sábado, 11 de junho de 2016

Palavra de Vida de Junho 2016

Palavra de Vida de Junho 2016

Fonte: www.focolare.org
Palavra de Vida – Junho de 2016
28 Maio 2016
“Vivei em paz uns com os outros.” (Mc 9,50)
Como soa bem, no meio dos conflitos que ferem a humanidade em tantas partes do mundo, o convite de Jesus à paz. É algo que mantém viva a esperança, pois sabemos que Ele mesmo é a paz e prometeu que nos daria a sua paz.
O Evangelho de Marcos traz essa frase de Jesus no final de uma série de máximas dirigidas aos discípulos, reunidos na casa em Cafarnaum, com as quais Ele explica como deveria viver a sua comunidade. A conclusão é clara: tudo deve conduzir à paz, na qual se encerra todo bem.
Uma paz que somos chamados a experimentar na vida de cada dia: na família, no trabalho, com aqueles que pensam de modo diferente na política. Uma paz que não tem medo de confrontar-se com opiniões discordantes, sobre as quais precisamos falar abertamente, se quisermos uma unidade cada vez mais verdadeira e profunda. Uma paz que, ao mesmo tempo, exige a nossa atenção para que o relacionamento de amor nunca desapareça, porque a pessoa do outro vale mais do que as diversidades que possam existir entre nós.
“Onde quer que chegue a unidade e o amor mútuo”, afirmava Chiara Lubich, “chega a paz, ou melhor, a paz verdadeira. Porque onde existe o amor mútuo, existe uma certa presença de Jesus no nosso meio, e Ele é justamente a paz, a paz por excelência”1.
O seu ideal de unidade tinha surgido durante a Segunda Guerra Mundial e imediatamente revelou-se como antídoto a ódios e dilacerações. Desde então, diante de cada novo conflito, Chiara sempre propôs com persistência a lógica evangélica do amor. Por exemplo, quando explodiu a guerra no Iraque em 1990, ela manifestou a amarga surpresa de ouvir “palavras que pareciam estar sepultadas, como: ‘o inimigo’, ‘os inimigos’, ‘começam as hostilidades’, e depois os boletins de guerra, os prisioneiros, as derrotas (…). Percebemos, com perplexidade, que fora ferido gravemente o princípio fundamental do cristianismo, o ‘mandamento’ por excelência de Jesus, o mandamento ‘novo’. (…) Ao invés de se amarem, ao invés de estarem prontos a morrer um pelo outro”, aí está a humanidade novamente “no abismo do ódio”: desprezo, torturas, assassinatos2. Como sair disso?, perguntava-se ela. “Deveríamos tecer, onde for possível, relacionamentos novos, ou aprofundar os que já existem entre nós cristãos e os fiéis das religiões monoteístas: os muçulmanos e os judeus”3, ou seja, entre aqueles que naquela ocasião estavam em conflito.
A mesma coisa vale diante de todo tipo de conflito: tecer entre pessoas e povos relacionamentos de escuta, de ajuda mútua, de amor, diria Chiara ainda, até “estar prontos a morrer um pelo outro”. É preciso conter as próprias razões para entender as do outro, mesmo sabendo que nem sempre chegaremos a compreendê-lo até o fundo. Também o outro provavelmente faz o mesmo em relação a mim e às vezes, quem sabe, também ele não entende a mim e os meus motivos. No entanto, queremos ficar abertos ao outro, mesmo na diversidade e na incompreensão, salvando acima de tudo o relacionamento com ele.
O Evangelho coloca isso de modo imperativo: “Vivei em paz”. Sinal de que nos pede um empenho sério e exigente. É uma das mais essenciais expressões do amor e da misericórdia que somos chamados a ter uns para com os outros.
Fabio Ciardi
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Evangelho vivido: experimentar a paz

14 Junho 2016A Palavra de Vida nos exorta a viver a paz na família, no trabalho, com aqueles que pensam diferente de nós. Uma paz que interpela a construção de relações cotidianas com as pessoas que estão ao nosso lado.
Pároco da misericórdia
“Para iniciar o Ano da Misericórdia com um gesto concreto, eu pedi perdão aos meus paroquianos pelos momentos nos quais eles não se sentiram amados por mim e convidei – quem desejasse – a cumprimentar-me, e, com um aperto de mão, selar um pacto de ver-nos como se fosse, sempre, pela primeira vez. Formou-se uma fila enorme e eu tive a ocasião de cumprimentar um por um. No dia seguinte, uma paroquiana que não estivera presente me procurou e me perguntou se eu poderia, também com ela, repetir aquele gesto que causara muito bem às pessoas da cidade. Gesto que está ainda produzindo muitos frutos.” (I. S. Hungria)
Partilha
“Eu sou quase cego. Uma pessoa que me ajuda a estudar me havia dado 1.220 xelins para comprar o remédio que combate a malária. Indo à farmácia, encontrei uma senhora pobre que me relatou as suas necessidades. Para ajudá-la, eu dei a ela 200 xelins. Pouco depois, na porta da farmácia, encontrei outra senhora, ela também em dificuldades econômicas: não tinha dinheiro para comprar o remédio que precisava. Também nela eu reconheci Jesus que me pedia ajuda. E assim, me privei de outros 200 xelins. Porém, para comprar o remédio que eu precisava faltavam os 400 xelins. Certo de que Deus não deixaria me faltar a sua ajuda, entrei igualmente na farmácia. E lá eu encontrei um amigo, fazia muito tempo que não nos víamos. Conversando, eu falei da minha necessidade e ele insistiu em oferecer-me 500 xelins: mais do que a quantia que eu necessitava.” (R. S. – Tanzânia)
Na fonte pública
“Na fonte pública estávamos, muitas mulheres, lavando roupas quando chegou um homem quase cego, para lavar dois lençóis, uma camisa e um turbante. E pedia que déssemos um lugar a ele. Mas, ninguém queria dar-lhe lugar, então, eu lhe disse: ‘Baba, me dê as suas roupas, eu vou lavá-las para o senhor!’ As outras começaram a rir. Antes de ir embora, feliz com as roupas lavadas, aquele senhor me abençoou e, depois, me deu um pedaço de sabão que ele guardava cuidadosamente. Ninguém mais riu. Ao contrário, começaram a oferecer coisas umas às outras e a ajudarem-se reciprocamente.” (F. R. – Paquistão)
Divórcio fracassado
“Não foi fácil convencer Susanna quanto a minha decisão de pedir o divórcio. Sobretudo porque eu tinha a intenção de transferir-me para outra cidade com outra mulher com a qual eu já havia iniciado uma nova relação. Depois da negação ao meu pedido, a atitude de Susanna mudou: desconcertava-me a sua grande dignidade e eu não compreendia a origem daquela força que a permitia tratar-me tão bem não obstante a minha traição. Este pensamento não me deixou em paz. Um dia eu a convidei para almoçar em um restaurante: eu queria saber o que estava acontecendo. Com simplicidade ela me disse que, pela proximidade com alguns amigos cristãos, compreendera o amor de Deus. Deus que nos ama sempre, não obstante as nossas infidelidades, e que está ao nosso lado também nos acontecimentos dolorosos da vida. Isto bastou para que eu mudasse de ideia. Susanna e eu recomeçamos.” (L. M. – USA)
  
Chiara Lubich: o amor ao próximo e as obras de misericórdia
19 Junho 2016Segunda parte do discurso de Alba Sgarigilia (Centro Chiara Lubich) sobre a Misericórdia na herança espiritual de Chiara Lubich.
Desde os primórdios do Movimento, sobretudo pelas circunstâncias dolorosas da guerra, Chiara e as suas companheiras foram muito solícitas amando os pobres da sua cidade, acolhendo-os em casa, visitando-os, levando-lhes o necessário, socorrendo-os de todos os modos. Por meio deste exercício de amor, de caridade para com o próximo mais necessitado, mais tarde compreenderam que o seu coração não devia se dirigir somente aos pobres, mas a todos os homens indistintamente. (…) Sobre as obras de misericórdia Chiara retorna em diversas cartas enviadas, desde os primeiros tempos, a todos os que se aproximavam do Movimento. Entre as muitas cartas, relatamos aquilo que escreve à sua amiga Anna exortando-a a viver, em cada momento do seu dia, a obra de misericórdia que Deus lhe põe diante e de fazê-lo também em relação a si mesma, a Jesus dentro dela: “Lembra que no final da vida te serão pedidas as 7+7 obras de Misericórdia. Se fizeste aquelas, fizeste tudo. E gostaria que tu vivesses conosco o momento presente e no presente, a obra de Misericórdia que Deus te solicita. Estudas? = Ensinas o ignorante. Alguém te faz uma pergunta (uma colega?) = aconselhas quem está na dúvida. Comes ou dás da comer? = sacias quem tem fome. (…) etc. Todas as 14 obras de Misericórdia são tais a ponto de resolver cada tua ação. E cada uma de tuas ações pode ser dirigida ao Jesus que deve viver e crescer em ti e no teu próximo.”
O amor recíproco, o pacto de misericórdia e o perdão
O mandamento novo de Jesus: “amai-vos uns aos outros como eu vos amei…” (cf. Jo 13,34), – que evidencia a especificidade das relações interpessoais dos cristãos e o fim último da misericórdia –, representa outro ponto fundamental da espiritualidade de Chiara. É o amor recíproco que, vivido na atitude de “ser o primeiro a amar”, de doação incondicional, gratuita uns para com os outros, caracterizou a vida do primeiro focolare. Chiara mesma descreve o seu radicalismo, falando a um grupo de amigos muçulmanos sobre o “pacto de misericórdia”. (…)
Em outras circunstâncias, Chiara reitera a oportunidade desta prática, salientando o valor do perdão, e definindo-o como um verdadeiro ato de liberdade: “Perdoar. Perdoar sempre. O perdão não é esquecimento, que frequentemente significa não querer olhar de frente a realidade. O perdão não é fraqueza, isto é, não levar em consideração uma ofensa por medo do mais forte que a cometeu. O perdão não consiste em afirmar que é sem importância aquilo que é grave, ou que é bem aquilo que é mal. O perdão não é indiferença. O perdão é um ato de vontade e de lucidez, portanto de liberdade que consiste em acolher o irmão assim como ele é, apesar do mal que nos fez, como Deus acolhe a nós pecadores, apesar dos nossos defeitos. O perdão consiste em não responder à ofensa com a ofensa, mas em fazer o que Paulo diz: ‘Não te deixes vencer pelo mal, mas vence, com o bem, o mal’. O perdão consiste em abrir a quem te ofende a possibilidade de um novo relacionamento contigo, portanto, a possibilidade para ele e para ti de recomeçar a vida, de ter um amanhã em que o mal não tenha a última palavra. (…) Sobre esta atitude que se deve ter em relação a cada irmão, Chiara retorna especificando a necessidade de recomeçar sempre: “Talvez aquele irmão, como todos nós, cometeu erros, mas Deus, como o vê? Qual é, realmente, a sua condição, a verdade do seu estado? Se estiver em ordem diante de Deus, Deus não se lembra de mais nada, cancelou tudo com o seu sangue. E nós, por que nos lembrarmos? Quem está errado naquele momento? Eu que julgo, ou o irmão? Eu.
E então devo começar a ver as coisas a partir do olhar de Deus, na verdade, e tratar de modo conforme com o irmão, porque, se por desventura ele ainda não estivesse em ordem com o Senhor, o calor do meu amor, que é Cristo em mim, o levaria ao arrependimento como o sol absorve e cicatriza muitas feridas. A caridade se mantém com a verdade e a verdade é misericórdia pura, da qual devemos estar revestidos da cabeça aos pés para podermos nos chamar cristãos. O meu irmão retorna? Eu devo vê-lo novo como se nada tivesse acontecido e recomeçar a vida juntos, na unidade de Cristo, como a primeira vez, porque nada mais existe. Esta confiança o protegerá de outras quedas e eu também, se terei medido assim em relação a ele, poderei ter esperança de um dia ser julgado assim por Deus”.

Fonte: Centro Chiara Lubich

A Jornada Mundial da Juventude 2016 vista a partir da Polônia

26 Maio 2016
Há grande espectativa pelo evento que do dia 27 de julho ao 1 de agosto vai reunir em Cracóvia dois milhões de jovens ao redor do Papa Francisco e do símbolo da Misericórdia. Magda, uma jovem polaca, participa intensamente na preparação.
 

«Bem-aventurados os misericordiosos porque alcançarão misericórdia» é o tema de XXXI Jornada Mundial da Juventude (JMJ). “Leiam as bem-aventuranças, vai lhes fazer bem”, disse o Papa Francisco aos jovens reunidos no Rio de Janeiro em 2013, e é precisamente no caminho das bem-aventuranças que os participantes da JMJ estão se preparando para o encontro que se realizará no contesto do Jubileu da Misericórdia, numa terra que – por causa da Irmã Faustina e de João Paulo II – é muito ligada ao culto da Divina Misericórdia.
Entre os eventos principais estão a Missa de Abertura (26/07), a Cerimônia de Acolhimento com o primeiro encontro com o Santo Padre (28/07), a Via Crucis com a Cruz das JMJ (29/07), para depois chegar ao coração da JMJ: a Vigília com o Santo Padre (30/07) e a Missa Final (31/07). O programa também é enriquecido com as catequeses em várias línguas e com o Festival da Juventude, onde por quatro noites a dimensão espiritual une-se com aquela artística-cultural.
Também os jovens do Movimento dos Focolares estão trabalhando na preparação da JMJ, em particular com um evento integrado ao Festival que se realizará no dia 27 de julho, em Cracóvia, na praça perto da Igreja de Nossa Senhora de Fátima, na avenida Maly Plaszow, nº 11 (linha 11 e 20 dos trens).
O evento, conta Magda, uma das jovens organizadoras, será composto de duas partes: «A primeira começa às 16h, com atividades de integração, que vão nos ajudar no conhecimento recíproco, na diversidade das culturas, com danças e jogos de todas as partes do mundo. A partir das 20h haverá uma vigília, que vai nos levar a um aprofundamento do tema das obras de misericórdia através de experiências de vida, músicas, coreografias e a leitura de textos de Chiara Lubich. No final será a adoração a Jesus Eucaristia». «A vigília será animada pelo grupo internacional Gen Rosso. Queremos – explica – que seja um momento de união profunda com Deus e com o próximo. Esperamos que esse programa crie um espaço de encontro, superando todas as diferenças que podem existir em nós, jovens do mundo inteiro».
Os jovens dos Focolares também terão um stand no Centro vocacional, durante toda a semana no Estádio “Cracóvia”, um lugar preparado para apresentar as várias iniciativas do panorama eclesial e para ajudar a refletir sobre «o que Deus espera de cada um de nós», explicam os organizadores da JMJ.
«A JMJ 2016 está se aproximando em passos largos!», escreve Magda, «e nós também nos reunimos de 30 de abril a 3 de maio passados em Cracóvia, para elaborar o programa da noite do Festival da Juventude. Durante este encontro pedimos a ajuda do Espírito Santo, para que ele nos guie. Agora esperamos com muito entusiasmo a próxima etapa da preparação que será na Mariápolis Fiore (a cidadezinha polaca dos Focolares) nos dias 11 e 12 de junho, por ocasião do 20º aniversário da fundação da nossa Mariápolis permanente. Contamos com a oração de todos!». Magda dirige um convite aos jovens: «Se vocês pensam em vir a Cracóvia para a JMJ e quiserem dar alguma contribuição na preparação, aceitamos de bom grado! Esperamos as propostas de vocês no endereço: krakow2016@focolare.org. Lancemo-nos na rede da Misericórdia!».
Após a JMJ, quem quiser aprofundar a experiência à luz da espiritualidade dos Focolares, a programação vai continuar com uma “Escola post JMJ” na Eslováquia (Jasná – Demänovská Dolina) com 550 jovens provenientes de várias partes do mundo, entre eles um grupo de 50 jovens ortodoxos.
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Chiara Lubich aos Jovens por um Mundo Unido

8 Maio 2016
Dar uma "alma" ao mundo. Desencadear uma revolução de amor. A mensagem que Chiara Lubich escreve aos Jovens por um Mundo Unido, no dia 26 de abril de 1998, do Brasil, onde se encontra para a última visita que fará ao país.

«Caríssimos Jovens por um Mundo Unido,
Sei que vocês desejam receber uma mensagem minha que contribua também para o sucesso da Semana Mundo Unido.
Que tema desejo abordar?
Não posso escolher outro mais indicado do que a finalidade pela qual vocês trabalham: o mundo unido.
Mas é sensato falar de “mundo unido”? Um mundo unido é previsível, de modo que a atenção que a isso dedicamos e as forças que ali empregamos possam cooperar para alcançar realmente esse objetivo um dia? Ou trabalhamos por uma pura utopia, irrealizável e imaginária, como alguém pode pensar?
Vivemos num tempo em que as indicações de que o mundo se encaminha para este objetivo não faltam.
Em primeiro lugar a convicção de que a unidade é um sinal dos tempos. E quem possui qualidades particulares e competência para examinar a nossa época afirma que o mundo se encaminha para a unidade.
Eu já lhes falei sobre isso várias vezes, e alguém deve lembrar, mas focalizando principalmente o seu aspecto religioso.
Porém, a busca da unidade, nesta época, não se delimita a este campo; ela se move também no campo político.
Sem mencionar a ONU que é integrada por quase todos os países do mundo, na África, por exemplo, existe a Organização da Unidade Africana, composta por quase todos os países africanos.
Na Ásia existem várias associações de países como: a Organização da Conferência Islâmica, que abrange 53 países muçulmanos, e a Associação dos Estados do Sudeste Asiático, etc.
Na América recordamos a Organização dos Estados Americanos (do Norte, Centro e Sul) e a Associação Latino-Americana de Integração.
Na Europa existe a Comunidade Econômica Europeia, que compreende também os países do Leste, e a União Europeia.
No mundo também abordaram este tema muitos pensadores sábios, de culturas diferentes e seria bom conhecê-los. Mas aqui no Brasil, de onde lhes transmito esta mensagem, não disponho desse material.
Citarei apenas algumas reflexões dos últimos Papas, os quais, por serem pessoas santas e competentes, fazem afirmações que podem interessar a todos no mundo.
Papa Pio XII, João XXIII e Paulo VI exprimiram ideias parecidas com estas.
Paulo VI, na Populorum Progressio, diz: “Quem não vê a necessidade de instaurar paulatinamente uma autoridade mundial capaz de agir com eficácia no plano jurídico e político?”.
O Papa atual exprimiu-se assim no nosso Genfest 1990: “Realmente esta perspectiva parece mesmo emergir dos multíplices sinais dos tempos: a perspectiva de um mundo unido. É a grande expectativa dos homens de hoje, a esperança e, ao mesmo tempo, o grande desafio do futuro. Nós percebemos que nos encaminhamos para a unidade sob o impulso de uma excepcional aceleração“.
Caríssimos jovens, vocês aspiram, vocês trabalham por um mundo unido.
E o que fazem? Atividades que podem até parecer pequenas e desproporcionais diante do objetivo estabelecido, embora as intenções sejam significativas. Talvez, quando vocês forem maiores, alguns irão trabalhar diretamente em várias organizações orientadas ao mundo unido.
Se bem que tudo isso já será muito útil, eu creio que não será nem uma coisa nem outra que dará a contribuição decisiva.
A chave da questão será oferecer ao mundo, neste processo rumo à unidade que o investe, uma alma. E esta alma é o amor. Vocês devem desencadear ali onde estão, em todos os países em que vivem, a revolução do amor.
Hoje é insuficiente fazer beneficência ou dar assistência, se bem que em ambos os casos se doe por amor. Hoje é essencial “ser o amor”, isto é, sentir o que o outro sente, viver o que ele vive e almejar a unidade segundo a nossa espiritualidade de fogo, já acesa em várias partes do nosso planeta, também graças a vocês.
João Paulo II afirmou ainda no Genfest 90: “Estejam conscientes de que – e eu repito – a estrada para um mundo unido… é percorrida construindo relacionamentos solidários e a solidariedade tem a sua raiz na caridade” (no amor).
Portanto, estabeleçam relações de unidade que estão enraizadas no amor.
Primeiramente vocês devem viver este amor entre vocês.
E assim conseguirão realizá-lo com muitos, muitos, em todos os lugares que frequentarem: no meio do povo, por exemplo, com aqueles que governam os destinos dos povos, nas instituições, nas organizações pequenas e grandes do mundo… em toda a parte. Só assim é que as intenções de quem as instituiu alcançarão o objetivo e se trabalhará realmente por um mundo unido.
Coragem, então, Jovens por um Mundo Unido. Sigam o mais fascinante e esplêndido Ideal que existe na face da terra.
E vocês não estão sozinhos!
Vocês, que se honram com o nome de “cristãos”, sabem que agindo assim Cristo estará entre vocês.
E todos vocês, de qualquer convicção e crença religiosa, sabem que a união faz a força.
Então avante: comecem ou continuem com o mesmo entusiasmo que os caracteriza e com a determinação que não lhes falta.
Eu, todos nós, estamos com vocês… em vista da vitória final, que chegará quando Deus quiser.
Mas quem recolherá, se hoje ninguém semeia? Cabe a vocês esta tarefa, no hoje da história, que na verdade dá a entender que não está longe o objetivo pelo qual vivem.»
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Blog do Ademir Rocha

sexta-feira, 3 de junho de 2016

Estuário 2 - Abaetetuba 1 e Região no Contexto do Estuário Amazônico

ESTUÁRIO 2 - ABAETETUBA 1 E REGIÃO DO BAIXO TOCANTINS NO CONTEXTO DO ESTUÁRIO AMAZÔNICO ATRAVÉS DOS TEMPOS
Sumário dos itens desta postagem:
Uma bela paisagem estuarina tocantina em foto de
Rui Santos
  • Datas de referências históricas
  • Indústrias manufatureiras, engenhos, usinas
  • Alguns dados históricos sobre os engenhos
  • Açúcar: localidades produtoras, engenhos centrais, fim co Ciclo do Açúcar, decadência da produção de açúcar
  • Cachaça: no Comércio de Regatão
  • Açúcar: proibição de fabricação no período da Indústria Canavieira do Pará
  • Engenhos: alguns aspectos, decadência da Indústria Canavieira
  • Indústria Oleira: telhas, tijolos e o artesanato de barro, tipos de utensílios de barro e seus usos
  • Carpintaria Naval ligada ao Comércio de Regatão
  • Frutas do Estuário Amazônico: coletas, beneficiamentos
  • Flores e plantas medicinais
  • Indústria do palmito de açaí
  • Caça e pesca no Estuário Amazônico: animais, peixes e aspectos da pesca, localidades pesqueiras, tipos de peixes
  • Peles, couros e carnes de animais do Estuário Tocantino
  • Óleos, leites, resinas, azeites, maiores exportadores de sementes oleaginosas, tipos de sementes
  • Fibras, cipós, ouriços, cuias, talas, palhas e seus utensílios
  • Produtos minerais e pedras preciosas
  • Essências e perfumes
  • As peles dos animais e caçadas
  • Pecuária no Estuário Amazônico: gado vaccum e os maiores produtores
  • Açaizeiro e miritizeiro
  • Navegação no Estuário Amazônico e Amazônia: tipos de navegação, subvenções e subsídios à navegação, portos estrangeiros, companhias de navegação, linhas de navegação
  • Coletorias na Província do Pará
  • Produtos das importações para a Província do Pará
Abaetetuba é uma das muitas cidades ribeirinhas do chamado
'Estuário Amazônico'. Fotos abaixo







Datas de Referências Para o Entendimento das Diversas Fases que Serão Citadas nos Textos Abaixo:
Estas postagens são frutos de pesquisas várias em textos novos e antigos, com poucas opiniões do autor do Blog do ADEMIR ROCHA, com nomes e itens que já podem se encontrar defasados, mas importantes para o bom entendimento dos variados assuntos das diversas postagens sobre o Estuário Amazônico. Os respectivos itens serão acrescidos de outras informações de acordo com as nossas pesquisas.
Resgatar a história-memória de pessoas, cidades, regiões, fatos históricos e cultura seria um trabalho sem consistência  se não existissem as datas, e estas como elementos importantes  para levar os leitores a se situar melhor no contexto sócio-histórico-cultural e financeiro do passado, daí a preocupação do autor do Blog na citação de datas e fatos, que procuram identificar melhor as pessoas, os vultos, os personagens, as localidades, os municípios e regiões e muitos eventos dessa história-memória que envolve direta ou indiretamente Abaetetuba e sua Região do Baixo Tocantins. As datas são importantes para nos situar no passado e assim darmos valor àquilo que já tivemos, o que temos nos presente e o que podemos almejar para o futuro de nosso município e Região. Uma localidade sem sua memória é uma localidade sem história.

