todos os bloqueios de todos os seres humanos diante de Deus. Aproveita então deste bloqueio para dizer: “É Jesus abandonado”, para descobri-lo e abraça-lo. E vamos para frente.
Outro jovem, depois, me diz que troca a escolha que fez de Jesus abandonado preferindo outras coisas. Este é um fracasso, um pequeno fracasso. Mas Jesus abandonado se tornou fracasso, é o fracasso. Quando nos apercebemos de tê-lo trocado com outras coisas, não podemos parar. O que importa se você o trocou? Você não vale nada, o que importa é Jesus abandonado. Diga então: “Troquei-o por outro? Aproveito disso para abraçar Jesus abandonado neste fracasso”.
A atuação do Espírito Santo:
Abraçando Jesus abandonado o que acontece? Vem a nós o Espírito Santo, que desabrocha, floresce e faz sentir os seus impulsos.
Gostaria de aproveitar desta resposta para explicar-lhes e fazer-lhes descobrir como Ele vive e opera em vocês. Vocês sentem, mas talvez não sabem que é Ele. Queria mesmo que se apercebessem que é Ele. Queria mesmo que se apercebessem de que já o tem dentro de vocês – sabemos de fato, através do catecismo que O temos pela graça – mas também que ele age em vocês e lhes ajuda a reconhece-lo.
O Espírito Santo, quando abraçamos Jesus abandonado, não somente ilumina a mente, mas fortifica a alma.
Para ver as muitas coisas que ele opera em nós, poderíamos ler duas orações muito conhecidas na Igreja católica: “Vem o Santo Espírito” e “Vem o Criador”.
Visita as nossas mentes:
Tenho certeza que as nossas mentes são visitadas pelo Espírito Santo. Senão vocês não estariam aqui. Vocês estão aqui porque alguém lhes disse: “Vá ali”. E quem foi que lhes disse isso? O Espírito Santo.
É ótimo consolador.
Experimentamos milhões de vezes – vocês talvez milhares – que, abraçando Jesus abandonado, dentro de nós floresce a alegria, a consolação. Tanto é verdade que às vezes o desfrutamos e o abraçamos porque traz alegria. Então é preciso retificar a intenção, abraçamos Jesus abandonado por amor e o espírito Santo vem como “ótimo consolador”.
Isso vocês certamente já experimentaram. Portanto, lembrem-se que foi Ele e não um outro que consolou vocês.
Suscita em nós a Palavra:
Quantos de nós dizemos: “Eu era uma pessoa que nunca falava. Depois no Movimento[1], puseram-me para contar a minha experiência e falei”. Se alguém falou, é porque tinha algo para dizer.
A palavra é um veículo, mas o importante é Ter algo a dizer.
Aquela pessoa tinha algo a dizer e assim a Palavra saiu espontaneamente. Quem foi que fez isso? O espírito Santo!
É chama ardente dos corações.
Chegando em Loppiano[2] muitas focolarinas e focolarinos me escreveram: “O meu coração explode”. O que é esta explosão do coração? É o espírito Santo que dá uma alegria que faz explodir o coração.
Cura as feridas.
É verdade.
“Errei – você diz – vou me confessar, mas agora abraço logo Jesus abandonado nesta minha dor”, e você sente que a ferida se fecha. Quem foi que a fechou? O Espírito Santo.
É bálsamo:
Gostaria de colocar em relevo a Sua ação, para que vocês de vez em quando se recolham e lhe digam: obrigado. Gostei muito de ler que o pai do grande Orígenes, um dos mártires dos primeiros séculos, quando seu filho era pequenino, lhe descobria o peito e o beijava porque era templo do Espírito Santo. Se recordássemos sempre esta idéia e soubéssemos que não temos apenas um Dom do Espírito Santo, mas o Dom, que é o Espírito Santo.
Primeiro, de fato, veio o verbo, depois deu-nos o Espírito Santo, Ele está dentro de nós e talvez nem sequer lhe digamos obrigado. É uma vergonha isso! No entanto experimentamos continuamente a Sua presença em nós!
Traz como Dom a paz.
Se Ele não existisse seriamos muito miseráveis, tristes e sempre sem paz, ao passo que o Espírito Santo traz como Dom a paz.
E mil outros dons:
O Espírito Santo, por exemplo, está presente em nós não em forma passiva, mas com um dinamismo muito ativo: quando nós abraçamos Jesus abandonado, Ele nos responde, se interessa por nós, participa da nossa vida, intervém e exorta-nos. Quando nos sentimos impulsionados, por exemplo, a fazer tantos atos de amor e começamos desde cedo, é ele que nos dá este desejo, não é outra pessoa!
Ele vem em socorro da nossa oração, e isto é muito bem expresso por São Paulo.
Ele nos dá o gosto pela vida interior.
A vida interior é uma vida muito estranha, ou melhor, misteriosa, que ninguém no início escolheria, porque todos vivem para comer para se divertir, etc.
Quem nos atrai, então, à vida interior que é uma coisa delicadíssima?
É o Espírito Santo! Porque é que vocês estão aqui? Porque vocês têm gosto pela vida interior; e quem lhes mandou aqui? O Espírito Santo a quem escutaram.
O Espírito Santo cria em nós uma lei nova:
Quem é que lhes faz distinguir e lhes faz dizer: “isto é o homem velho, esta é uma falsa alegria, esta é uma liberdade falsa?” É a voz do Espírito Santo.
Ele nos faz penetrar na verdade:
Quantas vezes, também através dos estudos, vocês sentem que aprofundam mais a verdade. Quem lhes ajudou a ir em profundidade? Não é a inteligência, não é a razão; foi o Espírito Santo. Quem lhes fez lembrar um trecho do evangelho em certas ocasiões? É o Espírito Santo.
Ele nos dá o verdadeiro sentido da vida.
Muitos não sabem porque vivem: Até mesmo crianças se suicidam, jogando-se das janelas, porque perderam o sentido da existência. Quem nos dá o verdadeiro sentido do ser humano? O Espírito Santo. Eu tenho a certeza absoluta de que vocês já experimentaram todas estas coisas. Então se experimentaram tudo isso, convém experimenta-lo sempre mais, convém ir para frente, enchermo-nos de Espírito Santo, transbordar Espírito Santo.
E então como se faz? Como nos comportarmos?
Com docilidade: escutar aquela voz e colaborar sempre e logo, eliminando os obstáculos – o nosso eu, o egoísmo – e abraçando Jesus abandonado na dor.
Para concluir a resposta a esta pergunta, como fazer praticamente para amar melhor Jesus abandoando, sem medo, sem parar diante da dor, sem trocar sua escolha, repito que se trata de treinamento.
Vocês têm a possibilidade de fazê-lo, porque tudo impele vocês para a Vida e sendo que já experimentaram a vida de Deus, eu convido vocês a treina-la.
Repito: trata-se de treinamento.
Chiara Lubich[1] Movimentos dos Focolares, movimento católico fundado por Chiara Lubich.[2] Centro de formação internacional do Movimento dos Focolares.
abaetetuba/pa, 5/11/2009 - ademir rocha
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