“Ao contrário da economia
consumista, baseada na cultura do “ter”, a economia de comunhão é a economia do
“dar”. Isto pode parecer difícil, árduo, heroico. Mas não é assim, porque o
homem, feito à imagem de Deus, que é Amor, encontra a própria realização
justamente no amor, na doação. Esta exigência está no mais profundo do seu ser,
tenha ele fé em Deus ou não. É justamente nesta constatação, comprovada pela
nossa experiência, que está a esperança de uma difusão universal da economia de
comunhão”. (Chiara Lubich)
O distanciamento cada vez mais frequente entre as pessoas, a agressão sistemática ao meio ambiente em prol de um crescimento econômico sem limites, a consolidação de um modelo econômico que enaltece substancialmente o consumo conspícuo, a busca desenfreada pelo dinheiro como sinônimo de felicidade, o crescimento das injustiças econômicas e sociais e o desmantelamento dos princípios básicos que modelam a teia da vida. A somatória disso provoca profundo descontentamento e tem levado cada vez mais pessoas à reflexão em torno de se resgatar os laços de sociabilidade e de afirmar um compromisso em prol de um mundo melhor; de um mundo mais justo e socialmente mais equilibrado.
É nesse sentido, de se resgatar a possibilidade de se construir um mundo econômico e social menos injusto, que crescem ações buscando reverter essa tendência de distanciamento entre as pessoas, tentando aproximá-las pela prática da partilha, da comunhão (da comum união).
Tentativas de novos agrupamentos em favor de ações coletivas, cercadas de cooperação e união entre os membros tem se destacado com mais frequência numa época em que os valores monetários tem se soerguido, sobremaneira, em relação aos valores éticos, morais e sociais.
Uma tentativa nessa linha de atuação cooperativa que merece destaque é a chamada Economia de Comunhão (EdC).
A comunhão (comum união entre os membros) tem sido uma porta de entrada para a solidificação de um novo modo de fazer economia, no qual esteja presente a prática da comunhão-cooperação-fraternidade. Em poucas palavras, a Economia de Comunhão pode ser resumida como sendo a combinação de eficiência econômica com solidariedade, tendo como arrimo o princípio da cooperação.
A verdade é que a busca pela justiça social e um lugar para se viver em que “entre eles não haja necessitados” (lema da EdC) tem sido discutido amplamente entre aqueles que se põem a construir uma nova maneira de pensar a própria vida a partir das relações econômicas, tendo como elemento integrador desse sistema a participação das empresas. Esse é o modelo de atuação da Economia de Comunhão que procura, por meio de redes (conjunto de pessoas ou organizações interligadas direta ou indiretamente) pôr a economia à serviço do atendimento aos mais pobres, pois percebe claramente que os sistemas econômicos tradicionais são (e tem sido) incapazes de tirar a fome da boca de uma criança.
O ponto fundamental desse novo jeito de “pensar a economia” é a cooperação e a ajuda mútua (na prática é a cultura do “dar” e do “doar-se”) entre os agentes e o amplo e irrestrito apoio aos projetos de cunho social que enalteçam o papel das pessoas integrando-as no sistema produtivo. O propósito é um só: levar a dimensão da fraternidade para a macroeconomia que dita, na essência, as políticas econômicas públicas. O objetivo? Fazer com que a teoria econômica tradicional seja sensível à economia social e faça valer o princípio maior dessa ciência social: proporcionar melhoria (bem-estar) de vida a todos.
Nas palavras de Chiara Lubich (1920-2008), ativista social italiana, criadora desse movimento a partir de uma visita feita às comunidades carentes em São Paulo, em 1991: “a Economia de Comunhão deve canalizar capacidades e recursos para produzir riqueza em prol dos que se encontram em dificuldades. Os lucros devem ser livremente colocados em comum, divididos em três partes, no seguinte sentido: 1) Ajudar os pobres e dar-lhes sustento, enquanto não conseguirem um posto de trabalho; 2) Desenvolver estruturas de formação de ‘homens-novos’, ou seja, pessoas formadas e animadas pelo amor, capazes de viver a ‘ cultura da partilha’, e; 3) Incrementar e fortalecer a própria empresa. (CHIARA, L. em “O Movimento dos Focolares e a Economia de Comunhão”, Vargem Grande Paulista, Ed. Cidade Nova, 1.999).
Nota-se com isso que algumas ações em prol da construção de um mundo melhor estão em plena atividade; resta de nossa parte, uma maior participação, afinal, em se tratando de resgatar os mais nobres valores em torno da vida, isso não pode esperar por muito tempo.
Reproduzido pelo Blog do Prof. Ademir Rocha, de Abaetetuba/PA