1.       Período Colonial:
·         Dos Capitães-Mores: 1615 a 1753
·         Dos Governadores: 1753 a 1820.
Foi no tempo dos capitães-mores e dos governadores do então Grão-Pará que surgiu a cidade de Santa Maria de Belém do Grão-Pará e as primeiras povoações, entre estes o Povoado de Nossa S. da Conceição de Abaeté e os primeiros engenhos de cana de açúcar que surgiram nas terras do Baixo Tocantins, Marajó, Zonas do Capim, Guamá, Acará, Moju e outras regiões do antigo Pará.

2.       Período Provincial ou da Província do Grão-Pará, com os Presidentes da Província: 1821 a 1889 (até a Proclamação da República).
Foi a partir do início do período provincial que a indústria canavieira tomou novo impulso que resultou na instalação de dezenas de engenhos em Abaetetuba e Igarapé-Miri, agora não mais para a produção de açúcar e sim da produção da aguardente de cana ou cachaça, esta, junto com outros produtos, levadas aos mais longínquos lugares do Estuário Amazônico e outras regiões amazôniocas, através do importante Comércio de Regatão do Baixo Tocantins.
3.       Período Republicano: 16/11/1889 a 2007.
·        A Era Republicana, pelo Movimento Republicano decreta o fim do império em 1889.
      República Velha ou República das Oligarquias: 1889 a 1930, com a Revolução de 1930, de Getúlio Vargas.
No início do Período Republicano a Indústria Canavieira estava em pleno auge e Abaeté e Igarapé-Miri/PA começaram a ganhar projeção no cenário econômico do Baixo Tocantins, onde Cametá/PA já desfrutava de renome pelo seu passado histórico-econômico glorioso, este  vindo desde os tempos dos governadores-mores.
Independência do Brasil da Coroa Portuguesa: 1822, através de D. Pedro I.
No período colonial do Pará, os engenhos eram obrigados a produzir açúcar para abastecer os mercados da Capital, Belém e com grande parte da produção sendo exportada para Portugal. Nesse período, pela obrigatoriedade da produção de açúcar, os engenhos foram proibidos de produzir cachaça por vários motivos, sendo o motivo principal a produção de açúcar para suprir as necessidades da Coroa Portuguesa e a cachaça praticamente era produzida clandestinamente no tempo do Brasil-Colônia. Somente com a independência do Brasil a produção de cachaça se tornou comum nos engenhos e o mais importante produto do Comércio de Regatão do Baixo Tocantins.
·         Fim da escravidão negra no Brasil: 13/5/1888, instituída pela Lei Áurea, decretada pela princesa Isabel.
Antes do fim definitivo da escravidão negra no Brasil e, em consequência no Pará, os engenhos de cana-de-açúcar utilizavam uma grande quantidade de braços escravos de indígenas e escravos africanos nas pesadas tarefas da indústria canavieira e em outros roçados e serviços, e os donos de engenhos sentiram o forte impacto que o fim da escravidão negra ocasionou pela falta de braços nos roçados de cana, das outras culturas e demais serviços. Os donos de engenho do Baixo Tocantins conseguiram adaptar o sistema patriarcal da tutela em relação aos trabalhadores dos engenhos e de suas famílias e a produção de cachaça seguiu o seu curso no Baixo Tocantins, sendo esse produto e outros recursos do Estuário Amazônico os usados no Comércio de Regatão do Baixo Tocantins.
·         Diocese do Pará: 4/3/1719, criada com o desmembramento da então Diocese do Maranhão.
Abaetetuba e Igarapé-Miri fizeram parte, por muitos anos, do Bispado e, posteriormente, da Arquidiocese do Pará, quando Igreja e Estado constituíam um só ente político-social e a Catequese e Civilização dos Indígenas e o Culto Divino ou Culto Público faziam parte da política de colonização do Grão-Pará através das Missões Religiosas que se encarregavam de catequizar os nativos do Grão-Pará e, com isso, de fundar centenas de freguesias, lugares,  sistema que avançou para o período provincial e das primeiras décadas do Regime Republicano. Foi sob o importante trabalho das missões e catequese dos padres missionários de várias ordens religiosas que Belém e as primeiras cidades do Estuário Amazônico surgiram no cenário desse grande Estuário, inclusive as antigas Freguesias de Sant’Ana de Igarapé-Miry e  Nossa Senhora da Conceição de Abaeté e demais freguesias do Baixo Tocantins, que somente nos anos de 1960 saíram da dependência da gigantesca Área Eclesiástica da  Arquidiocese de Belém. Abaetetuba e Igarapé-Miri ficaram atreladas  à Arquidiocese de Belém ou Sé Metropolitana até 25/11/1961, no caso de Abaetetuba e a Paróquia de Igarapé-Miri passou a fazer parte da Prelazia da vizinha cidade de Cametá. Para Abaetetuba foi importante a criação da Prelazia de Abaeté do Tocantins, em 1961, pois foi a partir daí que os municípios da região da Prelazia começaram a receber os importantes serviços das Obras Sociais da Igreja Católica, com a instalação de escolas, hospitais, centros sociais e criação das Comunidades Eclesiais de Base que serviram na visão de uma sociedade mais justa, fraterna e solidária e um olhar político menos atrelado aos interesses de pessoas e grupos dominantes. Foi através do trabalho da Igreja que Abaetetuba muito avançou no seu desenvolvimento sócio-político e  educacional através das Obras Sociais da então Prelazia de Abaeté do Tocantins e hoje Diocese de Abaetetuba.
·         Períodos de Povoado, Freguesia, Vila e Cidade:
Esses períodos são marco importante da história-memória das localidades do Pará, nos aspectos econômicos, financeiros, políticos, sociais, geográficos e demográficos.
·         Igarapé-Miri:
A partir de 1710, Povoação de Sant’Anna de Igarapé-Miri se estendeu até a condição de Freguesia de Sant’Anna de Igarapé-Miri em 29/12/1754, dada pelo D. Frei Miguel de Bulhões e pela Lei Nº 113, de 16/10/1843 torna-se Vila de Igarapé-Miri, que compreende a freguesia de mesmo nome e as freguesias de Abaeté e Cairary, tendo a sua instalação e 1ª Câmara Municipal somente em 26/7/1845 (1845 a 1849) e a Comarca de Igarapé-Miry foi criada pelo Decreto nº 6.992 de 14/8/1878, composta de 3 municípios: Igarapé-Miry, Abaeté e Moju e 5 freguesias: Sant’Anna de Igarapé-Miry, Nossa Senhora da Conceição de Abaeté, São Miguel de Beja, Divino Espírito Santo do Moju e Nossa Senhora da Soledade de Cairary. E, pela Lei Nº 438, de 23/5/1896, a Villa de Igarapé-Miry é elevada à condição de Cidade de Igarapé-Miri.
·         Abaetetuba:
Povoação de Nossa Senhora da Conceição de Abaeté em 8/12/1724 se estendeu até 1750, quando se torna Freguesia de Nossa Senhora da Conceição de Abaeté e em se torna Villa de Abaeté pela Lei nº 973 de 23/3/1880, que também criava a Câmara de Vereadores e a instalação da Cidade de Abaeté em 15/8/1895 e até os dias atuais, quando se torna o importante polo comercial e educacional do Baixo Tocantins.
·         1ª Câmara de Vereadores:
Eram as Câmaras de Vereadores, antes da adoção do Conselho de Intendência, que faziam a administração das vilas ou cidades da Província do Pará. Todas as demandas e questões políticas eram tarefas das antigas Câmaras de Vereadores dos municípios até o surgimento dos Conselhos de Intendência, que substituíram o sistema anterior das Câmaras de Vereadores. Abaeté só chegou a ter Câmara de Vereadores a partir de sua elevação à condição de Vila de Abaeté em 1880 até o ano 1889, com a Proclamação da República.
·         Igarapé-Miri já era município desde 1845 com a 1ª Câmara criada em 1845 a 1849.
·         Abaetetuba, com 1ª Câmara criada em 7/1/1881 até 1884; 2ª Câmara até 1884 1887; 3ª Câmara: 1887 a 1889.

·         O ESTUÁRIO AMAZÔNICO:
Para falar do Estuário Amazônico, precisamos saber do que se trata e dos impactos e recursos que proporciona às diversas comunidades tradicionais que dele fazem parte como populações ribeirinhas, descendentes dos nativos do lugar, mescladas aos grupos dos negros escravos vindos da África e com os brancos de origem européia, e também precisamos entender a linguagem que usaremos nestas postagens, no tocante à geografia deltaica estuarina, como também precisamos saber algumas palavras e termos usados na hidrografia, na Geologia e na Geografia e outros importantes aspectos da complexidade de um Estuário.

INDÚSTRIAS MANUFATUREIRAS, USINAS E ENGENHOS:
·         Os Engenhos no Estuário Amazônico e, especificamente, os do Baixo Tocantins, Marajó e Demais Áreas Estuarinas:
Os Antigos Engenhos de Açúcar, Antes da Indústria da Cachaça:
·         O Açúcar:
O açúcar foi um produto que se tornou a base se sustentação da economia Pará, já a partir do século 16 e às margens dos rios Guamá, Capim, Acará, Moju e Igarapé-Miri e Marajó, além de outros pela Zona Bragantina, que eram regiões propícias para a cultura da cana-de-açúcar, a partir do início da colonização do Pará. No início, a produção dos engenhos às margens desses rios se destinava à produção de açúcar para abastecer a Capital, Belém e para exportação para Portugal.
     Entre 1764-1769, é citada a plantação de cana no Vale do Xingu nas antigas localidades administradas pelos padres missionários: Boa Vista,  localidade de Gurupá.
Com o fim do Ciclo dos grandes engenhos para fabricar açúcar no Grão-Pará, no século 19,  Igarapé-Miri, Abaeté e alguns locais da Ilha do Marajó, os donos de engenhos descobriram que produzir açúcar não era uma atividade viável e produzir cachaça era bem mais lucrativo. Assim o número de engenhos para produzir cachaça e também açúcar (moreno ou o cristal) crescia sempre mais nos municípios nessas localidades do Estuário Tocantino, especialmente em Igarapé-Miri e Abaetetuba.

·         Alguns Dados Históricos Extraídos de Documentos da Época dos Governadores da Era Provincial do Pará e de Pesquisadores Paraenses Sobre Os Engenhos, a Cachaça e o Comércio de Regatão:
O ciclo da cana-de-açúcar no Pará (séculos 16 a 17) se mostrou bastante forte em algumas localidades, especialmente nas terras banhadas pelos rios Guamá, Acará, Moju, Capim, Igarapé-Miri e outras localidades dos períodos Colonial e Provincial do Pará. Nesse ciclo da cana doce a produção de açúcar no Ciclo do Açúcar, no Baixo Tocantins e,  Igarapé-Miri,  já aparece no rol das localidades que possuíam grandes engenhos para a produção de açúcar nas décadas finais do século 18 e décadas iniciais do século 19, quando termina o período colonial do Pará (que vai de 1615 a 1820). Abaetetuba só tem destaque na chamada Fase da Indústria Canavieira, onde o destaque da produção era a cachaça ou aguardente de cana.
Nos anos finais do século 18 e anos iniciais do século 19, os membros da Família Correa de Miranda e outras famílias de Abaetetuba e Igarapé-Miri já são citados como donos de engenhos na produção de açúcar para abastecer a Capital (Santa Maria de Belém do Pará) e, principalmente, na exportação para Portugal, nação do qual o Brasil fazia parte como colônia da Coroa Portuguesa. Membros da família Correa de Miranda e de outras antigas famílias de Igarapé-Miri possuíam engenhos de cana-de-açúcar na então Freguesia de Nossa Senhora da Conceição de Abaeté, devido a proximidade desses dois municípios e dos interesses econômicos, que praticamente eram os mesmos e vindos desde as décadas finais do século 18.
Nos anos finais do século 19 e início do século 20 a indústria canavieira e os produtos do extrativismo animal e vegetal ainda apareciam na produção econômica de Igarapé-Miri e Abaetetuba, mesmo que o ciclo açucareiro no Grão-Pará já estivesse em pleno declínio, conforme atesta a história dos grandes engenhos de açúcar citados às margens dos rios Acará, Guamá, Capim, Moju, Igarapé-Miri e outros rios, deles hoje só restando a história e algumas ruínas.
Localidades maiores produtoras de açúcares diversos na Província do Pará no período fiscal de 1863-1864:
·         Guamá, com 7.218 arrobas
·         Acará, com 3.412 arrobas
·         Capim, com 433 arrobas
·         Moju, com 1.967 arrobas
·         Vigia, com 4.876 arrobas
·         Barcarena, com 8.735 arrobas
Esses centros remanescentes e produtores de açúcar vieram do antigo Ciclo do Açúcar no Pará, com os grandes engenhos das margens dos rios Capim, Moju, Gaumá, Acará, Barcarena, do Salgado e Zona Bragantina.
Açúcar bruto, citado em 1863-1864
·         Uma citação de 1867:
A cultura da cana vai se tornando importante pela considerável produção e extração da aguardente, que vem despertando o interesse dos produtores e quanto ao açúcar, ainda existe uma pequena produção que não atende ao mercado consumidor local, obrigando a Provínica a fazer uma grande importação desse produto de outras regiões do Brasil.
Tabela com a produção de açúcar entre os períodos de 1877 até 1924:
·         1877 sem produção de açúcar nesse período fiscal, mas em Abaeté e Igarapé-Miri já existiam engenhos para a produção de açúcar.
·         1878 com a produção de 999.714 quilos de açúcar
·         1879 com 1.313.390 quilos, período que representa o aumento da produção de açúcar acima dos mil quilos, com 1.130.112 quilos em 1882 e daí a produção vai caindo ou oscilando sua produção até a parada de produção em 1899.
·         1898 com 2.233 quilos de açúcar e esse período representa o último em que há produção de açúcar no já Estado do Pará que fica sem produção de 1889 até 1917.
·         1882 com 1.130.112 quilos
·         1887 com 215.939 quilos
·         1897 com 692 quilos
·         1898 com 599 quilos
·         1899 com 2.233 quilos de açúcar e a partir daí a produção ficou zerada deo período fiscal de 1899 até 1918 em plena Era Republicana.
·         1907 sem produção de açúcar, período em que a produção do açúcar foi substituída pela de cachaça pela Indústria canavieira do Baixo Tocantins. Existia uma irrisória produção de açúcar nos engenhos de Abaeté e Igarapé-Miri.
·         1918 sem produção de açúcar
·         1918 retomada da produção de açúcar com a produção de irrisórios 43.630 quilos de açúcar
·         1920 com 230.101 quilos
·         1921 com 557.023 quilos
·         1923 com a produção de 367.708 quilos o que representa um decréscimo na produção
·         1924 com 471.471 quilos
O açúcar tem sua maior produção nos tempos passados do Período Provincial do Pará com a maior produção em 1881 com 1.375 toneladas. Daí em diante a produção do açúcar começa a decrescer acentuadamente até o seu desaparecimento depois de 1898. A produção do açúcar, como do algodão e do arroz diminuiu drasticamente, em detrimento do aumento da produção de borracha que se desenvolvia a pleno vapor. Foi somente a partir de 1918 que a produção do açúcar reapareceu, porém jamais passando de 600 toneladas, muito longe da produção dos tempos mais antigos de 1878 a 1884. A explicação para a pequena produção do açúcar na Era Republicana do Pará é que sua produção foi substituída pela produção de cachaça que era muito mais lucrativa para os donos de engenhos e pela concorrência do açúcar provindo de outros estados brasileiros que era de melhor qualidade.
Em 1873 a Província do Pará já importava o açúcar de outras províncias brasileiras.
Os Engenhos Centrais na Província do Pará:
Em 1883, com a grande decadência da produção de açúcar na Província do Pará o governo cogitou de estabelecer contratos com firmas interessadas para a implantação de 7 engenhos centrais na Província e tendo como finalidade principal a produção de açúcar. Esses engenhos seriam implantados nas seguintes localidades:
·         Capital
·         Abaeté
·         Igarapé-Miry
·         Moju
·         Baião
·         Santarém e mais outra localidade
As propostas para a implantação de alguns desses engenhos centrais foram apresentados ao Presidente da Província mas não saíram do campo das boas intenções e o fim da produção do açúcar no Pará era apenas uma questão de tempo, haja vista a decadência que essa indústria se encontrava no início da Era Republicana no Pará.
·         O Fim do Ciclo Açucareiro no Pará, o Advento do Ciclo da Cachaça no Baixo Tocantins e o Declínio dos Engenhos:
Após o declínio do ciclo açucareiro no Pará, os engenhos de cana-de-açúcar de Igarapé-Miri e Abaetetuba continuaram suas atividades na produção de açúcar e cachaça. Porém a fabricação do açúcar no Pará já fora proibido pelo governo central do Brasil na 1ª metade do século 20 e aqui se inicia a 2ª Fase dos engenhos no Baixo Tocantins, indústria que se desenvolve fora das estatísticas oficiais e que foi impulsionada pelo Comércio de Regatão do Baixo Tocantins que se encarregou de levar a cachaça de Abaetetuba e Igarapé-Miri para outras áreas da Amazônia pelas vias do Estuário Amazônico.
Porém, antes mesmo dessa proibição, a indústria canavieira tinha se diversificado, produzindo, além da cota mínima de açúcar, uma maior quantidade de aguardente de cana (cachaça), o mel de cana (melaço), a rapadura e outros produtos advindos da cana verde. Ressalte-se o fato de que os engenhos do Baixo Tocantins começaram a sentir que a cachaça já vinha tendo grande aceitação em todas as camadas da sociedade, especialmente entre os seringueiros, os negros escravos, os indígenas e seus descendentes miscigenados, das populações ribeirinhas do Pará, Amazonas, Macapá e Acre e até da elite dos grandes centros, que também consumiam largamente a cachaça produzida principalmente em Igarapé-Miri e Abaetetuba, fazendo com que o seu consumo aumentasse consideravelmente nas primeiras décadas do século 20 e até sua 1ª metade e, em consequência aconteceu o aumento dos canaviais e da quantidade dos engenhos. E foi nesse contexto que a produção da cachaça do Baixo Tocantins começou a alcançar as outras regiões do Pará, como as populações ribeirinhas do Rio Amazonas e seus afluentes, através das embarcações do comércio de regatão.
·         Cachaça, o Principal Produto do Comércio de Regatão do Baixo Tocantins:
Pela imensidão do território da Província do Pará e pela presença de centenas de vias navegáveis, o comércio de regatão começou a ser praticado no período colonial do Pará e se estendeu para o período provincial, em comércio praticado através de botes, batelões e, posteriormente, de canoas à vela. Esse comércio consistia em se levar produtos  manufaturados e trocá-los pelos produtos do extrativismo animal e vegetal praticado pelos indígenas, sendo estes, por sua ingenuidade e falta de práticas comerciais, largamente logrados pelos primeiros comerciantes de regatão da Província do Pará.
·         Existem citações em documentos provinciais que descrevem o contexto desse comércio e a iniciativa governamental em tentar proibir o comércio feito pelos rios da Província:
Ano de 1852, quando era presidente da Província do Pará, o Dr. José Joaquim da Cunha, que escreveu: “Foi decretada uma lei que proíbe o Comércio de Regatão, porém privou indivíduos que habitando grandes distâncias das povoações e que as obrigam a ir a estas para vender e comprar, fazendo com que isso gerasse mais despesas, incômodos, riscos de vida, abandono de suas famílias que também ficavam sujeitas aos riscos e os coletores e extratores das florestas perdiam grande tempo nessas viagens. Este comércio não deve ser proibido e sim regularizado”.
Motivos pelo qual foi decretada referida lei: “O abuso dos comerciantes de regatão com os índios, que eram lesados nas trocas, maltratados pelos comerciantes e sempre enganados nas negociações”. 
E o comércio de regatão seguiu seu curso e no Baixo Tocantins, Ilha do Marajó, região do Salgado, terras banhadas pelos rios Acará, Capim, Moju, Guamá, Igarapé-Miri, Baixo Amazonas e Capital da Província, onde era praticado em larga escala em embarcações à vapor e, posteriormente, embarcações movidas à motor de óleo díesel.
Foi o comércio de regatão que alavancou a Indústria Canavieira do Baixo Tocantins, especialmente nos municípios de Abaetetuba e Igarapé-Miri.
E foi realmente a cachaça o carro-chefe do comércio de regatão que esses dois municípios intensificaram já a partir das últimas décadas do século 19 e no século 20 até os anos finais da década de 1970, quando esse comércio começou também a ser atingido pela crise da cachaça dessa fatídica década. Os comerciantes de regatão do Baixo Tocantins seguiam com seus barcos comercializando seus produtos pelas localidades situadas nas margens dos rios do Baixo Tocantins, Marajó, localidades do Baixo Amazonas, pela região do Salgado e pelas margens dos rios Capim, Guamá, Acará, Moju, Igarapé Miri, nas capitais dos estados do Pará, Amazonas, Amapá, pelo rio Oiapoque, chegando até o estado do Acre. Foi a indústria canavieira (especialmente a cachaça) e o comércio de regatão que impulsionaram a prosperidade de muitas famílias de Igarapé-Miri e Abaetetuba, famílias essas que também deram origem aos tradicionais clãs famíliares desses dois municípios, algumas das quais aqui enumeramos.
Pelas mesmas características de produção econômica da Indústria Canavieira e do Comércio de Regatão, as famílias que exploravam esses negócios mantinham seus interesses comerciais tanto em um, quanto em outro desses dois municípios, fato que também leva ao fenômeno das antigas famílias de Abaetetuba e Igarapé-Miri possuírem a ancestralidade comum das famílias que constituíram as populações atuais desses dois municípios.
·         Proibição na Fabricação de Açúcar no Pará:
No período da 2ª Guerra Mundial em diante, alguns capitalistas, donos de engenhos em Igarapé-Miri e Abaetetuba tinham condições de produzir, além da cachaça, o açúcar, para abastecer o mercado paraense com esse produto da Indústria Canavieira. Porém, devido o monopólio absurdo da fabricação do açúcar ser exclusiva dos grandes centros de produção desse artigo no Brasil, nos anos de 1960, os engenhos do Pará, foram proibidos pela IAA-Instituto do Açúcar e do Álcool de produzir açúcar, atendendo as solicitações dos produtores do Nordeste e Sudeste brasileiro. Com isso os donos de engenhos locais se dedicaram a produzir cachaça, produto de grande aceitação nos mercados locais e regionais. E foi a cachaça o produto que, se pode dizer, o carro-chefe entre os produtos do Comércio de Regatão para o Baixo Amazonas, (incluindo os municípios dos estados do Pará e Amazonas), para a Região do Salgado e para Belém e demais regiões circunvizinhas ao Baixo Tocantins. Mas a proibição de se fabricar açúcar pelo IAA muito ajudou na decadência dos Engenhos do Baixo Tocantins a partir dos anos finais da década de 1970, pois o açúcar consumido no Pará e nas áreas do antigo Comércio de Regatão era açúcar importado dos grandes centros produtores dessa preciosa mercadoria no Brasil e os funcionários do Ministério da Agricultura no Pará, muito contribuíram nessa decadência da Indústria Canavieira do Baixo Tocantins, por força da absurda proibição do antigo IAA, que eles ajudaram na referida proibição.

