Vias da Espiritualidade da Unidade
Fonte da foto: Antonio Sérgio R. dos Santos
Fonte dos textos: www.focolare.org
Deus Amor
Com a violência da guerra, Chiara Lubich e suas
primeiras companheiras adquiriram o hábito de encontrar-se nos abrigos antiaéreos, logo que tocava
a sirene anunciando um novo bombardeio. Depois daquela fulgurante intuição que
as havia levado a colocar Deus Amor no centro de seus interesses, no centro –
único e absoluto – de suas jovens vidas, tinham o forte o desejo de estar
juntas e descobrir modos novos de ser cristãos, e colocar em prática o
Evangelho.
«Cada acontecimento nos tocava profundamente – Chiara
dirá mais tarde –. A lição que Deus nos dava, por meio das circunstâncias,
era clara: tudo é vaidade das vaidades, tudo passa. Mas, ao mesmo tempo, Deus
colocava no meu coração, para todas, uma pergunta, e com ela a resposta: “Mas
existirá um ideal que não morre, que nenhuma bomba pode destruir, ao qual
doar-nos inteiramente?”. Sim, Deus. Decidimos fazer Dele o ideal da nossa vida»
Em 2000 Chiara escreveu: «Deus. Deus, que em meio ao
furor da guerra, fruto do ódio, e sob a ação de uma graça especial,
manifestou-se por aquilo que verdadeiramente é: amor. A primeira ideia-força
sobre a qual o Espírito construiu esta espiritualidade foi esta: Deus Amor (cf.
1Jo 4,8).
Que transformação esta verdade, compreendida de
forma completamente nova em contato com o carisma do Movimento, provoca nas
pessoas! Fazendo uma comparação, a vida cristã conduzida antes, ainda que com
uma prática coerente, parece obscurecida pela orfandade. Depois, eis a
descoberta: Deus é amor, Deus é Pai! O nosso coração, que vivera no exílio da
noite da vida, abre-se e eleva-se, une-se com aquele que o ama, que pensa em
tudo, que conta até mesmo os cabelos de nossa cabeça.
As circunstâncias alegres e dolorosas adquirem um
novo significado: tudo é previsto e desejado pelo amor de Deus. Nada mais pode
nos causar medo. Esta é uma fé exaltante, que fortifica, que faz exultar. É uma
fé que provoca as lágrimas em quem a experimenta pela primeira vez. É uma
dádiva de Deus que nos faz gritar: “Nós acreditamos no amor!” (1Jo
4,16). Com a escolha de Deus que é amor, como ideal da vida, se colocava o
primeiro fundamento, a primeira exigência daquela nova espiritualidade que
tinha desabrochado em nossos corações. Tínhamos encontrado Aquele por quem
viver: Deus Amor».
Amor ao irmão
A
aventura das jovens de Trento, reunidas ao redor de Chiara, não podia deixar
indiferente a população da cidade, então de poucas dezenas de milhares de pessoas, e
nem mesmo a Igreja local. O comportamento das moças da “casinha” da Praça dos
Capuchinhos, sede do primeiro focolare, surpreendia grandes e pequenos. Naquele
modesto apartamento os pobres eram de casa, até os problemas sociais da cidade,
arrasada pela guerra, era algo que elas sentiam como próprio. E acreditavam na
possibilidade de resolvê-lo, simplesmente acreditando na verdade das palavras
do Evangelho. Amando os irmãos, um a um.
Chiara escreveu: «Dentre todas as Palavras o nosso carisma
sublinhou imediatamente aquelas que diziam respeito especificamente ao amor
evangélico ao próximo, e não só aos pobres. No Evangelho lemos que Jesus disse:
“Cada vez que fizestes estas coisas a um desses meus irmãos mais pequeninos (e
entende-se todos) foi a mim que o fizeste” (Mt 25,40). Então o nosso modo
antigo de conceber o próximo e de amá-lo desabou. Se Cristo, de certa forma,
estava em todos, não podiam ser feitas discriminações, nem haver preferências.
Despareceram os conceitos humanos que classificam as pessoas: da minha pátria
ou estrangeiro, velho ou jovem, bonito ou feio, antipático ou simpático, rico
ou pobre. Cristo estava atrás de cada um, Cristo estava em cada um. E cada irmão
era verdadeiramente “outro Cristo” – se a graça enriquecia a sua alma – ou um
Cristo que poderia nascer, se ainda distante Dele.
Vivendo assim percebemos que o próximo era o
caminho para chegar a Deus. Aliás, o irmão nos pareceu como um arco sob o qual
era necessário passar para encontrar Deus. E isso nós experimentamos desde os
primeiros dias. Que união com Deus à noite, na oração ou no recolhimento,
depois de tê-lo amado o dia inteiro nos irmãos! Quem nos dava aquela
consolação, aquela unção interior não diferente de antes, tão celeste, senão
Cristo que vivia o “dai e vos será dado” do seu Evangelho? Nós o tínhamos amado
o dia inteiro nos irmãos e agora ele nos amava. E quanto nos foi útil esta
dádiva interior! Eram as primeiras experiências da vida espiritual, da
realidade de um reino que não é desta terra. Assim, no maravilhoso caminho que
Deus nos mostrava, o amor ao irmão foi um novo ponto fundamental da nossa
espiritualidade».
