domingo, 26 de fevereiro de 2012

UM SENTIDO PARA O TRABALHO: AMOR

UM SENTIDO PARA O TRABALHO: O AMOR

Fonte: http://www.focolare.org

Movimento dos Focolares

O trabalho e a descoberta de uma consciência social

20 Fevereiro 2012

(Italiano) De uma palestra de Chiara Lubich no congresso sobre Economia e trabalho promovido pelo Movimento Humanidade Nova, Roma-1984. Para uma reflexão sobre a justiça social.

PLAY VIDEO (Italian soundtrack)


“É preciso que o homem faça emergir de novo em si mesmo, em nome de Deus que o criou, a consciência da sua sociabilidade, do seu caráter social, sem o qual ainda não seria verdadeiramente homem. De fato, outro elemento constitutivo do homem, segundo a Bíblia, além da comunhão com Deus e de ser chamado a procurar o alimento e a dedicar-se ao trabalho, é a sociabilidade – as relações com os outros: com a mulher e com os irmãos. E sabemos o que significa no pensamento de Deus “sociabilidade” com os irmãos.
Significa amar os irmãos como a si mesmos: como a si mesmos, não menos. Aliás, amá-los com um amor que, pelo fato de provir de várias pessoas, torna-se recíproco e, sendo inspirado por Cristo, gera a unidade. Aqui se pode compreender a importância que demos há pouco ao fato de caminharmos juntos na vida, sendo um só coração e uma só alma. É nesta medida que pode ser útil também para a solução dos atuais problemas do mundo do trabalho a nossa espiritualidade coletiva, nascida do Evangelho. Mediante esta espiritualidade o homem, e portanto cada membro do mundo do trabalho (do proprietário ao administrador, do diretor aos técnicos, dos funcionários aos operários), cada pessoa, para ser solidária com os outros, ama a todos de modo a tornar-se uma só coisa com eles. Graças a ela, somos levados a nos compreendermos uns aos outros, a assumir como nossas as dificuldades e os problemas alheios, a encontrar juntos as soluções. Esta espiritualidade leva-nos ainda a descobrir, de comum acordo, novas formas de organização do trabalho. De consequência, todos juntos passam a compartilhar e a participar também dos meios de produção e dos frutos do trabalho.
Com que consequências? Se antes, por exemplo, um operário isolado sentia que o trabalho industrializado esmagava e anulava a sua personalidade, porque não via o fruto da sua inteligência e das suas mãos, agora para ele – que sente como seu, verdadeiramente seu, tudo aquilo que diz respeito também aos outros – o trabalho não pode deixar de adquirir um significado, ou melhor, um maravilhoso significado.
É preciso, portanto, redescobrir esta consciência social […] vasta. Ainda mais, como a economia de cada país está ligada à das outras nações, torna-se necessária – como afirma também o Papa – uma consciência social de dimensão planetária. Mas quem é que pode ajudar o homem a realizar isso plenamente? A considerar-se membro da grande família humana “sem renegar as origens da sua família, do seu povo e da sua nação, nem as obrigações que daí derivam (…)[1], desde que o homem, rompendo a comunhão com Deus com o pecado, comprometeu e voltou a comprometer gravemente a comunhão com os irmãos e, portanto, a solidariedade humana?
Quem é que pode fazer isso? Somente Cristo Senhor – que muitas vezes delimitamos à nossa vida privada – e o Seu amor sobrenatural e universal, que se considera um fator limitado à vida de piedade e que, pelo contrário, é um fermento indispensável para toda a existência humana nas suas múltiplas expressões. É somente com o seu amor que se pode edificar com segurança um mundo onde prevaleçam a justiça e a paz.
E, no que se refere ao trabalho, é somente com o seu amor que o egoísmo e o ódio, considerados por vezes lei essencial da vida social, poderão ser eliminados. É com o seu amor que se verá que nas comunidades de trabalho é mais eficaz a unidade do que o contraste para melhorar o trabalho. Com o seu amor, a vida da própria sociedade não será compreendida como luta contra alguém mas como empenho para progredir juntos. Portanto, somente uma nova civilização, baseada no amor, poderá dar uma solução inclusive aos complexos problemas do mundo do trabalho. [...]”


Chiara Lubich, Roma, 3 de junho de 1984

cfr.João Paulo II, Discurso à OIT, Genebra, 15.06.1982.


