sábado, 31 de agosto de 2013

A arte: "Nova Criação"



A arte: "Nova Criação"

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A arte: "Nova Criação"

Roma, 1961        

A reflexão sobre a arte eo artista.

A finalidade da arte é um pouco nebulosa, quase misteriosa, talvez apenas desconhecida e não ocupa certamente só a dimensão racional.
Seja como for, a arte, tanto quanto a ciência, sempre teve as suas manifestações de maior ou menor beleza porque a fantasia, que dela é mãe e geradora, é um talento e um dom magnífico do homem, como a memória, a afetividade, o raciocínio. E também ela desabrochou em obras; em “obras de arte”, inclusive de modo espontâneo.

O verdadeiro artista é um grande. É o que todos dizem, embora sejam poucos os críticos de arte, mas em todos existe a admiração e o fascínio pelo “belo”. O artista assemelha-se de certo modo ao Criador.
O verdadeiro artista possui a sua técnica quase inconscientemente e se serve das cores, das notas, da pedra, como nós nos servimos das pernas para caminhar.
O ponto de concentração do artista está em sua alma, onde contempla uma sensação, uma ideia, que ele quer exprimir fora de si.
Por isso, nos limites infinitos de sua pequenez de homem em comparação com Deus e, portanto, na infinita diversidade das duas coisas “criadas”, digamos assim, o artista é, de certo modo, alguém que “recria”, cria novamente. E as obras-primas de arte que outros homens produziram poderiam ser uma verdadeira “recriação” para o homem. Infelizmente, por falta de verdadeiros artistas, o homem recreia-se quando muito em extravagâncias vazias de cinemas, teatros, variedades, onde a arte frequentemente pouco lugar tem.
O verdadeiro artista, com suas obras-primas, que são brinquedos diante da natureza, obra-prima de Deus, de certa maneira nos faz sentir quem Deus é e nos faz relevar na natureza a marca trinitária do Criador: a matéria, a lei que a conforma, como que um “evangelho da natureza”, a vida, como que consequência da unidade das duas primeiras.
O conjunto, depois, é algo que, continuando a “viver”, oferece a imagem da unidade de Deus, do Deus dos vivos. As obras dos grandes artistas não morrem, e nisso está o termômetro da sua grandeza, porque a ideia do artista, de certo modo, se exprimiu perfeitamente na tela ou na pedra compondo algo vivo.
Lamenta-se hoje que haja poucos grandes artistas. O motivo talvez seja que existem poucos grandes homens no mundo. Não se pode a um certo ponto deixar a fantasia solta, separada do resto que há no homem: não seria mais um dom porque cairia na vaidade.
Nem se pode considerar o homem como não é, mas como é: um ser sociável.
Portanto, não se terá jamais uma grande arte universal senão através de um artista que ama aos outros homens e, em primeiro lugar, a Deus.
Haverá artistas a quem isso praticamente não interessa, cujos trabalhos, de certo modo, agradam a alguns. O reconhecimento e o aplauso de um grupo de pessoas já é uma coisa boa e denota que algum dom natural existe. Talvez conviesse ao artista escutar com mente e coração abertos as críticas também de outros e procurar corrigir, acolhendo. Com isso, ele viria a ser, em sua arte, mais expressão do homem do que de um homem.
Não desperdiçaria, ou empregaria mal, tempo e talentos, nem se nutriria de uma gloriazinha passageira, enquanto que poderia, mesmo depois de sua morte, prestar um serviço perpétuo (por quanto é possível) ao homem e glorificar a Deus ajudando a descobrir com suas obras-primas as infinitas belezas da obra-prima de Deus, a criação, da qual, sem dúvida, uma das mais belas obras é justamente a alma de um grande e verdadeiro artista.


Chiara Lubich
(De Escritos espirituais/1, A atração do tempo moderno, Pensamentos - Cidade Nova 2.ed. - São Paulo, 1998, Pág.199-201)

Texto

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

ECONOMIA DE COMUNHÃO

ECONOMIA DE COMUNHÃO
21/08/2013
Empresas só visam lucro? Existe uma 3ª via de um mundo econômico menos injusto?