Unidade
Em Fiera di Primiero, nos primeiros tempos do Movimento dos
Focolares
Uma espiritualidade de comunhão, coletiva, como dizia Paulo VI, é o
novo caminho de Chiara Lubich, nascido do Evangelho. Mas quais as
suas características? Quais os fatos que, desde o início, levaram à certeza de
terem nascido para contribuir à unidade dos homens com Deus e entre eles? Vamos
descobri-lo juntos.Em maio de 1944, no porão escuro da casa de Natalia Dallapiccola, para onde ela havia transferido o seu quarto, para proteger-se, de algum modo, dos eventuais bombardeios, à luz de vela Chiara a suas amigas de Trento liam o Evangelho, como já era um hábito para elas. O abriram ao acaso e encontraram a oração que Jesus pronunciou antes de morrer: «Pai, que todos sejam uma coisa só» (Jo 17,21). Este é um texto evangélico extraordinário e complexo, o “testamento de Jesus”, estudado por exegetas e teólogos de toda a cristandade, mas naquela época um pouco esquecido, porque misterioso para a maioria. Aquela passagem de São João poderia parecer não fácil para jovens como Chiara, Natalia, Doriana e Graziella. Mas elas intuíram que aquela seria a “sua” passagem evangélica, a unidade. Num daqueles dias, em Trento, passando sobre a ponte Fersina, Chiara disse às suas amigas: «Entendi que devemos amar-nos como diz o Evangelho: até tornarmo-nos uma coisa só». Mais tarde, no Natal de 1946, elas escolheram como lema uma frase radical: «Ou a unidade ou a morte».
Chiara escreveu, em 2000: «Um dia estava com minhas amigas, e abrindo o pequeno livro, li: “Pai, que todos sejam uma coisa só” (Jo 17,21). Era a oração de Jesus antes de morrer. Pela sua presença entre nós e por um dom do seu Espírito, pareceu-me entender um pouco aquelas palavras difíceis e fortes, e nasceu em meu coração a convicção de que tínhamos nascido para aquela página do Evangelho: para a unidade, isto é, para contribuir à unidade dos homens com Deus e entre eles.
Algum tempo depois, conscientes da divina audácia de um programa que somente Deus podia atuar, ajoelhadas ao redor de um altar, pedimos a Jesus que realizasse aquele seu sonho usando de nós, se isto estivesse nos seus planos. No início, diante da grandeza da missão, tínhamos às vezes a impressão de desfalecer, e vendo as multidões que teríamos que reunir na unidade, o desânimo nos assolava. Mas aos poucos, docemente, o Senhor nos fez entender que a nossa missão era como aquela de um menino que lança uma pedra na água, e ao redor daquela pedra se fazem muitos círculos, cada vez maiores, que parecem quase infinitos. Entendemos que nós deveríamos criar a unidade ao nosso redor, no ambiente onde estamos, e que depois – quando já estivéssemos no céu – iríamos ver círculos gigantescos, até que no fim dos tempos se realizariam os planos de Deus. Para nós foi claro, desde o primeiro momento, que esta unidade possuía um único nome: Jesus. Para nós ser uma coisa só significava ser Jesus, ser todos Jesus. De fato somente Cristo pode fazer de dois um, porque o seu amor, que é anulação de si, que é ausência de egoísmo, nos faz entrar profundamente no coração dos outros. O que eu escrevia, naqueles tempos, demonstra a maravilha diante de uma realidade sobrenatural tão sublime: “A unidade! Mas quem ousará falar dela? É inefável como Deus! Poder ser sentida, pode ser vista, regozija-se com ela, mas… é inefável! Todos regozijam-se com a sua presença, todos sofrem com a sua ausência. É paz, gáudio, amor, ardor, clima de heroísmo, de suma generosidade. É Jesus entre nós!”».
A Igreja
Ainda nos
anos quarenta, início do Movimento, um dia o bispo mandou chamar o grupo das
jovens de Trento. Não conhecendo o motivo Chiara ficou preocupada. Após longas
orações as jovens se apresentaram no imponente edifício do arcebispado, na
Praça Fiera. Expuseram o que estavam fazendo na cidade, os fatos que mostravam
a verdadeira revolução que crescia de suas mãos, quase sem que percebessem.
Todavia, expressaram explicitamente, estavam dispostas a destruir tudo o que havia
sido construído naqueles meses, se ele o desejasse. «No bispo – elas pensavam –
é Deus que fala». E a elas só Deus importava, nada mais. Naquela ocasião, Dom
Carlo de Ferrari, religioso da Ordem dos Estigmatinos, escutou Chiara e suas
primeiras companheiras, sorriu para elas e pronunciou, simplesmente, uma frase
que ficou na história: «Aqui há o dedo de Deus».