Reproduzido pelo Blog do Prof. Ademir Rocha, de Abaetetuba/Pa

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

TEOLOGIA: FÉ E CIÊNCIA

TEOLOGIA: FÉ E CIÊNCIA

Fonte: http://centrochiaralubich.org

Centro Chiara Lubich

Reflexões após vôos espaciais

Este escrito foi publicado como Editorial na revista Città Nuova (ed italiana) de 10 de maio de 1970, poucos meses depois do extraordinário e incrível desembarque na Lua de três astronautas, em julho de 1969.
Na visão do mundo própria de Chiara Lubich, centralizada na unidade, ciência e fé estão em sinergia: a ciência é um caminho para ir até Deus, enquanto que a fé pode e deve dar uma contribuição à ciência.
Escrevendo no contexto eclesial não fácil depois do Concílio Vaticano II, Chiara parte da experiência dos astronautas para nos introduzir numa compreensão humano-divina da Igreja e da sua estrutura.

Roma, 10 de maio de 1970

«Não é verdade que a ciência e a fé caminhem separadamente por estradas diferentes. A fé ilumina a ciência e a ciência pode ajudar a fé.
Ambas, de fato, estão em busca de um único objetivo: a verdade, que para uma pode ser sobretudo transcendental e invisível, sustentáculo da criação; para a outra, visível, cumpridora perfeita de sua tarefa quando descobre a causa do tudo.
Pouco depois da descoberta empreendida pelos astronautas1, afirmou-se que a ciência está se desenvolvendo tão surpreendentemente, e doando ao homem possibilidades tão extraordinárias que se poderia tornar um ídolo, diante do qual há quem se prostre e quem se assuste. É preciso, porém – como foi salientado – que a ciência, embora grandiosa e admirável, seja recolocada no seu devido lugar e vista, além do mais, como fruto do esforço de homens que podem acertar e também errar.
Podemos - compará-la ao Sol que, concentrado numa lente, é, sem dúvida, diverso do Sol da realidade. A lente, porém, é dele uma pequena e viva representação.
O mesmo acontece com a inteligência humana. Ela concentra em si mesma, em número cada vez maior, as leis disseminadas na criação; pode, de certa maneira, acolher em si a criação. Contudo, é bem diferente o que o pensamento retém e reflete da criação, daquilo que ela é na realidade.
Todavia, as leis da criação são algo objetivo, e portanto, verdadeiro. E o verdadeiro evoca a Verdade absoluta que é Deus.
Após o regresso dos astronautas, o Papa disse, na "Academia Pontifícia das Ciências” que Deus quer ser procurado e encontrado, inclusive através do caminho da ciência, embora mantendo a autonomia entre o saber humano e o da fé.
Se pensarmos, porém, que o homem é uma síntese do cosmo e no passado foi definido como microcosmo; e se meditarmos no fato de que Deus, a Verdade absoluta, fez-se homem em Cristo, homem-Deus, a fé e a ciência se unem. E é também por isso, creio, que o Concílio Vaticano II não teve dúvidas em afirmar que fé e ciência podem ser integradas na unidade do espírito humano.
Esta é a nossa convicção: se a exploração daquilo que foi criado caminha "no mesmo passo" com o estudo de Cristo, a ciência terá inimagináveis iluminações e a fé, por reflexo, poderá encontrar, no universo continuamente redescoberto, novas compreensões do mistério. Na realidade, se nós pudéssemos passar além do véu que encobre a criação, encontraríamos Aquele que sustenta, organiza e move tudo o que vemos. E veríamos — embora na distinção entre a criação e o Incriado — tão grande aderência, aproximação e unidade, que ficaríamos pasmados.
Os místicos tiveram, e não foi raro o caso, intuições ou visões intelectuais daquilo que nós, homens comuns, não podemos ver.
Com maior evidência que a visão que distingue e separa entre si, a flor, o céu, a fonte, o Sol, a Lua, o mar, a noite, o dia, eles viram uma Luz amorosa que tudo sustenta e tudo une, como se a criação fosse um único canto de amor; como se pedras e neve, campos e estrelas estivessem, no mais profundo de seu ser, tão unidos com ela e entre si, a ponto de parecerem criados um em dom ao outro, como se os dois estivessem enamorados.
Pode-se pensar que esta seja a mais profunda causa do Cântico das Criaturas, desabrochado do coração e da mente inflamada de amor de Francisco de Assis.
Quando chama de irmão ao Sol e de Irmã à água2, não diz algo de poético ou sentimental, mas afirma uma verdade por ele intuída e que pode dar uma contribuição à ciência: a unidade existente em todo o universo.
Descobrindo o criador de todas as coisas e — embora de maneira diferente — pai de cada uma, ele as vê aparentadas entre si.
Por outro lado, também alguns cientistas cheios de fé contribuíram para que se compreendesse melhor a revelação. Um exemplo típico permanece Galileu Galilei. Suas descobertas lançam uma luz sobre o fato de que a Escritura, nas coisas científicas, não deve ser interpretada literalmente como está expressa. É evidente que foi escrita para ser compreensível às pessoas daquela época.