Chiara Lubich e a Economia de Comunhão

Marcus Eduardo de Oliveira

Ao contrário da economia consumista, baseada na cultura do “ter”, a economia de comunhão é a economia do “dar”. Isto pode parecer difícil, árduo, heróico. Mas não é assim, porque o homem, feito à imagem de Deus, que é Amor, encontra a própria realização justamente no amor, na doação. Esta exigência está no mais profundo do seu ser, tenha ele fé em Deus ou não. É justamente nesta constatação, comprovada pela nossa experiência, que está a esperança de uma difusão universal da economia de comunhão.

(Chiara Lubich)
O distanciamento cada vez mais frequente entre as pessoas, a agressão sistemática ao meio ambiente em prol de um crescimento econômico sem limites, a consolidação de um modelo econômico que enaltece substancialmente o consumo conspícuo, a busca desenfreada pelo dinheiro como sinônimo de felicidade, o crescimento das injustiças econômicas e sociais e o desmantelamento dos princípios básicos que modelam a teia da vida. A somatória disso provoca profundo descontentamento e tem levado cada vez mais pessoas à reflexão em torno de se resgatar os laços de sociabilidade e de se afirmar um compromisso em prol de um mundo melhor; de um mundo mais justo e social e ambientalmente mais equilibrado.
É no sentido de se resgatar a possibilidade da construção de um mundo econômico e social menos injusto, que crescem ações buscando reverter essa tendência de distanciamento entre as pessoas, tentando aproximá-las pela prática da partilha, da comunhão (da comum união).
 Tentativas de novos agrupamentos em favor de ações coletivas, cercadas de cooperação (partilha) e união entre os membros tem se destacado com mais freqüência numa época em que os valores monetários tem se soerguido, sobremaneira, em relação aos valores éticos, morais e sociais.
Uma tentativa nessa linha de atuação cooperativa que merece destaque é a chamada Economia de Comunhão (EdC). A comunhão (comum união entre os membros) tem sido, historicamente, uma porta de entrada para a solidificação de um novo modo de fazer economia, no qual esteja presente a prática da comunhão-cooperação-fraternidade. Em poucas palavras, a Economia de Comunhão pode ser resumida como sendo a combinação de eficiência econômica com solidariedade, tendo como arrimo o princípio da cooperação/partilha.
A verdade é que a busca pela justiça social e um lugar para se viver em que “entre eles não haja necessitados” (lema da EdC) tem sido discutido amplamente entre aqueles que se põem a construir uma nova maneira de pensar a própria vida a partir das relações econômicas, tendo como elemento integrador desse sistema a participação das empresas. Esse é basicamente o modelo de atuação da Economia de Comunhão que procura, por meio de redes (conjunto de pessoas ou organizações interligadas direta ou indiretamente) pôr a economia à serviço do atendimento aos mais pobres, pois percebe claramente que os sistemas econômicos tradicionais são (e tem sido), por exemplo, incapazes de tirar a fome da boca de uma criança.
O ponto fundamental desse novo jeito de “pensar a economia” é a cooperação e a ajuda mútua (na prática: é a cultura do “dar” e do “doar-se”) entre os agentes e o amplo e irrestrito apoio aos projetos de cunho social que procuram enaltecer o papel das pessoas integrando-as no sistema produtivo.
 O propósito é um só: levar a dimensão da fraternidade à macroeconomia que dita, na essência, as políticas econômicas públicas. O objetivo? Fazer com que a teoria econômica tradicional seja sensível à economia social e, como consequência, faça valer o princípio maior dessa ciência social, qual seja, proporcionar melhoria (bem-estar) de vida para todos.
Nas palavras de Chiara Lubich (1920-2008), ativista social italiana, criadora desse movimento a partir de uma visita feita às comunidades carentes em São Paulo, em 1991: “a Economia de Comunhão deve canalizar capacidades e recursos para produzir riqueza em prol dos que se encontram em dificuldades. Os lucros devem ser livremente colocados em comum, divididos em três partes, no seguinte sentido: 1) Ajudar os pobres e dar-lhes sustento, enquanto não conseguirem um posto de trabalho; 2) Desenvolver estruturas de formação de ‘homens-novos’, ou seja, pessoas formadas e animadas pelo amor, capazes de viver a ‘ cultura da partilha’, e; 3) Incrementar e fortalecer a própria empresa. (CHIARA, L. em “O Movimento dos Focolares e a Economia de Comunhão”, Vargem Grande Paulista, Ed. Cidade Nova, 1.999).
Nota-se com isso que algumas ações em prol da construção de um mundo melhor estão em plena atividade; resta, de nossa parte, maior participação, afinal, em se tratando de resgatar os mais nobres valores em torno da vida, isso não pode esperar por muito tempo.
*Marcus Eduardo de Oliveira é economista com especialização em Política Internacional e mestrado em Estudos da América Latina pela Universidade de São Paulo (USP). É professor de economia do UNIFIEO e da FAC-FITO, em Osasco/SP. Autor dos livros 'Conversando sobre Economia' (Editora Alínea), 'Pensando como um economista' (Editora EbookBrasil) e 'Humanizando a Economia' (Editora EbookBrasil – livro eletrônico). Contato: prof.marcuseduardo@bol.com.br