A sua aprovação e benção acompanharam o Movimento
até a sua morte. Aconteceu, por exemplo, que quando o número de moças e rapazes
que desejavam fazer parte do focolare, deixando casa e bens, se multiplicou, o
bispo determinou que isto só podia ser feito com o acordo dos pais. E assim se
dispersaram muitos comentários. Sobre a existência e a importância da Igreja,
Chiara a suas companheiras tinham somente certezas. Com o passar do tempo a
espiritualidade da unidade levou a conceber a Igreja essencialmente como
comunhão.
Chiara escreveu, em 2000: «Uma palavra do Evangelho
nos tocou de modo especial. É sempre Jesus que fala: “Quem vos ouve (os
apóstolos) a mim ouve” (Lc 10,16). (…). O carisma nos introduzia, de modo novo,
no próprio mistério da Igreja, já que nós mesmos vivíamos como pequena Igreja.
Antecipando de muitos anos a definição conciliar de Igreja-comunhão, a
espiritualidade da unidade fazia experimentar e perceber com maior consciência
o que significa ser Igreja e vivê-la. E, pela presença de Cristo entre nós,
entendíamos que era lógico que fosse assim.
De tanto estar em contato com o fogo nos tornamos
fogo; de tanto ter Jesus em meio a nós nos tornamos outros Cristo. São
Boaventura disse: “Onde dois ou três estão unidos em nome de Cristo lá está a
Igreja”, e Tertuliano: “Onde três [estão reunidos], ainda que leigos, ali está
a Igreja”. A presença de Cristo em meio a nós nos faz Igreja, e daí nascia em
todos uma verdadeira paixão por ela. Do amor, por sua vez, brotava uma nova
compreensão, tudo era vital: compreendíamos os sacramentos de modo novo, os
dogmas se iluminavam. O fato de ser Igreja, pela força da comunhão de amor que
nos une, e da inserção na sua realidade institucional, fazia com que nos
sentíssemos à vontade, e experimentássemos a sua maternidade, até nos momentos
mais difíceis ».
Vontade de Deus
Qual devia ser o comportamento para demonstrar a
Deus que era Ele o centro de todos os nossos interesses? Chiara e suas primeiras
companheiras se perguntavam como colocar em prática o novo ideal de vida, Deus
Amor. E logo isto pareceu quase óbvio: deviam, por sua vez, amar a Deus. Não
teriam nenhum sentido na vida se não fossem «uma pequena chama daquele infinito
braseiro: amor que responde ao Amor».
E a dádiva de poder amar a Deus pareceu-lhes grande
e sublime, a ponto que com frequência repetiam: «Não é tanto que se deve dizer:
“devemos amar a Deus”, mas, “Oh! Poder amar-te, Senhor! Poder amar-te com este
pequeno coração”». Recordaram-se de uma frase do Evangelho que não deixava, e
não deixa, escapatória para quem quer conduzir uma vida cristã coerente: «Não
quem diz “Senhor, Senhor…” entrará no reino dos céus, mas quem faz a vontade do
meu Pai que está nos céus» (Mt 7,21). Fazer a vontade de Deus era, portanto, a
grande possibilidade que todas tinham de amá-lo. Deus e a sua vontade
coincidiam.
Chiara escreveu: «Deus é como o sol. A cada um de nós chega um
raio: a divina vontade sobre mim, sobre minha amiga, sobre a outra. Único sol,
vários os raios, ainda que sempre raios de sol. Único Deus, única vontade,
vária para cada um, ainda que sempre vontade de Deus. Era preciso caminhar no
próprio raio, sem jamais sair dele. E caminhar no tempo que nos era dado. Não
era o caso de divagar no passado ou fantasiar sobre o futuro. Precisava
abandonar o passado na misericórdia de Deus, já que não nos pertencia mais, e o
futuro seria vivido com plenitude, quando se tornasse presente.
Somente o presente estava em nossas mãos. E para
que Deus reinasse na nossa vida, deveríamos, no presente, concentrar mente,
coração e forças no cumprimento da sua vontade. Como um viajante no trem, não
pensa em caminhar pelo vagão para chegar antes ao destino, mas, sentado, deixa
que o trem o leve, assim a nossa alma, para chegar a Deus deveria cumprir
plenamente a sua vontade, no momento presente, porque o tempo caminha por si
só. E não seria difícil demais entender o que Deus queria de nós. Ele
manifestava a sua vontade através dos superiores, da Sagrada Escritura, dos
deveres do próprio estado, das circunstâncias, das inspirações… momento por
momento, iluminadas e ajudadas pela graça atual, teríamos construído o edifício
da nossa santidade. Ou melhor, fazendo a vontade de um Outro – de Deus mesmo –
ele teria edificado a si mesmo em nós.