Nos períodos áureos do pensamento católico, teologia e ciência estiveram estreitamente ligadas, mas não foi raro o caso em que a teologia correu o perigo de limitar a liberdade científica. Por este motivo, também a ciência, diante de uma teologia não aberta a um humanismo cristão, achou-se em oposição e dirigiu-se por um caminho autônomo.
Esperemos que agora se inicie uma época em que filosofia, teologia e ciência possam convergir.
De todo coração, façamos votos para que isso aconteça. Daria glória a Deus e também aos homens.
Maritain escreve a esse respeito: "O problema da época em que estamos entrando será o de reconciliar ciência e sabedoria... numa unidade distinta"3.
Por enquanto, a própria ciência hodierna com as recentes façanhas dos voos espaciais, pode iluminar alguns aspectos que se referem ao campo da teologia. A ciência, sobretudo em seu conteúdo humano pode fazer-nos meditar sobre os mistérios da Igreja que tiveram particular relevo nos nossos tempos.
Os astronautas, em sua viagem para a Lua e em seu feliz regresso, tiveram que observar escrupulosamente as instruções e os determinados modos de agir.
Dois destes podem ser notados mesmo pelo homem mais leigo no assunto: a exigência de um grande entrosamento entre eles e uma perfeita aderência, obediência, dependência e unidade com a base da Terra, onde cientistas e técnicos estavam prontos a oferecer, e no dever de dar, aquilo que os astronautas não tinham ou não sabiam.
Um dos melhores frutos do Concílio Vaticano II, que quis estudar a verdadeira face da Igreja, foi o de apresentá-la não só em sua perfeita unidade, mas na sua variedade.
O fato de ter autorizado e encorajado o verdadeiro pluralismo é sinal de maturidade e faz prever aprofundamentos nunca imaginados que darão relevo às extraordinárias belezas que cada Igreja local encerra.
A variedade, logicamente, só é possível na unidade, como em Deus a Trindade subsiste com a Unidade.
Ora, para que as Igrejas locais possam, o mais eficazmente possível, cumprir suas próprias tarefas na Igreja universal, para o bem da humanidade, Cristo pede uma dúplice atitude.
A primeira é a unidade, comunhão, entrosamento sobrenatural e humano, entre os membros da própria Igreja local.
Num discurso dirigido à Conferência Episcopal Italiana, o Papa, auspiciando que o laicato católico seja hoje como Deus o quer, disse: "Então, a Igreja verá tempos novos; a Igreja ver-se-á modelada na primitiva tradição cristã... verá sua união fortificar-se na concórdia fraterna e na caridade operante: verá sua irradiação no mundo se tornar mais ampla e mais benéfica"4.
Enfim, o Papa prevê um retorno ao testemunho do "um só coração e uma só alma"'5 dado pelos primeiros cristãos.
A segunda atitude pedida por Cristo às Igrejas locais é a unidade com a "base": Pedro.
Neste tempo, em que se enfatizou a verdade e o valor da colegialidade, não se pode esquecer que somente a uma pessoa Jesus disse: "Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja"6. O Papa é, com efeito, "visível princípio de unidade, seja dos bispos, seja da multidão dos fiéis"7.
Se para voar nos espaços e não comprometer tudo, é necessário manter-se, em determinados limites estabelecidos pela base, para levar as almas ao Reino dos céus, as Igrejas devem permanecer no único caminho indicado por Cristo: a unidade com o Papa.
As Igrejas locais não podem se eximir de perguntar humildemente ao sucessor de Pedro, assim como os astronautas faziam com a base de Houston: "Como é que vão as coisas?" E é o Papa que tem o carisma para dizer se estamos ou não no caminho certo.
Esta dúplice atitude de profunda união dos membros entre si e com Roma, faz com que – pelo mistério do corpo místico, constituído à imagem da santíssima Trindade – em todo lugar onde há uma Igreja, aí esteja a Igreja.
Ora, se isto vale para as Igrejas instituídas por Cristo sobre o fundamento dos Apóstolos, com maior razão vale para qualquer grupo espontâneo ou movimento, que tenha surgido ou possa surgir entre os fiéis.
Se assim for, constataremos – imersos numa florescente primavera universal – que, no mais pequeno recanto habitado por cristãos, será verdadeiro o que disse São Boaventura: "Onde dois ou três estão unidos em nome de Cristo, aí está a Igreja".»8
Chiara Lubich
Transcrição
1 Em 21/7/1969 os dois americanos Armstrong e Aldrin desembarcaram na Lua, no «Mar da tranquilidade»
2 Cf. S. Francesco d’Assisi, Il cantico delle creature, in Fonti Francescane, I, Assisi 1977, p. 178.
3 Cf. J. Maritain, Scienza e saggezza, Torino 1964, p. 79.
4 Insegnamenti di Paolo VI, VIII, 1970, p. 300.
5 Cf. At 4, 32.
6 Mt 16, 18.
7 Lumen gentium, 23.
8 Cf. S. Bonaventura, Coll. in Hex., I, 5, Firenze 1934, p. 2. Cf. anche Tertulliano, De exhort., cast., 7: PL 2, 971.