Reproduzido pelo Blog do ADEMIR ROCHA

quinta-feira, 15 de agosto de 2013

PENSAMENTOS E ESPIRITUALIDADE DA UNIDADE

PENSAMENTOS E ESPIRITUALIDADE DA COMUNHÃO

Centro Chiara Lubich Movimento dos Focolares
www.centrochiaralubich.org

(Transcrição de gravação)
Paderborn (Alemanha), 12 de Junho de 1999

Mostra-nos o Pai
Chiara: Estamos todos aqui reunidos, com o nosso arcebispo e com vocês, jovens. Que seja uma alegria passar esta hora juntos, vivendo o amor recíproco, para que Jesus esteja realmente presente entre nós, não só na Eucaristia, mas também espiritualmente.
O título do meu discurso, desta nossa conversa é um pouco original e enigmático. É: «Mostra-nos o Pai». Mas o que significa? Como o arcebispo referiu antes, é o pedido que o apóstolo Filipe fez a Jesus. Como vocês sabem, Jesus falava sempre do Pai, orientando todas as pessoas a Ele. Filipe ficou curioso e queria saber, queria conhecer o Pai. Também nós agora vamos tentar explicar quem é Deus Pai.
Vocês devem saber que eu pertenço a um Movimento chamado Movimento dos Focolares. Um dos Movimentos aos quais o papa no ano passado disse: "Vocês são uma expressão do aspecto carismático da Igreja".
O que significa esta palavra difícil: «carismático»?
Significa que a Igreja - como alguém ainda pensa ou pensava antes do Concílio - não é formada só pelo papa, pelos bispos, sacerdotes, religiosos, etc. Também eles representam a Igreja, são os primeiros. Porém, ela é formada por outra parte, da qual também nós participamos, que representa o aspecto definido "carismatico". Em palavras simples, fazem parte do seu aspecto carismático todos os maravilhosos Movimentos que nasceram na Igreja. Esses Movimentos são fruto de um "carisma". Mas o que é um carisma? Agora explico o que é.
Um carisma é uma luz que o Espírito Santo introduz na alma de quem ele escolheu para ser o fundador ou a fundadora de algo novo na Igreja. Em geral, essa luz ilumina uma verdade que já existe no nosso patrimônio de fé e o Espírito Santo a explica melhor a nós e com mais luminosidade, ou melhor, ele muitas vezes salienta ideias que já existem no patrimônio da Igreja, que servem para a humanidade da época.
Embora eu fosse uma simples jovem, como vocês podem se sentir, um dia também eu recebi uma luz como essa para que a transmitisse a muitos. Deus queria que nascesse um novo Movimento na Igreja.
Lembro que naquele período, em Trento, uma cidade no Norte da Itália, eu estava satisfeita com a minha fé. Ao mesmo tempo, porém, percebia algumas contradições em mim e nas pessoas que eu conhecia. Eram incongruências de que talvez vocês também se apercebam em vocês e em certos ambientes cristãos.
Por exemplo, eu me perguntava: «Por que a fé de quem se considera cristão muitas vezes se reduz em ir à missa aos domingos?» Quando se ia à missa aos domingos! Eu pensava: «Por que as pessoas rezam com tamanha distração, quando rezam, ou ao máximo só de modo interessado? Deus não é o Deus de todos os dias e momentos da nossa vida? Se a oração é um diálogo com Deus, não seria uma coisa séria?