Fazer a vontade de Deus, portanto, não significa
apenas “resignação”, como muitas vezes se entende, mas a maior aventura divina
que possa acontecer a uma pessoa, a de seguir não a própria vontade mesquinha,
os próprios projetos limitados, mas Deus, e realizar o desígnio que ele tem
sobre cada filho seu, desígnio divino, impensável, riquíssimo. Para nós fazer a
vontade de Deus foi a descoberta de um caminho de santidade feito para todos.
Como qualquer pessoa, seja qual for o lugar, situação ou vocação que se encontre,
pode fazer a vontade de Deus, esta pode ser o bilhete de ingresso das multidões
à santidade. Fazer a vontade de Deus, para amá-lo, tornou-se o segundo ponto da
nossa espiritualidade da unidade».
Amor recíproco
O
Evangelho, que Chiara e suas primeiras companheiras liam nos refúgios
antiaéreos, era uma descoberta contínua, no fundo era um livro que antes elas não
conheciam, ninguém jamais havia falado naqueles termos. «Jesus age
sempre como Deus. Pelo pouco que damos nos preenche de dons. Estamos sós, e nos
vemos cercados por milhares de mães, pais, irmãos, irmãs, e carregados de todos
os bens que se podem imaginar, para depois distribuí-los a quem não tem nada».
A
experiência fazia consolidar a convicção de que não existe nenhuma problemática
humana que não encontre uma resposta, explícita ou implícita, naquele pequeno
livro que traz palavras do céu.
As
pessoas que aderiam ao movimento que estava nascendo adentravam e se nutriam delas,
era uma reevangelização, experimentava-se que o que Jesus dizia e prometia se
realizava, pontualmente.
Chiara
escreveu: «A
guerra continuava, os bombardeios prosseguiam. Os refúgios não eram seguros
suficientemente e podíamos nos encontrar logo diante de Deus. Tudo isso fazia
com que no nosso coração surgisse um desejo, o de colocar em prática, naqueles
momentos que poderiam ser os últimos da nossa vida, aquele que fosse o maior
desejo de Jesus. Então nos lembramos do mandamento que Ele chama seu e novo: “Este
é o meu mandamento: amai-vos uns aos outros como eu vos amei. Ninguém tem maior
amor do que aquele que dá a vida pelos seus amigos” (Jo 15, 12-13)».
A
descoberta do “mandamento novo” as inflamou a tal ponto que o amor
recíproco tornou-se como a sua “veste”, o próprio modo de ser. Era aquele amor
que atraía pessoas de toda idade e classe social. Amar-se reciprocamente não
era uma opção, mas um modo de viver e de se apresentar ao mundo.
«Dizíamos
que Jesus era como um imigrante que traz da própria terra os seus usos e
costumes. Ao nos dar o “seu” mandamento, trouxe para a terra a lei do céu, que
é o amor entre os Três, na Santíssima Trindade. Olhamos umas às outras e
decidimos: “Eu quero estar pronta a morrer por você, e eu por você”. Todas,
umas pelas outras.
Mas se
devíamos estar prontas a dar a vida era lógico que, enquanto isso, precisava
responder às muitas exigências que o amor fraterno solicitava, era preciso
partilhar as alegrias, os sofrimentos, os poucos bens, as próprias experiências
espirituais. Esforçamo-nos em viver assim, para que o amor recíproco reinasse
entre nós, antes de qualquer outra coisa.
«Um dia,
no primeiro focolare, tiramos do armário as coisas que tínhamos, poucas e
pobres, e as amontoamos no meio do quarto, para depois dar a cada uma o que lhe
servia, e o restante aos pobres. Dispostas a colocar em comum o salário e todos
os pequenos e grandes bens que tínhamos ou poderíamos vir a ter. Inclusive os
bens espirituais. Até mesmo o desejo da santidade tinha sido posposto na única
escolha, Deus, que excluía qualquer outro objetivo, mas incluía, obviamente, a
santidade que ele havia previsto para nós.
E quando,
pelas imperfeições que todas possuíamos, surgiram as óbvias dificuldades,
decidimos não nos ver com o olhar humano – que descobre a palha no olho do
outro, esquecido da própria trave – mas com o olhar que tudo perdoa e esquece.
E sentimos que o perdão recíproco era um dever, para imitar Deus
misericordioso, tanto que entre nós propusemos uma espécie de voto de
misericórdia, isto é, cada manhã, ao levantar, víamo-nos como pessoas “novas”,
que nunca haviam caído naqueles defeitos».
Jesus Abandonado
No ano
2000, num discurso, Chiara Lubich recorda a primeira “descoberta” de Jesus
Abandonado: «Um fato, acontecido nos primeiros meses de 1944, nos levou
a ter uma nova compreensão sobre Ele. Por uma circunstância viemos a saber que
o maior sofrimento de Jesus, e portanto o seu maior ato de amor, foi quando, na
cruz, experimentou o abandono do Pai: “Meu Deus, meu Deus, por que me
abandonaste?” (Mt 27,46). Ficamos profundamente tocadas com isso. E a jovem
idade, o entusiasmo, mas principalmente a graça de Deus, nos impulsionaram a
escolher justamente Ele, no seu abandono, como caminho para realizar o nosso
ideal de amor. Desde aquele momento pareceu-nos encontrar o seu semblante em
toda parte».