Alguns Aspectos dos Engenhos de Abaetetuba, Igarapé-Miri, Marajó e do Baixo Tocantins em Relação ao Estuário Amazônico:
·         As primeiras mudas de cana-de-açúcar à chegar à Abaeté começaram a se propagar nos anos de 1850 a 1860, em cultivos experimentais e para subsistência dos agricultores locais. A cultura de cana-de-açúcar era realizada em terreno de várzeas, ao longo das margens dos rios, igarapés e furos, obtendo-se uma cana não muito produtiva, por falta de um preparo adequado do solo. O lavrador queria que a terra produzisse por si só, sem o auxílio de uma técnica adequada de plantio, fato que resultava numa baixa produtividade da variedade de cana plantada.
·         Em 1873 a cachaça já figurava junto com o açúcar como produtos fabricados nos engenhos da Província do Pará, porém em pequena quantidade
·         Mais tarde, quem plantava cana era o proprietário de engenhos ou lavradores ribeirinhos. Em muitos casos acontecia a meação no plantio de cana, entrando o senhor de engenho com as terras e o lavrador com o seu trabalho. No tempo do Coronel Aristides como intendente, anos de 1919 e 1920, Abaeté possuía uma área plantada de cana-de-açúcar de mais de 14.600.000m3, pelos senhores de engenho e outra área de mais de 4.200.000m3, pelos lavradores ribeirinhos.
·         Abaetetuba, quando ainda se chamava Abaeté, experimentou o seu apogeu econômico nos tempos da indústria de cachaça, quando extensos canaviais se espalhavam por quase todas as várzeas dos inúmeros rios e igarapés da região. Os chamados engenhos se multiplicavam por quase todo o interior dos municípios de Abaeté, Igarapé-Miri, Moju, Barcarena e Cametá. Mas foi em Abaeté que a indústria canavieira prosperou com o surgimento de dezenas de engenhos produzindo cachaça, mel de cana/melaço, açúcar e rapadura, produtos de muita aceitação nos mercados amazônicos. A cachaça de nossa região era exportada e ficou famosa. Por isso é que Abaetetuba ficou conhecida como a “Terra da Cachaça”. Pode-se dizer, também, que a riqueza do município, nos fins do Século 19 (de 1891 em diante) até a década dos anos de 1970, se concentrava no interior do município, com os seus engenhos de cana-de-açúcar, as suas casas de comércio abastadas e a grande concentração de famílias ricas do interior, que inclusive, ditavam as normas políticas no município. Os senhores de engenho, eram uma realidade na antiga Abaeté e eles, com todo o poder que desfrutavam, tinham sob a sua autoridade de “coronéis”, uma grande quantidade de empregados, inclusive escravos, e essas famílias de empregados, sob o domínio desses senhores poderosos, ficavam sob sua influência, inclusive, estavam à disposição de seus apetites sexuais, onde as moças das famílias dos serviçais serviam de repasto sexual, gerando uma grande quantidade de filhos extraconjugais.
·         O comércio da cachaça e dos outros produtos da cana-de-açúcar era realizado por via marítima por várias áreas do Estuário Amazônico e outras bacias hidrográficas amazônicas, através das embarcações que praticavam o chamado “Comércio de Regatão”, que também enriqueceu muitas famílias do Baixo Tocantins, principalmente de Igarapé-Miri e Abaeté.
·         Para obter a “garapa” os ribeirinhos tocantinos começaram a construir moendas em madeira resistente, geralmente acapu. As moendas eram postas em movimento através da força de juntas de bois ou força muscular. Com o advento dos “senhores de engenho” era usado o mesmo processo para a extração da garapa das varas de cana-de-açúcar e ainda a força muscular dos escravos indígenas ou negros. Nesses primeiros tempos da indústria canavieira a aguardente era obtida através de “carapuças”, que eram os rústicos alambiques feitos de barro, também confeccionados pelos caboclos. Esse processo rudimentar de se obter cachaça seguiu seu curso lentamente, mas já era bem visível a sua procura no mercador consumidor de cachaça.
·         Os primeiros engenhos de cana-de-açúcar para produzir garapa, melaço e rapadura também eram bem rudimentares. Alguns antigos engenhos dos séculos 18 e 19 começaram a usar a força das marés dos rios estuarinos, daí a classificação de “engenhos de água”. Com o advento das máquinas movidas à vapor os engenhos evoluíram e passaram a fabricar “cachaça” e açúcar moreno/mascavo ou açúcar branco. Esses produtos passaram a ter grande aceitação no mercado local e se expandiu para o mercado regional ou mesmo interestadual. Vide postagens “Comércio de Regatão” e “Engenhos do Pará”.
·         O período da indústria canavieira de Igarapé-Miri e Abaeté se intensificou no fim do século 19, tendo alcançado sua fase áurea nas décadas de 1940 até a década de 1970, tendo se constituído numa das principais fontes de riqueza local. Mas, infelizmente, essa atividade econômica passou a sofrer uma irrecuperável estagnação a partir dos anos finais da década de 1970, causada por uma série de fatores. Em 1983, dos 44 engenhos ainda existentes na década anterior, os remanescentes eram apenas 8 em Abaetetuba e também os poucos remanescentes de Igarapé-Miri.
·         Os engenhos de Igarapé-Miri e Abaeté produziam cachaça, mel de cana/melaço, rapadura, açúcar moreno/açúcar mascavo, açúcar branco e rapadura, sendo que em Igarapé-Miri se produziam outros produtos nos engenhos e nas fábricas daquele município Tocantino. Alguns engenhos do Baixo Tocantins produziam só a cachaça, outros produziam cachaça e açúcar e outros produziam só açúcar moreno, outros só mel de cana/melaço e rapadura. Só alguns produziam todos esses produtos, mas para isso precisavam de muita mão-de-obra, daí a diversificação dos engenhos de Abaeté na produção específica de poucos produtos na indústria canavieira. Não se encontrou engenho em Abaeté que produzisse álcool (não confundir com cachaça).
·         No Período Colonial do Pará o açúcar funcionava como moeda de compra de outros produtos e escravos nativos (índios) locais ou negros vindos de Angola e Guiné. Na 2ª Guerra Mundial o açúcar do Baixo Tocantins era, inclusive, comercializado com o inimigo alemão, quando navios e submarinos alemães navegavam pelas costas atlânticas e outras áreas estuarinas do Pará e Amapá e que daqui também levavam víveres para alimentar suas tropas no Brasil.
·         Um grande engenho possuía construções de quatro a cinco pés acima do nível das mais altas marés estuarinas, repousando sobre resistentes pilares de madeira. Possuía uma estiva feita de grossas peças de madeira, acima também do nível das marés, que seguia até alcançar a escada da frente do prédio e por meio da escada alcançava-se a varanda, abrindo para uma sala onde se recebiam e se alojavam os hóspedes e onde também todos os negócios eram tratados, ficando unida ao fundo da casa, a casa do engenho de cana.
·         A existência de muitos canaviais pelas várzeas estuarinas de Abaeté e Igarapé-Miri ajudou a disseminar outras atividades nas cidades como a do vendedor dos feixes de cana e do “garapeiro” que vendia garapa/caldo de cana em pequenas engenhocas, móveis ou não, na forma de lanches ou garapa em litros produzidos na hora da venda.
·         Na fase áurea da produção de cachaça cada engenho de Abaeté produzia de 150 a 300 frasqueiras de cana, cujo produto, a cachaça, era embalado em garrafões de vidro também chamados frasqueiras (de capacidades variáveis), recipientes que eram empalhados de forma artesanal por folhas, palhas, fibras, cipós ou talas de vegetais das várzeas estuarinas, que eram comercializados através dos rios da região. Nas primeiras décadas do século 20 a aguardente abaeteense atingiu a fantástica produção de 5 milhões de litros, o que garantia aos donos de engenhos recursos suficientes para importarem diretamente da Inglaterra caldeiras, moendas e alambiques modernos. O mesmo acontecia com os engenhos do município de Igarapé-Miri e essa foi a fase de ouro de produção de aguardente do Baixo Tocantins, que perdurou até as década de 1970, onde centenas de engenhos, espalhados por quase todos os rios, furos e igarapés, trabalhavam freneticamente na produção de cachaça e também açúcar, mel e rapadura e outros produtos da Indústria Canavieira. Essa atividade econômica passou a sofrer uma irrecuperável estagnação a partir dos anos finais da década de 1970, causada por uma série de fatores.
·         Os engenhos de cachaça eram movidos à vapor de lenha ou do bagaço da cana moída e somente alguns poucos donos de engenhos possuíam engenhos movidos à eletricidade gerada pelo movimento das águas dos rios, como o Cel. Maximiano Guimarães Cardoso (Vide família Cardoso). Nos engenhos de cachaça a eletricidade era fornecida pelo sistema das caldeiras à vapor.
·         Os canaviais do Baixo Tocantins eram plantados nas várzeas estuarinas dos municípios, que por ser um tipo de solo diferenciado, só podia receber variedades de canas resistentes às altas umidades das várzeas. Um tipo de cana muito raquítica, a piajota que veio do município de Muaná, Ilha do Marajó, era usada na produção da cachaça, que é uma variedade rústica, resistente às pragas e quase selvagem, mas pouco produtiva, devido a sua pequena espessura.
·         Muitos engenhos possuíam serraria própria para trabalhar a madeira extraída da própria mata de terra firme das ilhas das florestas estuarinas de Abaeté, Igarapé-Miri e Marajó. E muitos engenhos vendiam toras ou peças de madeira na forma de taboas, caibros, esteios, esteiotes, ripas, pernas-mancas, madeira para lenha ou carvão, fato que determinou a quase extinção de muitas variedades de madeira-de-lei e outros tipos de madeira da Região das ilhas. Essa madeira era transportada nas chamadas “alvarengas”. A Alvarenga era um tipo de balsa antiga, onde as mercadorias eram transportadas no porão fundo e não no convés, como as atuais, construída em ferro e que transportavam de tudo, especialmente toras de madeira, lenha, cana-de-açúcar, mercadorias ensacadas e outras mercadorias. As alvarengas eram movidas à reboque de outras embarcações. Foram as alvarengas que transportaram para outros lugares, especialmente Belém, a madeira existente nas ilhas e terra firme do Baixo Tocantins e Marajó.
·         O carregamento da cana era feito no formato dos chamados “feixes”, que eram agrupamentos de varas de cana-de-açúcar, em barcos chamados “batelões”, construídos em madeira e empurrados por outros barcos motorizados em fileiras ou remos de faia manuseados pelos caboclos ribeirinhos, que eram o principal meio de transporte da cana-de-açúcar dos canaviais para os engenhos e para as cidades.
·         Na sede do município de Abaeté também existiam alguns engenhos na frente da cidade e os batelões aqui chegavam para abastecer de cana esses engenhos e os dos ramais da cidade.
·         Os rios e igarapés do Estuário Tocantino eram os caminhos naturais de escoamento da cana-de-açúcar, cachaça e outros produtos da Indústria Canavieira.
·         Alguns Aspectos dos Engenhos e dos Produtos da Indústria Canavieira do Baixo Tocantins:
·         A cachaça, produto citado na década de 1840, 1870, era produto produzido clandestinamente no Estuário Tocantino, vindo do Ciclo do Açúcar, e com período áureo de produção a partir dos anos finais do século 19 até os anos finais da década de 1970, quando veio a grande crise da Indústria Canavieira do Baixo Tocantins. Dos quase 70 engenhos de Abaetetuba, em 1982, só restavam 8 e em plena decadência. Esse produto sustentou as economias de Abaetetuba e Igarapé-Miri durante décadas. Porém os engenhos de cachaça não produziram só a cachaça. Outros produtos eram fabricados nos engenhos, como a rapadura e melaço, produtos citados na década de 1840 em diante, porém muitos engenhos e engenhocas os produziam pela grande quantidade de roçados de cana na região, pelo preparo mais simples que a cachaça e açúcar. Parte da produção era exportada para a Capital.
·         O processo de fabricação do açúcar era rudimentar nos engenhos do Pará, só recebendo maiores avanços nos anos iniciais do 1860.
·         A produção do açúcar moreno/mascavo variava a sua produção. Em média 5.500 quilos desse tipo de açúcar exigiam 68 toneladas de cana-de-açúcar, claro, de acordo também com a qualidade da cana, da terra.
·         O açúcar branco (cristal) e o moreno (mascavo) são citados na década de 1840, 1870, com grande produção no período colonial do Pará, no Ciclo da cana-de-açúcar e com produção exportada para Portugal.
·         Álcool e vinagre de cana também eram produzidos por alguns engenhos do Baixo Tocantins.
·         A maioria dos engenhos de cana-de-açúcar do Baixo Tocantins produziam a cachaça ou aguardente de cana, porém produziam outros produtos da cana doce, já citados acima e, inclusive, os engenhos eram classificados de acordo com o tipo de produto que fabricava, como:
1.       Engenhos de cana-de-açúcar para fabricar açúcar cristal
2.       Engenho de cana-de-açúcar para fabricar açúcar mascavo (açúcar moreno)
3.       Engenhos de cana-de-açúcar para fabricar açúcar cristal e álcool
4.       Engenhos de cana-de-açúcar para fabricar cachaça e açúcar mascavo (açúcar moreno)
5.       Engenhos de cana-de-açúcar para fabricar açúcar mascavo (açúcar moreno), cachaça e vinagre.
6.       Engenhos de cana-de-açúcar para fabricar mel de cana (melaço).
7.       Engenhos de cana-de-açúcar para fabricar cachaça e mel de cana (melaço).
·         Alguns engenhos possuíam oficinas para os serviços mecânicos e consertos das estruturas físicas e das máquinas e equipamentos que moviam os engenhos e fabricavam, armazenavam a cachaça e possuíam também serrarias próprias para trabalhar a madeira extraída da própria mata de várzea ou de terra firme das ilhas das florestas estuarinas de Abaeté, Igarapé-Miri e Marajó.
·         E muitos engenhos vendiam toras ou peças de madeira na forma de taboas, caibros, esteios, esteiotes, ripas, pernas-mancas, madeira para lenha ou carvão, fato que determinou a quase extinção de muitas variedades de madeira-de-lei e outros tipos de madeira da Região das ilhas. Essa madeira era transportada nas chamadas “alvarengas”. A Alvarenga era um tipo de balsa antiga, onde as mercadorias eram transportadas no porão fundo e não no convés, como as atuais, construída em ferro e que transportavam de tudo, especialmente toras de madeira, lenha, cana-de-açúcar, mercadorias ensacadas e outras mercadorias. As alvarengas eram movidas à reboque de outras embarcações. Foram as alvarengas que transportaram para outros lugares, especialmente Belém, a madeira existente nas ilhas e terra firme do Baixo Tocantins e Marajó.
·         Os extensos canaviais de Abaetetuba e igarapé-Miri produziam cana através de vários processos e empregavam muitas pessoas e até famílias inteiras na agricultura da cana doce, que eram os plantadores de cana doce ou canavieiros. Muitos canavieiros eram meieiros com os donos de engenhos, isto é, faziam os contratos verbais da meação, onde os capitalistas entravam com os recursos e os canavieiros entravam com seus terrenos e serviços nos canaviais e, ganhavam (entre aspas) parte da produção desses canaviais, que revendiam (entre aspas) para os próprios donos dos engenhos dos contratos de meação. Além dos canavialistas ou capitalistas (donos dos capitais dos engenhos), dos canavieiros (plantadores da cana verde) existiam outras pessoas que trabalhavam com a cana verde, como:
Os garapeiros, que produziam a garapa ou caldo de cana (sumo das varas de canas moídas) a partir de engenhocas com moendas, móveis (carros) ou fixas, para a venda da garapa fresca em garrafas de um litro ou como componentes de lanches (com pastéis, doces). Algumas engenhocas com moendas (garapeiras) para são citadas desde 1920 e podiam ser manuais ou mecanizadas (estas de tempos mais modernos).
Os vendedores de feixes de cana doce, que eram os marreteiros de cana ou ribeirinhos que vinham das Ilhas de Abaetetuba em seus batelões ou outros pequenos barcos para revender os feixes de cana para os produtores de garapa das cidades.
Também eram produzidos os licores, produtos citado na década de 1840, feito da mistura de cachaça com massa de frutos, cascas, folhas de arbustos e árvores da região, pelo processo da infusão.

   A Decadência da Indústria Canavieira do Estuário Tocantino:
Essa indústria teve o seu tempo áureo a partir do final do Século 19 até os anos finais de 1970 e na metade dessa década já começa a apresentar um forte declínio a partir da sua 1ª metade. A Indústria Canavieira do Estuário Tocantino  se iniciou ainda no século 17 com a presença de dezenas de grandes engenhos produtores de açúcar espalhados pelas diversas localidades do Pará, especialmente nos vales dos rios Capim, Guamá, Moju, Acará e os rios de Abaetetuba e Igarapé-Miri. A partir dos anos finais do século 19 até a 1ª metade do século 20, a maioria dos engenhos de açúcar vindos do período colonial entrou em processo de decadência e subsistiram apenas os engenhos de igarapé-Miri e Abaetetuba, que já fabricavam cachaça e este produto tinha grande aceitação nos mercadores consumidores do Pará e do Baixo Amazonas, cujas vendas eram feitas através do antigo Comércio de Regatão, isto é, através de embarcações marítimas que subiam os rios Tocantins, Amazonas, Salgado e outros, levando a cachaça produzida, junto com outros produtos locais e, quando voltavam, traziam suas embarcações cheias dos produtos das localidades visitadas pelos barcos do Comércio de Regatão e esses produtos possuíam forte aceitação nas praças comerciais da Capital e demais centros populacionais do Estuário Tocantino. Foi realmente a indústria canavieira a responsável pelo desenvolvimento econômico da Igarapé-Miri e Abaetetuba na 2ª metade do Século 19.
Essa indústria, como já dissemos, vem a partir dos grandes engenhos do Período Colonial do Pará, que fabricavam açúcar que em sua maior parte era exportada pelo Porto da Capital para Portugal nos antigos tempos do Brasil Colônia. A produção do açúcar foi entrando em decadência e, já no fim do Período Colonial teve acelerada sua decadência, até o seu completo desaparecimento, restando apenas as ruínas e a história dos grandes engenhos de produção de açúcar. Porém os engenhos de igarapé-Miri e Abaetetuba não entraram na decadência do Ciclo do Açúcar e eles avançaram na produção da cachaça e outros produtos naquilo que chamamos de Indústria Canavieira do Baixo Tocantins.

A Indústria Oleira e o Artesanato de Barro no Baixo Tocantins e Marajó:
A indústria cerâmica (ou indústria oleira), que na verdade era quase artesanal, prosperou (entre aspas) devido a abundância de matéria-prima, a argila (ou barro) existentes nas ribanceiras dos rios e igarapés estuarinos do Baixo Tocantins e Marajó. Abaetetuba chegou a possuir perto de 200 olarias espalhadas por quase todas as suas ilhas e o mesmo acontecenco em e Igarapé-Miri e Arquipélago do Marajó,  e a demanda pelos produtos das olarias era muito grande nas cidades do Baixo Tocantins, Belém e demais regiões do Estuário Tocantino. Os tijolos e telhas de barro eram produtos que serviam como produtos da construção de casas por todas as áreas do Estuário Tocantino e eram levados através de embarcações para essas áreas, juntos com outros produtos fabricados artesanalmente pela indústria cerâmica, que faziam parte do Comércio de Regatão do Baixo Tocantins. Essa indústria entrou em decadência por não ter evoluído a sua fabricação, pela falta da matéria-prima e pela decadência do Comércio de Regatão, atividade que hoje está em sensível decadência por esses e outros motivos.
·         Produtos da Indústria Cerâmica e do Artesanato em Barro do Estuário Tocantino:
Eram centenas de olarias espalhadas pelas margens dos rios e igarapés do Baixo Tocantins, citadas em antigos documentos de 1870 em diante, que produziam telhas e uma variedade muito grande de utensílios e artefatos de barro que eram utilizados nos serviços diários das casas ribeirinhas, da Capital e demais municípios e povoados da Província do Pará e que também eram objeto dos negócios do Comércio de Regatão da região e fora da Província do Pará.
Além das telhas e tijolos, muitas famílias do Baixo Tocantins, Marajó e outras áreas estuarinas de várzeas trabalhavam artesanalmente na produção de utensílios e artefatos de barro, como potes, bilhas, alguidares, filtros, bacias, fogões, fogareiros e outros produtos em barro que chegavam até as regiões mais distantes dos centros produtores desse tipo de artesanato do Baixo Tocantins e Marajó.