Eu me perguntava também: «As pessoas da Igreja, que eu tanto amava, se contentam com as cantilenas das orações sem alma, com os pacotinhos dados aos pobres sem amor, com a falta de gosto nos ambientes e no modo de se vestir?» Eu me perguntava: «Deus, além de ser bondade e verdade, não é também beleza, harmonia? O seu Filho não é o mais belo dos filhos dos homens?»
Não era pouca aquela hora de apostolado que se fazia por semana ao lado de todas as atividades? O que se refere a Deus não é mais importante do que tudo?
Por que a palavra "sermão" tornou-se sinônimo de discurso monótono e antipático?»
Centro Chiara Lubich Movimento dos Focolares
www.centrochiaralubich.org
Eu me fazia outra pergunta muito importante: «Não é estranho que, visitando um país cristão, notávamos que quase nada o diferenciava dos países não cristãos?»
No período em que estas incoerências me oprimiam e faziam sofrer, aconteceu uma coisa: o Espírito Santo se manifestou. Não lembro exatamente quando. A sua luz sutil começou a penetrar em mim e a iluminar muitas verdades do nosso cristianismo.
Mas eis um fato. Eu era professora e dava aulas. Um dia alguém bateu à porta da minha classe. Era um sacerdote que queria falar comigo. Eu tinha muita fé na Igreja e nos sacerdotes. Para mim eram "homens de Deus" e acreditava nisso. Esse sacerdote deve ter percebido que eu era cristã praticante. Por isso perguntou se eu podia oferecer uma hora do meu dia pelo seu apostolado.
Reconhecendo nele um homem de Deus, respondi: «Só uma hora? Por que não o dia todo?»
Comovido com a minha generosidade juvenil, ele me disse para ajoelhar, me abençoou e fez uma afirmação super importante: «Deus a ama imensamente». Parecia que aquelas palavras vinham diretamente de Deus e marcaram a minha alma como o fogo. «Como? – eu pensei; Deus me ama imensamente? Sim, foi o sacerdote que disse: "Deus te ama imensamente"». Repeti a mim mesma essa frase e às minhas primeiras companheiras, no Movimento que começava. Eu dizia: «É incrível! Deus me ama imensamente. Deus te ama.»
Deus é Amor!
Hoje, queridos jovens, pode ser que a todos vocês, talvez por meio destas simples palavras, Deus queira se manifestar por aquilo que é e vocês ainda não sabem. Se for assim, tomem consciência, deixem-se convencer, persuadir profundamente e fiquem reconhecidos. Desse modo, também na vida de vocês tudo mudará como aconteceu conosco. Não só os fatos positivos, mas também os transtornos da guerra, que havia na época, tudo era movido por um específico plano de Deus, da sua vontade.
Tratava-se de descobri-la. De fato, para aqueles que o amam, ele faz concorrer tudo para o bem.
Lembro que apesar da guerra o sorriso despontava continuamente nos nossos lábios.
Logicamente, as pessoas que nos circundavam não sabiam de nada. E nós, graças a Deus, acreditávamos no seu amor. Isso constituiu a novidade da nossa nova vida. Foi então que começamos a entender várias frases que antes não entendíamos, não nos tinham tocado.