Outro
momento determinante para a compreensão deste “mistério de dor-amor”. Estamos
no verão de 1949. Igino Giordani foi encontrar Chiara, que tinha ido para o
Vale di Primiero, na região montanhosa do Trentino (Itália), para um período de
repouso. Com o primeiro grupo vivia-se intensamente a passagem do Evangelho
sobre o abandono de Jesus. Foram dias de luz intensa, tanto que no final do
verão, devendo descer daquele “pequeno Tabor” para voltar à cidade, Chiara
escreveu, num só ímpeto, um texto que inicia com verso que tornou-se célebre: «Tenho
um só esposo sobre a terra, Jesus abandonado… Irei pelo mundo buscando-o, em
cada instante da minha vida».
Muitos
anos depois ela explicou: «Desde o início entendemos que em tudo existe uma
outra face, que a árvore tem as suas raízes. O Evangelho lhe cobre de amor, mas
exige tudo. “Se o grão de trigo caído na terra não morre – lê-se em João –
permanece só; se morre produz muito fruto” (Jo 12,24). A personificação disso é
Jesus abandonado, cujo fruto foi a redenção da humanidade. Jesus crucificado!
Ele havia experimentado em si a separação dos homens de Deus e entre si, e
tinha sentido o Pai distante. Nós o vimos não apenas nas nossas dores pessoais,
que não faltaram, e nos sofrimentos dos próximos, muitas vezes sós,
abandonados, esquecidos, mas em todas as divisões, os traumas, as separações,
as indiferenças recíprocas, grandes ou pequenas: nas famílias, entre as
gerações, entre pobres e ricos, às vezes na própria Igreja, e mais tarde entre
as várias Igrejas, e depois ainda entre as religiões e entre quem crê e quem
possui uma convicção diferente.
Mas todas
estas dilacerações –
continua Chiara – não nos assustaram, pelo contrário, pelo amor a Ele
abandonado, elas nos atraíram. E foi Ele que nos ensinou como
enfrentá-las, como vivê-las e ajudar a superá-las, quando, depois do abandono,
recolocou o seu espírito nas mãos do Pai: “Pai, em tuas mãos entrego o meu
espírito” (Lc 23,46), dando assim a possibilidade para que a humanidade se
recompusesse, em si mesma e com Deus, e indicando-lhe o modo de fazê-lo. Ele
manifestou-se como chave da unidade, remédio para qualquer divisão. Era Ele que
recompunha a unidade entre nós, cada vez que era rompida. Era Ele que
reconhecíamos e amávamos nas grandes, trágicas divisões da humanidade e da
Igreja. Ele se tornou o nosso único Esposo. E a nossa convivência com um tal
Esposo foi tão rica e fecunda, que me levou a escrever um livro, como uma carta
de amor, como um canto, um hino de alegria e gratidão a Ele».
Espírito Santo
É incontestável que o Espírito Santo é um “Deus desconhecido”. Muito se fala dele, mas poucos sabem quem é, como age, de quais belezas e fantasias divinas saiba revestir-se.
Embora não se manifestasse diretamente, Chiara Lubich e suas primeiras companheiras perceberam que Ele agia, desde os primeiros balbucios do movimento. Por assim dizer, um Deus que se manteve cuidadosamente escondido, ensinando a elas o que é o amor, Ele que é o amor personificado. Ele, o comunicador, o Amor entre Pai e Filho, a “suave aragem”.
Chiara escreveu: «Assistimos à sua ação dia após dia, em toda a nossa vida, às vezes doce, às vezes forte, às vezes até violenta, e quase não nos apercebemos dele. Mas da primeira escolha de Deus Amor, à luz que iluminava as palavras do Evangelho, à revelação de Jesus abandonado, a alegria, a paz e a luz que sentíamos borbulhar em nossos corações ao viver o mandamento novo, nada mais era do que a ação Dele. Podemos dizer que é possível reescrever toda a história do movimento, atribuindo-a totalmente à ação do Espírito Santo. Somente agora vemos como Ele foi, de fato, o grande protagonista da nossa aventura, foi ele que moveu tudo.
Mas agora que Ele se revelou, mostrando-se aquele que é realmente para nós, podemos reconhecer as suas pegadas luminosas, os incontáveis sinais da sua ação constante e imprevisível. Aquela voz interior que nos guiava no novo caminho, aquela atmosfera especial que pairava nos nossos encontros, a potente liberação de energias latentes, que purifica e renova, aquela alquimia divina que transforma a dor em amor, aquelas experiências de vida, têm um único nome, que aprendemos a conhecer, para sermos infinitamente gratos e sentirmo-nos impulsionados a pedir a sua intervenção nos nossos afazeres cotidianos, dos mais simples aos mais exigentes. Ele deu-nos a coragem de enfrentar as multidões, de deixar a pátria, enfrentar os incômodos, as contrariedades, amiúde com alegria. Mas o efeito mais profundo, mais radical e característico da sua presença é o de ser liame de unidade entre nós.
