terça-feira, 7 de julho de 2015

Palavra de Vida de Julho 2015

Palavra de Vida de Julho 2015

Julho de 2015
Palavra de Vida

«Tende confiança: Eu já venci o mundo!» (Jo 16, 33).

Com estas palavras, conclui-se o discurso de despedida que Jesus dirigiu aos seus discípulos durante a última ceia, antes de se entregar nas mãos daqueles que haviam de O levar à morte. Foi um diálogo íntimo, no qual Jesus revelou a realidade mais profunda da sua relação com o Pai e da missão que Ele lhe confiara. Jesus está para abandonar a Terra e voltar para o Pai, enquanto os seus discípulos vão permanecer no mundo, para continuar a Sua obra. E, como Jesus, também eles serão odiados, perseguidos e até condenados à morte (cf. 15, 18.20; 16, 2). A missão deles será tão difícil como foi a Sua. Ele conhece bem as dificuldades e as provações que os seus amigos irão ter que enfrentar: «No mundo tereis tribulações», disse também (16, 33). Jesus dirige-se aos apóstolos, reunidos à sua volta para essa última ceia, mas tem diante de si todas as gerações de discípulos que o haveriam de seguir, através dos séculos, e também nós. 

É mesmo verdade. Por entre as alegrias que vivemos no nosso caminho, não faltam as “tribulações”: a incerteza acerca do futuro, a precariedade do trabalho, a pobreza e as doenças, os sofrimentos causados pelas calamidades naturais e pelas guerras, a violência frequente nas famílias e entre as nações. Depois, há as tribulações que provêm do facto de sermos cristãos: a luta quotidiana para permanecer coerentes com o Evangelho, o sentido de incapacidade perante uma sociedade que parece indiferente à mensagem de Deus, a troça, o desprezo, e até a franca perseguição por parte daqueles que não aceitam ou se opõem à Igreja. Jesus conhece as tribulações, porque as viveu pessoalmente. Mas diz-nos:

«Tende confiança: Eu já venci o mundo!».

Esta afirmação, proferida tão decidida e convictamente, parece uma contradição. Como pode Jesus afirmar ter vencido o mundo, quando poucos momentos depois de ter pronunciado estas palavras seria feito prisioneiro, flagelado, condenado, morto da maneira mais cruel e vergonhosa? Mais do que ter vencido,
parece ter sido traído, abandonado, reduzido a nada, e, portanto, derrotado clamorosamente. Em que é que consiste a sua vitória? Sem dúvida, na ressurreição: a morte não tem poder sobre ele. A Sua vitória é tão poderosa que nos torna, também a nós, participantes dela: Ele torna-se presente entre nós, levando-nos consigo para a vida plena, na nova criação. Mas, antes disso, a sua vitória consistiu naquele ato de amor imenso, com o qual deu a vida por nós. Aqui, na derrota, Ele triunfa plenamente. Penetrando em todos os recônditos da morte, libertou-nos de tudo quanto nos oprime e transformou todo o nosso negativo, toda a nossa escuridão e sofrimento, num encontro com Ele, Deus, Amor, plenitude.

Sempre que pensava na vitória de Jesus, Paulo parecia enlouquecer de alegria. Se Cristo (assim se exprime Paulo) enfrentou todas as adversidades, até àquela suprema da morte e venceu, então também nós, com Ele e n’Ele, podemos vencer qualquer dificuldade. Não só, mas, graças ao seu amor, somos «mais do que vencedores»: «Estou convencido de que nem a morte nem a vida, (...) nem qualquer outra criatura poderá separar-nos do amor de Deus que está em Cristo Jesus, Senhor nosso» (Rm 8, 37-39; cf. 1 Cor 15, 57). Compreende-se então o convite de Jesus a não termos medo de nada:

«Tende confiança: Eu já venci o mundo!».

Esta Palavra de Jesus, que manteremos viva durante todo o mês, poderá infundir em nós confiança e esperança. Por mais duras e difíceis que possam ser as circunstâncias em que nos encontrarmos, podemos ter a certeza de que Jesus já as fez suas e as superou. Embora nós não tenhamos a sua força interior, temo-lo a Ele mesmo, que vive e luta conosco. «Se tu venceste o mundo – poderemos dizer-lhe quando nos sentirmos esmagados pelas dificuldades, pelas provas e pelas tentações, saberás vencer também esta “tribulação”. Para mim, para a minha família, para os meus colegas de trabalho, aquilo que está a acontecer parece um obstáculo intransponível, temos a impressão de não conseguir suportar, mas, contigo entre nós, encontraremos a coragem e a força para enfrentar esta adversidade, até sermos “mais do que vencedores”».
Não se trata de ter uma visão triunfalista da vida cristã, como se tudo fosse fácil e já estivesse resolvido. Jesus é vitorioso precisamente no momento em que vive o drama do sofrimento, da injustiça, do abandono e da morte. A sua é a vitória de quem enfrenta o sofrimento por amor, de quem acredita na vida depois da morte.

Talvez também nós, como aconteceu com Jesus e com os mártires, por vezes temos que esperar pelo Céu, para vermos a vitória completa sobre o mal. Muitas
vezes, temos medo de falar do Paraíso, como se o facto de pensar nele fosse uma droga para não enfrentarmos com coragem as dificuldades, uma anestesia para atenuar os sofrimentos, um álibi para não lutarmos contra as injustiças. Pelo contrário, a esperança no Céu e a fé na ressurreição são um impulso poderoso para enfrentarmos todas as adversidades, para encorajarmos os outros nas provações, para acreditarmos que a palavra final é a palavra do amor que vence o ódio, a palavra da vida que vence a morte.

Portanto, sempre que formos confrontados com qualquer dificuldade – pessoal, daqueles que nos rodeiam, ou daqueles de quem tomamos conhecimento nos diversos pontos do mundo –, renovemos a confiança em Jesus, presente em nós e entre nós, que venceu o mundo, que nos torna participantes da sua própria vitória, que nos abre as portas do Paraíso para onde nos foi preparar um lugar. Deste modo, encontraremos a coragem para enfrentar todas as provas. Tudo poderemos vencer, n’Aquele que nos dá força.

Fabio Ciardi

Reproduzido pelo Blog do Ademir Rocha