Víamos que inclusive no Antigo Testamento Deus se manifesta como amor. Por exemplo, está escrito: «Sião disse: "O Senhor me abandonou, o Senhor me esqueceu".» E Deus responde: «Uma mãe se esquece do seu filho a ponto de não se comover pelo filho das suas entranhas?» E Deus continuava: «Ainda que estas mulheres esquecessem, eu jamais te esquecerei. Eu te desenhei na palma de minhas mãos" (cf Is 49,14-15).
Agora procuremos ver o que Jesus disse sobre o Pai. Jesus trouxe uma grande novidade. Como ele descreve o amor do Pai?
Por exemplo, ele diz: «Olhai as aves do céu: não semeiam, nem colhem, nem ajuntam em celeiros. E, no entanto, o vosso Pai celeste as alimenta. Ora, não valeis vós mais do que elas? (...)». Era como dizer: «Imaginem o que faria por vocês, se acreditassem no meu amor»
Diz ainda: «Por que andais preocupados com a roupa? Aprendei dos lírios dos campos como crescem e não trabalha nem fiam. E, no entanto, eu vos asseguro que nem Salomão, com toda a sua pompa, se vestiu como um deles» (Mt 6, 26-29). Seria como dizer: «Imaginem o que faria por vocês, se acreditassem no meu amor!»
Podemos descobrir melhor como é o amor de Deus, lendo a parábola do filho pródigo. Todos vocês a conhecem, por isso não vou lê-la. Farei apenas uma pequena observação.
Imaginamos que o pai tinha muito trabalho: administrar a fazenda, seguir os dependentes, a família mas acima de tudo ele estava sempre à espera. À espera de quem? Do filho que tinha ido embora. Todos os dias ele subia à torre de sua casa e olhava ao horizonte.
Centro Chiara Lubich Movimento dos Focolares
www.centrochiaralubich.org
O Pai Celeste faz o mesmo conosco. Imaginem, jovens, se puderem, a divina, altíssima e dinâmica vida trinitária de Deus. É uma vida vertiginosa! Não é como às vezes a imaginamos. Pensem na sua atividade contínua que sustenta a criação. Ele indica o lugar a quem chega ao Paraíso. No entanto, vocês sabem o que ele faz acima de tudo? Ele espera. Ele espera. Quem? Nós, eu, vocês, sobretudo se estivéssemos afastados dele.
Um dia esse filho, que o pai terreno tanto amava e esperava, tendo esbanjado todos os seus bens, volta para casa. O pai o abraça, veste-o com uma roupa fina, coloca um anel em seu dedo, pede que se cozinhe um novilho gordo para a festa.
O que isso nos faz pensar? Que Ele deseja ver o seu filho todo renovado. Não quer lembrar como ele era antes. O Pai não só quer perdoá-lo, mas inclusive esquecer o seu passado. Este é o seu amor por ele. Assim é o amor de Deus Pai por nós Se depois de nos termos comportado mal, voltarmos para ele, ele nos abraçará, perdoará, mas a coisa extraordinária é que ele se esquecerá de tudo.
O amor do Pai é assim. Aqui na terra não se encontra outro igual.