 Os utensílios em barro ou louças de barro eram
largamente utilizados no antigo Comércio de Regatão
do Baixo Tocantins
Usos dos Produtos das Olarias e dos Utensílios e Artefatos de Barro:
  • Telhas de barro, que eram os principais produtos das olarias do Baixo Tocantins e as telhas era usadas para cobrir os telhados das casas do habitantes das cidades, vilas e povoados. No início do ano de 1800 eram bem poucas as casas e engenhos que recebiam telhas em sua cobertura, sendo que a maioria era coberta de palha que era material muito abundante nas matas estuarinas tocantinas. E as telhas, como os tijolos abaixo, como eram produzidos por métodos arcaicos e quase artesanais, não eram de boa qualidade e vieram perdendo terreno para os tijolos e telhas vindos de outras regiões produtoras do Pará ou de outros estados brasileiros.
  • Tijolos, que são produtos mais recentes das olarias do Estuário Tocantino, que são usados na construção das casas em alvenaria.
  • Potes ou jarros de barro, que eram utensílios usados no carregamento e armazenamento caseiro das águas dos rios.
  • Bilhas de barro, que eram utensílios semelhantes aos potes, porém menores que os chamados e com a mesma finalidade destes e usados nas viagens e atividades ribeirinhas.
  • Alguidares louça de barro com várias utilidades e eram de vários tamanhos
·         Filtros, que eram utensílios de barro usados para filtrar a água para beber tirados dos igarapés e rios das proximidades das casas ribeirinhas. Também eram usados nas cidades, vilas e povoados da Região Tocantina e cuja água era extraída dos poços de água. Os filtros de barro da Região Tocantina foram substituídos por filtros industriais, feitos de outros materiais, vindos de outras regiões brasileiras. Mas ainda existem os filtros de barro em muitas casas ribeirinhas.
·         Fogareiros, que eram utensílios feitos de barro, com uso pelas populações ribeirinhas, no preparo de comida, cafés, chás e outras funções.
·         Bacias de barro, que eram utensílios usados para lavar roupa das casas ribeirinhas, nas escadas das pontes ou beiras dos igarapés e que também eram usados no preparo de vários tipos de alimentos, como massas variadas. Atualmente as bacias de plástico ou alumínio substituíram as pesadas bacias de barro.
·         Tigelas de barro, que eram utensílios usados usadas para beber água, sucos e diversos tipo de mingaus.
·         Tigelinhas de barro, utensílios que eram usados pelos antigos seringueiros tocantinos  para aparar o látex extraído das árvores seringueiras. O uso das tigelinhas de barro para aparar o látex das seringueiras do Baixo Tocantins começou a desaparecer no ano de 1864, substituídas que foram pelas conchas do molusco “uruá” que existia aos milhares pelas várzeas e matas tocantinas e com redobrada vantagens para os seringueiros.
·         Fogões de barro, que eram os antigos fogões com várias bocas, alimentados por lenhas ou carvão vegetal nas residências ribeirinhas e até nas vilas, cidades e povoados do baixo Tocantins.
·         Fogareiros, pequenos fogões de uso variado
·         Bules, usado no preparo do café e chocolate quentes ribeirinhos.
·         Cachimbos de barro que eram usados para as pitadas de fumo dos antigos ribeirinhos do complexo deltaico estuarino.
Alguns produtos do artesanato em barro do Baixo Tocantins e Marajó como vasos, bilhas, bacias, tigelas e outros eram pintadas em cores vivas e envernizadas com a resina do jutaicica, que inclusive eram exportadas para as demais províncias do Sul e Sudeste do país e também para países estrangeiros.

·         A Carpintaria Naval e o Comércio de Pescado e Gado:
A Carpintaria naval é uma antiga atividade que chegou a possuir mais de 30 estaleiros para a construção naval só em Abaetetuba e outros tantos em Igarapé-Miri, Barcarena, Cametá, Marajó, cujos carpinteiros navais ficaram famosos no Pará pela construção de grandes, médios e pequenos barcos e de modo intuitivo, artesanal, que aproveitava o grande potencial madereiro da Microrregião de Cametá, Arquipélago do Marajó e outras regiões circunvizinhas e que, atualmente, se encontra quase extinta, devido falta da matéria-prima, a madeira adequada, e outras causas. Atualmente só existem alguns poucos estaleiros da carpintaria naval, tanto em Abaetetuba quanto em Igarapé-Miri.

A construção de embarcações segue as especificações fornecidas pelos compradores quanto aos tipos, tonelagens, pavimentos, finalidades e outros itens fornecidos. Os carpinteiros navais, sem usar nenhum cálculo matemático e desenho, só imaginavam como poderiam construir a embarcação, conforme o solicitado pelos clientes. Após essa visualização intuitiva e com “tudo na cabeça”, conforme eles mesmos dizem, partiam para a construção das embarcações encomendadas. Assim saíam barcos pequenos, médios e grandes, alguns com capacidade para até 200 toneladas e de até 3 pavimentos. Outros grandes barcos eram encomendados como “barcos de passeios”, construídos para pessoas de posses, para uso particular nos seus deslocamentos e de suas famílias. Alguns tipos de barcos construídos nos estaleiros da Microrregião de Cametá: canoas pequenas, montarias, bajaras, canoas à vela, iates, barcos-motores, navios e barcos específicos: pesqueiros, geleiros, boiadeiros e outros. Atualmente existe a fabricação dos pequenos barcos chamados rabetas e com a madeira vinda das florestas de outras regiões circunvizinhas à Zona Tocantina. Vide nestes textos esses tipos de embarcações.

·         A Coleta das Frutas:
As frutas ainda existem nas formas silvestres, sem apoios, incentivos e estudos para que se tornem culturas econômicas e sustentáveis, como poderia ser a cultura do cupuaçu, do bacuri, do açaí, da pupunha, da bacaba, do miriti e outras frutíferas estuarinas tocantinas.
·         As Frutas Regionais do Estuário Amazônico:
O Estuário Amazônico foi generoso com a oferta de tantas dádivas aos habitantes de suas regiões. Na Microrregião de Cametá, na Mesorregião do Marajó, na Microrregião de Tomé-Açu e outras microrregiões circunvizinhas de Belém existe uma variedade muito grande de frutos silvestres exóticos, alguns provenientes das Guyannas, da Europa e da Ásia e ainda não convenientemente aproveitados na economia regional e na produção industrial de produtos diversificados, especialmente do comércio de polpas de frutas. Porém, tradicionalmente, as frutas silvestres sempre foram usadas na alimentação regional em estado in-natura ou na forma de deliciosos doces, bolos, sucos e refrescos muito apreciados nos lares caboclos. Alguns já chegaram à Capital e fazem parte do cardápio das casas de doces, sorveterias e restaurantes de Belém e demais cidades do Pará e do Brasil. Ao lado de cada fruto elencado abaixo, colocaremos sua situação quanto o seu plantio, uso e extinção no caso do extrativismo irracional.
·         Abiu, fruto existente em várias variedades e é usado in natura como fruto silvestre. Porém encontrar esse fruto nas feiras das cidades do Estuário Tocantino está se tornado cada vez mais dificultoso. O motivo é que ainda não se encontraram aplicações para o uso da polpa do abiu em consequência das dificuldades de plantio e manejo desse fruto regional. Dizemos que o abiu tem um sabor doce e muito delicioso.
·         Ajurú,  que é um fruto consumido in-natura e é encontrado nas várzeas do Estuário Tocantino e está se tornando cada vez mais difícil se encontrar esse fruto silvestre à vendas nas feiras das cidades do Estuário.
·         Inajá, que é fruto silvestre proveniente da palmeira inajazeiro, que é consumido in-natura e, por incrível que possa parecer, esse fruto já teve mais utilidade e aplicações industriais no passado que na época atual. Como esse fruto vem do inajazeiro que era palmeira muito comum nas matas estuarinas, seu fruto era muito usado como matéria-prima das defumações da borracha, onde era queimado para produzir a fumaça dessas defumações. Também o fruto inajá é oleaginoso e não se conhecem aplicações industriais do seu óleo.
·         Açaí, fruto que tem larga aplicação como um dos tradicionais itens da culinária paraense, consumido na forma de vinhos, mingaus (com arroz, farinha de mandioca, curêra de mandioca), sorvetes (vide tipos de consumo do açaí no texto sobre açaí) e, a cada dia que passa, pelos estudos que são feitos da massa do açaí, cada dia surge uma aplicação para os componentes químicos da polpa do açaí. Até para o caroço, resultante do beneficiamento da massa do açaí, já vem encontrando larga aplicação no artesanato das biojóias amazônicas. E o palmito do açaizeiro é coletado nas matas do Estuário Tocantino, para a devida industrialização a nível regional e nacional. Essa coleta do palmito pode se transformar num grande problema para os açaizais das matas amazônicas, devido se constituir em um extrativismo predatório, onde milhares de árvores de açaizeiros são abatidas para extração do seu palmito, e este é um produto de larga aceitação na culinária de todos os estados brasileiros. Existem muitas fábricas de palmito de açaí nas localidades do Estuário Tocantino.
·         Araçá, fruto existente em várias espécies, que são  consumidos in natura. Ainda não se encontraram aplicações industriais do fruto que possui um acentuado gosto ácido, porém muito consumido por seu sabor também adocicado. Como a árvore araçazeiro é silvestre, corre risco de extinção pelos desmatamentos e falta de interesses em seu plantio.
·         Bacuri, fruto existente em duas espécies, o bacuri-pari e o e bacuri, ambos apreciados pelo sabor doce da massa, acrescido de um leve sabor ácido, e que são consumidos in  natura. Ambos são frutos nativos das matas amazônicas, porém é a massa do chamado bacuri que já vem tendo largo uso na indústria de picolés e sorvetes deliciosos. A grossa casca do bacuri tem várias aplicações na confecção de doces em caldas e outros usos na alimentação. O bacuri também é objeto de estudos de alguns órgãos da agricultura e, pela facilidade de plantio, pode se tornar um produto da agricultura dos ribeirinhos do delta tocantino, devido a grande demanda da polpa de bacuri que é usada em variadas aplicações. O fruto do bacuri também é oleaginoso e pode encontrar aplicações industriais variadas.
·         Cupuaçu, que é fruto nativo da Amazônia de largo consumo no Pará, e que fornece vinhos e sucos deliciosos e está tendo largo uso nas indústrias de doces, bolos, picolés e sorvetes também muito deliciosos. Agora, a massa do cupuaçu está sendo largamente utilizado como recheio por fabricantes caseiros de bombons de chocolate, no preparo desses doces, que por sinal, é um dos mais apreciados no Pará. Já existe o domínio do manejo da cultura do cupuaçuzeiro, que é uma planta nativa das matas do Estuário Tocantino e isso está facilitando o seu plantio, mesmo que em pequena escala.
·         Graviola, que é um fruto que é consumido in-natura ou na forma de sucos e no Pará a massa da graviola é matéria-prima do preparo de deliciosos picolés e sorvetes. Porém seu plantio é dificultoso pela presença de pragas que dizimam as árvores nativas das matas do Estuário Tocantino.
·         Pupunha, que é um fruto nativo, largamente consumido cozido no café da manhã pelo paraense e que agora vem tendo aplicações no preparo de pratos deliciosos por renomados chefes-de-cozinhas de restaurantes locais. É um fruto nativo das matas do Estuário Tocantino, em várias variedades, porém que já sofreu estudos de seu manejo em plantação dessa palmeira, que também fornece delicioso palmito de plantas novas. O fruto da pupunha também é altamente oleaginoso e a presença dessas gorduras nos frutos, define que são de variedades de fritos mais deliciosos no consumo local. O fruto da palmeira pupunheira, atualmente, está encontrando várias aplicações na culinária paraense. Os nativos de Abaetetuba, do tempo dos engenhos, devem se recordar do consumo da pupunha misturada ao melaço de cana-de-açúcar, em mistura de sabor inigualável.
·         Taperebá, que é um fruto nativo existente em duas espécies que são consumidas in-natura, e o chamado taperabázinho ainda é usado na forma de sucos e na produção de picolés e sorvetes.
·         Castanha-do-pará,  que foi um fruto cuja coleta para exportação sustentou, junto com a borracha extraída das seringueiras, a economia do Pará no tempo do Pará Provincial. Já existiram fábricas para o beneficiamento das sementes dessa castanha no Pará, mas essas fábricas estão paulatinamente desaparecendo pela grande derrubada das matas que abrigavam os castanhais do Pará. A castanha-do-pará pode ser consumida in-natura no café, em mingaus (especialmente os mingaus de arroz e munguzá) e é aproveitada na confecção de variados tipos de doces, bolos e outras iguarias. Seu óleo também tem várias aplicações industriais. A castanheira é uma imponente árvore facilmente observável pelas suas características, especialmente das copas na extremidade superior do grosso tronco. Abaetetuba ainda possui alguns pés dessa árvore, cuja tendência é o desaparecimento por completo.
      A produção de castanha já é citada no Vale do Xingu, entre 1764-1769, coletadas nas antigas localidades de populações indígenas: Vila de Gurupá, São João do Piraguary, São João de Pombal, Santo Ignácio de Aricary, Santo Ignácio de Souzel, Pombal, Porto de Moz, Veiros.
·         Muruci fruto que é consumido nas formas in natura, em suco e sorvete
·         Piquiá, que é fruto consumido na forma de cozido e que é altamente oleaginosa. Mas como a madeira da árvore piquiazeiro foi muito explorada na carpintaria naval de Abaetetuba e sua Região, essa árvore se faz escassa nas matas do Estuário Tocantino.
·         Tucumã é um fruto consumido in-natura e é altamente oleaginoso. A dura casca da semente de tucumã é muito usuda no artesanato paraense, assim como o duro ouriço que contém as sementes de castanha.
·         Umari é um delicioso fruto consumido in natura
·         Biribá, que é um delicioso fruto consumido in natura e seu sabor adocicado o faz um dos preferidos pelas populações do Estuário Tocantino e está ficando cada vez mais raro de se encontrar, devido falta de estudos para o seu manejo. Nos raros lugares onde esse fruto pode ser encontrado o preço da unidade é proibitivo para muitas famílias.
·         Bacaba, fruto cuja massa é consumida na forma de mingaus (de arroz), de vinho, como o açaí (vide os modos de consumo no texto sobre açaí), porém é mais oleaginoso e de sumo mais concentrado do que o açaí e é uma palmeira silvestre que já se faz rara nas matas do Estuário Tocantino,  em suas várias espécies.
·         Uxi, que é um fruto silvestre e oleaginoso e é consumido in natura. O uxizeiro já é uma árvore rara no Estuário Tocantino.
·         Ingá, que é um fruto advindo de várias espécies de ingazeiros e é de sabor doce e consumido in-natura. É uma árvore de fácil multiplicação nas matas e quintais de casas.
·         Abricó, que é um fruto de sabor doce e levemente ácido e é consumido in natura e o fruto já se faz escasso nas feiras tocantinas e o preço da unidade é proibitivo para a classe pobre.
·         Jambo, que é um fruto com várias espécies e dentro da espécie do jambo-rosa, existem as variedades rosa, vermelho e branco. Porém o verdadeiro jambo possui formato ovóide, diferente das outras espécies e o jambo é o fruto preferido pelas crianças. Como é de fácil multiplicação, ainda se encontram vendedores desse fruto silvestre pelas cidades, onde é consumidos in natura.
·         Manga, a manga é um fruto silvestre que ainda é encontrada em grande quantidade nas feiras das cidades tocantinas e seu uso como alimento é feito in natura ou na forma de sucos e outras aplicações na culinária amazônica. E são muitas as espécies de mangueiras encontradas espalhadas nas matas do Estuário Tocantino. A mangueira ainda é usada nas cidades como uma das árvores preferidas para o sombreamento, devido sua grande copa, que serve para aplacar o grande calor das cidades amazônicas. Belém, a Capital do Pará, é conhecida como a “Cidade das Mangueiras”. Como já existe o manejo das mangueiras em outros estados do Brasil, muitos paraenses estão deixando de consumir as deliciosas mangas do Pará, que também está sendo muito usadas na culinária local.
·         Miriti, é um fruto que vem da palmeira aqui conhecida como miritizeiro e seu delicioso fruto é consumido in natura ou em forma de sucos e mingaus (de arroz), como é o consumo do açaí, isto é, é consumido como verdadeiro alimento, acrescido de outros componentes como a farinha, as carnes e é muito apreciado pelas populações ribeirinhas. Da palmeira miritizeiro, todas as partes dessa árvore têm suas aplicações na cultura ribeirinha, especialmente na fabricação dos brinquedos de miriti de Abaetetuba, que fez o município ficar muito conhecido à  nível regional e nacional, pela fabricação desses brinquedos feitos da polpa das folhas  compridas do miritizeiro (essa polpa é também chamada de miriti). Também a massa do fruto miriti está tendo muitas aplicações na culinária local, e em pratos e doces variados.  (vide texto sobre o miritizeiro do Baixo Tocantins).
·         Castanha sapucaia, fruto que vem dos ouriços de uma grande árvore amazônica e os frutos são consumidos in natura, como a castanha-do-pará e o ouriço desse tipo de castanheira já está tendo grande uso na confecção de arranjos florais pelas populações ribeirinhas do Baixo Tocantins.
·         Fruta-pão, cujo fruto é de duas variedades, o com semente (aqui chamado erva-pão) e o sem semente (este chamado fruta-pão). As sementes do erva-pão são consumidas cozidas e no café da manhã e o fruta-pão tem consumida a sua massa, o que não é comum no Baixo Tocantins.
·         Caju-do-mato é um fruto pequenino, de cor vermelho e totalmente parecido com o caju comum, porém sendo a árvore do caju-do-mato de tamanho agigantado, competindo em altura com a castanheira-do-Pará. O caju do mato é consumido in-natura ou como suco e as árvores do cajueiro-do-mato já estão se tornando raras de ver, devido o grande desmatamento das matas tocantinas.
·         Maracujá-do-mato é um fruto silvestre um pouco parecido com o macujá comum, porém de sabor mais adocicado e é muito apreciado pelas populações ribeirinhas. Esse fruto também está ficando raro nas feiras das cidades tocantinas.
BENEFICIAMENTO DE FRUTAS, FLORES E DE PLANTAS MEDICINAIS DO ESTUÁRIO AMAZÔNICO:
As frutas amazônicas foram largamente usadas na dieta alimentar ribeirinha dos períodos históricos do Pará e essas frutas ainda receberam uma grande quantidade de outras frutíferas que vieram das Guianas, da Europa e outras partes do mundo e que se adaptaram muito bem ao clima amazônico e muitas ainda estão espalhadas pelas áreas do Estuário Tocanatino e sendo comercializadas como sendo frutas silvestres locais. Isso não importa e o que queremos destacar é que as nossas frutas silvestres tiveram mais uso de forma beneficiada nesses períodos históricos, especialmente no Ciclo da Borracha, que na atualidade, onde muitas deliciosas frutas ainda estão à espera que sejam realmente beneficiadas como produtos da dieta alimentar em solo amazônico ou paraense.
·         Frutas nativas abundantes e diversificadas e largamente consumidas em todos os períodos da história e no período provincial e início da era republicana, cujas fábricas para licores e sucos de frutos já existiam em Belém. Agora já não mais existem e precisam ser criadas outras fábricas para o aproveitamento comercial no Estado.
·         Fábricas de licores de frutos diversos, vinho de caju, são citadas nos anos de 1860.
·         Flores silvestres, usadas como elementos de ornamentação e decoração nas casas e prédios das antigas cidades.
·         Plantas medicinais, que foram e ainda continuam a serem largamente utilizadas em todos os períodos da história do Pará no tratamento de variadas doenças e exportadas para a Capital para uso medicinal.
·         Raiz da planta assacu citada nos anos de 1850 e usada como veneno nas pescarias e como remédio no tratamento da lepra. Vide Plantas Medicinais no Blog do ADEMIR ROCHA.
Indústria do Palmito:
·         O Palmito:
O palmito, produto que nos anos de 1980 chamou a atenção de muitos empresários que vieram do sul e sudeste do país para a exploração dos açaizais nativos, que com o esgotamento dos açaizais nas áreas das fábricas de palmito, essa indústria vem decrescendo no Pará.

·         A CAÇA E PESCA NO ESTUÁRIO AMAZÔNICO:

A Fauna Amazônica:
Fauna é o conjunto das espécies animais de uma determinada região e cada animal é adaptado para viver no meio vegetal,  fluvial ou marinho, de acordo com o seu respectivo clima e demais fatores ambientais.
A extinção dos animais na Amazônia:
A Amazônia é uma imensa área detentora de muitos tipos de ecossistemas que abrigam uma enorme quantidade e variedade de espécies animais (e vegetais) e, por incrível que possa parecer novas espécies estão sendo descobertas e logo são consideradas ameaçadas de extinção. No caso da extinção das espécies animais (ou vegetais) vale dizer que todas as espécies têm grande importância para os ecossistemas naturais e basta a extinção de uma delas para que graves desequilíbrios ocorram no meio ambiente. Esse é o delicado momento que vivemos atualmente em relação a Flora e Fauna amazônica, que se não forem tomadas medidas adequadas da aplicação da legislação ambiental já existente, corremos o sério risco de ver nossos recursos naturais correndo sérios riscos de extinção ou redução dos estoques pela falta pura e simples da aplicação dessas leis.
     Aves:
Na Amazônia existia uma grande quantidade e diversidade de aves, onde muitas espécies já foram extintas e outras já se encontram em vias de extinção devido a intensa caçada para diversas finalidades e a destruição de muitos ecossistemas que abrigavam as variedades de aves dessas áreas nos períodos históricos do Pará. Mesmo assim ainda podemos encontrar uma grande quantidade de famílias e ordens de aves que ocupam os ecossistemas de florestas, mangues e vegetação de várzea do Estuário Amazônico onde proliferam esses belos animais.
Antigamente as aves eram exterminadas pelas intensas caçadas dos períodos históricos do Pará nas áreas do entorno ou vizinhas de Belém, como as regiões do Salgado, Bragantina e do complexo deltaico estuarino dos rios Capim-Acará-Guamá-Moju e Baixo e Alto Tocantins. Atualmente grande inimigo das aves amazônicas é o intenso desmatamento de imensas áreas do Sul, Sudeste e Sudoeste do Pará em função dos projetos minerais, implantação de fazendas de gado, da grande cultura de soja e arroz, e o grande problema das usinas que usam carvão advindo das áreas florestais fornecido por carvoarias clandestinas do entorno dessas áreas. Como estamos falando do Estuário Amazônico e estamos em pleno “paraíso das águas”, outro grande problema para a flora e fauna amazônica é a extrema poluição das águas estuarinas que se junta com o comércio ilegal de animais e a caça predatória ainda existente que são fatores que vêm exterminando muitos animais e diminuindo a riqueza de nossa flora e fauna.
        A antiga prática da caça e pesca:
A prática da caça e pesca passou dos indígenas para os caboclos estuarinos, que abatiam mamíferos, aves, quelônios, jacarés nas caçadas e praticava a pesca em todos os igarapés e rios do Estuário Amazônico, que abundavam em suas águas, igualmente como a pesca e coleta de crustáceos como o camarão de água doce e caranguejos das várzeas das Costas Atlânticas. Essa longa e predatória prática da caça e pesca, ao lado da extração de outros recursos naturais das áreas estuarinas, acabou por empobrecer as matas e rios de muitos animais que hoje estão extintos ou em vias de extinção. Após a pesca executada de diversas formas pelas áreas pesqueiras do Estuário Amazônico, inclusive com o método do borqueio e arrastão pelos pescadores artesanais, e modernamente, pelas pescas de arrastão das grandes empresas de pescas pelas costas estuarinas oceânicas, que vêm se encarregando de dizimar a grande quantidade e variedade de peixes e crustáceos de grande valor econômico que são exportados para outros pontos do Brasil e exterior.
Nos dias atuais já não existe a quantidade enorme de frutos do mar que existiam em variedade e quantidade impressionantes nas matas e corpos d’águas estuarinas, como também a própria vegetação costeira sofreu e continua sofrendo a prática predatória da derrubada dessas matas para implantação dos roçados de cana-de-açúcar e outros roçados e a busca desenfreada pela madeira específica da construção naval ribeirinha e da madeira para outras variadas aplicações, inclusive a exportação em massa de madeira não certificada pelos órgãos competentes.
Os rios e floresta do Baixo Tocantins e Marajó contribuíram fortemente nas atividades de caça e pesca, onde, no Período Colonial, os navios estrangeiros eram abastecidos com o pescado e as carnes das caças fornecidas pelas tribos indígenas locais às tripulações desses navios, especialmente do peixe-boi e tartaruga existentes em abundância nos rios e baías circunvizinhas à Ilha do Marajó. O mesmo processo foi seguido no abastecimento dos navios da Coroa Portuguesa e da Capital Belém. Com as atividades de caça e pesca intensa e predatória no decorrer dos séculos, e a destruição das matas para a implantação dos extensos canaviais da indústria canavieira da região do Baixo Tocantins, Marajó, Capim, Guamá, Acará e Moju, os produtos da caça e atividade pesqueira foram se tornando menos abundantes e, na metade do século 20, já não se obtinha uma boa produção de pescados e carnes de animais silvestres na Região do Baixo Tocantins e Marajó, tendo a economia se concentrado em outras atividades produtivas como a Indústria Canavieira e o Comércio de Regatão. Quanto à caça, o Estuário Tocantino era abundante em animais silvestres cujas carnes e peles eram valiosos na atividade exportadora de Belém e, entre as carnes, além do peixe-boi e quelônios e jacarés citados acima, existiam as valiosas peles de onças, jaguatiricas, ariranhas, lontras, maracajás, capivaras, jacarés, veados (estes existiam aos milhares em várias espécies) que tomavam os destinos da Europa e Estados Unidos. O mesmo destino tiveram as abundantes espécies de aves silvestres, que eram caçadas por sua carne e penas, com uso variado. Já não existem mais os grandes bandos de aves como papagaios, guarás, periquitos, gaivotas, mutuns, ciganas, tucanos, araras, pica-paus, patos-do-mato, marrecos, garças e outros que povoavam o Estuário Amazônico.
As áreas estuarinas do Baixo Tocantins e Marajó são citadas em 1864 como áreas abundantes de peixes de excelente qualidade e de caças abundantes e diversas que foram objeto da caça e pesca para exportação para o exterior no Período Colonial do Pará.
Alguns aspectos da caça e pesca dos antigos e tradicionais animais amazônicos:

Importância da Fauna na alimentação estuarina:
A caça nos períodos históricos do Pará foi a forma utilizada por nossos ancestrais para a obtenção de alimentos e comercialização de carnes.  E a fauna, no Estuário Amazônico e na Amazônia em geral, ainda é fundamental para muitas tribos que ainda subsistem da caça e pesca. E até os dias atuais a Culinária Estuarina Amazônica é baseada nos recursos que a fauna e flora ainda oferece em termos de alimentação em produtos advindos da fauna amazônica, apesar da caça proibida das espécies, e que criaram uma peculiar cultura alimentar no Pará. Vide Culinária Paraense no Blog do ADEMIR ROCHA.
Não só os peixes sofreram e sofrem os efeitos da pesca predatória, como igualmente os mamíferos e outros animais de água doce do Estuário Amazônico sofreram implacável caçada pelas suas carnes, banhas, óleos e peles que alcançavam altos preços nos mercados importadores da Europa e Estados Unidos. As carnes de animais como peixes-bois, jacarés, tartarugas também eram usadas fartamente pelas populações das áreas ribeirinhas em sua dieta alimentar.
Alguns conhecidos animais das áreas amazônicas:
·         Peixe-Boi:
A carne do mamífero aquático peixe-boi, animal que existia aos milhares nas águas amazônicas, era salgada e seca, citada na década de 1840 e era consumida pelas populações das áreas estuarinas e também exportada para a Capital e também muito usada na alimentação das tropas militares do governo, ou invasores estrangeiros do Estuário Tocantino e das populações ribeirinhas.
·         Tartarugas:
Além de sua carne para consumo das populações e tropas militares a tartaruga oferecia a sua banha que servia na fabricação de manteiga de tartaruga, citado na década de 1850, produzida na Capital. Os ovos de tartaruga também eram largamente consumidos como alimentos pelas populações ribeirinhas da Amazônia. A tartaruga é um animais que vêm correndo sério risco de extinção. Ela está ameaçada não só pela pesca predatória, como pelo consumo de seus ovos. A tartaruga pões os ovos em ninhos cavados na areia das praias. Quando o homem descobre o local da desova ele os desenterra para comer, reduzindo, assim, a capacidade de reprodução da espécie.
Algumas antigas localidades do Vale do Xingu, citadas entre 1764-1769, como coletoras de tartarugas e jabutis e produtoras de manteiga de tartaruaga: localidade de São João Baptista de Itacuruçá, São João de Veiros, Pombal, Porto de Moz, São João de Piraguary.

Nas águas e florestas do Estuário Amazônico existe também uma grande quantidade e variedades de animais e os mais conhecidos são:
·         Nas áreas de florestas encontram-se: onças, jaguatiricas, maracajás, guaxinins, preguiça, caititu, anta, veados, tamanduá, gambá, capivaras, pacas, cotias e tatu e há macacos de várias espécies nas florestas.
·         Nos rios e lagos da região amazônica habitam o peixe-boi, o jacaré, o pirarucu, a lontra, ariranha e a capivara e há um grande número de peixes, tartarugas e jacarés.
·         Entre os répteis se incluem diversas espécies de cobras, em especial a surucucu, a jararaca, a sucuri e a jibóia e uma grande variedade de lagartos.
·         Os anfíbios (sapos, rãs, pererecas) eram muito comuns no Baixo Tocantins que começavam a aparecer no período chuvoso, especialmente perto de lugares pantanosos, várzeas e riachos, fazendo a algazarra do chamamento ao acasalamento. Esse cenário já está desaparecendo nas zonas urbanas das cidades e, agora, é mais presente nas zonas periféricas e rurais. Porém, na área onde o autor do Blog reside, bem no centro da cidade, que fica perto de um aningal, todo ano sua casa recebe a visita de rãnzinhas, rãs e sapos cururus. Costumamos colocar esses animais para dentro do cercado da casa para que não sejam vitimados pelo intenso trânsito da rua. Este ano nos deparamos também com a visita de uma bonita espécie de sapo cururu colorido, jamais visto por estas áreas.
·         Aves como papagaios, araras e tucanos, guarás, garças, gaivotas. Os pássaros, de um modo geral, são retirados das matas para serem comercializados em feiras livres, engaiolados e nas piores condições de vida. Curió, canário-da-terra, sabiá, azulão são os pássaros mais vendidos.
·         É grande o número de insetos na Amazônia.

Animais usados na alimentação ribeirinha:
As populações rurais e ribeirinhas do Estuário Tocantino desde os tempos coloniais e provinciais não atentaram para a preservação dos variados ecossistemas que serviam de  meio ambiente para muitas espécies de vegetais e animais que já foram extintos ou já estão em vias de extinção irreversível na região pela prática das caçadas intensas em todos os períodos históricos do Pará e o uso de muitas espécies como alimento, o que é compreensível pela pobreza que sempre afetou as populações ribeirinhas e rurais do Estuário do Tocantins. Até mesmo espécies exóticas da fauna foram ou são usadas como alimentos, criando até uma cultura pelo uso como iguaria alimentar, como são os casos das carnes de capivara e jacaré, que até os dias atuais são usados como alimentos até mesmo pela população das cidades, apesar da proibição por lei federal.
Outros animais exóticos ainda são usados na alimentação ribeirinha, como:
      Veados
      Quelônios:
·         Tracajás
·         Tartarugas
      Mamíferos:
·         Tatus
·         Mucuras
·         Macacos
·         Preguiças
      Capivaras
      Preás
      Cotias
      Pacas
      Peixe-boi
      Botos 
      Aves, onde uma série grande de aves eram usados na alimentação ribeirinha    estuarina:
      Répteis na alimentação ribeirinha:
Porém, além dos jacarés, gostaríamos de falar de alguns répteis que foram e ainda são largamente usados como alimento pelas populações ribeirinhas e rurais do Estuário Tocantino e que atualmente são raros de encontrar devido a sua extinção ou em vias de extinção na região, que são o jacuraru e o camaleão.
O Jacuraru:
O jacuraru era um dos maiores lagartos encontrados nas matas de várzeas e de terra firme das matas tocantinas, que era um soberbo e vistoso lagarto de coloração vermelha com pintas pretas e que chegava a alcançar até meio metro de comprimento, incluindo a grossa cauda. Esse lagarto é da mesma família do jacuruxi e do jacarerana que também já foram extintos na região. O jacuraru alimenta-se de folhas, frutos, aranhas, insetos, sapos, ratos, soiás e outros pequenos mamíferos, aves, cobras e até pequenos lagartos. Nas casas ribeirinhas e rurais tocantinas ele assaltava galinheiros para comer ovos e pintos ali existentes, fato que levou esse lagarto a gozar de má fama nas populações ribeirinhas e rurais. O temido jacuraru, pela sua valentia, virou lenda nas matas amazônicas. O Jacuraru é animal muito arisco, um lagarto com dentes afiados e venenosos, de muita força, que enfrentava e vencia na luta até cobras venenosas, como as jararacas. Nessas lutas, quando ferido ou cansado, parava e se esfregava nas folhas e voltava valentemente à briga. Porém esse belo e temível animal também servia de alimento para as populações ribeirinhas e rurais no Estuário Tocantino e hoje está extinto ou em vias de extinção. Pela sua esperteza, o único meio de apanhá-lo era no buraco que lhe servia de toca. O buraco era escavado pelo caçador com um pau, facão ou espingarda, quando o animal era morto para servir de alimento. Outro modo de caçá-lo era através de cachorros que acuavam e cansavam o lagarto até ele ser morto pelo seu caçador. Também nas casas os cães eram usados para espantar os jacurarus que procuravam alimentos nos galinheiros das casas.
O Camaleão:
Diferentemente do terrestre e valente jacuraru existia também em abundância no Estuário Tocantino o lagarto camaleão, de hábitos arborícolas e inofensivo e esse lagarto era um pouco maior que o jacuraru, chegando a alcançar mais de meio metro de comprimento. Na verdade existem dois grupos de camaleões nas matas tocantinas: um menor e de coloração mais verde e outro maior de coloração verde-escura. O camaleão se alimenta de folhas, flores e insetos. O camaleão tem as seguintes características: podem mudar de cor rapidamente (camuflagem), têm olhos móveis e independentes (avistam 180% ao seu redor) e têm línguas retráteis na captura de suas presas. Nas árvores o camaleão assume a coloração verde das folhas dessas árvores onde busca seus alimentos. Nas vezes que desce ao chão, assume a cor da folhagem seca. A vulnerabilidade do camaleão, ou melhor, da camaleoa, está justamente nos momentos em que ela, que fica ovada em setembro, quando desce das árvores para por seus ovos em buracos escavados nas areias das praias. As pessoas se aproveitam desse momento para apanhar os camaleões e seus ovos para serem usados como alimento, e dizem os ribeirinhos ovos de camaleão são uma delícia. Uma cena triste nas feiras tocantinas é a de ver esse animal com suas patas amarradas pelas costas para ser vendido nas feiras estuarinas como alimento às populações, pois existem também pessoas nas cidades que apreciam a carne e ovos desses dóceis, inofensivos e simpáticos animais.  
Outros lagartos do Baixo Tocantins e Marajó:
·          Jacarérana, praticamente extinto na região.
·         Jacuruxi ou lagarto-jacaré, lagarto, de cor vermelha, muito vistoso, que se escondia por baixo das folhas podres dos igarapés, muito difícil de ser achado. Comia caramujos, sararás, ararutas. Já extintos ou em via de extinção no Baixo Tocantins devido destruição de seus habitats e de sua caça por causa de sua vistosa pele.
·         Lagarto verde que é habitante da zona rural e urbana e que ainda existe em quantidade relativa.
·         Tamaquaré ou papa-vento que ainda pode se avistado pelas matas. 
Sapos, rãs e pererecas no Estuário Tocantino:
·        
Histórico da Atividade Pesqueira Artesanal e Industrial no Estuário Amazônico e os Tipos de Pescados:
As atividades de pesca na Província do Pará nos anos de 1870 eram altamente predatórias. Cita-se a pesca por envenenamento de peixes por timbó, assacu camará ou cunamby, onde também morriam pessoas por comer peixes envenados por esses vegetais. Em 1871 morreram 7 pessoas.
Junto com oss peixes os crustáceos, mariscos e outras espécies de mamíferos, quelônios, jacarés, outrora existentes em grande quantidade pelas áreas estuarinas amazônicas, começaram a sofrer grandes explorações já a partir do Período Colonial do Pará, processo que continuou no Período Provincial e na Era Republicana e que continua até os tempos atuais. A atividade pesqueira e extrativista nesses períodos não foram processos pacíficos, com o homem se utilizando da pesca predatória com o registro do uso de venenos de alguns vegetais tóxicos já no Provincial e já mais modernamente com o uso de processos de pescas através das redes de arrastão para captura de espécies econômicas e com isso acarretando a captura, mortandade e destruição de ecossistemas fluviais e marinhos de importância para a manutenção dos estoques de peixes, crustáceos e mariscos largamente utilizados na dieta alimentar dos povos ribeirinhos das áreas estuarinas amazônicas. Para contribuir com a destruição dos ecossistemas fluviais e marinhos vieram a construções dos portos, e grandes hidrelétricas que vieram dar contribuição na destruição de muitos ecossistemas que afetaram sensivelmente a escassez não só das espécies fluviais e marinhas como das demais espécies existentes nos ecossistemas florestais dos entornos das vias fluviais e marinhas do Estuário Amazônico.
O fato agora é que uma dieta baseada nos recursos pesqueiros das áreas estuarinas amazônicas está se tornando cada vez mais difícil e caro, portanto longe do poder aquisitivo das populações ribeirinhas das áreas do Estuário.
·         Peixes e Aspectos da Pesca nos Períodos Históricos do Pará:
Nos períodos Colonial e Provincial do Pará os peixes eram largamente pescados para serem usados na forma de peixes frescos como alimento pelas populações estuarinas. Porém para a Capital, o peixe fresco não seguia na quantidade que pudesse atender às necessidades da população de Belém e outras localidades às suas proximidades. Em 1840 é citado o peixe de moura, que era o pescado fresco e era aberto, limpo de suas vísceras e salgado na forma molhada e assim seguia para o consumo na Capital e demais localidades estuarinas onde não existia pescados suficientes em seus cursos de águas doces e mesmo nos lugares onde aconteciam as grandes pescarias pelo método do borqueio, grande parcela desse pescado era salgado na forma molhada (peixe de moura) onde era vendido nas localidades das proximidades dos rios e baías de onde eram retirados, como as baías do Capim, Marajó, Maiuatá e na foz dos rios que deságuam nessas baías.
Os peixes salgados e secos eram outra maneira de se fazer a conservação da grande quantidade de pescados extraídos das áreas pesqueiras estuarinas da Amazônia. Esse processo consistia em se fazer a pescaria de grandes quantidades de pescados e, para vendê-los nas praças consumidoras mais distantes, os peixes eram abertos, limpos de suas vísceras, salgados e colocados para secar ao sol. Por esse método era possível fazer a exportação de milhares de fardos de peixes salgados e secos, vindos das diversas áreas pesqueiras e desse modo serviam na alimentação da Capital, Belém, e das localidades sem vocação pesqueira. Grande quantidade dos fardos do peixe salgado e seco seguia pelos portos de Belém e Manaus como um dos itens de exportação desses estados. Em Belém os governantes adquiriam grande quantidade de fardos de peixes salgados e secos, como de outros produtos da caça e pesca, que eram usados como pagamento do soldo da soldadesca, do funcionalismo público e das côngruas de bispos, padres e funcionários das instituições eclesiásticas. Tainhas e suas ovas, pescadas, malhados e alguns outros peixes nobres eram largamente usados nesse processo.
     Antigas localidades do Vale do Xingu, citadas entre 1764-1769, como produtoras de peixe salgado: São João do Piraguary, São João de Pombal
Localidades da Província do Pará que no período fiscal de 1863-1864 eram os maiores produtores de peixe salgado:
·         Vigia, com 1.353 arrobas
·         Abaeté, com 1.530 arrobas
·         Marajó, com 252 arrobas
·         São Caetano, com 545 arrobas
·         Cabo do Norte, com 400 arrobas
·         Cametá, com 110 arrobas
No mesmo período fiscal, os maiores produtores de pirarucu salgado:
·         Santarém, com 13.318 arrobas
·         Monte Alegre, com 208 arrobas
·         Alenquer, com 39 arrobas
Tipos de Peixes citados nos períodos históricos:
·         Peixe mapará, que figurava nas exportações de 1863 para a Capital, na forma de peixe salgado com 377 arrobas desse peixe. Pela sua abundância em águas do Estuário Tocantino, onde era encontrado em grandes quantidades pelas baías, rios e igarapés estuarinos, inicialmente esse peixe não era muito apreciado na alimentação ribeirinha, devido a existência de grandes cardumes de peixes que eram considerados mais nobres. Porém, com a escassez destes últimos em águas tocantinas e marajoaras, o mapará passou a fazer parte da dieta alimentar das populações ribeirinhas do estuário tocantino. Seus estoques, pelas grandes pescarias dos chamados “borqueios” estão ficando cada vez mais excassos, ajudados pela construção da barragem da Usina Hidrelétrica de Tucuruí, obrigados os pescadores de igarapé-Miri e Abaetetuba a adotar os chamados “acordos da pesca”, para respeitar o período do defeso do mapará e outros peixes das águas do Baixo Tocantins.
·         Peixe Piramutaba, Embarcações da frota piramutabeira (tipo de pesca industrial existente no estuário amazônico), utilizando-se redes de arrasto de fundo sem portas, sempre contra a correnteza, isto é, no sentido do oceano à foz no período diurno. Piramutaba se alimenta dos seguintes itens alimentares: Equinodermos, Gastrópodes, Bivalves, Cefalópodes, Crustáceos e Peixes Ósseos.
·         Peixe Gurijuba: O peixe gurijuba não era um peixe nobre e praticamente não era usado na alimentação das populações estuarinas, mas esse peixe, que existia em grande quantidade pelas costas estuarinas amazônicas, fornecia um produto valioso que era a grude de gurijuba, que vinha se juntar à grude de outros tipos de pescados para entrar como produto valioso da pauta de exportação nos períodos históricos do Pará, especialmente no Período Provincial e início da Era Republicana. Esse ítem de exportação é citado em 1850, 1870. A extração de grude de gurijuba é uma prática até hoje existente e esse peixe já se encontra em perigo de extinção devido a grude com aplicação em algumas indústrias e como peixe agora usado na alimentação das populações estuarinas amazônicas. Em 1873 foram exportados para fora do Império Brasileiro a quantidade de 18.315 quilos de grude de peixes.
·         Peixe Pirarucu: O grande e majestoso peixe pirarucu sempre foi usado na dieta alimentar das populações indígenas e demais populações estuarinas. Os indígenas descobriram o método da salga da carne desse peixe e, desse modo, foi intensamente usado na exportação para a Capital, Belém, que daí seguia para os diversos pontos de extração do látex de seringueiras e também na alimentação das populações ribeirinhas do Estuário Amazônico, inclusive para o Baixo Tocantins onde era largamente utilizado como iguaria na alimentação cabocla. Esse peixe se tornou raro e sua venda alcançou altos preços nos mercados consumidores e proibitivo para as camadas mais pobres das populações. Eram os comerciantes de regatão de Abaetetuba e Igarapé-Miri que se encarregavam de trazer o pirarucu salgado do Baixo Amazonas e demais áreas de sua maior incidência. Carne de pirarucu, citada na década de 1850, salgada e seca, exportada para a capital.
         Antigas localidades do Vale do Xingu, citadas entre 1764-1769, produtoras de pirarucu salgado: Vila de Gurupá, Veiros, Pombal, Souzel.
         Produtoras de pirarucu salgado nos periodos Provincial: Baixo Amazonas
         ATIVIDADES PESQUEIRAS MAIS RECENTES NO ESTUÁRIO      AMAZÔNICO 
Pesca no Estuário Amazônico
O Estuário Amazônico é considerado uma das regiões mais produtivas do país na pescaria. A pesca nesta região é complexa e é realizada através de vários processos de pescas. A pesca é considerada uma das mais importantes fontes de geração de empregos, renda e alimento. A pescaria no Estuário Amazônico é feita nas costas atlânticas e com rede de malhar, rede de arrasto e pesca por espinhel e são pescados quase 4 dezenas de espécies com valor comercial e pertencentes a mais de 20 famílias e 8 ordens de peixes. Estima-se que a pesca no Estuário Amazônico em 1998 correspondesse a 40% da produção brasileira e tal riqueza faz com que o local seja um grande centro de exploração dos recursos pesqueiros do Brasil.
O Estado do Pará foi responsável pela produção de 88.980 toneladas da pesca extrativa e marinha nos locais de pescaria no Estuário Amazônico, o que lhe assegurou o 2º lugar em termos de volume de pescados.
A pescaria no Estuário Amazônico recai sobre uma série de espécies e os tipos de pesca e as frotas operantes são das mais diversas.
      A Pesca Industrial e a Pesca Artesanal no Pará:
Pescaria da frota industrial:
A grande pesca da frota industrial é melhor equipada e empregava mais de duas mil pessoas e tem como tipo de pesca principal a rede de arrasto, citada em 1998.
Porém a rede de malhar é a mais usada na captura de um maior número de espécies e durante o ano inteiro, seguida pela rede de arrasto, enquanto o espinhel capturou um menor número de espécies.
A pescaria por rede de arrasto apresentou a piramutaba como a principal espécie capturada e a dourada como a 2ª em quantidade de pesca.
As espécies comerciais de pescados mais abundantes foram a piramutaba, a gurijuba, a pescada amarela e os tubarões, sendo responsáveis por mais de 70%  do total de pesca em 2001.
A piramutaba figurava com mais de 70% do pescado pelo método de rede de arrasto, sendo esta, portanto, a espécie-alvo da pescaria industrial, seguido da dourada como espécie acompanhante.
A piramutaba apresenta as maiores capturas no primeiro semestre (abril e maio), durante o período entre estações (chuvosa para a seca)
Na pesca por rede de malhar a pescada amarela apresentou maior volume capturado, seguida da gurijuba. No grupo de pesca por rede, a pescada amarela vem com quase a metade do pescado, tendo a gurijuba como espécie  acompanhante. Para a pescada amarela, as maiores capturas foram registradas em julho, citadas em 2001 e 2002.
Em relação às pescarias com espinhel os tubarões apresentaram maior volume de pesca, enquanto a 2ª espécie de maior captura é a gurijuba.  Na pesca dos  tubarões a uritinga vem como espécie acompanhante.
Para a dourada, as capturas foram maiores no segundo semestre, com picos durante o período de menor pluviosidade (setembro), citada em 2001 e 2002.
 A gurijuba é pescada pela rede de malhar e por espinhel e o pico de sua captura ocorreu no segundo semestre, durante o período de menor pluviosidade (dezembro).
Nas pescarias a pluviosidade mostra ter pouca influência, fato que se deve ser causado pelas  frotas pesqueiras explorarem a abundância do pescado ao longo do ano.
A Pesca Artesanal:
A frota artesanal é feita em pescarias em pequena escala e emprega mais de 70 mi pessoas na Amazônia e tem como tipo de pesca as redes de espera. Para a pescaria de pequena escala são importantes o local de pesca e os períodos sazonais e também são levados em conta os estoques pesqueiros, o período de defeso e o preço, que são fatores que interferem nos modos de pescas. Na região de Santarém a pescaria está influenciada pelo ciclo de vida das espécies-alvo, condições climáticas, ciclo hidrológico e interesse econômico do mercado consumidor. Como na pesca industrial, são também capturadas as espécies: piramutaba, dourada, pescada amarela, uritinga e gurijuba, seguida de outras espécies em menor quantidade. Os tipos de pesca são por rede de malhar, pesca por espinhel citados em 2001 e 2002.
Tipos de pescados na Baia de Marajó:
Na pesca na baía de Marajó em 1985 foram registradas mais de 6 dezenas de  espécies capturadas e em1999 foram registradas mais de 9 dezenas de espécies capturadas e presume-se que o fato se dê pelos hábitos migratórios da maioria das espécies da referida baia e adjacências. No período mais chuvoso elas podem ser capturadas tanto pela frota artesanal como pela industrial, enquanto no período seco a captura se faz pela frota artesanal, pois esta pode atuar  tanto na parte mais interna do Estuário, como nas vias fluviais, para onde essas espécies migram. No Marajó as pescarias mantêm-se constantes durante o ano inteiro e em determinados períodos há uma variação na atividade pesqueira em função da pesca das espécies espécies-alvo e relacionadas com a pluviosidade, fato citado em 2001 e 2002.           A gurijuba é capturada pela rede de malhar e pelo espinhel e em
em 2004 foi citado que essa espécie possui hábitos costeiros e com período de desova durante novembro a março, levando a gurijuba a se aproximar de águas costeiras próximas a manguezais, locais com um menor números de predadores e com maior cuidado por parte dos machos aos ovos e filhotes.
          Em relação à pescada amarela há uma maior abundância desse pescado no segundo semestre. Também a pesca no Marajó é feita por rede de arrasto e com menor produtividade nesse tipo de pesca. São pescadas também a piramutaba, a dourada e outras espécies em menor quantidade. 
          A pesca da piramutaba e da dourada no Estuário Amazônico: 
A piramutaba ocupa lugar de maior importância na pesca no Estuário Amazônico e sempre seguida da dourada. A piramutaba apresentou maiores valores de captura no primeiro semestre do ano. Esta espécie acompanha o desague do rio Amazonas e alcança a parte externa do Estuário, onde é mais capturada pela frota industrial, porém, no mês de maio ela inicia a migração rio acima, ficando, assim, mais suscetível às capturas pela frota artesanal, conforme citação de 1997.
    A dourada:
A dourada apresentou maiores quantidades no segundo semestre, quando os índices pluviométricos foram menores. Esta espécie tem caráter migratório, deslocando-se próximo da superfície. Esta migração à longa distância depende de certos fatores como diminuição da pluviosidade e do nível d'água doce no estuário e a presença do teor salino adequado em certa época do ano que invade o estuário, a partir do fundo. Em contrapartida limita a presença da piramutaba. Desta forma, possivelmente a dourada, que habita em profundidade menor, fica mais tempo disponível no estuário para a pesca industrial. Os picos de captura da dourada ocorrem de maio a setembro.
          A pesca dos tubarões nas costas atlânticas do Estuário Amazônico:
A pesca dos tubarões ocorre desde o início da década de 2000 nas costas atlânticas do Estuário Amazônico, em pesca direcionada e pela frota artesanal e industrial, com as capturas aumentando ao longo dos anos devido à importância comercial e devido o elevado valor comercial das barbatanas de tubarões, o que torna essa pesca tristemente afamada e levada tão somente pela exportação das barbatanas para o mercado asiático em vista do alto valor econômico.
        Outras espécies de pescados: 
A pesca com rede de emalhar, tipo malhadeira, é direcionada à pescada amarela, porém capturando também um grande número de espécies acompanhante, que também são aproveitadas pelos pescadores artesanais, como a gurijuba, a corvina e o camorim, citados em 2003.
     Aves:
Histórico das Aves:
As aves eram caçadas em vista da comercialização de suas carnes ou penas para uso nas antigas canetas-tinteiros, ou como aves da ornamentação ou canoros.
·         Aves silvestres vivas, já citadas na década de 1840, e exportadas em grandes quantidades e usadas como animais da ornamentação.
·         Penas de garças e outras aves, usadas nas escritas de tinteiros das repartições e escolas da Província.