Seg, 06 de Fevereiro de 2012 08:00


Reproduzido pelo Blog do Prof. Ademir Rocha, de Abaetetuba/Pa

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

ESPIRITUALIDADE: A VOCAÇÃO

A VOCAÇÃO: ESPIRITUALIDADE

Fonte: http://voluntariosdesaopaulo.blogspot.com

Movimento dos Focolares

Voluntários de São Paulo


07 Fevereiro 2012

Chiara Lubich aos jovens: "A Vocação"

Caríssimos todos e, de modo especial, queridas e queridos jovens! Estamos aqui reunidos nesta maravilhosa Casa de Deus para uma jornada de reflexão sobre um assunto que nos diz respeito a todos: a vocação.
Eu também estou aqui para tratar convosco este tema tão importante, com o desejo de comunicar-vos alguma idéia nova.
A vocação. Mas o que significa esta palavra?
Num sentido lato, a vocação pode ser definida por: a inclinação para uma função, uma determinada profissão, uma missão ou qualquer coisa que uma pessoa se sente chamada a exercer para o bem comum<!--[if !supportFootnotes]-->[1]<!--[endif]-->. “Quero ser médico, arquiteto, enfermeiro, juiz, professor, político, jornalista, etc., para ser útil à sociedade”.
No campo religioso, por sua vez, a vocação significa: o chamamento que Deus dirige - por uma sua iniciativa de amor (porque ama) - a uma pessoa ou a um povo para o tornar partícipe da Sua vida e confiar-lhe uma missão por vezes especial mas que se insere sempre num horizonte amplo que é transformar a humanidade em família de Deus.
Para explicar melhor: Deus é Amor e demonstra esta sua qualidade ao chamar (a palavra "vocação" vem do verbo "vocare" em latim, que significa "chamar") uma pessoa ou um povo a partilhar com Ele a sua vida (perfeita) e a desempenhar um papel específico, particular, que visa - todavia - a grande missão de Jesus: fazer de todo o mundo uma única família.
A vocação é, pois, um chamado e, como tal, aguarda uma resposta.
Todos ouvimos falar de muitos chamados, feitos por Deus, tanto no Antigo como no Novo Testamento. Chamados esses, a que foi dada a resposta: a de Abraão, por exemplo; ou de Moisés, dos 12 Apóstolos, de São Paulo...
Também sabemos reconhecer chamados ainda hoje presentes na Igreja de Deus, como a vocação ao sacerdócio, ou a uma vida religiosa, ou a dar-se totalmente a Deus, através dos Movimentos eclesiais modernos, na virgindade ou no matrimonio.
O Chamado
Hoje pediram-me para refletir sobre uma vocação especial, que é a minha.
Como podem intuir, não é fácil falar em público de certas coisas, mas vou fazê-lo com simplicidade, esperando que vocês gostem, e unicamente para dar glória a Deus.
Para a descrever, tenho de recordar o período em que ela se manifestou.
Como todas as vocações, a minha também é a vocação de uma pessoa convidada, primeiro, a partilhar com Deus a sua vida, no esforço de me aperfeiçoar (“Sedes perfeitos”, disse Jesus); e, depois, a colaborar para fazer da humanidade uma única família.
No princípio eu não sabia absolutamente nada do que me haveria de acontecer na vida, nem tinha projeto algum.
De fato é Deus que chama; é Ele que escolhe, como disse: “Não fostes vós que Me escolhestes, mas fui Eu que vos escolhi” (Jo 15, 16). E fez assim também comigo. Embora eu fosse fraca e frágil como muitas como todas as jovens daquele tempo, Deus foi atuando o seu plano pouco a pouco.
Mas ainda antes que Ele me chamasse, a minha vida tinha-se constelado de muitos pequenos episódios, que eram provavelmente sinais de um chamado de Deus.
Vou contá-los, porque tenho a certeza de que também todos vocês tiveram fatos belos na vossa vida, ainda crianças... Uma pequena inspiração, uma idéia, uma intuição, uma boa leitura, uma palavra de alguém querido, que era diferente da rotina da vida quotidiana. Por isso queria convidar-vos (depois de os contar) a refletir e ver também vocês como Jesus vos amou. Tenho a certeza de que é assim.