Recentemente vi um documentário. Pode ser que também vocês tenham visto. Apresentava e examinava os detalhes de um famoso quadro de Rembrandt, que retrata o pai, na narração evangélica, que acolhe o filho que volta. São belíssimos todos os pormenores. Mas o que mais impressiona são as mãos do pai. O pintor teve uma ideia. Uma é robusta e forte, como a mão de um homem, e a outra é delicada, é mais fina, como a mão de uma mulher. Não era assim na realidade. Foi como idealizou o artista. Com isso o pintor quis exprimir que o amor do Pai é ao mesmo tempo paterno e materno. E também nós devemos pensar assim. Em Deus Pai encontramos tudo: o pai e a mãe.
Qual foi o melhor modo que o Pai usou para nos demonstrar o seu amor? Ele, que é o amor? Todos vocês sabem, pois é o que se diz, mas é um mistério insondável, que foi no momento em que o Pai, de acordo com toda a Santíssima Trindade, mandou o seu Filho sobre a terra por nós. Realmente foi ele o primeiro a amar. Jesus então se encarnou. Ele nada mais é que a imagem do Pai; é a sua expressão, o seu esplendor, a sua beleza, a beleza do seu amor. De fato, quando Filipe lhe perguntou: «Mostra-me o Pai», ele respondeu: «Quem me vê, vê o Pai» (Jo 14, 9).
E sabemos até aonde chegou o amor de Jesus? É algo difícil de entender totalmente. Até a morrer por nós. Mas não só como pensamos normalmente. Na cruz ele experimentou uma morte muito mais atroz do que a física. Vocês se lembram que todos o abandonaram. Ele experimentou ali o máximo sacrifício por nós. E teve a impressão de que o próprio Pai o havia abandonado. Porém, ele continuou a acreditar no seu amor. E com aquela dor, na paixão, ele nos salvou.
Depois Jesus ressuscitou e subiu aos Céus, mas não nos abandonou. Quis disseminar na terra a sua presença, tão grande é o seu amor.
Podemos encontrá-lo na Eucaristia, em todas as igrejas. Podemos amá-lo em cada irmão. Que vantagem para mim poder amar 1.500 pessoas! Podemos ouvi-lo nos nossos bispos. Podemos usufruir da sua presença espiritual entre nós. Podemos descobri-lo nas Escrituras.
Deus, Deus, Deus. Deus presente no mundo, em todo o lugar, porque ele é amor.
Naquele período éramos quase os únicos a evidenciar que Deus é amor. A Igreja confirmou um pouco mais tarde esta nossa redescoberta.
Paulo VI, em 1968, comentando o Credo, definiu Deus assim: «Ele é aquele que é... e Ele é Amor»1. Esta definição mais explícita de Deus, dada por um Papa, e com a nossa vida podiam provocar uma revolução no mundo, uma renovação na Igreja e em todos.
Uma coisa é sabermos que Deus existe, outra é sentir-nos amados em todos os pormenores por Deus. Tudo se transforma. Sentimos uma grande coragem! Não sei se todos fizeram essa experiência,
1Insegnamenti di Paolo VI, 1968, VI, p.302.
Centro Chiara Lubich Movimento dos Focolares
www.centrochiaralubich.org
mas creio que aqui estejam namorados, mães, pais. Eles entenderão o que vou dizer. Quando uma jovem sabe que alguém a ama, a sua vida muda, tudo ao seu redor adquire novo encanto e cada particular adquire valor. Ela mesma tende a ser mais bondosa e compreensiva para com os outros. É assim.
Pois bem, infinitamente mais forte é a experiência do cristão quando adquire uma compreensão mais profunda da verdade de que Deus é Amor.
(…)
Chiara Lubich