Peles, Couros e Carnes Extraídos do Estuário Tocantino:
·         Peles, nos períodos colonial e provincial do Pará, as caçadas eram intensas no Estuário Tocantino, quando as peles eram exportadas para a Europa para aplicação na indústria dos vestuários ou bolsas de couros finos. Os couros secos e verdes são citados como gêneros da pauta de exportação de 1863-1864, sendo que os couros verdes, especialmente de veados e outros animais tiveram um grande incremento em sua exportação devido a grande extração nas matas e rios estuarinos amazônicos, sendo um dos principais gêneros de exportação desse período com 1,134:000 libras exportadas.
·         Couros de veado, citados na década de 1840, 1870, quando milhares de peles e de diversas espécies de veados eram vendidas ou trocadas com os regateiros em milhares de unidades, e usadas na pauta de exportação da Província.
·         Couros salgados, de animais diversos, citados na década de 1840, eram couros não curtidos e mantidos salgados como forma de conservação nas exportações para a Capital.
·         Couros secos, de animais diversos, citados na década de 1840, eram os couros de animais silvestres abundantes no Estuário Tocantino, e gado vacum, que já estavam devidamente curtidos pela ação dos ventos e calor do sol e prontos para exportação.
·         Couros de bois, vindos das fazendas e sítios do Marajó e Zona Tocantina, para a curtição em Belém nos anos de 1860.
Ainda a extinção das espécies amazônicas:
As causas do desaparecimento das espécies:
Muitas espécies Vegetais e Animais já desapareceram da Terra e outras estão ameaçadas. As causas da extinção das espécies são as mais diversas, como:
·         As mudanças no meio ambiente
·         A falta de alimento para as espécies
·         As dificuldades de reprodução das espécies
·         As mortes naturais por doenças adquiridas no próprio ambiente
·         A ação destruidora do homem, sendo este o principal motivo do desaparecimento das espécies animais e vegetais. A caça e pesca predatória.
O homem, além de lançar na água, no ar e no solo os mais diversos tipos de substâncias tóxicas e contaminadas, também agride o meio ambiente capturando e matando animais silvestres e aquáticos e destruindo matas e floresta.
A seguir informamos as principais ameaças à destruição da fauna e da flora brasileiras. Tomando conhecimento delas, poderemos contribuir para que a natureza seja menos agredida e, assim, ajudar a preservar as espécies.
Algumas espécies animais mais ameaçados de extinção no Estuário Amazônico:
O jacaré é que vem correndo maior risco de desaparecer das áreas estuarinas amazônicas, sendo que no Baixo Tocantins e na Região do Marajó já não mais se avistam jacarés. Antes eram os antigos coureiros, como são chamados os caçadores de jacarés, que matavam esses animais para retirar sua pele que era exportada para o exterior e a carne era abandonada nos banhados. A pele do animal era vendida para a fabricação de bolsas, sapatos, cintos, carteiras, etc.

A extinção de vegetais:
Numerosas plantas brasileiras também estão desaparecendo por vários motivos e todos causados pela ação do homem. Alguns fatores da extinção das espécies vegetais:
        A construção de estradas, onde muitas florestas naturais já foram derrubadas para dar lugar a estradas.
·                        A construção de cidades
·                       As plantações de soja, arroz e outras grandes culturas
·                       A formação das pastagens para criação de gado
·                       O comércio ilegal madeira
           Os incêndios também são causas de destruição de florestas, bosques e matas e muitas vezes os incêndios acontecem por acidente, como um cigarro aceso jogado nas matas, principalmente em épocas de seca. Mas os incêndios são frequentemente realizados propositadamente e isso é comum na floresta Amazônica, onde depois são implantadas as pastagens para a criação de gado.
ÓLEOS, LEITES, RESINAS E AZEITES ANIMAIS E VEGETAIS:
A coleta das sementes oleaginosas foi incrementada no Período Provincial do Pará e no início do século 20, já na Era Republicana tomou novo impulso com a implantação de algumas fábricas de beneficiamento em Belém e outras localidades do Estuário Tocantino, região das ilhas, devido a decadência da produção da borracha.
      Antigas localidades do Vale do Xingu, citadas entre 1764-1769, como produtoras de óleos de copihyba e azeite de andiroba: São João Baptista de Itacuruçá, São João de Veiros, Porto de Moz.
Os maiores exportadores de sementes oleaginosas para Belém eram os seguintes municípios em 1924:
·         Afuá com exportação de 2.800 toneladas de sementes oleaginosas ou 27% das exportações.
·         Macapá com 20% das exportações
·         Mazagão com 12,4% das exportações
·         Chaves com 8,6% das exportações
·         Anajás com 6,3% das exportações
·         Cametá com 4,8% das exportações
·         Alenquer com 4,2% das exportações
·         Quatipuru e Belém com 3% cada
·         Demais munícipios das ilhas do Pará com o restante das exportações de sementes oleaginosas para Belém
Tipos de Sementes Oleaginosas:
·         Óleo de cumaru, extraído do fruto do cumaru e com fábricas em Belém nos anos de 1860.
·         Óleo de ricinio, com fábricas em Belém nos anos de 1860.
·         Mamona, citado na década de 1840, usado na extração de óleo.
·         Carrapato, citado na década de 1840, usado na extração de óleos.
·         Óleo de copahyba, citado na década de 1840, 1870, vindo da árvore copaibeira, árvore que existia em abundância no Estuário Tocantino, que entrou em fase de extinção devido métodos predatórios na extração do óleo (faziam buracos profundos, nos troncos da árvore, extraindo todo o sumo e a árvore morria devido esse método de extração). Além das demais áreas estuarinas, as terras altas dos rios Pacajás e Anapu eram abundantes em ávores de copaibeiras, extintas pela força do machado e do terçado já na 1ª metade do século 19 nas margens desses rios. O óleo de copaíba teve um decrescimento na pauta de exportação do período de 1863-1864. Em 1873 a Província do Pará exportara para fora do Império 18.016 quilos de óleo de copahiba.
·         Óleo de umiry, vindo da árvore umizeiro, precioso óleo que competia com o de óleo de copahyba em valor.
·         Azeite de andiroba que é extraído da semente da andirobeira (Carapa Guianensis), chamado de azeite de andiroba, era um importante produto coletado por milhares de pessoas no Baixo Tocantins e Marajó e em coleta tão intensa que determinou a diminuição drástica da andirobeira em áreas do Estuário Tocantino. O leite de andiroba era coletado e embalados em potes que seguiam aos milhares para a Capital, Belém, onde era quase todo consumido nessa praça. Em 1864 só a Região do Baixo Tocantins exportou para Belém 9.865 potes de azeite de andiroba, resultando em grandes lucros para esses tipos de coletores. O azeite é extraído das amêndoas triangulares encerradas dentro da casca dessa semente, que era encontradas em grande quantidade nas ilhas e várzeas do Estuário Tocantino e, principalmente, no Baixo Tocantins e Marajó, entre os rios Amazonas e Pará. O processo de sua extração em 1864 era muito arcaico e consistia o da maceração das sementes, processo já empregada há dois séculos na Província, onde acontecia a perda de grande quantidade de óleo e a imperfeição do produto, fatores que não lhe permitia obter um preço mais vantajoso no mercado. E esse aperfeiçoamento da produção do azeite de andiroba era necessário devido o início do uso do gás na iluminação das cidades, pois esse era um dos muitos usos que se fazia com o azeite de andiroba, junto com a fabricação de sabão e usos na medicina caseira.
·         Leite da árvore de maçaranduba, que era usado pelos ribeirinhos do Estuário Tocantinos em substituição ao leite de gado no café da manhã. Também esse leite, quando coagulado, tinha variadas aplicações na indústria, inclusive como fornecedora de borracha fina. A borracha do leite coagulado da maçarandubeira já é citada em 1860. Além do leite, a maçarandubeira fornecia frutos comestíveis e madeira, esta exportada em grande quantidade no Período Provincial do Pará.
·         Resina de jutahy (jutahysica), que era extraída da árvore de Jutahy, com aplicação na envernização de louças de barro e das cuias de fabricação artesanal do Período Provincial.
·         Breu, sumo que provinha da árvore breeira, produto citado entre 1764-1769, no Vale do Xingu: localidade de Boa Vista em Gurupá, Porto de Moz.
·         A ucuhubeira é uma árvore das várzeas estuarinas tocantinas existente em algumas variedades e a resina da ucuubeura branca, que é uma resina sebífera, é usada na indústria de velas de cera para iluminação das casas. Semente de ucuhuba eram  exportadas para Belém em grande quantidade e em 1924 a produção foi de 1.101 toneladas.
Os maiores produtores de sementes de ucuhuba:
Alenquer, que foi o maior fornecedor de ucuhuba em 1924
Gurupá, que em 1919 exportou 177 toneladas
Afuá, que em 1920 exportou 307 toneladas
Cametá, que 1920 exportou 510 toneladas de sementes de ucuhuba

SEMENTES:
·         Amendoim, produto citado na década de 1840, em cultura de subsistência e nas grandes safras as sementes eram exportadas para a Capital.
·         Caroço e frutos de inajá, produto citado em 1840, advindo da palmeira Inajazeiro, abundante no Estuário Tocantino e regiões, usado para produzir fumaça na coagulação da borracha.
ALGUNS TIPOS DE FIBRAS, CIPÓS, OURIÇOS, CUIAS E TALAS E ALGUNS UTENSÍLIOS E ARTEFATOS DESSES PRODUTOS:
As Fibras:
Uso das fibras vegetais:
A fibra é extraída de diversas plantas e é utilizada no artesanato de cestos, chapéus, peneiras, esteiras e na fabricação de tecidos, redes, cordas, tapetes e uma infinidade de utensílios ribeirinhos. A fibra é extraída de uma série grande de vegetais como do miritizeiro, do jatobá, do olho-de-boi, do cipó titica e outros cipós amazônicos.
As fibras, talas, folhas, cipós foram produtos de uso múltiplo na cultura e vida ribeirinha, pela fabricação e uso de artefatos variados desses produtos e na exportação nos períodos históricos do Pará. Esses produtos também foram explorados à exaustão e agora experimentam grande escassez nos principais tipos de fibras, talas, cipós.
·         Piaçava, produto citado nos anos de 1840, 1870 e era fibra extraída da palmeira piaçava, esta antes abundante na região do Tocantins e Marajó e exportada em ramas para a Capital para confecção artesanal de vassouras de piaçava. Também eram exportadas já fabricadas no Estuário Amazônico. No período de 1863-1864 a piaçava é citada como gênero de exportação. Em 1873 foram exportados para fora do Império Brasileiro a quantidade de10.703 quilos de piassava
·         Estopa, citado na década de 1840, extraído da casca dos castanheiros e de outras espécies de árvores amazônicas, exportado para a Capital. As antigas localidades do Vale do Xingu são citadas entre 1764-1769 como produtoras de estopa: Porto de Moz, Pombal, Souzel.
·         Chapéus, produto confeccionados em fibras diversas, citado na década de 1840.
·         Redes maqueiras, citadas na década de 1840, confeccionadas artesanalmente em fibras e folhas vegetais pelas populações ribeirinhas do Baixo Tocantins, exportadas para a Capital. A produção de redes já é citada no Vale do Xingu, entre 1764-1769: Boa Vista, localidade de Gurupá.
·         Esteiras, citadas na década de 1840, com várias aplicações como nas paredes, assoalhos, objetos das sestas de dormir, etc.
·         As cuias eram frutos extraídos das variedades de cuieiras do Baixo Tocantins e Marajó. O fruto cuia era cortado ao meio e depois de despolpado era colocado para secar. Depois de secas as cuias eram pintadas e envernizadas com a resina do jutaicica e, desse modo, seguiam para as exportações no Brasil e exterior.
·         A palha era material usado para cobrir as casas e cabanas ribeirinhas

PRODUTOS MINERAIS, MINÉRIOS, OURO E PEDRAS PRECIOSAS:
·         Cal de pedra, cujo produto era usado nas fábricas para ser transformado de “cal” existentes em grande quantidade no leito do rio Tocantins (e outros rios), na forma de cascalhos e outros materiais. O cal tinha largo uso na Província do Pará na pintura de paredes.
·         Pedras de diversos materiais, produto citado na década de 1840, expotado para a Capital.
·         Ouro, metal valioso citado em 1864 na altura das cachoeiras do Rio Pacajá e no alto Rio Anapu.
As Caças e Peles:
As caças existiam em grande quantidade em todo o Estuário Amazônico e que sofreram o processo de caçadas, alguns pelas valiosas peles e outras pelas peles e carnes, entre os quais citamos a grande variedade de veados e pacas, tatus, capivaras, onças, jaguatiricas, espécies de mamíferos aquáticos (peixes-bois, lontras, ariranhas), variedades de lagartos e jacarés (pelas carnes e peles), aves (muitas destas caçadas por vários motivos, como pelas carnes, penas e ornamentação de casas e museus), além da caça das aves canoras da Amazônia, e a caça dos quelônios como tartarugas, jabotis, muçuãs muito apreciados em algumas antigas indústrias e como iguaria da culinária amazônica.
Citamos entre as espécies de caças existentes em grande quantidade e variedade os veados, com algumas já extintas e outras em grande perigo de extinção. As valiosas peles eram exportadas para a Europa nos períodos históricos do Pará para aplicação na indústria dos vestuários ou bolsas de couros finos ou outras aplicações industriais.
Tartarugas, tracajás, jabotins, citados na década de 1840, existentes com abundâncias no Estuário Tocantino, muito usados como alimento e remetidos vivos para a Capital em grande quantidade.
Em 1873 os couros verdes (276 toneladas) e os couros secos (9,39 toneladas) foram exportados para fora do Imperio Brasileiro.

·         PECUÁRIA NO ESTUÁRIO AMAZÔNICO:
A Pecuária no Baixo Amazonas e no Arquipélago do Marajó:
A pecuária é citada como atividade econômica desde a década de 1840, praticada no Estuário Amazônico, especialmente na criação de gado vacum e cavalar nos campos da Ilha do Marajó e outras áreas amazônicas. O gado era o mais rústico possível, pé duro e facilmente adaptável nos campos do Marajó e seus alagados, quando abasteceu por longas décadas o mercado da Capital e dos outros municípios ribeirinhos. Abaetetuba já possuía algumas fazendas com criação de gado vacum, cavalar os tempos provinciais já existia a inconveniência do roubo de gado através de vários meios, sendo um desses o envenenamento pela planta assacu, quando o gado ia beber água nos lagos, igarapés e córregos da região.
O gado vacum é citado na década de 1840, vindos para a Capital dos campos do Marajó, Baixo Tocantins, rio Amazonas e para a devida engorda e posterior retalhamento e venda nos talhos do Matadouro do Maguari e demais praças. No Marajó, devido o gado ficar solto nos campos dessa ilha, acontecia o generalizado roubo de uma grande quantidade de reses dos rebanhos espalhados por toda a ilha.
As fazendas de gado pertenciam a particulares, ordens religiosas e ao Tesouro Real. Neste último caso eram duas as chamadas Fazendas Nacionais de Gado, a de Arary e a de São Lourenço, pertencentes ao Fisco e ambas situadas na Ilha de Marajó.
·         Outros Animais da Pecuária Marajoara e Tocantina:
Além do gado vacum e cavalar, existiam outras fazendas e sítios nas terras do Marajó e Zona Tocantina com criações de porcos, ovinos, caprinos cuja criação visava o mercado da Capital e arredores. A mão-de-obra escrava era indígena e negra, que foi largamente utilizada pelos criadores e fazendas dessas regiões.
Além da venda dos animais para abate, muitas fazendas do Marajó e outras áreas amazônicas  também se dedicavam nas atividades e vendas de couros, chifres, café, milho, arroz, engenhos de cana-de-açúcar, cacau, algodão, peixes secos e salgados e peles de animais silvestres.
Os Maiores Produtores de Gado no Marajó no Período Provincial do Pará em 1840:
·         Afuá
·         Anajás
·         Santa Cruz do Arari
·         BREVES
·         MUANÁ
·         Soure
·         Cachoeira do Arari
·         Chaves
·         PORTEL
·         Anajás
Os maiores exportadores de cabeças de gado vacum no período fical 1863-1864 na ProvÍncia do Pará:
·         Marajó, com13.318 cabeças
·         Monte Alegre, 208 cabeças
·         Alenquer, 39 cabeças
Os maiores produtores de carne seca e de moura do mesmo período:
·         Santarém, 2.620 com arrobas
·         Marajó, com  1.668 arrobas
·         Óbidos, com 2.376 arrobas
Alguns Produtos Vindos do Gado Vaccum que Eram Comercializados nos Períodos Provincial e Republicano do Pará:
·         Carne seca, salgada, citada em 1835 e que foram fundamentais na alimentação das tropas militares e dos revoltosos cabanos que perdurou até o ano de 1840 e a carne seca é citada em 1870 como ítem da produção e consumo na Província do Pará. Carne salgada de gado bovino, citada a partir da década de 1840, vindas do Marajó e das fazendas do rio Amazonas, exportada para a Capital. Se inclui na carne seca a de outros animais de caça e aves do Estuário Tocantinio.
·         Ossos de gado, citado na década de 1840, exportados dos municípios do baixo Tocantins e região do Marajó.
·         Sebo bovino e outros animais, citados na década de 1840, produzidos na Ilha do Marajó, Baixo Tocantins, que eram exportados para as fabricas de Belém.
·         Couros de bois, vindos das fazendas e sítios do Marajó e Região Tocantina, para a curtição em Belém nos anos de 1860.
O Açaí do Baixo Tocantins e Marajó, Como Nova e Promissora Atividade Comercial:
O açaí, fruto vindo da palmeira açaizeiro, já era usado como alimento das populações ribeirinhas do Estuário Amazônico desde o Período Provincial do Pará.............
Atualmente, em Abaetetuba, Igarapé-Miri, Cametá, região do Marajó e outras localidades do Estuário, se descobriu a riqueza que o açaí nativo pode proporcionar às populações ribeirinhas, não só na predatória indústria do palmito, mas também nas diferentes aplicações que esse produto vem tendo na indústria de cosméticos, bebidas energéticas, adubos, medicina e outras aplicações que o açaí proporciona em muitos segmentos da industrialização. Ele está se transformando no “ouro negro” do Estuário Tocantino. O mesmo caminho vem sendo seguido por outros produtos como o bacuri, o cupuaçu, o miriti, também com aplicações variadas.
·         O Miriti do Estuário Tocantino:
A madeira leve ou polpa das folhas do miritizeiro, que aqui é chamado miriti, estão elevando o nome de Abaetetuba no cenário regional e nacional como a Capital Mundial do Brinquedo de Miriti, devido a intensa atividade de confecção artesanal de variados tipos de brinquedos de miriti, através de centenas de famílias que já sobrevivem dessa atividade. Os brinquedos de miriti, belos e coloridos, que representam os motivos da cultura abaetetubense e amazônica e outras criações, se transformaram no cartão postal de Abaetetuba no turismo local, no Círio de Nazaré em Belém e que possuem inúmeras postagens aqui no Blog do Prof. ADEMIR ROCHA (acessar Brinquedos de Miriti).
Aproveitamentos do Miritizeiro:
O uso das partes da palmeira miritizeiro, árvore endêmica nas várzeas do Estuário Tocantino já foram objeto de muitas postagens pelo Blog do ADEMIR ROCHA. Porém continuamos a acreditar no grande potencial que essa planta representa no seu aproveitamento sustentável e no aproveitamento dos inúmeros recursos que suas partes ainda podem representar para as economias dos muncípios estuarinos tocantinos, especialmente no aproveitamento que a massa do fruto miriti e do óleo da semente de miriti podem representar na economia desses municípios. E a esse respeito encontramos a interessante matéria abaixo que trata dessa questão.
Fonte da parte da matéria abaixo, que fala do aproveitamento e qualidades mais recentes do miritizeiro e seu fruto e semente: www.ufpa.br/beiradorio
·         Óleo de Miriti
O miritizeiro (Mauritia flexuosa) é uma planta abundante na região de Abaetetuba. Sua altura varia de 30 a 50 metros. É uma árvore familiar de múltiplo uso: meio de subsistência, cestaria, material de artesanato, complemento na construção de habitações, fruto de agradável sabor, com inúmeras possibilidades. A macia polpa ou bucha da haste da folha da palmeira é o suporte para fabricação do tradicional Brinquedo de Miriti, joia do artesanato artístico, que é símbolo de Abaetetuba.
Características físicas dos óleos da Amazônia são pesquisadas na UFPA. Tatiana Ferreira: www.ufpa.br
Apesar de sua utilização crescente pelas indústrias de cosméticos e fármacos, os óleos provenientes de produtos da Amazônia ainda são pouco conhecidos. Na UFPA, os primeiros estudos começaram nas áreas de Química e Engenharia Química. Mais recentemente um grupo de pesquisadores do Departamento de Física, constituídos pelos professores Petrus Alcantara Junior, Jordan Del Nero e Sanclayton Moreira, resolveu encarar o desafio e formou o Grupo de Física de Materiais da Amazônia (GFMA). Eles realizam um trabalho estreito com pesquisadores que já vinham decifrando as características químicas desses produtos e mantêm um grupo de cerca de 20 alunos entre mestrandos e estudantes de iniciação científica.
Qualidades preciosas:
Dentre os óleos amazônicos que vêm sendo estudados na UFPA, o Buriti (Mauritia flexuosa ), é um dos que mais chamam atenção por possuir grande quantidade de componentes de alto valor agregado, como os carotenóides. Muitos desses compostos se convertem em vitamina A - esse tipo de vitamina não pode ser encontrado nos alimentos, sendo metabolizada pelo próprio organismo humano. Além disso, pesquisas na área de biologia vêm demonstrando que os carotenóides atuam como antioxidantes, protegendo as células e ajudando a prevenir algumas doenças crônicas.
O óleo de miriti também é rico em ácido oleico, um tipo de ácido graxo monoinsaturado muito presente na dieta dos povos mediterrâneos.