Eu ainda era pequena (tinha seis ou sete anos) e, com algumas religiosas, ia fazer a adoração ao Santíssimo Sacramento. Eu sentia-me impelida a fixar a Hóstia Santa e a dizer-lhe: “Dá-me a tua luz! Dá-me o teu amor!”. E recordo que era tão forte este desejo do seu amor que eu não tirava os olhos da Hóstia Santa, até que a certa altura eu via a hóstia toda escura e todo o resto à volta, branco. Eu não sabia que, depois, na minha vida o Senhor me iria dar luz e amor, que inundaram o meu coração e o de muitas outras pessoas.
Este foi um pequeno episódio, um pequeno sintoma. Depois houve outros e cheguei aos 18 anos.
Eu gostava muito de filosofia, mas tinha um desejo, quase uma santa curiosidade: eu queria conhecer Deus. Quem será? Como será? Que terá a ver comigo? Que terá a ver com os outros? Que terá a ver com a história? Eu dizia: a única coisa a fazer é freqüentar a Universidade. Vou à procura de uma Universidade Católica, esperando que me ensinem alguma coisa. Mas a situação financeira da minha família não me permitiu entrar nessa universidade. Recordo que eu estava num quarto, com a minha mãe, e me pus a chorar, desconsolada. Eu pensava: “Nunca poderei conhecer Deus; nunca o poderei conhecer!” A minha mãe tentava consolar-me, mas era inútil. Até que no fundo do coração tive a impressão de ouvir Alguém que me dizia: “Vou ser Eu o teu Mestre”.
Depois, alguns anos depois: cinco ou seis anos depois, quando Deus mandou este carisma ao mundo, percebi que Ele me começava a instruir acerca das coisas de Deus.
Chegaram os 19 anos e fui convidada, com outras estudantes, a ir a uma cidade, que se chama Loreto, e fica no centro da Itália. Diz-se que a casa de Nossa Senhora, de São José e do Menino Jesus foi transportada para ali – dizem – durante as cruzadas. Fica dentro de uma igreja que parece uma fortaleza.
Eu escapava do curso de estudantes católicas e corria sempre para aquela "casinha". Estava toda enegrecida pelas velas. E ali, coisa estranha! logo que me ajoelhava, assim, sentia-me esmagada por uma coisa muito forte, como pelo divino. E chorava. Eu dizia: “O Menino Jesus talvez tenha atravessado este quarto; Nossa Senhora talvez tenha cantado neste lugar e estas paredes terão ouvido a sua voz. São José talvez tenha posto estas traves...”. E quanto mais pensava nisso, mais me sentia invadida por uma profunda comoção.
Foi ali que percebi pela primeira vez qual era a minha estrada. Compreendi que estava a nascer na Igreja uma estrada nova de consagração a Deus, para as jovens e para os rapazes, para casais, para sacerdotes. E o que seria essa estrada? Uma repetição da Sagrada Família de Nazaré, onde no meio de dois virgens vivia Jesus.
Essa é a vocação ao focolare: virgens, moças ou rapazes, ou sacerdotes, com Cristo no meio deles, pois Ele disse: “Onde dois ou mais estão unidos no meu nome, eu estou no meio deles”.
Eu voltava sempre àquela casinha, sempre que podia!
No último dia eu estava no fundo da igreja e percebi, não sei como, que me haveria de seguir uma multidão de virgens.
Passemos a outro episódio, sempre nesse ano.
Fazia muito frio em Trento. Na nossa família éramos: três irmãs, um irmão, a mãe e o pai. Era preciso ir comprar leite a uma localidade que ficava longe, a mais de um quilometro, com aquele frio!... A minha mãe nunca me dizia para fazer estas coisas, porque queria que eu estudasse. Então disse à minha irmã: “Podes ir tu?”. “Ah, mãe, tenho tanto frio!”. Disse à outra: “Vais tu?”. Ela também tinha frio. Então eu, feliz por poder fazer um ato de amor (recordem este detalhe: um ato de amor!), disse: “Vou eu, mãezinha!”. E saio com a garrafa vazia, para ir comprar o leite.
Quando chego a meio do caminho, paro, com a impressão... Eu não via com estes olhos. Era como uma impressão da alma: como se o Céu se abrisse e uma voz me dissesse: “Dá-te toda a mim!”.
Depois, falei com o meu confessor, que me deixou logo ser totalmente de Jesus.
Entretanto eu conhecia algumas amigas. Logicamente eu tinha uma tamanha alegria, que não a conseguia conter e contei-lhes tudo e elas decidiram: “Nós queremos ir contigo, Chiara”. Eram as primeiras da multidão de virgens.
A resposta