O Espírito Santo é o presente que Jesus deu a nós, para que fôssemos um, como o Ele e o Pai. Sem dúvida, porque somos cristãos, o Espírito Santo estava em nós antes também, mas houve uma iluminação nova, uma nova manifestação Dele dentro de nós, que nos fez partícipes e atores de uma nova Pentecostes, juntamente com todos os movimentos eclesiais que tornam novo o semblante da Igreja».
A Palavra
O
Evangelho. A
aventura da unidade, iniciada por Chiara Lubich tinha um só “texto”: a Bíblia,
o Evangelho, a Palavra de Deus. Para elas a vida que levava a Deus
existia somente nas páginas do Evangelho. Foi naquele período que, não por
acaso, tomou corpo uma prática já intuída por Chiara quando era professora, e
que se generalizou em todo o mundo do focolare, e não só: a “Palavra de Vida”.
Viviam uma frase do Evangelho e a grande novidade, para aqueles tempos, era que
Chiara e suas primeiras companheiras, para estimularem-se reciprocamente e
crescerem juntas, contavam umas às outras os frutos que a vida da Palavra tinha
provocado nelas.
Chiara escreveu: «A guerra continuava. Cada vez que a sirene do
alarme tocava, a única coisa que podíamos levar conosco aos refúgios era o
pequeno livro do Evangelho. O abríamos, e embora aquelas palavras já fossem
conhecidas, pelo novo carisma se iluminavam, como se uma luz se acendesse, os
corações se inflamavam e nos sentíamos impulsionadas a colocá-las em prática
imediatamente. Todas nos atraiam e procurávamos vivê-las, uma por uma. Por
exemplo, eu lia: “Ama o teu próximo como a ti mesmo” (Mt 19,19). O próximo.
Onde estava o próximo? Ali, perto de nós, em todas as pessoas atingidas pela
guerra, feridas, sem roupas, sem casa, famintas e sedentas. E imediatamente nos
dedicávamos a elas, de muitas maneiras.
O Evangelho garante: “Pedi e vos será dado” (Mt
7,7). Pedíamos o que os pobres necessitavam e cada vez recebíamos todo tipo de
bens! Coisa extraordinária em tempo de guerra. Um dia, e este é um dos
primeiros fatos, que sempre contamos, um pobre me pediu um par de sapatos n.
42. Sabendo que Jesus tinha se feito pobre com os pobres, dirigi ao Senhor uma
oração. Estava na igreja de Santa Clara, ao lado do hospital que tinha o mesmo
nome: “Dá-me um par de sapatos n. 42, para ti, naquele pobre”. Saindo de lá uma
jovem me entregou um pacote, o abri e era um par de sapatos n. 42.
Lemos no Evangelho: “Dai e vos será dado” (Lc
6,38). Damos, e toda vez que damos retorna. Um dia tinha só uma maçã em casa e
a demos a um pobre que pediu. Na mesma manhã um parente trouxe uma dúzia. Demos
aquelas também, para outras pessoas que pediam, e à tarde chegou uma mala cheia
de maçãs. Assim, sempre assim.
São
fatos, um depois do outro, que surpreendem e encantam. A nossa alegria é grande
e contagiosa. Jesus tinha prometido e cumpria a promessa. Ele não é uma
realidade só do passado, mas do presente. E a constatação de que o Evangelho é
verdadeiro colocava assas no caminho que estávamos iniciando. E a quem ficava
curioso diante da nossa felicidade em tempos tão tristes, contávamos o que
estava acontecendo, e eles percebiam que o que estavam vendo não eram só
algumas jovens ou um movimento que nascia, mas encontravam Jesus vivo».
Jesus Eucaristia
A Eucaristia sempre teve um papel importante na
vida de Chiara Lubich, desde a
sua infância. Seja a sua vida pessoal, seja a de suas primeiras companheiras,
assim como a de todo o Movimento, que se compôs nos anos, foi marcada pela
Eucaristia. E não poderia deixar de ser assim, se se pensa que Jesus
Eucaristia é a alma, o coração da própria vida da Igreja.
A ação do Espírito Santo, por meio do carisma da
unidade, provocava em Chiara e nas suas primeiras companheiras uma forte
atração, tanto que não viam a hora de ir à Missa, para partilhar toda a sua
vida com Jesus Eucaristia. Mais tarde, quando começaram a viajar pela Itália,
enquanto a paisagem passava, da janela do trem elas procuravam divisar as
torres das igrejas, e com zelo dirigiam-se a elas, porque lá estava a
Eucaristia, lá estava o Amor. Existe um elo maravilhoso entre a Eucaristia e
a espiritualidade da unidade.