A NAVEGAÇÃO NA AMAZÔNIA NOS PERÍODOS HISTÓRICOS DO PARÁ:
·         Atividades da Navegação Marítima, Costeira e Fluvial no Pará:
A navegação é uma das antigas atividades em todo o Pará e começou através dos conquistadores em suas lutas de conquistas, colonização e expulsão de invasores estrangeiros do Pará colonial. Desse modo foram expulsos os franceses, ingleses e holandeses que tenatavam se estabeler em terras do antigo Grão-Pará a partir de 1616, ano de fundação da cidade de Santa Maria de Belém do Grão-Pará ou bem antes conforme atestam outros historiadores. Eram os navios de guerra que as tropas militares usavam na conquista de territórios indígenas e na expulsão dos invasores estrangeiros, inclusive com muitas frotas militares dos colonizadores portugueses saindo da histórica cidade de Cametá, com tripulação formada por poucos soldados, sendo a maioria das tropas formadas por índios das tribos amigas ou índios cativos, sendo os índios considerados exímios guerreiros nessas lutas de conquista de Pedro Teixeira e outros capitães-generais ou oficiais das tropas portuguesas.
Porém, os próprios índios, que habitavam as margens dos rios e baías do Estuário Tocantino ou Amazônico, já possuíam suas pequenas embarcações feitas a partir dos troncos de grandes árvores, barcos que depois evoluíram para as igarités, botes, esclares e batelões de muita utilidade para esses nativos das terras paraenses, especialmente na atividade pesqueira nos leitos dos igarapés, rios e baías do Estuário.
Já no final do Período Colonial do Pará as atividades marítimas ou fluviais se faziam presentes através dos grandes navios da navegação costeira, marítima ou fluvial do Grão-Pará, devido a necessidade do transporte de uma série grande de produtos extraídos das matas e corpos d’água e dos antigos engenhos de fabricação de cana-de-açúcar, do cacau e uma série enorme das chamadas “drogas do sertão”, que eram exportados para Portugal através dos portos de Belém.
As embarcações dos colonos portugueses ou das linhas de navegação de empresas privadas, estrangeiras ou nacionais, foram essenciais na exportação de açúcar de cana, da borracha, da castanha-do-pará, que por longas décadas sustentaram a economia do Pará, através da exportação massiva desses e outros produtos extraídos das matas amazônicas, inclusive também das matas do Estuário Tocantino. Neste Estuário navegaram navios das frotas dos comandos militares da Era Colonial (a partir de 1616) e de muitas companhias, nacionais ou estrangeiras que se encarregavam de coletar os produtos dos corpos d’água do referido Estuário, localizados em portos das localidades então chamadas freguesias ou lugar. Já no período Provincial (a partir de 1822), com o surgimento de muitas freguesias ou lugares habitáveis, eram as pequenas embarcões que adentravam as baías, rios, igarapés e furos para realizar o antigo comércio de regatão, pela necessidade que os habitantes das localidades sentiam de determinados produtos, mercadorias ou gêneros que só podiam chegar nessas localidades através dos barcos desse tipo de comércio. E os ribeirinhos, em troca dos produtos de suas necessidades adquiridos dos regateiros, e entregavam aos mesmos os produtos do extrativismo que faziam nos rios e matas das florestas do Estuário Tocantino ou Amazônico.
E, com o passar do tempo, já a partir dos anos de 1840, eram principalmente as canoas grandes à vela que se encarregavam de realizar o Comércio de Regatão, agora com a presença massiva de comerciantes de Igarapé-Miri, Marajó e Abaetetuba, comércio que depois evoluiu no transporte do produto desse comércio através dos chamados barcos-motores, comércio que se solidificou devido a indústria canavieira dos anos finais do Século 19 até os anos finais do Século 20.
Em 1864 a navegação pelo Estuário Tocantino, desde a barra do Rio Tocantins na Baía do Marajó até a pequena Ilha dos Santos, às proximidades das corredeiras de Tapayunaquara, era plenamente livre em uma extensão de aproximadamente 140 milhas. E eram 2 viagens mensais nos barcos à vapor entre a Capital da Província e a cidade de Cametá e ainda existiam as viagens feitas através de barcos, canoas à velas e botes, transportando os produtos naturais. A viagem pelo barco á vapor ocorriam de 15 em 15 dias, demorando 36 horas, quando regressava para Belém, aportando na ida e na volta na Freguesia de Abaeté e na Fazenda de São Domingos. E o número de embarcações à velas temcrescido desde 1860, onde aproximadamente 30 canoas à velas estão permanentemente em circulação pelas águas do Estuário. No Alto Tocantins e Araguaia são os botes de Goiás que fazem as difíceis viagens entre corredeiras de São João do Araguaia para Goiás.