Podem imaginar o que aconteceu dentro de mim quando, naquela manhã, às seis horas, na igreja, sozinha me consagrei a Deus, mediante um sacerdote, logicamente. Eu tinha uma única idéia: “Desposei Deus! Desposei Deus! Espero tudo dele nesta vida!”.
Decorria a Segunda Guerra Mundial. Um dia houve um bombardeamento [bombardeio] terrível sobre Trento. A minha casa foi atingida e, com os meus pais, fugimos para um bosque.
Estávamos ali, estendidos no chão, ao relento, enquanto ao longe se viam as chamas. Recordo apenas uma coisa daquela noite. Recordo que tinha entendido que, na madrugada seguinte, eu teria de fugir com a minha família para a montanha, mas eu já não o podia fazer. As minhas companheiras significavam uma coisa importante para mim. Eu compreendia que Deus tinha começado uma obra sua. E ali, olhando para o céu, recordo duas únicas palavras: estrelas, que vi percorrer todo o firmamento de noite. Nunca tinha visto. E lágrimas, ao pensar que teria de deixar a minha mãe, o meu pai, os meus irmãos, eu, que era naquele momento a única que os ajudava financeiramente.
Então eu rezava e dizia: “Diz-me a tua vontade”. Deus fez-se um comigo e repetiu-me uma frase que eu aprendera no liceu. Em italiano significa: “O amor vence tudo!”. Em latim era: “Omnia vincit amor”.
“Como?”, disse. “Deve vencer também isto?” Percebi que era mesmo assim.
Voltamos a casa, que estava toda em ruínas, e o meu pai deu-me a sua bênção.
Depois encaminhei-me para a cidade, toda destruída: com as árvores arrancadas, o hospital todo em ruínas... e, por entre os escombros, fui à procura das minhas companheiras: estavam todas salvas.
Então procuramos um pequeno apartamento, onde morar. Nós não sabíamos, mas era o primeiro focolare.
Logicamente a guerra continuava. Tínhamos de correr para os abrigos e não podíamos levar nada conosco, porque não havia tempo. Mas eu levava comigo apenas um Evangelho pequeno e abríamo-lo... Por uma luz especial aquelas palavras, que tínhamos ouvido tantas vezes, pareceram-me novas, revolucionárias, únicas, universais, feitas para toda a gente, eternas: para todos os tempos. Começamos a ler.
Outra coisa que tínhamos era a força de as pôr em prática. Líamos: “Ama o teu próximo como a ti mesmo” (Mt 19, 19). Mas quem é o próximo. Ah, sim! É aquela velhinha que mal consegue chegar ao abrigo. Vamos ajudá-la. Ah, sim. É aquela senhora com cinco filhos, que não sabe como levá-los a todos para o abrigo. Vamos levá-los ao colo. Ah, sim. É aquele doente, nosso vizinho, que não pode escapar para o abrigo. Vamos ter com ele, levar-lhe os remédios, tratar dele.
Líamos: “Cada vez que tiverdes feito estas coisas..., a Mim o fizestes” (Mt 25, 40). Mas como? Jesus considera feito a ele o que fizermos aos outros?
Por causa da guerra, havia pessoas feridas; sem roupa, nem casa; com fome e sede... Então cozinhávamos panelões de sopa e íamos distribuí-la. Juntávamos tudo o que tínhamos.
Líamos: “Pedi e ser-vos-á dado” (Mt 7, 7; Lc 11, 9).
Conto-vos o primeiro episódio, que já deu a volta ao mundo, pelo menos do nosso mundo, do Movimento.
Encontro um pobre, que me diz: “Dá-me um par de sapatos nº 42”. Eu penso: “Onde é que posso achar um par de sapatos? Para mais, nº 42!”. Entro numa igreja e digo a Jesus no sacrário: “Dá-me um par de sapatos nº 42 para ti, naquele pobre”. Saio da igreja e passa uma jovem com um embrulho na mão. Entrega-me. Digo: “O que é?”. Abro-o: era um par de sapatos nº 42. Então é verdade!...
Então a nossa mentalidade começa a mudar. Vemos que o que Jesus promete, se realiza. O que Ele diz é verdade!
Naturalmente destes episódios no Movimento, que tem 55 anos, aconteceram aos milhões, em todos os pontos da terra.
Líamos ainda: “Dai e dar-se-vos-á” (Lc 6, 38)/.
Uma manhã, tínhamos em casa algumas maçãs, umas três ou quatro. “Dai!”. Então, ao primeiro pobre que bateu à porta: “Toma estas maçãs”. Fechamos a porta. Durante a manhã um senhor oferece-nos um saquinho de maçãs. Mas vêm outros pobres; tinham fome e nós só tínhamos as maçãs. “Dai e dar-se-vos-á”. Damos o saquinho de maçãs e ainda no mesmo dia, à tardinha, vemos chegar o pai de uma de nós com uma mala cheia de maçãs... O Evangelho era verdadeiro! Jesus mantinha ainda hoje as suas promessas.