Chiara exprimiu-se assim, sobre este grandioso
mistério: «O fato
que, para dar início a este vasto movimento, o Senhor nos tenha concentrado
sobre a oração de Jesus pela unidade, significa que Ele devia impelir-nos
fortemente para o único que é capaz de atuá-la: Jesus na Eucaristia.
Como as crianças recém-nascidas nutrem-se
instintivamente no seio materno, sem saber o que fazem, da mesma forma, desde o
início do Movimento notou-se um fenômeno: quem dele se aproximava começava a
frequentar a comunhão todo dia.
Como explicar isso? O que é o instinto para o bebê
recém-nascido é o Espírito Santo para o adulto, recém-nascido para a nova vida
que o Evangelho da unidade traz. Ele é levado ao “coração” da Igreja Mãe, e
alimenta-se do néctar mais precioso que ela possui, no qual sente encontrar o
segredo da vida de unidade, e da própria divinização.
A missão da Eucaristia, de fato, é tornar-nos Deus
por participação. Misturando as carnes vivificadas pelo Espírito Santo e
vivificantes de Cristo, com as nossas, nos diviniza na alma e no corpo. A
própria Igreja poderia se definir como o “uno” provocado pela Eucaristia,
porque composta por homens e mulheres divinizados, feitos Deus, unidos a Cristo
que é Deus e entre si.
Este Deus conosco está presente em todos os
sacrários da terra e
recolhe todas as nossas confidências, alegrias e temores.
Quanto conforto Jesus Eucaristia trouxe nas nossas
provações, quando ninguém nos dava audiência porque o Movimento devia ainda ser
estudado! Ele estava sempre lá, em todas as horas, esperando por nós, para
nos dizer: “no fundo, o chefe da Igreja sou Eu”. E nas lutas e sofrimentos
de todo tipo, quem nos deu força, a ponto de pensar muitas vezes que teríamos
morrido se Jesus Eucaristia e Jesus em meio, que Ele alimentava, não tivessem nos
sustentado?».
Maria
Maria, a Mãe de Deus, esteve presente na vida do
Movimento desde os primórdios, e ainda antes, como testemunha o fato de Loreto, em
1939, quando Chiara foi visitar a casa da família de Nazaré. Inúmeras vezes
Chiara recordou um episódio, durante um terrível bombardeio que poderia ser
fatal para ela suas primeiras companheiras. Naquele instante recordava ter
percebido, pessoalmente, algo que se referia a Maria: «Coberta de poeira, que
invadia todo o abrigo – ela contava – levantando-me do chão, quase por milagre,
no meio dos gritos das pessoas, eu disse às minhas companheiras: “senti uma
grande aflição na alma, agora, enquanto estávamos em perigo, a dor de não poder
mais recitar, aqui na terra, a Ave Maria”. Naquele momento eu não podia captar
o sentido daquelas palavras e daquele sofrimento. Talvez inconscientemente
exprimisse o pensamento que, permanecendo ainda vivas, com a graça de Deus,
teríamos podido dar graças a Maria com a obra que estava para nascer».
Por isso não surpreende que Obra de Maria seja o
nome oficial do Movimento dos Focolares. Nem que tenha chamado “Mariápolis” os
seus principais encontros, e que as suas pequenas cidades sejam “Mariápolis
permanentes”, e que todos os centros de formação sejam definidos como “Centro
Mariápolis”, e que Mariápolis seja também o nome de uma publicação.
Em 2000 Chiara escreveu: «Maria tinha usado para o
nosso Movimento o mesmo método que utilizara para a Igreja: manter-se na sombra
para dar todo o relevo a quem o devia ter, isto é, o seu Filho que é Deus. Mas
quando chegou o momento do seu ingresso – por assim dizer, oficial – no nosso
Movimento, ela se mostrou, ou melhor, Deus a revelou grande em proporção de
quanto tinha sabido desaparecer. Foi em 1949 que Maria disse ao nosso coração,
verdadeiramente algo de si. Aquele foi um ano de graças especiais, talvez um
“período iluminativo” da nossa história. Entendemos que Maria, incrustada como
rara e única criatura na Santíssima Trindade, era inteiramente Palavra de Deus,
era toda revestida da Palavra de Deus. E se o Verbo, a Palavra, é a beleza do
Pai, Maria, substanciada de Palavra de Deus, era de uma beleza incomparável.