Rotas, Portos, Rios Navegáveis da Navegação Fluvial:
Tipos de Navegação no Ciclo da Borracha e dos Produtos das Coletas:
·         Fluvial
·         Costeira
·         Marítima
NAVEGAÇÃO FLUVIAL:
Navegação Fluvial, era a que se processava pelas vias fluviais do entorno de Belém, pelo  interior da Província e espaços interiores do Estuário Amazônico.
As principais vias navegáveis da Navegação Fluvial no Estuário Tocantino:
·         Rio Amazonas
·         Rio Tocantins
·         Rio Pará
·         Rio Capim
·         Rio Moju
·         Rio Acará
·         Rio Guamá
·         Rio Caraparu
·         Rio Anapu
·         Rio Carnapijó
·         Baía de Santo Antônio
·         Baía do Sol
·         Baía de Igarapé-Mirim
·         Furo do Arrozal
·         Rio Maiuatá
·         Baia do Marajó
·         Baía de Guajará
·         Rio Pacajá
Principais localidades da antiga Navegação Fluvial no Estuário Amazônico:
As localidades citadas abaixo participaram ativamente na antiga Navegação Fluvial no Estuário Amazônico, participando dos diversos ciclos econômicos, especialmente do Ciclo da Borracha e, algumas delas, conseguiram se constituir em municípios existentes até os tempos atuais.
Localidades de rios maiores, plenamente navegáveis:
·         Cametá
·         Barcarena
·         Igarapé-Miri
·         Abaeté
·         Marajó
·         Ilha Conceição
·         Vila do Conde
·         Vigia
·         Colares
·         São Caetano
·         Cintra
·         Salinas
·         Cairary
·         Maguary.
Localidades de rios menores:
·         Baião
·         Oeiras
·         Portel
·         Melgaço
·         Ilhas menores.
·         O chamado Canal de Igarapé-Miri se mostrava importante elo de ligação entre os rios Moju e Miritipucu, às proximidades da Vila de Igarapé-Miri, mas somente navegável por canoas à vela, não permitindo a navegação pelos grandes barcos-vapores das companhias que trafegavam pelo Baixo Tocantins, que seria importante no trânsito fluvial entre Belém, Cametá e demais municípios dessa região. Sua ampliação foi cogitada por vários governos provinciais.
Órgãos e Estruturas de Apoio da Navegação à Vapor, Costeira e Marítima no Estuário Tocantino:
·         Capitania do Porto, para orientar o movimento do porto de Belém e fiscalização dos faróis e faroletes da Província.
·         Bóias, para assinalar aos navegantes o canal de entrada nos portos perigosos, devido a presença dos baixios perigosos às grandes embarcações.
·         Faroletes, do Capim na ilha de mesmo nome.
·         Faróis: em Salinas
·         Arsenal de Marinha
·         Estaleiros da construção naval em Belém e os do interior
·         Portos de Belém e os do interior do município
Algumas localidades com instrumentos de apoio à navegação no Pará:
·         Ponta do Goiabal, nas ilhas Jutahy
·         Baía do Guajará
·         Furo do Arrozal
·         Rio Carnapijó
As pequenas embarcações da Navegação Fluvial:
Algumas embarcações pequenas que baixavam o Rio Tocantins no Estuário Tocantino, no transporte de cargas, paravam pelas comarcas, principalmente de Cametá, Abaeté, Igarapé-Miri, Moju e regiões do Marajó, Capim, Guamá e Acará e eram principalmente. Outros pontos por onde passavam as pequenas embarcações: Baião, Oeiras, Portel, Melgaço, Breves, e algumas ilhas e lugares vizinhos a esses, como:  Caraparu, Acará, Anapu, Carnapijó, Barcarena, Ilha da Conceição, Vila de Conde, Beja, Cairary, Maguari, Vigia, Colares, São Caetano, Cintra, Salinas,  e pelas baías de Santo Antonio, do Sol, que eram os principais lugares de navegação.
As embarcações maiores da Comarca de Cametá eram empregadas no intenso comércio diretamente entre a Capital e a cidade de Cametá e outras localidades, que se encarregava de recolher os produtos da agricultura e das coletas das diversas localidades vizinhas.
As pequenas embarcações dos tempos mais atuais usadas no transporte de cargas e passageiros:
·         Cascos, pequenas canoas de madeira, usados em locomoções de pequenas distâncias ou como reboques de outras embarcações maiores.
·         Ubás, pequenas embarcações construídas em cascas de árvores.
·         Baleeiras, embarcações pequenas em madeira, que chegavam a ter 10 remadores, citadas nos anos de 1870, 1880.
·         Canoas, de vários tipos, que eram embarcações pequenas em madeira, que chegavam a ter 6 remeiros, citadas nos anos de 1870, 1880.
·         Pequenas e grandes canoas à vela. As pequenas eram geralmente usadas nas atividades de pesca.
·         Montarias que eram as antigas e pequenas embarcações construídas em madeira, citadas nos anos de 1870, 1880, navegando pelos rios e igarapés da Província do Pará.
·         Igarités, citados nos anos de 1850, muito usadas no transporte de pessoas e coleta de produtos na era provincial do Pará e usando contra-mestre e remeiros escravos indígenas ou negros.
·         Escunas
·         Barcas-faróis, citadas nos anos de 1870, eram embarcações à remo usadas na Capitania do Porto ou Arsenal de Guerra, que exigiam algumas dezenas de remadores e patrões nos serviços de orientação, salvamentos e outros serviços pelos rios navegáveis da Província.
·         Gaias, embarcações usadas nas viagens pelo Rio Tcoantins, via Cametá, que na descida dp rio traziam cargas de couros secos e espichados e na subida levavam sal, louças, ferragens, tecidos e bebidas, em viagens à remo, com muitas dificuldades por causa das cachoeiras, pedras e corredeiras desse trecho de rio.
·         Batelões que eram embacações muito usados pelos engenhos no transporte dos feixes de cana-de-açucar, frasqueiras de cachaça, lenha, carvão, farinha de mandioca e outros produtos ribeirios. Não eram apropriadas para o transporte de pessoas. A maioria dos batelões eram movidos à remos de faia ou grandes varas, porém existiam os movidos à velas.
·         Vigilengas, embarcações muito comum na Região do Salgado do Pará.
·         Botes que eram pequenas embarcações citadas nos anos de 1860, usados nos grande barcos para os casos do deslocamento de pessoas e pequenas quantidades de mercadorias dos barcos para as cidades e vice-versa e também usados pelos mineiros do rio Tocantins e também usados nas travessias das cachoeiras dos rios Tocantins e Araguaia.
·         Escaleres, eram pequenas embarcações movidas à remo ou vela e que exigiam a presença dos catraieiros ou barqueiros,  que dirigiam sentados em bancos da proa da embarcação, daí, também, o nome de proeiros. O nome catraia era dado a alguns tipos de pequenos barcos. Em 1850 eram necessários 6 remeiros na tripulação de um escaler.
·         Rabetas que são pequenas embarcações mais recentes, canoas motorizadas e muito rápidas, usadas no transporte de pessoas e mercadorias. Usualmente são fretadas por terceiros na visita ou atividades passageiras nas localidades ribeirinhas do Estuário Tocantino.
·         Bajaras, (barcos popopôs, é nome popular dessas embarcações, devido o ruído do motor)
·         Barcos-motores (estes de maior porte e navegáveis apenas em águas mais profundas que as dos igarapés e furos) que constituem a principal forma de transporte e meio das relações comerciais entre os agricultores, pescadores e extrativistas, com o meio urbano. As viagens, que às vezes ultrapassam dez horas, são momentos de contemplação, solidariedade, troca de informação, conto de casos, fofocas, galhofas diversas que entretém os viajantes nas rotas das vias navegáveis do Estuário Tocantino.
Nomes de Algumas Embarcações na Navegação Fluvial Através dos Anos:
·         Vapor “Marajó”, com inicio das viagens em 1853 entre Belém e a Capital do Amazonas e a navegação por canoas à remo e ,uitas dificuldades de navegação.
·         Navio à vapor “Anajás”  que nos anos de 1870 fazia a rota do Marajó.
·         Navio cargueiro “Rio Moju”, movido à vapor, posteriormente chamado de “Coronel Sampaio”, da família Pinheiro Sampaio de Igarapé-Miri, que fazia a rota Igarapé-Miri-Belém-Igarapé-Miri nos anos de 1940, 1950.
·         Barcos-motores “Nova Arca”, “Nossa Araca”, “Arquinha”, “Expedicionário”, de Nóe Guimarães Rodrigues, natural de Abaetetuba, que faziam o comércio de regatão pelo Estuário Tocantino e Rio Amazonas e até o Baixo Amazonas, nos anos de 1940, 1950, 1960.
·         Navio à vapor “Rio Acre”, de Raimundo Solano de Albuquerque/Didi Solano, natural de Abaeté, que fazia comércio na rota de Abaeté-Belém-Abaeté, nos anos de 1940, 1950.
·         Canoa grande á vela “Cidade de Abaeté”, que que fazia a rota Abaetetuba-Belém-Abaetetuba no transporte de cargas, mercadorias e pessoas.
·         Navio 3 de Outubro, da extinta empresa Serviços de Navegação da Amazònia, dos anos de 1940, 1950.
·         Navio “Carisma”, que fazia a rota Abaetetuba-Belém-Abaetetuba, nos anos de 1940, 1950.
·         Canoas grandes à vela “São Benedito”, “São Benedito II” de Jerônimo Rodrigues e filhos, natural de Igarapé-Miri, que nos anos de 1940, 1950, fazia comércio de regatão no rio Capim, Salgado, Ilha do Marajó.
Algumas Empresas da Navegação Fluvial:
·         Companhia de Navegação e Comércio do Amazonas, citada nos anos de 1850, 1870, com 8 vapores bem equipados, com acomodações para passageiros e cargas, contratada pelo governo imperial e, posteriormente pelos governos provinciais, fazendo o serviço de navegação com 6 e, posteriormente, 9 linhas fluviais e mais a linha para a capital do Amazonas, recebendo subvenção dos cofres da Província pelo serviço, em substituição às canoas à vela que faziam o transporte de mercadorias e pessoas. Essa companhia possuía ponte com trapiche na Capital, dotado de oficina bem aparelhada para consertos e fabricação de embarcações e a oficina com aprendizagem na profissão de mecânico para conserto de máquinas em 1870.
·         Companhia Fluvial Paraense, de João Augusto Correa, com 7 linhas de navegação, com os vapores Moju e Guamá, também fazendo a navegação nas linhas fluviais, uma entre o porto da Capital e os portos de Cairary, Acará e Tupinambá no rio Guamá, com escala em Bujaru e São Domingos, São Miguel, Irituia e com duas viagens por mês em 1878, fazendo escala na Boca do Jambuaçu, Boca do Canal de Igarapé-Miri, Fazenda do Major Miranda e o porto de Cairary, em viagens de 20 horas e à 12  milhas/hora a favor da maré. Outra linha da Capital a Igarapé-Miry, tocando os vapores em Abaeté, e outra linnha da Capital a Baião, tocando em Cametá, Tocantins e Mocajuba, com subvenção anual pelos cofres da Província, conforme contrato.
·         Companhia do Marajó, criada em 1873, com 4 vapores, para fazer o transporte de gado do Marajó para a capital.
·         Foi a partir do ano de 1858 que os particulares iniciaram a aquisição de barcos vapores para seus negócios particulares ou para uso nas linhas do Estuário Tocantino.
O PORTO DE BELÉM:
·         A partir do período colonial do Pará o porto de Belém começou a se tornar importante na rota dos navios e demais embarcações, no transporte de açúcar, cacau e outros produtos do extrativismo. Na era provincial, devido o Ciclo da Borracha, o porto de Belém se tornou importante como escoadouro da borracha e também de outros produtos advindos do extrativismo, da pecuária e de alguns produtos da agricultura e da incipiente indústria da Província. O porto recebia os navios vindos de diferentes praças da Europa e Estados Unidos que traziam os produtos importados pelo Governo Provincial e particulares, como levavam daqui as preciosas cargas de borracha e outros produtos do extrativismo. E também o Porto de Belém era usado para os serviços de carga e descarga das embarcações locais e regionais. E ainda, o Porto de Belém era usado pelas embarcações do Arsenal de Marinha e do Arsenal de Guerra nos serviços de defesa das costas e inspeções e controles da navegação. Além do Porto de Belém existiam muitos outros portos ou trapiches que também atendiam as demandas particulares a navegação da Capital e também existiam os demais pequenos portos ou trapiches em algumas localidades mais importantes, que atendiam os navios e outras embarcações à serviço da Província ou particulares.
·         Nomes de Alguns Barcos, Vapores, Navios Que Circulavam Pelo Estuário Tocantino, Rio Amazonas e Demais Rios
·         Eram navios à velas ou navios à vapor que faziam os grandes percursos no Estuário Tocantino, pelo Rio Amazonas e seus afluentes e nas rotas com os demais estados brasileiros costeiros e internacionais. Em 1874 eram 187 navios à vapor e 155 navios de vela que faziam essas linhas locais, nacionais e internacionais. E as embarcações menores existiam às centenas em cada região da Província e, posteriormente, Estado do Pará. Os navios das empresas nacionais e internacionais tinham como parada obrigatória o porto da Capital. Além das embarcações das empresas e de particulares, existiam as embarcações militares à serviço do Arsenal de Guerra e do Arsenal de Marinha, fazendo os serviços de fiscalização e inspeção de navegabilidade e da frota pública e particular que faziam as linhas pela Bacia Amazônica.
A NAVEGAÇÃO COSTEIRA:
A Navegação Costeira era realizada pelas costas da Província através de embarcações vindas de distantes portos do Pará, Amazonas, Amapá e exterior.
Barcos da Navegação de Cabotagem nos Portos da Província do Pará e Outros do Império:
·         Escunas
·         Brigues-escunas
·         Hiates
·         Patachos
·         Sumacas
A navegação costeira à vapor do Pará era estabelecida principalmente com os estados do Maranhão e Ceará, através da Companhia Costeira do Maranhão e outras companhias na navegação costeira da Província.
A NAVEGAÇÃO MARÍTIMA:
Navegação Marítima ou Transatlântica era a navegação internacional que precisava atravessar o Oceano Atlântico em direção à Europa e Estados Unidos. Eram inúmeros portos da Europa e Estados Unidos que mandavam suas embarcações para recolher borracha e os produtos das coletas pelos portos de Belém e Manaus ou eram embarcações abarrotadas de produtos industrializados e materiais que abasteciam as praças de Belém e Manaus.
Portos estrangeiros:
Alguns portos estrangeiros citados em 1848 onde chegavam os produtos exportados pela Província do Pará e, posteriormente, Estado do Pará, inclusive muitos produtos vindos do extrativismo animal e vegetal praticado intensamente no Estuário Amazônico, onde a então Região das Ilhas do Pará e a Zona Tocantina em geral  tinha participação ativa na exportação e muitos produtos, especialmente borracha, castanha-do-pará, madeiras, peles e outros produtos:
Londres, Liverpool, Guernessey, Havre, Nantes, Marcile, Cayenna, Cette, Lisboa, Porto, Ilha de Maio, New York, Salem, Cadix, Antuerpia, Gênova, Gibaltrar.
Eram 77 navios fazendo essas rotas, de cujos portos chegavam também os produtos importados pela Província que abasteciam a praça da Capital e de lá eram distribuídos para as demais cidades, vilas e freguesias desse tempo espalhadas pelo Estuário Tocantino, que ainda eram bem poucas localidades.
Os navios estrangeiros eram galetas, barcas, galeras, brigues, polocas, patachos, brigues-escunas, vapores, escunas vindos de países como Inglaterra, Dinamarca, França, Portugal, EEUU, Brasil, Hamburgo e Belgica, entre outros.
Os menores navios eram os patachos, brigues, escunas, barcas e galetas e os maiores eram os patachos, brigues-escunas e galera, alguns chegando a 1.000 ton. de cargas.
Em 1883 eram 179 navios à vela, sendo 22 nacionais e 157 estrangeiros, e 184 navios à vapor, sendo 5 nacionais e 127 estrangeiros, fazendo o transporte de mercadorias no movimento de  importação e exportação do Pará.
TIPOS DE EMBARCAÇÕES DOS PERÍODOS HISTÓRICOS DO PARÁ:
Nos períodos históricos do Pará foram muitos os tipos de embarcações usadas nos mais diferentes serviços pelas vias navegáveis do Estuário Amazônico e Oceano Atlântico. Alguns Tipos de Embarcações Usadas nas Navegações Fluvial, Costeira e Marítima:
Navios de Guerra da Força Naval da Província em 1848, 1858:
·         Escunas
·         Brigues-escuna
·         Patachos
·         Corvertas
·         Brigues
Barcos da Navegação de Cabotagem em 1848:
·         Escunas
·         Brigues-escunas
·         Hiates
·         Patachos
·         Sumacas
Barcos da Marinha de Guerra, navios de guerra, citados nos anos de 1840 em diante:
·         Brigues
·         Escunas              
·         Brigues-escunas
·         Vapores de guerra
·         Corvetas, inicialmente construídas em madeira, à vapor, com máquinas com cilindros de um ou 2 eixos, força de 220 cavalos-vapor e com rodas na proa, citadas nos anos de 1870.
·         Galeras
·         Canhonheiras, inicialmente construídas em madeira, à vapor, com máquinas de 60 cavalos-vapor de potência, com cilindros de um ou 2 eixos e com rodas e hélice na proa, citadas nos anos de 1870.
·         Grandes Barcos Usados no Transporte de Cargas e Passageiros:
·         Barcos vapores, nome generalizado que se dava às embarcações movidas à vapor, citado nos anos de 1880. Eram, geralmente, construídos em madeira, e nesses anos já começaram a aparecer vapores construídos em ferro, vindos dos países estrangeiros que faziam comércio com a Província.
·         Paquetes, barcos à vapor, citados nos anos de 1880.
·         Galeras, embarcação à vapor, com grande porão para transporte de cargas, citadas nos anos de 1880.
·         Brigues, barcos à vapor com capacidade de carga de até 400 toneladas.
·         Bergatins
·         Barcas
·         Alvarengas, construídas em ferro, empregadas nas cargas e descargas de mercadorias dos navios e transporte de cargas, como sacas de cacau e outras, citadas nos anos de 1870, 1880
·         Patachos, barcos à vapor com com grandes mastros e capacidade de até 200 toneladas de carga.
·         Polacas
·         Iates
·         Lanchas à vapor, citadas nos anos de 1870.
·         Chalanas, citadas nos anos de 1870.
·         Sumacas
·         Vapores (barcos à vapor), eram os barcos usados nas linhas tocantinas, citados na década de 1840 em diante, com duas viagens mensais pelo Baixo Tocantins, com paradas em Cametá, Abaeté, Igarapé-Miri, Moju, Cairary, no transporte de mercadorias, produtos do extrativismo e pessoas, com destino à Capital. Alguns vapores de cargas, com até 3 pavimentos. Quando alguns vapores eram usados no transporte de gado bovino só carregavam até o limite de 100 cabeças de gado dos portos intermediários com destino à Capital. Esses barcos-vapores eram de propriedades de algumas companhias com que o Governo Imperial e, posteriormente os governos provinciais, estabeleciam os devidos contratos de navegação e serviços pelos diferentes tipos de navegação e de acordo com a capacidade das vias navegáveis do Estuário Tocantino. A inspeção das vias navegáveis, dos instrumentos de apoio à navegação e o cumprimento dos contratos eram feitos pela Inspetoria do Arsenal de Marinha, com sede na Capital. Era através desses tipos de embarcações que aconteciam as comunicações da Capital com as mais importantes localidades ribeirinhas do Baixo Tocantins e outras regiões do Pará. Tonelagens dos Vapores: 60 à 220 cavalos-vapor.
Subvenções para as companhias de navegação na Província do Pará:
As companhias de navegação trabalhavam no transporte de gêneros e pessoas por toda a Província do Pará e recebendo altas subvenções anuais pelo serviço prestado através de contratos de 10, 15, 20 e até 30 anos de contrato. A companhia que fazia a linha do Marajó recebia subvenção anual de 60:000$000 réis em um contato de 10 anos. Linhas menores recebiam 6:000$000, 10:000$000, 30:000$000 réis anuais por prazos de 7, 10, 12 ou 30 anos de contrato. As companhias, de acordo com as distâncias, faziam uma, duas ou três viagens mensais para as localidades mais próximas ou 5, 6 anuais para as localidades mais distantes.
Portos estrangeiros:
No período de 7/1848 a 6/1849 os navios nas modalidades de barcas, galeras, brigues, goletas, patachos, brigues-escunas desembarcaram no Porto de Belém procedentes dos seguintes portos estrangeiros na navegação transatlântica:
·         Londres com barca de 199 toneladas
·         Liverpool com 1 galera de  535 tonelas, 3 barcas com capacidade total de 708 toneladas, 3 brigues com capacidade total de 868 toneladas.
·         Hartlepool com 1 barca de 111 toneladas
·         Guernessey 1 barca de 197 toneladas
·         Havre com 1 galera de 344 toneladas, 1 barca de 176 toneladas e 3 brigues com capacidade total de 494 toneladas.
·         Nantes com 1 barca de 177 toneladas e 2 brigues com capacidade total de 217 toneladas.
·         Marseile com 2 brigues com capacidade total de 316 toneladas
·         Cayenna com 1 brigue de 182 toneladas e 2 goletas com capacidade total de 85 toneladas.
·         Cette com 1 brigue com capacidade 108 toneladas
·         Lisboa com 1 polaca de 168 toneladas, 1 patacho de 140 toneladas, 4 brigues com capacidade total de 711 toneladas e 6 barcas com capacidade total de 1.512 toneladas.
·         Porto com 7 brigues com capacidade total de 1.315 toneladas
·         Ilha de maio com 1 brigue-escuna de 190 toneladas
·         New York com 1 barca de 194 toneladas, 1 barca à vapor de 715 toneladas, 10 brigues com capacidade total de 1.634 toneladas, 1 brigue-escuna de 149 toneladas, 1 brigue-escuna de 206 toneladas e 1 patacho de 139 toneladas.
·         Salem com 1 brigue de 161 toneladas e 12 patachos com capacidade total de 1.662 toneladas.
·         Cadix 2 patachos de capacidade total de 265 toneladas
·         Antuerpia com 1 escuna de 130 toneladas
·         Genôva com 1 brigue de 133 toneladas
·         Gibraltar com 1 patacho de 78 toneladas
Linhas:
Em 1864 os paquetes das linhas da Província do Pará, faziam as seguintes linhas:
1ª linha, de Belém à capital da província do Amazonas e fazendo paradas nos seguintes portos:
o   Porto de Breves
o   Porto de Tajapuru
o   Porto de Gurupá
o   Porto de Porto de Moz
o   Porto de Prainha
o   Porto de Santarém
o   Porto de Óbidos
2ª linha, com um paquete com viagens só pela Província do Amazonas
3ª linha, com um paquete saindo de Belém e fazendo paradas em Abaeté e São Domingos
4ª linha, com um paquete saindo do Porto de Belém direto para o Arary
5ª linhas, com um paquete saindo de Belém direto para Soure
6ª linha, com um paquete saindo do porto de Belém com paradas nos seguintes portos:
·         Porto de Muaná
·         Porto de Breves
·         Porto de Tajapuru
·         Porto de Jacaré
·         Porto do Furo de Salvador
·         Porto do Furo da cidade de Macapá
Em 1871, 1872 e 1873 a navegação na Provìncia do Pará assim se apresentava:
·         Navegação de longo curso era feita por 23 vapores e 66 embarcações à vela, empregando 1.527 pessoas de equipagem e 51.587 tonelagens de capacidade.
·         Navegação da grande cabotagem era feita por 70 vapores e 23 embarcações à vela, com 1.470 pessoas e de equipagem e capacidade de 68.417 toneladas. Na navegação de grande cabotagem somente 10% da frota era de embarcações brasileiras, enquanto que os 90% eram feitas por embarcações de linhas estrangeiras, conforme contratos estabelecidos com essas empresas. Apesar dessa desproporção, os governantes provinciais desde 1869 se preocupavam em oferecer regalias e isenções fiscais para o desenvolvimentos dos estaleiros locais, para que a navegação de longa cabotagem não ficasse tão dependente das empresas estrangeiras. Mas nossos empresários da navegação do Pará não conseguiam enxergar no horizonte da navegação da grande cabotagem os bons lucros que obtinham com a navegação costeira e fluvial da Província, onde os contratos envolviam altas somas e longos anos para os contratos.
·         Navegação fluvial era feita por 49 vapores e 47 embarcações à vela, com 1.470 pessoas na equipagem e capacidade de 21.223 toneladas de capacidade.
As companhias de navegação à vapor que atuavam na navegação da Província do Pará, conforme mapa do período de 1862 a 1869, todas subvencionads pelos cofres provinciais:
·         Companhia do Amazonas
·         Companhia Fluvial Paraense
·         Companhia Fluvial do Alto-Amazonas
·         Companhia Araguaya do Rio Tocantins
·         Companhia de Transporte de Gado de Marajó
·         Companhia de Navegação à Vapor do Amazonas Ltda, esta resultante da fusão Fluvial Paraense com a Fluvial do Alto-Amazonas.
Essas companhias faziam as seguintes linhas:
·         Linhas do Marajó:
1ª Linha, passando por Breves, Muaná, Macapá e Chaves
2ª Linha, passando por Soure
3ª Linha, passando por Arary
·         1ª Linha de Porto de Moz
·         Linhas de Óbidos:
1ª Linha, passando por Breves, Gurupá, Porto de Moz, Prainha, Monte Alegre e Alenquer
2ª Linha, passando Santarém, Villa Franca, Aveiros, Boim e Itaituba
3ª Linha, passando por Santarém, Faro e Óbidos
·         Linha de Monte Alegre
Linhas da Compania Fluvial Paraense:
Linhas do Guamá:
o   1ª Linha do Moju, passado por Cairary
o   2ª Linha do Acará
o   3ª Linha, passando por Bujaru, S. Domingos, São Miguel, Irituya e Tupinambá
Linhas de Macapá:
4ª Linha, passando por Oeiras, Curralinho, Muaná, Breves, Melgaço, Portel, Anajás, Mazagão e Macapá
Linhas de Cametá:
6ª Linha, Passando por Igarapé-Miry e Abaeté
7ª Linha, passando por Cametá, Tocantins, Mocajuba e Baião
Linhas da companhia Fluvial do Alto-Amazonas:
Linha do Amazonas:
1ª Linha da Capital, passando por Breves, Gurupá, Porto de Moz, Prainha, Santarém e Óbidos.
Transporte de gado, passando pelas ilhas de Marajó, Mexiana e Caviana
Linhas dos rios Tocantins e Araguaia:
Linhas do Tocantins:
1ª Linha de Cametá até Tapaimaquara
2ª Linha, até Santa Maria
3ª Linha, de Santa Maria até Leopoldina na foz do Rio vermelho, na Província de Goiás
4ª Linha, de Leopoldina a Itacaiú na Província de Mato Grosso
Continuação dos Subsídios do Estado do Pará à Navegação:
Em 1899 o Estado do Pará continuava subsidiando anualmente às empresas que faziam a navegação Fluvial, Costeira e Transatlântica que traziam grandes benefícios no desenvolvimento industrial, comercial e financeiro do Estado. E as facilidades dos transportes era um poderoso auxiliar no povoamento e exploração das extensas regiões do Pará, porisso, de ano para ano, trata o governo de sempre alargar as linhas de navegação no Estuário Amazônico.
Eram 19 linhas de Navegação em 1899, assim distribuídas:
o   17 linhas fluviais
o   1 linha costeira
o   1 linha Transatlântica
Linhas Fluviais:
·         Companhia do Amazonas, que fazia a linha diária entre Belém, Pinheiro e Mosqueiro
Linhas:
·         Linha de Belém ao Xingu e Jari
·         Linha de Santarém ao Alto tapajós
·         Linha de Belém a Irituia
·         Linha de Belém a Baião
·         Linha de Alenquer ao Alto Curuá e Paranámiry
·         Linha de Belém a Beja, Conde e Barcarena
·         Linha de Gurupá a Arrayolos
·         Linha de Óbidos ao Rio Branco
·         Linha de Santarém ao lago Grande de Franca
·         Linha de Monte Alegre a Maycuru
·         Linha de Acará-Miry
·         Linha de Faro ao Paraná, Aduacá e Lago
Linhas Costeiras:
·         Companhia Costeira do Maranhão, que fazia a rota dos portos do Salgado
Linhas Externas ou Transatlânticas:
·         Linha de navegação à vapor, com viagens mensais entre os portos do Rio de Janeiro, New York, Salvador, Recife e Belém.
·         Linha entre Belém e New York, com escalas convenientes, com 12 viagens anuais.
A respeito da navegação na Amazônia podemos dizer que o Período Provincial e as primeiras décadas da Era Republicana do Pará foram realmente tempos do aproveitamento máximo das vias navegáveis da Amazônia e do Pará, onde os antigos governantes se preocupavam em dotar a Província de meios de transportes que realmente pudessem suprir as necessidades comerciais através dos vapores e outros tipos de embarcações que também serviam no transporte de passageiros por toda a Amazônia e no comércio com as demais províncias vizinhas ao Pará e com as nações estrangeiras com a navegaão através do Oceano Atlântico que separa o Brasil dos centros consumidores além-mar. Era um intenso comércio de exportações e importações que também se traduziam em sensíveis melhoramentos para a urbanização das cidades amazônicas, especialmente Belém e Manaus e melhorias da qualidade de vida para milhares de famílias desses e dos demais centros populacionais espalhados pelas margens dos rios amazônicos.
Nos dias atuais o que vemos é a subutilização das vias navegáveis das bacias amazônicas que agora só são aproveitáveis para a construção de usinas hidrelétricas que vieram para causar tantos impactos ambientais que somente o futuro nos indicará os prejuízos causados por esse tipo de política energética para o país. As Eclusas de Tucuruí, um sonho paraense de mais de 40 anos, que certamente viria atender as demandas comerciais e industriais do Estado do Pará e dos estados do Centro Oeste brasileiro, viria atenuar as nossas grandes demandas por um desenvolvimento mais compatível com a nossa vocação de Estado detentor de grandes vias navegáveis, que no presente estão praticamente paradas, ao contrário do que acontecia no nosso passado de Província do Pará, onde a navegação ajudou realmente no nosso desenvolvimento e dos outros estados vizinhos.
·         A Navegação Atual:
Atualmente as atividades marítimas são exercidas por uma grande quantidade de pequenas e grandes embarcações na realização de atividades de transporte de cargas e passageiros em direção às sedes dos municípios ribeirinhos e da sede para as localidades e muitas viagens são feitas através de grandes barcos-motores no transporte de cargas e passageiros para Belém e desta cidade para as localidades, especialmente o Marajó e os Estados do Amapá e Amazonas. Porém, nada que se compare à navegação do Período Provincial do Pará.
Em Abaetetuba os grandes barcos motorizados são usados em diversas atividades de pesca, transporte de mercadorias e os grandes barcos ou navios das empresas rodofluviais que fazem o percurso do entreposto da localidade de Arapari para Belém e vice-versa. As balsas são usadas no transporte de veículos na mesma rota acima especificada.
As pequenas embarcações chamadas rabetas, existentes em grande quantidade nos municípios ribeirinhos do Baixo Tocantins e do Marajó.

AS COLETORIAS DE RENDAS NA PROVÍNCIA DO PARÁ:
As Coletorias Provinciais de 1851 a 1853:
A Província do Pará, para fazer a devida arrecadação financeira nas diversas localidades, dispunha de Coletórias de Rendas nas seguintes localidades, incluindo as da Capital:
·         Coletoria do 1º Bairro da Capital
·         Coletoria do 2º Bairro da Capital
·         Coletoria da Freguesia de Abaeté
·         Coletoria da Freguesia de Acará
·         Coletoria da Vila de Alenquer
·         Coletoria da Vila de Baião
·         Coletoria da Freguesia de Barcarena
·         Coletoria da Freguesia de Benfica
·         Coletoria da Cidade de Bragança
·         Coletoria da Vila de Breves
·         Coletoria da Freguesia de Bujaru
·         Coletoria da Vila de Cachoeira (Marajó)
·         Coletoria da Freguesia de Cairary
·         Coletoria da Cidade de Cametá
·         Coletoria da Vila de São Caetano
·         Coletoria da Vila de Cintra
·         Coletoria da Vila de Chaves
·         Coletoria da Vila de Colares
·         Coletoria da Vila de Curuçá
·         Coletoria da Vila de Faro
·         Coletoria da Vila de Gurupá
·         Coletoria da Vila de Igarapé-Mirim
·         Coletoria da Freguesia de Inhangapi
·         Coletoria da Freguesia de Irituia
·         Coletoria da Vila de Macapá
·         Coletoria da Vila de Mazagão
·         Coletoria da Vila de Melgaço
·         Coletoria da Freguesia de Moju
·         Coletoria da Freguesia de Monforte
·         Coletoria da Vila de Monsarás
·         Coletoria da Vila de Monte Alegre
·         Coletoria da Vila de Muaná
·         Coletoria da Cidade de Óbidos
·         Coletoria da Vila de Oeiras
·         Coletoria da Vila de Ourém
·         Coletoria da Freguesia de Ponta de Pedras
·         Coletoria da Vila de Portel
·         Coletoria da Vila de Porto de Moz
·         Coletoria da Freguesia de São Domingos do Guamá e a do Rio Capim
·         Coletoria de São Miguel da Cachoeira do Guamá
·         Coletoria da Cidade de Santarém
·         Coletoria da Freguesia de Soure e Salvaterra
·         Coletoria da Vila Franca e Boim
·         Coletoria da Vila de Vigia
·         Coletoria da Freguesia de Vizeu, Piriá e Gurupi
Em 1866 as Coletorias da Província do Pará seguiam o esquema das Comarcas. As Comarcas e suas coletorias eram as seguintes:
Comarca da Capital, com as seguintes Coletorias:
·         Abaeté, arrecadação de 6:276$500 réis
·         Bujaru, arrecadação de 187$360 réis
·         Capim e São Domingos, arrecadação de 2:365$000 réis
·         Cintra, arrecadação de 799$100 réis
·         Curuçá. Arrecadação de 660$000 réis
·         Guajará-Açu, arrecadação de 175$000 réis
·         Igarapé-Miry, arrecadação de 4:882$162 réis
·         Inhangapy, arrecadação de 1:230$000 réis
·         Irituia, arrecadação de 693$750 réis
·         Moju, arrecadação de 570$000 réis
·         São Caetano, arrecadação de 452$400 réis
·         São Miguel, arrecadação de 858$000 réis
·         Vigia, arrecadação de 1:981$358 réis
Comarca do Marajó:
·         Cachoeira, arrecadação de 1:173$955 réis
·         Monsarás, arrecadação de 68$500 réis
·         Muaná, arrecadação de 6:071497 réis
·         Ponta de Pedras, arrecadação de 745$000 réis
·         Soure e Salvaterra, arrecadação de 6:297$355 réis
Comarca de Gurupá:
·         Gurupá, arrecadação de 1:73$281 réis
·         Porto de Moz, arrecadação de 212$750 réis
Comarca de Macapá:
·         Macapá, arrecadação de 3:206$463 réis
·         Mazagão, arrecadação de 2:629$000 réis
Comarca de Cametá:
·         Cametá, arrecadação de 25:587$227 réis
·         Oeiras, arrecadação de 4:060$000 réis
·         Portel, arrecadação de 2:355$000 réis
·         Breves, arrecadação de 16:223$570 réis
·         Baião, arrecadação de 4:422$500 réis
·         Melgaço, arrecadação de 4:298$942 réis
Comarca de Santarém:
·         Santarém, arrecadação de 11:866$199 réis
·         Óbidos, arrecadação de 6:593$812 réis
·         Monte Alegre 1:330$390 réis
Faltam os demais municípios desta comarca
Produtos das Importações no Pará:
Se o Pará, por conta de seus abundantes recursos naturais, se tornou um centro exportador de  gêneros vindos do extrativismo, por outro lado, pelas riquezas advindas da exportação da borracha e outros importantes produtos desse extrativismo, se tornou um grande centro importador de gêneros vindos da Europa e Estados Unidos. O comércio importador do Pará se intensificou no início do Período Republicano, conforme tabela de junho de 1897 a dezembro de 1908 e, pode-se observar que o Pará não produzia quase nada no que diz respeito aos produtos que eram consumidos ou aplicados na urbanização de Belém. Eis alguns dos produtos importados via comércio transatlântico e pelos vapores da Ligure Brasiliana em 34 viagens no dito período:
·         527 caixas de mortadela
·         16.133 caixas de vermouth
·         4.548 caixas de leite
·         35 pianos
·         2.129 volumes de mármore
·         66  volumes de louças
·         2.287 barris e 3.646 caixas de vinho
·         2.545 caixas de conservas
·         298 caixas de queijos
·         1.166 volumes de papel
·         411 caixas de fazendas
·         18.627 sacas de feijão
·         267 volumes de móveis
·         1.284 caixas de manteiga
·         377 caixas de azeite
·         30 caixas de salame
·         217 caixas de frutas
·         8 caixas de instrumentos de música
·         942 caixas de cebola
·         2.504 caixas de batata
·         256 volumes de estivas
·         853 caixas de drogas de farmácia
·         777 barricas de farinha de trigo
·         683 volumes de ferragem
·         935 barricas de cimento
·         1.954 caixas de ladrilho
·         1.685 volumes de pedras
Esses são produtos vindos de uma só praça comercial, que somados aos vindos de outros portos europeus ou americanos, triplica ou quadruplica ou quintuplica a quantidade de volumes, caixas de cada produto.
E a lista segue enumerando uma série enorme de mercadorias, como: candeeiros, gesso, livros, quadros, arames, espartilhos, paramentos de igreja, água mineral, máquinas, wisk, sacas, botões, sabão, espingardas, verniz, vidros, couros, chocolate, tintas, doces, imagens, peixe salgado, telhas de zinco, bebidas diversas, bicicletas, camas de ferro, garrafões, vacas e touros em pé, cal, perfumes, chumbo, rolhas, sacas, chouriços, vidraças, papelão, etc.
Esses gêneros vinham de Gênova (Itália), Lisboa (Portugal), Marselha (França), Porto (Portugal), Ilha de Madeira (Portugal), Vigo (Itália), Barcelona (Espanha) e outros portos.
As Espécies no Estuário Amazônico:
·         As espécies residentes, que podem completar todo seu ciclo de vida no estuário, que, no caso, é a maioria habitante de áreas rasas de diversas famílias animais.