Logicamente, nós ficávamos tão contentes, tão cheias de entusiasmo, que contávamos a todas as pessoas que encontrávamos nos abrigos ou lá fora estas experiências formidáveis, que iam passando de boca em boca. E dizíamos: “Se os Apóstolos gritavam: "Cristo ressuscitou!", nós podemos dizer que Cristo está vivo!”. E, quando o encontravam uma vez, nunca mais o podiam esquecer.
Em todo o caso estávamos sempre diante da morte; podíamos morrer de um momento para outro.
Então uma de nós pensou: “Haverá uma Palavra do Evangelho que agrade de modo especial a Jesus? Gostaríamos de a viver, pelo menos nos últimos momentos que temos de vida”.
O Evangelho respondeu-nos: “Este é o meu mandamento: amai-vos uns aos outros como Eu vos amei.” (Jo 15, 12)./
Então nós, éramos seis ou sete jovens, pusemo-nos em círculo e dissemos umas às outras: “Eu estou disposta a morrer por ti”; “Eu estou disposta a morrer por ti”; “Eu estou disposta a morrer por ti”. Todas por cada uma.
Logicamente Jesus não nos pediu um amor assim tão grande, a ponto de morrer, mas pedia-nos outras coisas, pequenas ou grandes. Não sei. Recordo que eu tinha dois casacos. Dei um deles, porque era suficiente um. Tinha luvas; dei-as a quem serviam. O mesmo faziam as outras. Púnhamos em comum os bens materiais e os bens espirituais.
Isto para vos dizer em que contexto nasceu a minha vocação. Foi assim que tudo começou e depois continuou por 55 anos. E Deus formou uma obra grande! Temos de o dizer para a sua glória! Atualmente está difundida por todo o mundo, em 182 nações e tem milhões de aderentes.
Quando o Santo Padre me vê, diz-me: “Vocês são um povo!”. Então, consoante o número, compara-nos com o Líbano, ou com outras nações.
Agora o Santo Padre menciona o Movimento dos Focolares como uma das expressões significativas do aspecto carismático da Igreja. E, como nós, muitas outras pessoas aqui presentes, que fazem parte de outros maravilhosos movimentos eclesiais.
Queridas e queridos jovens, e todos os que estão aqui, este foi o princípio da minha história, da minha vocação. Mas, como sabemos, Deus chama de muitas maneiras.
Chama muitas pessoas a exercer funções e missões especiais: por exemplo chama jovens (como acenamos) à sublime vocação do sacerdócio, a ser outros Cristo; chama homens e mulheres a fazer parte dos diversos canteiros floridos da Igreja, que são as Famílias Religiosas, para enriquecer constantemente a Esposa de Cristo com o perfume das mais esplêndidas virtudes.
Chama homens e mulheres, membros dos Movimentos eclesiais atuais, a dar-se a Deus individual e comunitariamente, ou a compor famílias exemplares, quais pequenas Igrejas.
Recordem: Ele chama a qualquer idade. Chama também as crianças, também os mais pequeninos; chama em todos os pontos da terra.
Mas como se faz para descobrir a própria vocação?
Por experiência devo dizer-vos que geralmente é necessária uma disposição particular. Dado que o chamamento de Deus é um ato de amor da sua parte, quando Ele encontra amor nas almas, sente-se mais livre de chamar. Então: o que é preciso fazer para ouvir a voz de Deus? É preciso amar, mas com o verdadeiro amor. Se assim fizermos, facilitamos o papel de Deus.
E, quem já conhece a sua vocação, encontrará no amor o modo melhor para a realizar.
Mas, como vos dizia, é necessário o verdadeiro amor. Falei dele há dois dias em Aachem, mas queria repetir, porque é tão importante o amor verdadeiro, que, se o vivermos, desencadeamos no mundo uma revolução, que é a revolução cristã.
O verdadeiro amor tem quatro qualidades: ama a todos, porque Jesus morreu por todos; Maria é mãe de todos.