Reproduzido pelo Blog do ADEMIR ROCHA, de Abaetetuba/PA

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Projeto Amazônia - Ecos da Edição 2013 - Abaetetuba -

Projeto Amazônia - Edição 2013 - Abaetetuba/PA

Fonte: focolares.org.br

Além do trabalho realizado no bairro de Algodoal, na cidade de Abaetetuba, este ano o Projeto Amazônia foi desenvolvido em duas ilhas: Tucumduba e Maratauíra.
Conhecida como “região das ilhas” de Abaetetuba, este município do estado do Pará é caracterizado pela presença de 72 ilhas, cercadas de rios, igarapés, furos, baías, costas e praias, constituindo um belo cenário natural, com a população ribeirinha e sua vivência característica, que difere daquela das cidades pela peculiaridade de suas riquezas culturais.
Além do trabalho realizado no bairro de Algodoal, na cidade de Abaetetuba, este ano o Projeto Amazônia foi desenvolvido em duas ilhas: Tucumduba e Maratauíra.
Como nas edições anteriores a programação dos dias de Projeto foi constituída principalmente pelas visitas às famílias e, a partir desses contatos pessoais, toda a população envolvia-se nas várias oficinas, momentos de aprofundamento e formação, e nas horas alegres e descontraídas de partilha. Muito felizes, os moradores diziam que era a primeira vez que alguém os visitava e que assim aprendiam também a visitar-se, resgatando o próprio espírito de comunidade. Brotou neles uma nova consciência e a necessidade de estarem atentos às necessidades uns dos outros. Em um dos momentos de oração – nas ilhas a celebração da Missa é feita apenas uma ou duas vezes por ano -, o líder da comunidade convidou todos a agradecerem a Deus pela vida de Chiara Lubich: “Foi ela que deu a possibilidade para que essa gente viesse nos visitar e nos transmitir a vida do Evangelho…”.
Com alegria constatou-se que ali existe ainda o núcleo familiar constituído, também alargado, com os avós, tios, primos, o que torna essas comunidades muito harmoniosas, apesar da extrema precariedade em que vivem. Uma das maiores dificuldades é a falta absoluta de comunicação, e os efeitos desse isolamento são visíveis em toda parte, com a desocupação e a falta de perspectivas para os jovens.  Nesse contexto é ainda mais ressaltado o papel determinante assumido pela Igreja no aspecto da formação e conscientização das populações das ilhas.
Uma característica do Projeto Amazônia em Abaetetuba este ano foi a participação de órgãos públicos – Defensoria Pública, IFPA, Prefeitura Municipal de Abaetetuba, Museu Emilio Goeldi, Associação Comercial, Alcoólicos Anônimos e Detran – que contribuíram com aulas e ações sociais segundo as necessidades da comunidade, como a formação à cidadania e a conscientização de seus direitos e deveres. Foi um passo muito importante, que abriu espaço de colaboração entre as entidades e a comunidade que poderá ter continuidade também depois do Projeto.
Para todo o grupo dos “missionários”, a experiência foi fascinante – um desafio de inculturação no uso dos objetos, do banheiro, da rede para dormir, nas comidas – e ao mesmo tempo forte e desafiadora. Todos falavam de “conversão”, da exigência de reavaliar aquilo que se possui de material e de viver com ainda maior decisão o Ideal da unidade. Um deles, vindo de São Paulo, falou de sua experiência: “Sou professor e tenho contato com muitos jovens. Estava convencido de que é necessária uma geração para consertar os erros cometidos no presente. Voltando das ilhas, depois do encontro com aqueles 300 jovens, aos poucos comecei a mudar de ideia. Agora tenho certeza que com a vivência do Evangelho a mudança é possível… e não precisa esperar os 25 anos que dizem os especialistas”. E outra pessoa: “Numa das visitas encontramos um senhor doente, num estado repugnante, não estava limpo nem cheiroso. Dentro de mim disse: ‘é Jesus’. Aproximei-me, tomei suas mãos, falei-lhe do amor de Deus e o escutei. Seu maior sofrimento é a solidão e ele ficou feliz com a nossa visita. Mas a maior felicidade foi a minha. Havia encontrado Jesus verdadeiramente”. E uma missionária de 82 anos: “Os meus companheiros durante as visitas foram uma jovem e um menino. Diante de cada pessoa procuramos dar somente Deus… não senti nenhum cansaço, tínhamos mais saúde nesses dias que em toda a vida nas nossas casas com tanto conforto. Faço um convite: vamos todos ao Projeto Amazônia! É a nossa plena realização”.
No total eram 34 pessoas, vindas de outras cidades e estados, com os membros da comunidade do Movimento dos Focolares da cidade de Abaetetuba. Eles escreveram: “Na avaliação final foi espontâneo recordar o chamado do Papa Francisco para ir ao encontro das ‘periferias existenciais’ e a experiência vivida nestes dias nos deixou cheios de profunda alegria; saímos para ir ao encontro do irmão, e retornamos mais ‘HOMENS’, conscientes do nosso papel de protagonistas na criação de um mundo mais humano e mais cristão”.

Reproduzido pelo Blog do ADEMIR ROCHA, de Abaetetuba/PA