Foi tão forte a nossa impressão, diante desta
compreensão, que até hoje não podemos esquecê-la. Aliás, compreendemos como
então nos parecia que somente os anjos poderiam balbuciar algo sobre ela. Vê-la
assim nos atraiu e fez nascer um amor novo por Ela. Amor ao qual ela respondeu
evangelicamente, manifestando-se mais claramente à nossa alma na sua realidade
de Mãe de Deus. Theotókos. Não apenas, portanto, a jovenzinha de Nazaré, a mais
bela criatura do mundo, o coração que contém e supera todos os amores das mães
do mundo, mas: a Mãe de Deus. E naquele momento – não sem uma graça de Deus –
Maria nos revelou uma dimensão de si mesma que, até então, para nós havia
permanecido totalmente ignorada. Sim, porque antes víamos Maria diante de
Cristo e dos santos – para fazer uma comparação – como no céu se vê a lua
(Maria), diante do sol (Cristo) e as estrelas (os santos). Agora não. A Mãe de
Deus abraçava, como um enorme céu azul, o próprio sol (…).
Mas esta nova, luminosa compreensão de Maria, não
permanecia pura contemplação (…). Tornou-se claro que Maria representava para
nós um modelo, o nosso “dever ser”, enquanto víamos cada um de nós como um
“poder ser” Maria».
Jesus no meio
Desde o
início as focolarinas fizeram uma experiência, que logo aprenderam a expressar
com a frase “viver com Jesus no meio”. Talvez nada a possa explicar melhor do
que as palavras dos discípulos depois do encontro com o Senhor ressuscitado em
Emaús: «Não ardia o nosso coração enquanto ele conversava conosco pelo
caminho?» (Lc 24,32). Jesus é sempre Jesus, e embora estando presente só
espiritualmente, quando está explica as Escrituras e faz arder no peito a
caridade de Cristo, a vida. E quando alguém o encontra exclama, com uma saudade
infinita: «Fica conosco, Senhor, porque anoitece» (Lc 27,29). A experiência dos
discípulos de Emaús é essencial para todos os que se referem à espiritualidade
da unidade. Porque no Movimento nada tem valor se não se busca repetidamente a
presença prometida por Jesus aos seus – «onde dois ou três estão reunidos em
meu nome eu estou no meio deles» (Mt 18,20) -, uma presença que vivifica,
alarga os horizontes, consola, estimula à caridade e à verdade.
Escreveu Chiara: «Tendo colocado o amor recíproco
em ação, percebemos mais segurança na nossa vida, a vontade mais decidida, uma
vida plena. Por quê? Foi logo evidente: por este amor concretizavam-se entre
nós as palavras de Jesus: “Onde dois ou três estão reunidos em meu nome (ou
seja, no meu amor) eu estou no meio deles” (Mt 18,20). Silenciosamente, como
irmão invisível, Jesus se havia introduzido no nosso grupo. E agora a fonte do
amor e da luz estava lá, em meio a nós, e não queríamos mais perdê-la. E
compreendíamos melhor o que era a sua presença quando, por uma falta nossa, ela
desaparecia.
Mas não é que naqueles momentos nós quiséssemos
voltar ao mundo que tínhamos deixado. A experiência de ter Jesus em meio a nós
era forte demais para que fôssemos atraídas pelas vaidades do mundo, que a sua
divina presença havia reduzido às suas ínfimas proporções. Muito pelo
contrário, como um náufrago se agarra a qualquer coisa para poder salvar a
vida, assim nós procurávamos qualquer método sugerido pelo Evangelho para poder
recompor a unidade rompida. E como dois pedaços de lenha cruzados alimentam o
fogo, consumando-se, se desejávamos viver com Jesus constantemente presente
entre nós, era preciso viver momento por momento todas aquelas virtudes
(paciência, prudência, mansidão, pobreza, pureza…) exigidas para que a unidade
sobrenatural com os irmãos nunca diminua. Entendíamos que Jesus em meio a nós
não é um estado conquistado de uma vez por todas, porque Jesus é vida, é
dinamismo (…).
“Onde dois ou mais”. Estas palavras divinas e
muitas vezes misteriosas na sua atuação pareceram-nos maravilhosas. Onde dois
ou mais… e Jesus não especifica quem, Ele deixa o anonimato. Onde dois ou mais…
quem quer que sejam: dois ou mais pecadores arrependidos que se unem em seu
nome; dois ou mais jovens, como nós éramos; dois, sendo um adulto e uma
criança… “Onde dois ou mais”, e vivendo-as vimos desmoronarem barreiras de
todos os tipos. Dois ou mais de pátrias diferentes: e caiam os nacionalismos.
Dois ou mais de raças diferentes: e caia o racismo. Dois ou mais, inclusive
entre pessoas que sempre foram pensadas como opostas, por cultura, classe,
idade… todos podiam, ou melhor, deviam unir-se no nome de Cristo.
Jesus em meio a nós foi uma experiência formidável.
A sua presença premiava de modo superabundante todo sacrifício feito,
justificava todos os passos dados neste caminho, para Ele e por Ele, dava um
sentido correto às coisas, às circunstâncias, confortava os sofrimentos,
temperava a alegria excessiva. E quem, sem sutilezas e raciocínios, acreditava
nas suas palavras com o encanto de uma criança, e as colocava em prática,
gozava deste paraíso antecipado, que é o reino de Deus entre os homens unidos
no seu nome».
Reproduzido pelo Blog do Ademir Rocha