Portanto um amor verdadeiro não está ali a ver se um é simpático ou antipático, jovem ou velho, branco ou preto, alemão ou italiano, de uma religião ou de outra; amigo ou inimigo. O verdadeiro amor ama a todos. Experimentem vivê-lo. Experimentem! As pessoas estão habituadas a amar os amigos, os pais, os parentes; tudo coisas ótimas. Mas amamos realmente todas as pessoas? Experimentem! Experimentem! É a revolução. Porque os outros não percebem e perguntam daí a pouco: “Por que fazes assim? Por que gostas de mim? Por que me deste a caneta? Por que me passaste aquele texto? Porquê?”.
“Porque quero amar a todos”. Então começa o diálogo entre nós, católicos, com os outros de outras Igrejas, ou de outras religiões. Começa um diálogo, porque desperta o interesse nas outras pessoas. Portanto vocês, jovens, sobretudo, recordem que o primeiro ponto do verdadeiro amor é amar a todos.
Segundo ponto: ser os primeiros a amar. Quando Jesus veio à terra, nós não O amávamos; éramos todos pecadores. Ele amou-nos primeiro. Temos de ir ter com todos sem esperar que nos amem. Amar porque nos amam: não! Temos de ser os primeiros a amar!/ Este é aquele amor que o Espírito Santo derramou no nosso coração; é o mesmo amor que existe na Santíssima Trindade, de que participamos, mas que temos de pôr em prática.
Depois é preciso (como daquela vez que na igreja pedi os sapatos nº 42)... ver Jesus em todos, porque ele disse: “No juízo final o exame será este: "A mim o fizestes". O que fizermos de bom e o que fizermos de mau, infelizmente.”
Amar a todos, ser os primeiros a amar. Terceira coisa: ver Jesus no próximo.
Mas não deve ser um amor platônico, sentimental. É um amor concreto e, para isso, é preciso – como diz São Paulo - “fazer-se tudo para todos”, fazer-se um com quem sofre, com quem está contente, e partilhar alegrias, dores, dificuldades. Partilhar.
Então: amar a todos, ser os primeiros a amar, ver Jesus e, depois, amar concretamente. Isto é o que podemos fazer nós: encher o nosso coração do verdadeiro amor. O chamamento é a parte dele, não a nossa; é dever dele.
Houve em Roma recentemente um congresso de criancinhas. Eram muitas. Depois voltaram para casa. Tinham aprendido a amar segundo aquilo a que chamamos "a arte de amar", que se encontra no Novo Testamento.
Alexandra, uma menina, chega a casa na Venezuela e a mãe pergunta-lhe: “O que fizeste?”, “Muitas coisas, mãezinha. Porém, sabes? Quando eu tinha de falar, não consegui, porque dentro de mim uma voz disse-me alto: "Dá-me a tua vida"”. Era o chamado.
Nós ficamos admiradas com o fato de um chamado de uma criança tão pequena. Falamos com muitas outras. Naquele congresso 37 crianças tinham sido chamadas ou com estas palavras ou no silêncio, mas perceberam que Alguém as chamava.
E isso porquê? Porque Alexandra e as suas amigas tinham amado.
Caríssimos jovens, Deus não deixa de chamar, sobretudo se amarmos. Cabe a nós responder e compor, com a nossa vida, o maravilhoso e divino desenho que Deus previu para cada um de nós em vista do bem de todos.
Terminei o meu discurso, mas permitam-me ainda uma palavra.
Sabem o que significa colocar Deus no primeiro lugar? Quer Ele nos chame a consagrar-nos a Ele, quer nos chame a formar uma bela família? Colocar Deus acima de tudo na vida significa encontrar já aqui na terra a felicidade. E é o que desejo a todos vocês!
Aspirem às coisas do alto! Temos uma vida só! Não se repete: convém usá-la bem.

Obrigada!


O setor dos voluntários é uma ramificação da Obra de Maria (Movimento dos Focolares), da qual faz própria a natureza, o espírito e os fins. É regido pelos estatutos gerais da Obra e pelo seu regulamento. Os voluntários são leigos que vivem de modo totalitário a espiritualidade evangélica da unidade. Através desta, que é um caminho ao mesmo tempo individual e comunitário para ir até Deus, visam imitar, em nosso século, a vida dos primeiros cristãos...

A PREMISSA DE QUALQUER OUTRA REGRA
"A mútua e contínua caridade, que torna possível a unidade e faz com que Jesus esteja presente na coletividade é, para todas as pessoas que compõem a Obra de Maria, a base de suas vidas em

cada um de seus aspectos: é a norma das normas, a premissa de qualquer outra regra".


Reproduzido pelo Blog do Prof. Ademir Rocha, de Abaetetuba/Pa